É evidente que Israel não pretende somente destruir as instalações lança-rockets nem apenas anular a capacidade militar do Hamas, aliás comprovadamente reduzida, mas também erradicar a sua capacidade política, arrasando as suas instituições e liquidando fisicamente os seus militantes e dirigentes. Só isso pode explicar a extensão das operações, sem cuidar dos pesados "danos colaterais" em perda de vidas humanas, de instalações colectivas e de casas, incluindo actos de extrema crueldade e insensibilidade, como o bombardeamento e destruição de uma escola das Nações Unidas, onde se tinham refugiado muitos civis comuns, de que resultou a morte de dezenas deles, incluindo muitas crianças.
É de supor que, se se limitasse à destruição dos recursos militares do Hamas, a acção israelita não causaria nenhuma comoção internacional, fora os habituais círculos extremistas árabes. Mas a razia impiedosa e a sanha destruidora que Telaviv está a impor em Gaza, causando uma situação humanitária insustentável, não pode ser justificada à luz de nenhuma racionalidade política, salvo a da punição colectiva dos habitantes de Gaza pelo apoio político dado ao Hamas e a aniquilação das próprias condições de vida do território.
Por mais justificável que seja a guerra contra o Hamas, nada pode legitimar o sofrimento indiscriminado imposto a uma população inteira, vítima de todas as injustiças deste mundo, do qual só podem nascer mais apoios para o radicalismo islâmico e mais ódio e raiva colectiva contra o invasor.