Ri sempre quando, miúda, o procurava imitar.
Rio sempre, quando me lembro das suas piadas, dos seus "sketches", das suas caras, carões e caretas.
Rirei sempre. Daquele humor aparentemente fácil mas matreiro, observador, desconcertante, despertador, corrosivo, inteligentemente crítico, resistente.
Recordo-o discreto, a parecer quase encabulado, naquele jantar diplomático em casa do Aziz e da Maria Felice, em que fiz questão que a Leonor e ele viessem, dias antes de partir pela primeira vez para Jacarta. Recordo o clarão que lhe assomou aos olhos quando, a um canto, lhe disse que o parafraseava amiúde, apropriando-me da sua "a minha política é o trabalho" para explicar que "a minha política é a política externa". Oiço ainda as gargalhadas que nos fez soltar, depois, nesse serão.
Recordo um passeio iconoclastamente divertido, com ele e a Leonor, às mercolas pelas ruelas de Macau, com inevitável "olhó passarinho" diante das ruinas de S. Paulo e multiplas interpelações de gente que o reconhecia. Já lá vão 10 anos.
Não sei se nos cruzamos pela ultima vez há uns meses no "Procópio" ou na casa de campo da Leonor. Só sei que não foi realmente a última vez, porque um homem como este nunca se vai, nunca mais sai das nossas vidas. Fica-nos para sempre na cabeça e no coração, a por-nos a rir e sorrir.