quinta-feira, 28 de julho de 2011

A caminho dos ENCONTROS DE BAUCAU


Estou hoje a partir para Timor. O que, apesar da distância, nunca cansa, é sempre um prazer.
Desta vez a dobrar, porque vou para os "ENCONTROS DE BAUCAU".
Trata-se de uma ideia do Rui Tavares em que eu logo embarquei e que se vai concretizar graças ao bom acolhimento dos timorenses, à carolice da Helena e da Marta (que nos assistem, a mim e ao Rui) e do resto da equipa que elas conseguiram mobilizar. Ah, e aos apoios financeiros e em género que recebemos - poucos, mas bons; e ainda mais valiosos em tempos de crise.
Procurarei aqui deixar reportagem diária dos ENCONTROS DE BAUCAU.
Mas entretanto fica, à laia de introdução, um artigo que escrevi há semanas para o ACCÃO SOCIALISTA, em edição que deve estar a ser publicada por estes dias. Sobre o Timor Leste que encontrei em Junho passado.

>"Timor-Leste: dez anos de independência
Xanana vinha descontraidamente em fato de treino, com os três filhos pequenos por perto, quando nos encontramos casualmente, eram umas nove e meia da manhã de sabado, dia 18 de Junho, na Praça em frente ao Palácio do Governo em Dili. Ficamos à conversa, ao som da música rock produzida por uma banda de marinheiros americanos que, à sombra de um palanque, "abrilhantava" a Maratona pela Paz, a decorrer, com mais de 7.000 participantes. Bastou ensaiarmos uns incontrolaveis passos de dança ao ritmo do "Billie Jean, is not my lover..." que os Marines atacavam, para centenas de jovens e menos jovens timorenses perderem a reserva e se lançarem entusiasticamente à improvisada pista.
A escassos metros, o Presidente Ramos Horta procurava repousar da corrida, debaixo de um toldo, assediado por dezenas de cidadãos que se aproximavam para o saudar.
Milhares de pessoas espraiavam-se pela Praça, à espera de ver consagrar os vencedores da Maratona. "Vai um chuto para golo?" desafiou-me o simpático GNR, metendo-me à frente da miudagem que fazia fila para chutar e receber o correspondente diploma.
A eurodeputada alemã do PPE, que comigo integrava uma missão da Assembleia Parlamentar ACP-UE, não queria crer: "E dizem que Timor-Leste é frágil, com esta tranquilidade toda?!"
Dez anos depois da independência, a atmosfera é de serenidade e confiança no futuro, as eleições presidenciais e legislativas de 2O12 estão a ser encaradas sem crispações, muito longe do sentimento de insegurança vivido em 2006 e 2007.
O Governo fez bem em distribuir uma pequena parte do rendimento do petróleo em pensões, salários, bolsas, subsidios, etc. O injectar de dinheiro nas familias e na economia contribuiu para acalmar o ambiente social e politico, embora o desemprego ainda vá permanecer elevado por mais alguns anos, enquanto se forma gente e se semeiam oportunidades de investimento (o que sobra do Fundo do Petroleo ainda dá bem para investir em Obrigações do Tesouro português, como sugere Ramos Horta, em gesto de retribuição solidária que nós deviamos aproveitar e agradecer).
Mas a verdade é que muito já mudou dramaticamente em apenas 12 anos, desde o referendo que fez sair os ocupantes indonésios.
Em 1999 havia apenas um médico timorense, o Dr. Rui Araújo, que foi o primeiro Ministro da Saúde (e muito bom!). Este ano serão distribuidos por todos os distritos 640 jovens médicos timorenses, acabadinhos de formar em Cuba!
Hoje a TVTL e a RTPi chegam a todas as aldeias (claro que a programação de ambas podia ser muito melhor, até para ajudar a consolidar e disseminar a língua portuguesa).
E apesar dos muitos problemas inerentes ao processo de construção do Estado, incluindo os rumores sobre corrupção alastrante e as querelas pessoais herdadas do passado, hoje há diálogo politico institucional em Timor Leste, no Parlamento e fora dele: o Primeiro Ministro Xanana Gusmão tem associado os principais dirigentes da Oposição, incluindo o ex-PM Mari Alkatiri, na tomada de decisão sobre questões nacionais decisivas, como a negociação sobre novas jazidas de petróleo e gaz com a Australia (com precioso aconselhamento técnico e jurídico português, foi-me dito). O objectivo é trazer para a costa sul timorense as instalações de exploração e processamento que poderão transformar o país e assegurar um vertiginoso desenvolvimento (empresários portugueses por que esperam, apesar de tantos apelos caseiros à "diplomacia económica"?)
Claro que só no final do ano a rede eléctrica deve chegar a todo o país. E em Baucau, a segunda maior cidade, não há ainda sequer nenhuma sala de leitura pública, estando a maioria dos seus jovens desempregada e sem acesso a quaisquer actividades culturais.
Essa é uma das razões (a outra é que sou devota do Bispo/governador/salvador local, D. Basilio Nascimento) por que estou a organizar, juntamente com o meu colega e amigo Rui Tavares, uma ideia dele: a iniciativa "Encontros de Baucau", para envolver a juventude da cidade e arredores em actividades culturais e de cidadania activa (teatro, cinema, debates, artes plásticas, feira-de-livros, etc), entre 4 e 7 de Agosto próximo, com patrocinios conseguidos sobretudo em Portugal.
Dar-vos-ei depois mais notícias. Dos dez anos de independência no Timor profundo."