1. Em mais um dos seus estimulantes artigos no Público (acesso condicionado), Luís Aguiar-Conraria afirma ter sido um erro ter utilizado a expressão "viver acima das possibilidades", pela carga moral negativa que ela implica para tanta gente que vive com baixos rendimentos.
Mas eu penso que isso não é razão para não ser apropriado utilizá-la, justamente com essa carga moral e política, em relação ao País (Estado, empresas e particulares), quando gastava sistematicamente mais do que produzia, acumulando uma montanha de dívida externa (com o resultado conhecido), e a tantos portugueses que faziam levianamente o mesmo.
2. Também tenho defendido aqui várias vezes a necessidade de aumentar a poupança nacional, não somente como almofada para as famílias, mas também para reduzir a dependência do capital externo para efeitos de investimento.
Tendo, porém, concluído que os portugueses não são naturalmente dados ao aforro, já só desejo que não regressem ao endividamento excessivo (o que parece que muitos estão novamente a fazer, a crer nos números do crédito aos particulares...). De resto, o mesmo se passa com as empresas, que distribuem pingues dividendos (por vezes mais do que os lucros!), para depois se endividarem para investir.
Continuo a pensar que endividamento em período de vacas gordas arrisca acabar em privação severa em período de vacas magras (como sucedeu durante a crise)...