Lamento profundamente a censura imposta pelo New York Times a esta caricatura - uma "charge" ao seguidismo de Trump em relação ao Governo de direita de Israel na sua ofensiva antipalestina -, invocando que ela consubstancia um episódio de antissemitismo -, o que é um disparate.
Na verdade, o facto de Israel se autoqualificar como "Estado judaico" não o torna imune à crítica das suas opções e orientações políticas, como qualquer outro Estado, sem que isso implique qualquer sentimento antijudaico. Era o que faltava, que a natureza étnico-religiosa de que se reclama o Estado israelita o tornasse imune à crítica e condenação pela sistemática violação do direito internacional em relação aos territórios palestinos ocupados (incluindo Jerusalém) e de repressão, expropriação e deslocação maciça dos seus moradores, de segregação dos cidadãos árabes israelitas, etc.
De resto, estas críticas são compartilhadas por muitos intelectuais judeus, dentro e fora de Israel, nomeadamente nos Estados Unidos. Ao censurar a caricatura de um seu colaborador regular, o New York Times cede cinicamente ao poderoso lobby político e empresarial pró-israelita em Washington e não honra os seus pergaminhos de defesa intransigente da liberdade e independência jornalística.