1. Não sei onde é que Rui Tavares foi buscar a ideia de que "há uma maioria para uma eurogeringonça" para governar a União Europeia, através da convergência política de todas as forças à esquerda do PPE, dos liberais à extrema-esquerda.
Primeiro, os números não batem certo. Somando 366 lugares no Parlamento Europeu, as quatro bancadas ficam aquém da necessária maioria parlamentar (376). Segundo, mesmo que houvesse tal maioria, não se vê como seria possível meter no mesmo projeto governativo europeu três forças europeístas (liberais, verdes e socialistas) junto com o soberanismo antieuropeísta da "Esquerda Unida Europeia" (onde se incluem o BE e o PCP), que em muitas posições contra a integração europeia converge com o nacionalismo da extrema-direita.
2. Se em Lisboa foi possível em 2015 uma difícil e limitada convergência política de conveniência entre socialistas, bloquistas e comunistas, conservando as suas inconciliáveis divergências justamente em matéria da UE, em Bruxelas um tal ideia não passa o teste liminar de consistência e de admissibilidade política.
É certo que o PPE não tem maioria para governar sozinho, longe disso. Mas tampouco há maioria para uma alternativa de governo sem o PPE, muito menos contra o PPE. A solução governativa pode e deve prescindir de Weber à frente do executivo da União, mas - como já antes defendi - tal solução tem de ser aceite pelo próprio PPE, no quadro de uma solução global para os diversos cargos institucionais da União.
Adenda
Corrigindo os números supraindicados, é verdade que a soma das quatro bancadas à esquerda do PPE (liberais, socialistas, verdes e esquerda unida) daria uma maioria absoluta no PE. Mas, como mostra o segundo argumento acima invocado, a aritmética não é um bom argumento político...