quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Não dá para entender (30): Uma "geringonça" reforçada ?!

1. Há quem equacione a hipótese de que uma das soluções de governo pós-eleitorais, se o PS ganhar sem maioria absoluta, como em 2019, é ressuscitar a "Geringonça", através de um acordo formal de legislatura com o BE e/ou o PCP. Mas custa tomar a sério esta ideia.

Então não é evidente que, com a rejeição do orçamento, ambos os partidos mostraram, mais uma vez, que não aceitam a disciplina orçamental e a sustentabilidade da dívida pública, como obstáculo intransponível  aos seus projetos maximalistas, e que o PS não poderia negociar nenhum acordo de governo de legislatura sem metas vinculativas nessa matéria?  

Depois do que se passou, não vale a pena especular com hipóteses que supõem a transformação dos partidos extrema-esquerda em parceiros leais de uma governação responsável no quadro da União Europeia, que eles claramente rejeitam.

2. Há outra objeção contra essa hipótese: depois da derrota política infligida ao Governo pelos dois partidos da extrema-esquerda, interrompendo a legislatura, não se vê que vantagem pode ter o PS em admitir que o voto nesses partidos ainda pode contribuir para uma solução estável de governo à esquerda. Pelo contrário: a mensagem política do PS deveria ser a de que, depois de mais esta desfeita da extrema-esquerda, o único voto que garante um governo de esquerda é no PS.

Só por masoquismo político é que o PS pode premiar a irresponsabilidade política do BE e do PCP no derrube do Governo, em aliança com a direita, com uma proposta de "casamento" governamental duradouro com quem mostrou não ser parceiro político confiável.

Decididamente, a alternativa para o falhanço da "geringonça" não é a sua reedição em versão reforçada. A "Geringonça" já foi!

[revisto]