1. Os resultados da 1ª volta das eleições presidenciais francesas confirmaram e consolidaram uma paisagem político-partidária sem paralelo em nenhuma outra grande democracia europeia, estruturada em três grandes opções políticas: (i) a opção centrista vencedora, "liberal-social", pró-UE; (ii) a opção da direita nacionalista, antiliberal e antieuropeia, acima dos 20%; (iii) a opção da esquerda radical, igualmente antiliberal e antieuropeia, também acima dos 20%.
Ou seja, a vitória da opção centrista de Macron implicou o apagamento dos partidos de centro-direita e de centro-esquerda, que durante décadas governaram alternadamente a França, sendo alternativa uma à outra. O PSF foi varrido em 2017 e os Republicanos foram aniquilados agora. A maior parte dos seus quadros e eleitores juntaram-se a Macron, mas outra parte foi engrossar respetivamente a direita nacionalista e a esquerda radical, ou a abstenção. Deixou de haver alternativa política dentro do quadro liberal-democrático e europeísta em França.
2. Razão tiveram entre nós os líderes do PS e do PSD, que, com exceção da situação excecional de 1983-85, afastaram a solução de "bloco central", com o argumento de que tal fórmula governativa iria favorecer a contestação radical à esquerda e à direita. Por isso, nem a esquerda soberanista nem a direita nacionalista têm entre nós a expressão política que revelam em França - longe disso.
É de admitir que as eleições parlamentares de junho permitam aos dois partidos de governo tradicionais recuperar algum espaço político, mas a polarização que as presidenciais evidenciaram não deixam grande margem de correção. O mais provável, apesar do sistema eleitoral adverso, é vermos um reforço da representação parlamentar dos dois partidos extremistas (o RN e o LFI), à custa daqueles (no gráfico acima, a composição política da legislatura cessante, eleita em 2017).
A polarização política ao centro pode alimentar a polarização radical, à esquerda e à direita.