quarta-feira, 20 de abril de 2022

Não dá para entender (33): Faltam "senadoras" no PS?

1. Depois do brilharete da paridade entre homens e mulheres na composição ministerial do novo Governo, o PS dá uma cambalhota no que respeita à igualdade de género no desempenho de cargos políticos, propondo na AR somente candidatos masculinos ao Conselho de Estado (acrescentando agora Sampaio da Nóvoa aos repetentes Carlos César e Manuel Alegre). 

É caso para dizer que as mulheres interessam para os pesados cargos governamentais, onde a imagem do Governo conta politicamente, mas já são descartáveis quando se trata de honras e sinecuras institucionais.

2. A questão óbvia que se coloca é a de saber se no Largo do Rato existe alguma desconhecida norma de "reserva de masculinidade" quanto à composição do Conselho de Estado ou se não existe em todo o PS nenhuma "senadora" com perfil adequado para aquela discreta função consultiva do Presidente da República. 

Curioso vai ser saber se as deputadas do PS vão endossar politicamente esta surpreendente desconsideração do princípio por que tanto se tem batido o Partido (e as mulheres socialistas em especial)...

Adenda
Devo acrescentar (i) que defendo o equilíbrio de género no desempenho de cargos políticos desde há muito, quando mesmo as poucas mulheres politicamente ativas se inibiam de o defender, tendo tido intervenção na revisão constitucional de 1997 (que abriu caminho à "ação positiva" nessa área) e na preparação da legislação que posteriormente a concretizou e (ii) que entendo que um partido progressista como o PS não pode limitar-se às obrigações estabelecidas na lei, que necessariamente são um compromisso minimalista com outros partidos (também nada obriga na lei ao equilíbrio de género na composição do Governo...).

Adenda 2
Um leitor pergunta provocadoramente se o PS tem «mulheres à altura do cargo». Bom, bastaria um, mas ocorrem-me logo os nomes de Edite Estrela (deputada, vice-presidente da AR e antiga eurodeputada), Maria de Lurdes Rodrigues (Reitora do ISCTE e antiga ministra da Educação) e Francisca van Dunen (juiza-conselheira jubilada e ex-ministra da justiça), sem desprimor para outros nomes. O que não falta no PS são mulheres elegíveis para qualquer cargo público.