1. Ao contrário do pretendido, as sanções comerciais à Rússia não conseguiram arruinar as suas exportações nem muito menos afundar o rublo, levando a economia russa "à falência", como uma vez anunciou a presidente da Comissão Europeia. Pelo contrário, como mostra o recorte de imprensa de ontem (no
Jornal de Negócios), o excedente comercial aumentou e a cotação do rublo recuperou.
A razão está, por um lado, em que, tirando a UE e os Estados Unidos e seus aliados mais chegados, os demais países não decretaram sanções comerciais, incluindo grandes economias como a Índia, a África do Sul e o Brasil; e, por outro lado, a própria UE não tem sido capaz de implementar o boicote à importação de crude e, muito menos, de gás natural, que importa pesadamente da Rússia. Ora, como a insegurança dos mercados tem levado a um aumento das cotações, Moscovo acaba por cobrar mais caro e receber mais dinheiro -, daí o aumento do excedente comercial.
Até agora, um verdadeiro tiro pela culatra, o das sanções...
2. Compreensivelmente, a economia que se está a efetivamente a afundar, em consequência da guerra, é a da Ucrânia, não somente pela redução da atividade económica nos territórios onde decorrem os combates, mas sobretudo pela impossibilidade de utilizar a tradicional via marítima para as principais exportações ucranianas - que são as da fileira agrícola -, dada a ocupação russa de alguns portos e a ameaça sobre outros, incluindo Odessa, e dadas as limitações da via terrestre.
Por isso, é de recear, como analisa o The Economist, que o prolongamento indefinido da guerra, mesmo que sem uma clara vitória militar russa, imponha incomportáveis custos económicos, em termos de recessão, défice comercial, inflação, etc.
A ajuda financeira ocidental, sobretudo dos EUA, pode atenuar esses custos, mas não constitui uma solução duradoura nem infinita.