terça-feira, 10 de maio de 2022

Guerra na Ucrânia (38): Muito longo, o caminho de Kiev para Bruxelas

1. Quando António Costa afirma, sem poupar nas palavras, que a adesão da Ucrânia à UE será um «processo "longo, difícil e exigente"», é evidente que ele vem opor-se frontalmente à precipitada proposta dos países do Leste europeu - interessados em puxar a União geograficamente mais para Leste e politicamente mais para direita, como AQUI assinalei - de instituir um fast track para Kiev, proposta a que a Presidente da Comissão levianamente emprestou credibilidade.

Aliás, o chefe do Governo português não está só nessa posição, como revela o discurso do Presidente francês no dia 9 em Estrasburgo, onde Macron chegou a falar em "décadas", antes de a Ucrânia poder entrar na União. 

Não é crível que os dois líderes políticos não tenham concertado posições.

2. Felizmente, não foram precisas muitas semanas para que alguém responsável viesse denunciar a irresponsabilidade política de prometer à Ucrânia uma entrada expedita na União, quando esse país está longe de cumprir os critérios mínimos de adesão, nem está em condições de os vir a cumprir a curto prazo, e não pode esquecer-se a má experiência de deixar entrar prematuramente as países do Leste europeu em 2004, entre os quais a Polónia e a Hungria, com os graves problemas que tais países hoje colocam.

A verdade é que a entrada na União não pode ser um lenitivo pelos custos da invasão e que, uma vez obtida a entrada, não há meio de fazer sair um país, por mais impreparado que ele se revele depois.

Adenda
Também o Governo alemão fez saber que não há "atalhos" para a adesão da Ucrânia à União.

Adenda 2
Sobre este tema vale a pena ler este bem informado texto.