quinta-feira, 23 de setembro de 2004

Comentários malévolos

«Apenas uma sugestão: a próxima invasão libertadora, certamente em nome da instauração da democracia, deveria visar a Madeira e o Porto Santo. (...)»
(Jorge A.)

«Mas há diferenças actualmente entre o Diário de Notícias e o Povo Livre
(Pedro S.)

É já amanhã, 6ª feira...

... que tem lugar o colóquio sobre a reforma e a regulação da saúde.

Sinecuras

Quais são as competências da ex-ministra da Justiça, Celeste Cardona (CDS/PP), para ser nomeada administradora da GGD? Ou é somente para proporcionar à senhora daqui a dois ou três anos uma rendosa pensão, à Mira Amaral? Seja como for, é obscena esta transformação da instituição financeira do Estado em retiro dourado de ex-governantes do PSD e do PP. O Governo deveria fundamentar publicamente (e preferivelmente perante a comissão parlamentar competente) as escolhas de gestores para o sector empresarial do Estado.

A Europa e o Iraque

Citando o comissário Chris Patten («O mundo merece melhor do que a testosterona americana»), Ana Gomes publica hoje na revista Visão um artigo sobre a preocupante situação no Iraque, intitulado "A Europa e o Iraque" (texto reproduzido no Aba da Causa).

Computadores para o lixo, já!

Então a colocação dos professores, que só podia ser feita mediante poderosos e dispendiosos meios informáticos externos -- que aliás fracassaram vergonhosamente ao fim de muitos meses de laboriosos exercícios falhados --, vai agora ser feita em poucos dias por meios manuais e com a "prata da casa" do Ministério da Educação?
Se esse prodígio resultar, e não se tratar de mais um episódio de leviano voluntarismo ministerial, o Governo fica proibido de falar nos próximos tempos em "administração electrónica" e modernices quejandas. Afinal, não são precisas para nada!

Democracia pela bomba

A crer no Diário Digital, ao relatar o discurso do o primeiro-ministro português na ONU, Santana Lopes desligou a intervenção no Iraque da luta contra o terrorismo internacional (que segundo Bush passou a ser o principal argumento, desde o desvanecimento das "armas de destruição maciça") e justificou-a em nome da instauração da democracia naquele País. Os muitos milhares de mortos da invasão e ocupação estão seguramente gratos pela solicitude.
Fica-se agora obviamente à espera do anúncio da próxima invasão libertadora dos Estados Unidos, com o apoio de Portugal, contra uma das várias ditaduras existentes no Mundo. Aceitam-se apostas: Arábia Saudita? Birmânia? Coreia do Norte? China? Ou o feliz contemplado com a benesse da democracia "manu militari" será Cuba, que fica mais à mão?

O PS e a Constituição europeia

Um dos temas ausentes do debate eleitoral socialista foi a questão da constituição europeia. A justificação mais óbvia estará no facto de não haver divergências a registar no apoio do PS ao tratado constitucional europeu. Mas tendo em conta a inesperada brecha aberta no Partido Socialista francês pela dissidência de Laurent Fabius a esse respeito, preconizando o "não" no previsto referendo francês sobre o assunto, e sabendo-se o mimetismo de alguma esquerda socialista em Portugal em relação ao socialismo francês, não é improvável que a questão venha a ser suscitada também entre nós. Mas ao menos não é para já...

O "presidencialismo" socialista

Entre as consequências da eleição directa do secretário-geral do PS não se conta somente a acrescida influência dos média nos debates intrapartidários e a maior importância das capacidades mediáticas dos candidatos na disputa eleitoral interna, aspectos estes postos em relevo por Mário Mesquita há dias no Público. Mais importante porventura é a alteração do modelo tradicional da organização do poder nos partidos socialistas, reforçando a peso do líder directamente eleito sobre as assembleias e órgãos colegiais, a começar pelo Congresso. O triunfo de um modelo tendencialmente presidencialista sobre um modelo de democracia representativa assente em órgãos colegiais converge com idêntica tendência a nível das estruturas do poder político geral, seja a nível nacional, regional e local, acompanhando a supremacia do líder sobre os órgãos colegiais e dos dotes de liderança individual sobre as doutrinas e os programas políticos. A surpresa está em ser o PS a tomar a dianteira nessa adaptação aos novos tempos políticos...

quarta-feira, 22 de setembro de 2004

O diário do Governo

Com a manchete de hoje -- «Todas as escolas abertas no início de Outubro» -- o Diário de Notícias candidata-se ao pouco edificante estatuto de "folha governista" (para utilizar uma excelente expressão brasileira), substituindo ostensivamente os factos por um anúncio ministerial, escamoteando o desastre na gestão da colocação de professores e branqueando o irremediável atraso na abertura das aulas. É evidente que a manchete correcta deveria ser, quando muito, esta: «Escolas abertas no início de Outubro».
Como é sobejamente sabido, a orientação de um jornal não decorre somente da sua linha editorial e das páginas de "op ed", mas também e sobretudo da sua "agenda" informativa (selecção das notícias e peso relativo que lhes confere), dos temas destacados na 1ª página e da escolha dos títulos. A manchete de hoje do vetusto matutino de Lisboa deveria ficar registada como exemplo-de-escola de "frete" político.

«Os Estados Unidos como sol da terra...»

... ou o «neo-sovietismo atlantista» -- a ler no Cartas de Londres, uma salutar instância crítica do "bushismo" como doença infantil da neodireita europeia.

Objectiva


Sebastião Salgado, Iguanas marinhas, Ilhas Galápagos

O novo projecto fotográfico do grande fotógrafo brasileiro no Guardian, de Londres. Esta fotografia é só uma amostra. A ver definitivamente!

De quem é a responsabilidade?

«O erro na colocação de professores é de quem?
A meu ver são vários os intervenientes. Primeiro temos a tutela política que resolveu modernizar todo o sistema, pelos vistos a conselho de "amigos"; a seguir temos a empresa "amiga" que implementou o sistema; por fim, temos o pessoal técnico do ministério que utilizou incorrectamente o sistema.
Até aqui nada de novo; no entanto, surge um problema: a tutela foi renovada com a criação de um novo governo, que herdou o problema do anterior, logo quem será o responsavél político?
Toda a gente sabe que é fácil demitir políticos após erros graves, mas será justo demitir o herdeiro dum problema? Neste caso até pode parecer que assim deva ser, mas faz mais sentido a demissão da ministra por ter lidado incorrectamente com o problema e não pela sua criação.
Mesmo assim haverá mais responsáveis políticos?
A meu ver o principal responsável é a força política, seja coligação ou partido, que interveio em todo o processo de selecção dos políticos responsáveis pela criação do problema. Ora, como é hábito por cá ninguém lhes toca, constituindo tal facto a maior desresponsabilização de sempre. (...)»


(Miguel Constâncio)

Perguntas intrigantes

Se a inimaginável barraca que se passou com as listas de colocação de professores, incluindo uma contratação duvidosa de uma empresa com elevados prejuízos, cujos dirigentes são figuras gradas do partido do Governo (mera coincidência?), se passasse nos tempo do Governo do PS, a Ministra ainda seria hoje a mesma? A diferença de tratamento é apenas devida a existência de uma maioria absoluta ou também à complacência dos meios de comunicação social? Qual a razão pela qual se demorou tanto tempo a saber quem era a empresa contratada?
Quanto já recebeu a Compta pelo contrato que assinou e quando vai devolver esse montante ao Ministério? Quanto vai pagar de indemnização ao Estado pelo serviço não cumprido e pelos prejuízos causados?
Intrigante, demasiado intrigante tudo isto e, sobretudo, muito mal explicado.

Maria Manuel L Marques

O grau zero da honorabilidade política

«O socialista [Bettencourt] Resendes, que é amamentado, directa ou indirectamente, pelos Governos do PSD, estes claramente masoquistas e incompetentes em matéria de comunicação «social», desencadeou-me um desesperado ataque pessoal no diário da PT [Diário de Notícias, de Lisboa]. Esta também colaboracionista na covardia que se vive na Informação. Como não sou do «avental», nem figura grata à CIA -- por cá sabe-se tudo... --, é natural que os bonzos de lá, protejam os bonzos de cá. Não é que todos esses patetas me preocupem.
Mas porque convém registar e denunciar as patetices e os patetas. Até para quando «isto» mudar.»

(Alberto João Jardim, Jornal da Madeira, terça-feira, 21 de Setembro de 2004)
O estilo é o homem e o político. Cabe perguntar se em algum país democrático um responsável político, para mais chefe de um governo regional, poderia escrever uma peça destas contra alguém, muito menos um jornalista. Sem falar na provocatória ameaça final: o que quer dizer o já todo-poderoso líder regional com a frase «quando "isto" mudar»?

Direito de voto

«Na disputa democrática que mais interessa ao mundo [as eleições presidenciais norte-americanas], o mundo não tem direito de voto». («In the democratic contest that matters most to the world, the world is disenfranchised.»)

Perguntas nocentes

Depois da triste figura no programa "Prós e contras" de 2ª feira na RTP 1, o que é que levou Maria do Carmo Seabra a pensar que poderia ser ministra da Educação?
Depois da triste figura na conferência de imprensa de ontem, a anunciar, dois longos meses passados sobre a tomada de posse, a imprestabilidade do sistema informático para a colocação de professores contratado pelo seu ministério a uma empresa "amiga", o que é que leva Maria do Carmo Seabra a pensar que pode manter-se como ministra da Educação?

terça-feira, 21 de setembro de 2004

Reforma e regulação da saúde



Não podia ser mais oportuna a "presidência aberta" que Jorge Sampaio dedica esta semana às questões da saúde. O programa da iniciativa, que foi publicado hoje na imprensa, inclui a participação do Presidente num colóquio sobre Reforma e Regulação da Saúde -- pelo qual sou o principal responsável --, que tem lugar na 6ª feira em Coimbra, na Faculdade de Direito, e em que participarão também o Ministro da Saúde, o Presidente da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) e muitos especialistas naqueles temas.
Vai ser seguramente uma excelente oportunidade para fazer o ponto da situação e proceder à avaliação das reformas em curso e dos mecanismos de regulação previstos. O programa (e a ficha de inscrição) podem encontrar-se aqui.

Faz sentido a Comissão Nacional de Eleições?

Na minha coluna semanal no Público de hoje condeno a proposta de extinção da Comissão Nacional de Eleições, feita pelo líder regional da Madeira e secundada pelo presidente do Grupo Parlamentar do PSD na Assembleia da República. O texto encontra-se também reproduzido no Aba da Causa (link na coluna da direita).

Quem domina a imprensa?

Na sua coluna de hoje no Diário de Notícias -- cujo website se encontra de novo operacional -- Pedro Mexia analisa o panorama político-ideológico nos principais jornais portugueses (com a notória ausência do Jornal de Notícias), tendo em conta especialmente a orientação de editorialistas e colunistas. Vinda de uma pessoa de direita, é uma análise relativamente equilibrada, que contesta a ideia propalada pela direita sobre uma pretensa hegemonia da esquerda nos media (a ter em conta o quadro apresentado por AM, o que se poderia dizer é o contrário...). Só é pena que ele integre à força em partidos políticos alguns colunistas (de esquerda) que não têm nenhuma vinculação ou alinhamento partidário há muitos anos (como é o meu caso).
Uma observação a reter:
«(...) Os colunistas de esquerda assumem-se como tal, mesmo que a esquerda não reconheça todos como «seus». Já os colunistas de direita raramente se assumem. Uma confusão.»

De que estão à espera?

De que está a oposição à espera para:
a) Exigir um inquérito público e transparente sobre o negócio da escolha da empresa que elaborou o programa informático (?) para a colocação de professores (cujos contornos suspeitos já aqui foram referidos por Luís Nazaré)?
b) Desencadear na AR uma interpelação parlamentar ou mesmo uma moção de censura sobre a inenarrável incompetência e irresponsabilidade governamental nesta questão?
Será que a oposição quer tornar-se cúmplice, por inércia, desta endrómina sem paralelo nos anais democráticos?

Quase perfeitos

Este grupo de rapazes anda numa espécie de sotão do nosso condomínio virtual, a remexer em paixões e discos brilhantes, enquanto o resto de nós ouve os O-zone. Andam tão incógnitos, tão entretidos, assim como quem não quer a coisa, às escondidas, do género buga-lá-que-ninguém-vai-dar-conta - que não deixam ninguém aperceber-se de que são o melhor sítio para ler sobre música. E não me refiro só ao espaço electrónico.
Entretanto, parece que a revista 365 lhes deu (em boa hora) um espaço para arrumar mais álbuns de antologia. Mas deixemo-nos de tretas. Não me parece que existam assim tantas urgências na blogoesfera - mas, seguramente, descobrir e acompanhar o blog destes melómanos humanistas, irónicos, sinceros e cultos, tem de ser uma!

A propósito, a primeira vez que ouvi Leonard Cohen tinha 10 anos. Foi, de repente, na rádio - e tinha acabado de levar um estaladão do meu pai. Foi a primeira vez que me soube bem o gosto das lágrimas.

O que é que o Rui faz, exactamente, quando não está a falar da minha vida?

Pedra mármore

Não que ela não lhe agradasse, não era nada disso; pelo contrário. Sucedia que ele não conseguia gostar. De ninguém, nem mesmo dela. Era um impotente dos afectos. O ínfimo defeito que ela tinha era não ser lindíssima, mas isso era irrelevante. Era como se ele tivesse um muro pela frente, ou uma parede, a centímetros da cara. Uma espessa impossibilidade vertical. Tinha medo, um medo muito por dentro e até acima; um medo crescente de ficar preso atrás desse muro - não para sempre, claro, mas o suficiente para que alguém especial lhe passasse ao lado. Alguém como ela, justamente. Durante algum tempo alimentou a ideia de que era assim, com efeito, mas com as relações novas. Que com as velhas, as vindas de trás, não seria assim. Enganou-se. Era assim com todas. Percebeu que não conseguia desejar ninguém que o desejasse; percebeu - e percebeu porquê - se interessava apenas por casos impossíveis: por serem impossíveis e porque só o impossível o redimiria, o resgataria. O medo transformou-se, então sim, em pavor de ficar só, de ficar sozinho nessa sabedoria silenciosa e fria. Como pedra mármore.

Rui Branco

Puto Paradoxo rules!

Finalmente, os Deuses sejam louvados!, alguém que recupera a memória da Família Prudêncio! Bem-hajam, putos. Acordai, blogolândia, acordai!

Darfur, Sudão


Impressionante este relato de Ana Gomes no Expresso online sobre a sua viagem ao Sudão, integrada numa delegação do Parlamento Europeu.
Um excerto:
«Falar de genocídio sem agir em consequência banaliza e desvaloriza perigosamente o conceito. E, depois do Ruanda, é ainda mais imoral e indefensável. Não pressionar e sancionar duramente Cartum, a pretexto de que se podem fechar as portas ao acesso humanitário ou acelerar a «somalização»/«congolização» do Sudão, é incentivar Cartum a jogar este teatro de sombras, para continuar a dizimar os darfurianos e a oprimir todos os sudaneses.»

Um coronel de cavalaria faria melhor

Afinal as listas da colocação de professores não foram publicadas ontem, 2ª feira, como tinha sido repetidamente garantido pelo Ministério da Educação, defraudando mais uma vez as expectativas dos interessados, das escolas, dos alunos e dos pais. Mas um falhanço incomensurável, que lança no maior ridículo público a equipa ministerial. Face à inaudita prova de incapacidade e incompetência, a única saída para a situação consiste em declarar o Ministério da Educação em estado de sítio e nomear uma administração militar para esse departamento governamental...

«Um País, três sistemas» !

Em mais uma das suas geniais elocubrações políticas, A. João Jardim propõe a ideia de "um país, três sistemas políticos", um para o Continente e outro para cada uma das regiões autónomas, copiando a solução dos comunistas chineses para integrar o sistema capitalista de Hong-Kong e Macau na República Popular da China ("Um país, dois sistemas").
Acho pouco: o melhor é haver mesmo três países, que torna tudo muito mais simples. Entretanto, enquanto não se chegar aí, proponho que a idea fulgurante dos "três sistemas" comece por criar sistemas fiscais e financeiros separados, em que a Madeira viva com os seus próprios meios (já que é a segunda região mais rica do País), sem continuar a viver à custa dos contribuintes do continente, muitos deles vivendo em regiões mais pobres do que a Madeira...

segunda-feira, 20 de setembro de 2004

Silva Lopes

A entrevista de Silva Lopes ao Público constitui um daqueles momentos gratificantes em que um economista sénior diz tudo o que lhe vai na alma sobre o que corre mal neste País. Não é lícito ficar indiferente. Alguns excertos (sublinhados acrescentados):

«Há muito investimento que é desperdício. Já não quero falar da estafada questão dos estádios, mas há, por exemplo, no centro do país, três grandes hospitais à distância de 40 km uns dos outros apenas porque cada cidade queria o seu hospital.»

«É também bom que o Governo tenha abandonado a ideia do choque fiscal e esteja a colocar a ênfase no IRS. (...) Os PPR não contribuem nada para a poupança nacional. Só servem para desviar as poupanças de umas aplicações para outras, para as que dão benefícios fiscais.»

«(...) Em sectores formalmente liberalizados, como as telecomunicações, não há verdadeira concorrência. Os reguladores parecem estar mais interessados na saúde das empresas do que nos interesses dos consumidores. É por isso que costumo dizer que o poder económico domina o poder político».

«Nós gastamos 15 por cento da riqueza nacional para pagar os salários da administração pública quando a média europeia é 10,4 por cento. É cinquenta por cento mais e temos dos piores serviços públicos. Por outro lado, para qualificações iguais os funcionários públicos ganham bastante mais do que os do sector privado. Aí uns 20 por cento a mais e ainda beneficiam de duas coisas muito importantes: um sistema de pensões muito mais favorável e que, no meu entender, tem de ser revisto, e segurança no emprego. São privilégios que, do ponto de vista da justiça social, são inaceitáveis. (...) O país não pode suportar gastar 15 por cento da sua riqueza para ter maus serviços e suportar privilégios relativos quando não tem os serviços correspondentes.»

«Nós já gastamos com a educação mais do que a média da OCDE. Temos 30 por cento de professores a mais em relação à média e as turmas mais pequenas dos 27 países comparados. Temos o menor número de aulas para os alunos e as menores cargas horárias para os professores. Por fim, sobretudo no fim da carreira, temos alguns dos professores primários mais bem pagos da Europa. (...) Por fim, ainda se andam a formar mais professores quando não há lugar para eles, gasta-se o dinheiro todo com salários e não se compram computadores. É um desastre completo. (...)»

Privilégios fiscais à socapa

No Jumento pode ler-se:
«(...) Neste serviço de finanças [do Terreiro do Paço] o ambiente é tranquilo, não há filas, não há gritaria, o ar condicionado proporciona um ambiente acolhedor, os contribuintes têm sofá para se sentarem e onde serão atendidos. Neste serviço de finanças a lei está sempre aberta a uma interpretação que vá de encontro aos anseios do contribuinte. E os "funcionários" que lá trabalham não são sujeitos à ameaça de investigações nem estão muito preocupados em saber se vão ter aumentos de vencimento.
Mas é mesmo verdade, e volta e meia sabe-se qualquer coisa como sucedeu ainda recentemente, quando o Jornal de Negócios informou que o BPI tinha beneficiado de um benefício fiscal de 20.000.000 de euros concedido naquele serviço de finanças, e nessa ocasião O Jumento abordou esta questão. Uns tempos antes, o mesmo serviço tinha perdoado os comentadores políticos de pagar parte dos IRS sobre os honorários que lhes são pagos pelas televisões e jornais com base num despacho de um director-geral que está para o direito fiscal como um queda de cabeça está para um exercício de paralelas assimétricas.
E em ambos os casos a capacidade dos jornalistas investigarem os assuntos terminou onde o sigilo fiscal (sempre o oportuno sigilo fiscal) impôs o silêncio; os felizes contribuintes obtiveram os benefícios fiscais, os processos foram para arquivos inacessíveis e ponto final. (...)»


O que este relato revela é gravíssimo, tal como a outra história também aí descrita (vale a pena ler o resto do post). Esta situação de privilégios esconsos não pode continuar.

A banca não gostou

Como era de prever, os bancos não gostaram nada das propostas fiscais anunciadas pel Ministro das Finanças. Resta saber se se vão ficar pelas queixas públicas...

Corto Maltese



Já antes declarei aqui o meu fascínio por Corto Maltese, o meu herói de banda desenhada predilecto. Compreenderão por isso a minha satisfação pela iniciativa do Público de editar, a partir de hoje, todas as 2ªs feiras, as aventuras do marinheiro maltês. Cá estarei para proceder a uma bem-vinda revisitação do herói de Hugo Pratt.