O DN de 23.1.06, na página 7 («A coabitação de Sócrates com ...Alegre») imputa-me incorrectamente a afirmação de que Manuel Alegre seria «o responsável pela derrota da esquerda». Na página 12, (em «Mário Soares: como mais uma vez demonstrei, não desisto de lutar») no entanto, já me atribui que «se se confirmar a derrota da esquerda, Manuel Alegre é responsável».
Esclareço: em momento algum eu disse ou quis dizer que Manuel Alegre é «o responsável», o único, pela derrota. Disse sim, e mantenho, que Manuel Alegre é «co-responsável», ou «também responsável». E, portanto, «responsável» pela derrota (e até me lembro de ter dito «e bem responsável»).
Mas ele há mais responsáveis.
E as responsabilidades várias, julgo eu, deveriam ser discutidas nos órgãos próprios do PS - incluindo por Manuel Alegre, que neles tem assento. Juntamente com as ilacções a retirar do significado - crítico ou mesmo de censura ao PS - de um milhão de portugueses (alguns militantes e a maior parte eleitorado normalmente socialista) ter votado Manuel Alegre, contra o candidato apoiado pela direcção do PS.
É que eu acho que reconhecer erros é fazer prova de sanidade democrática. E acredito que um partido democrático deve ser diferente de um albergue espanhol.
Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
terça-feira, 24 de janeiro de 2006
segunda-feira, 23 de janeiro de 2006
Correio dos leitores: "Lições de democracia"
Publicado por
Vital Moreira
«Lições de democracia (dadas pelo povo soberano):
Para o PS - e em particular para o secretário-geral, eng José Sócrates: ter humildade para perceber o redondo engano em que se deixaram cair com o recurso à candidatura do dr Mário Soares. Ainda que se aceite que o dr Manuel Alegre pudesse não ser para o PS o melhor candidato ao cargo de PR, o recurso à figura patriarcal do dr Soares soou a tão desesperado que o eleitorado castigou forte e feio a "falta de recursos" de um partido que reclama ser o maior partido português, pluralista e tolerante, dando uma expressiva vantagem ao candidato enjeitado pelo partido do governo.
Para o dr Soares: ter humildade para saber quando a estrela começa a empalidecer (processo começado já na eleição para presidente do Parlamento Europeu) e é aconselhável dar o lugar aos mais novos (uma das vantagens da República em democracia também é poder alternar os eleitos, pelo menos do ponto de vista de quem elege). Uma vez que não temos em Portugal o equivalente à Câmara dos Lordes Britânica, esperemos que finalmente saiam para o prelo as famosas memórias há muito prometidas...
(...)»
Luís Malheiro
Para o PS - e em particular para o secretário-geral, eng José Sócrates: ter humildade para perceber o redondo engano em que se deixaram cair com o recurso à candidatura do dr Mário Soares. Ainda que se aceite que o dr Manuel Alegre pudesse não ser para o PS o melhor candidato ao cargo de PR, o recurso à figura patriarcal do dr Soares soou a tão desesperado que o eleitorado castigou forte e feio a "falta de recursos" de um partido que reclama ser o maior partido português, pluralista e tolerante, dando uma expressiva vantagem ao candidato enjeitado pelo partido do governo.
Para o dr Soares: ter humildade para saber quando a estrela começa a empalidecer (processo começado já na eleição para presidente do Parlamento Europeu) e é aconselhável dar o lugar aos mais novos (uma das vantagens da República em democracia também é poder alternar os eleitos, pelo menos do ponto de vista de quem elege). Uma vez que não temos em Portugal o equivalente à Câmara dos Lordes Britânica, esperemos que finalmente saiam para o prelo as famosas memórias há muito prometidas...
(...)»
Luís Malheiro
Correio dos leitores: Ilações
Publicado por
Vital Moreira
«Há que saber retirar algumas ilações do voto de 22 de Janeiro.
Em primeiro lugar, os eleitores que há onze meses deram a maioria absoluta ao PS, valorizaram a imagem de marca de Cavaco - o (pretenso) rigor e o conhecimento das questões económicas -, não dando crédito aos que antevêem algum perigo de instabilidade política. Compreende-se que assim tenha sido, já que o Primeiro-Ministro, pilar da actual maioria, não fez uma referência a este cenário.
Em segundo, parece inequívoco que os portugueses não quiseram conceder a Cavaco uma legitimidade plebiscitária, já que o resultado obtido não constitui o "raz-de-maré" que alguma direita reclamava, para assim desequilibrar a relação de poderes.
Em terceiro, os eleitores pretendem um Presidente que não tenha uma leitura minimalista dos seus poderes - como tantas vezes aconteceu com Sampaio - e chumbou quem se apresentou pela negativa e numa lógica de mera resistência, acima de tudo procurando barrar o caminho a Cavaco.
Em quarto, os cidadãos infligiram uma derrota pesada ao PS e a Mário Soares, assim manifestando incompreensão quer pelas circunstâncias que conduziram à divisão daquele quadrante, quer pelo regresso de Soares, já fora do seu tempo político. Um dia saberemos o que, verdadeiramente, se passou.
Em quinto lugar, os portugueses deram um sinal, mais uma vez, de cansaço face a quem tem uma existência e um discurso exclusivamente políticos. Neste sentido, estão em vantagem os que possuem créditos firmados noutras áreas da sociedade e que revelem alguma capacidade para mobilizar os cidadãos para objectivos mais concretos, com tradução na vida real. (...)
Algumas destas conclusões, inevitáveis, têm um sabor amargo. Desde logo, porque Mário Soares não nos parece merecedor do resultado que obteve. Será, pois, de enaltecer aqui a sua coragem, vitalidade e desprendimento inexcedíveis. Deve também assinalar-se que Manuel Alegre - que apoiei nas eleições internas do PS - não esteve, desta vez, à altura da sua obra e do seu percurso, cedendo ao populismo fácil do discurso "anti-aparelho". Face a tal discurso, sentar-se de novo na bancada parlamentar e nos órgãos do PS seria de uma insanável incoerência.
Mas a Direcção do Partido não é isenta de críticas. Quem assume o "mea culpa" pela estratégia prosseguida nas Autárquicas e nas Presidenciais? Por momentos, sou levado a pensar que o objectivo nem sempre foi vencer. São devidas explicações convincentes.
Aparte disso, o essencial é "abanar o Partido" e mobilizar o País para as reformas necessárias na sociedade. É que mal vai a democracia quando os Partidos se esgotem em si mesmos e não existam para responder às necessidades dos cidadãos.»
Eduardo Gravanita
Em primeiro lugar, os eleitores que há onze meses deram a maioria absoluta ao PS, valorizaram a imagem de marca de Cavaco - o (pretenso) rigor e o conhecimento das questões económicas -, não dando crédito aos que antevêem algum perigo de instabilidade política. Compreende-se que assim tenha sido, já que o Primeiro-Ministro, pilar da actual maioria, não fez uma referência a este cenário.
Em segundo, parece inequívoco que os portugueses não quiseram conceder a Cavaco uma legitimidade plebiscitária, já que o resultado obtido não constitui o "raz-de-maré" que alguma direita reclamava, para assim desequilibrar a relação de poderes.
Em terceiro, os eleitores pretendem um Presidente que não tenha uma leitura minimalista dos seus poderes - como tantas vezes aconteceu com Sampaio - e chumbou quem se apresentou pela negativa e numa lógica de mera resistência, acima de tudo procurando barrar o caminho a Cavaco.
Em quarto, os cidadãos infligiram uma derrota pesada ao PS e a Mário Soares, assim manifestando incompreensão quer pelas circunstâncias que conduziram à divisão daquele quadrante, quer pelo regresso de Soares, já fora do seu tempo político. Um dia saberemos o que, verdadeiramente, se passou.
Em quinto lugar, os portugueses deram um sinal, mais uma vez, de cansaço face a quem tem uma existência e um discurso exclusivamente políticos. Neste sentido, estão em vantagem os que possuem créditos firmados noutras áreas da sociedade e que revelem alguma capacidade para mobilizar os cidadãos para objectivos mais concretos, com tradução na vida real. (...)
Algumas destas conclusões, inevitáveis, têm um sabor amargo. Desde logo, porque Mário Soares não nos parece merecedor do resultado que obteve. Será, pois, de enaltecer aqui a sua coragem, vitalidade e desprendimento inexcedíveis. Deve também assinalar-se que Manuel Alegre - que apoiei nas eleições internas do PS - não esteve, desta vez, à altura da sua obra e do seu percurso, cedendo ao populismo fácil do discurso "anti-aparelho". Face a tal discurso, sentar-se de novo na bancada parlamentar e nos órgãos do PS seria de uma insanável incoerência.
Mas a Direcção do Partido não é isenta de críticas. Quem assume o "mea culpa" pela estratégia prosseguida nas Autárquicas e nas Presidenciais? Por momentos, sou levado a pensar que o objectivo nem sempre foi vencer. São devidas explicações convincentes.
Aparte disso, o essencial é "abanar o Partido" e mobilizar o País para as reformas necessárias na sociedade. É que mal vai a democracia quando os Partidos se esgotem em si mesmos e não existam para responder às necessidades dos cidadãos.»
Eduardo Gravanita
Aqui entre nós...
Publicado por
Vital Moreira
...creio bem que para o PS e Sócrates foi preferível esta vitória fraca de Cavaco Silva à 1ª volta do que uma 2ª volta sem hipóteses de sucesso entre Cavaco e Alegre. Primeiro, porque, o resultado seria seguramente uma vitória muito menos apertada de Cavaco, reforçando o seu peso político; depois, porque para o PS e muitos votantes soaristas seria insuportável o constrangimento de ter de apoiar o candidato que se apresentou contra o partido e ajudou à pesada derrota do seu candidato oficial. Do mal, o menos...
Uma vitória fraca
Publicado por
Vital Moreira
A vitória de Cavaco Silva é obviamente inatacável sob o ponto de vista da sua legitimidade democrática. Mas é uma vitória politicamente fraca. Foi uma vitória à tangente, a mais magra de todos presidentes até agora; foi uma vitória assente numa forte abstenção, principalmente no campo socialista; foi uma vitória em queda acentuada, ficando a anos-luz das expectativas de vitória esmagadora do início (basta reler os bloggers e colunistas do campo cavaquista de há umas semanas). Dá a impressão de que com mais uns dias de campanha e a vitória escaparia.
Esta vitória fraca não lhe deixa grande margem para o intervencionismo presidencial que ele e os seus apoiantes acalentavam. Se a política tivesse lógica, seria de esperar uma moderação dos propósitos de activismo presidencial do candidato eleito. Tal como Mário Soares no seu primeiro mandato, o mais lógico seria uma presidência contida, sem obstaculizar o governo de Sócrates, esperando tirar proveito próprio do previsível sucesso deste na superação da crise económica e financeira. Mas será que Cavaco Silva é previsível?
Esta vitória fraca não lhe deixa grande margem para o intervencionismo presidencial que ele e os seus apoiantes acalentavam. Se a política tivesse lógica, seria de esperar uma moderação dos propósitos de activismo presidencial do candidato eleito. Tal como Mário Soares no seu primeiro mandato, o mais lógico seria uma presidência contida, sem obstaculizar o governo de Sócrates, esperando tirar proveito próprio do previsível sucesso deste na superação da crise económica e financeira. Mas será que Cavaco Silva é previsível?
A abstenção que venceu
Publicado por
Vital Moreira
Cavaco Silva ganhou com a menor margem de sempre (0,6%), em todas as eleições presidenciais até agora. E ganha com a maior taxa de abstenção registada na primeira eleição de um candidato (só ultrapassada nas reeleições de Soares e de Sampaio, quando o desfecho da eleição não estava em causa). A junção das duas coisas com uma outra quase certa -- a abstenção deve-se sobretudo ao eleitorado de esquerda -- torna claro que a esquerda só pode queixar-se de si mesma. Perdeu por falta de comparência de uma parte dos seus...
Despromoção
Publicado por
Vital Moreira
O problema com Cavaco Silva não é só ele ser o primeiro presidente oriundo da direita política, nem o enigma sobre a sua prática presidencial. É ele suceder a quem sucede: 10 anos de um presidente maior do que o País (Mário Soares); 10 anos de um dos presidentes mais cultos e "aristocratas"(no verdadeiro sentido da noção) que já tivemos (Jorge Sampaio). Ter agora um presidente que não ultrapassa os limites de uma cultura economista e tecnocrática é uma enorme sensação de despromoção...
sábado, 21 de janeiro de 2006
PGR na AR
Publicado por
AG
Surpresa? Não.
Apenas a reter e não esquecer: PSD e PCP aliaram-se na defesa deste PGR.
Apenas a reter e não esquecer: PSD e PCP aliaram-se na defesa deste PGR.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2006
Correio dos leitores: "Presidenciais da instabilidade"
Publicado por
Vital Moreira
«Relativamente às eleições presidenciais, gostaria de referir alguns aspectos que considero relevantes:
1) Estamos perante um acto eleitoral que visa eleger um dos seis candidatos para o cargo de Presidente da República e não um Governo ou um Primeiro-Ministro. Porém, muitos ainda ignoram os poderes presidenciais e confundem os cargos;
2) Para uma melhor decisão, deveremos olhar para o cargo e, tendo em atenção o que esse cargo representa e os poderes que o Presidente pode exercer, escolher qual dos candidatos que, no nosso entender, melhor pode servir o país e mais garantias nos dá de exercer correctamente os poderes que lhe são conferidos pela Constituição. Porém, muitos insistem em escolher primeiro o candidato que mais agrada e só depois "escolhemos" e pensamos que poderes melhor se encaixam nesse candidato (há até quem fale em mudar para um regime presidencialista);
3) Tendo em conta os poderes que podem ser exercidos, considero que nenhum dos candidatos tem o perfil necessário, neste momento, para ser Presidente, nem me transmite garantias de estabilidade. Garcia Pereira, Francisco Louça e Jerónimo de Sousa representam uma oposição frontal a este Governo e o cargo presidencial seria um meio para fazerem oposição, levando inevitavelmente a um conflito institucional e grave. Manuel Alegre leva a cabo uma "vendetta" política por não ter sido escolhido pelo PS, o que provocaria, de igual modo, um conflito entre ele e o Governo. Mário Soares durante dez anos mostrou virtudes como Presidente mas parece-me já sem todas as condições para exercer cabalmente o cargo. Cavaco Silva e ao contrário do que muitos pretendem fazer crer, não será um pacificador nem colaborará ou ajudará este Governo. Basta ouvir as suas afirmações para se perceber que tentará impor as suas ideias, sobretudo as económico-financeiras, ao Governo, imiscuindo-se nas suas competências reservadas. Se este não as aceitar, teremos também um gravíssimo conflito ou, nas palavras do revoltado mas lúcido Santana Lopes, "um sarilho institucional".
4) Olhando para os seis candidatos que se me apresentam, mais fico convencido que quem melhor poderia exercer o cargo presidencial e os poderes que lhe são atrbuídos, seria, pelo seu perfil, pela sua experiência, pelo seu percurso político e moderação, o Prof. Dr. Diogo Freitas do Amaral. Até esteve para avançar, pena não ter tido apoios partidários...
5) Há quem diga demagogicamente que Cavaco Silva será, dos seis candidatos, aquele que melhor compreenderá e mais colaborará com este Governo. Só um distraído vai na cantiga. Se assim fosse, não diria que "o país está sem rumo" nem que iria propor ao Governo alterações à política que está a seguir.
6) Por último, diz-se que uma das razões de as sondagens darem uma vitória folgada a Cavaco Silva prende-se com um descontentamento em relação às medidas do Governo. Não me parece lógico, pois se tal fosse verdade as sondagens que periodicamente são realizadas não mostrariam um PS mantendo as percentagens nem a vantagem sobre o PSD que conseguiu nas últimas eleições legislativas. Nem Cavaco teria sondagens tão animadoras, pois é visto (enganadoramente) como um apoiante das medidas deste Governo. É uma questão de lógica, que muitos ignoram, com claras intenções político-partidárias.
Só me resta dizer que, quem quer que venha a ser o próximo Presidente, este Governo terá que ser bastante coeso, determinado e corajoso, como tem sido até ao momento.»
(Ricardo Sardo)
1) Estamos perante um acto eleitoral que visa eleger um dos seis candidatos para o cargo de Presidente da República e não um Governo ou um Primeiro-Ministro. Porém, muitos ainda ignoram os poderes presidenciais e confundem os cargos;
2) Para uma melhor decisão, deveremos olhar para o cargo e, tendo em atenção o que esse cargo representa e os poderes que o Presidente pode exercer, escolher qual dos candidatos que, no nosso entender, melhor pode servir o país e mais garantias nos dá de exercer correctamente os poderes que lhe são conferidos pela Constituição. Porém, muitos insistem em escolher primeiro o candidato que mais agrada e só depois "escolhemos" e pensamos que poderes melhor se encaixam nesse candidato (há até quem fale em mudar para um regime presidencialista);
3) Tendo em conta os poderes que podem ser exercidos, considero que nenhum dos candidatos tem o perfil necessário, neste momento, para ser Presidente, nem me transmite garantias de estabilidade. Garcia Pereira, Francisco Louça e Jerónimo de Sousa representam uma oposição frontal a este Governo e o cargo presidencial seria um meio para fazerem oposição, levando inevitavelmente a um conflito institucional e grave. Manuel Alegre leva a cabo uma "vendetta" política por não ter sido escolhido pelo PS, o que provocaria, de igual modo, um conflito entre ele e o Governo. Mário Soares durante dez anos mostrou virtudes como Presidente mas parece-me já sem todas as condições para exercer cabalmente o cargo. Cavaco Silva e ao contrário do que muitos pretendem fazer crer, não será um pacificador nem colaborará ou ajudará este Governo. Basta ouvir as suas afirmações para se perceber que tentará impor as suas ideias, sobretudo as económico-financeiras, ao Governo, imiscuindo-se nas suas competências reservadas. Se este não as aceitar, teremos também um gravíssimo conflito ou, nas palavras do revoltado mas lúcido Santana Lopes, "um sarilho institucional".
4) Olhando para os seis candidatos que se me apresentam, mais fico convencido que quem melhor poderia exercer o cargo presidencial e os poderes que lhe são atrbuídos, seria, pelo seu perfil, pela sua experiência, pelo seu percurso político e moderação, o Prof. Dr. Diogo Freitas do Amaral. Até esteve para avançar, pena não ter tido apoios partidários...
5) Há quem diga demagogicamente que Cavaco Silva será, dos seis candidatos, aquele que melhor compreenderá e mais colaborará com este Governo. Só um distraído vai na cantiga. Se assim fosse, não diria que "o país está sem rumo" nem que iria propor ao Governo alterações à política que está a seguir.
6) Por último, diz-se que uma das razões de as sondagens darem uma vitória folgada a Cavaco Silva prende-se com um descontentamento em relação às medidas do Governo. Não me parece lógico, pois se tal fosse verdade as sondagens que periodicamente são realizadas não mostrariam um PS mantendo as percentagens nem a vantagem sobre o PSD que conseguiu nas últimas eleições legislativas. Nem Cavaco teria sondagens tão animadoras, pois é visto (enganadoramente) como um apoiante das medidas deste Governo. É uma questão de lógica, que muitos ignoram, com claras intenções político-partidárias.
Só me resta dizer que, quem quer que venha a ser o próximo Presidente, este Governo terá que ser bastante coeso, determinado e corajoso, como tem sido até ao momento.»
(Ricardo Sardo)
quarta-feira, 18 de janeiro de 2006
A minha Presidente
Publicado por
Anónimo
A globalização tem destas coisas. Aproxima-nos mais das dores e das alegrias dos outros. Das suas derrotas e da suas vitórias. Dos seus candidatos a presidente ou a primeiro-ministro. Já se torna frequente nas eleições americanas esperarmos pelos resultados com tanta ansiedade como se fosse o nosso presidente (sabe-se lá porquê!).
Domingo o meu coração estava no Chile. E finalmente a notícia no ecran: Michelle Bachelet vence na segunda volta. Pela sua experiência de governação, pela coragem da sua vida, pela sua postura e pela sua campanha ela tornou-se a Minha Presidente. Pela segunda vez na vida festejei as eleições chilenas. Este domingo não «choveu em Santiago».
Domingo o meu coração estava no Chile. E finalmente a notícia no ecran: Michelle Bachelet vence na segunda volta. Pela sua experiência de governação, pela coragem da sua vida, pela sua postura e pela sua campanha ela tornou-se a Minha Presidente. Pela segunda vez na vida festejei as eleições chilenas. Este domingo não «choveu em Santiago».
PE não aceita acordo sobre perspectivas financeiras
Publicado por
AG
Dentro de uma hora, no Plenário do Parlamento Europeu, votarei a favor de uma resolução que rejeita na sua forma actual o acordo sobre perspectivas financeiras alcançado no último Conselho Europeu.
Na declaração de voto que abaixo transcrevo explico porquê e sugiro meios de se ultrapassar rapidamente o impasse:
"O PE tem não só direito, mas verdadeira obrigação, de exercer as suas competências de co-decisão no processo de definição das perspectivas financeiras para o período 2007-2013, que devem permitir relançar o crescimento e o emprego por toda a Europa.
Em Dezembro último, o Conselho ignorou este direito/obrigação e esqueceu que precisava do PE para assinar o Acordo Inter-Institucional indispensável para a entrada em vigor do orçamento plurianual.
Mais grave ainda, o Conselho esqueceu-se também de assegurar o financiamento de políticas centrais para a aplicação da Estratégia de Lisboa e para a actuação responsável da Europa no mundo. Além do insuficiente tecto orçamental que determinou, contra a proposta da Comissão, o Conselho preferiu distribuir dinheiro pelos Estados Membros numa lógica merceeira e nacionalista de "retorno".
Em consequência, a Comissão acha-se sem recursos para financiar políticas de cidadania, incidindo em particular sobre a juventude, a educação, a pesquisa e o desenvolvimento, a cultura; para financiar o Fundo de Ajustamento à Globalização, tão apregoado pelo Presidente Barroso; e ainda para financiar compromissos assumidos (designadamente pelo Conselho) no quadro da acção externa da União, incluindo missões de paz e a contra-proliferação de armas de destruição maciça.
Por isso votei a favor desta resolução em que o PE rejeita o Acordo na sua presente forma e exige o início de um processo negocial para encontrar os recursos que faltam..
O Conselho deve por isso mandatar a Presidência austríaca para negociar com o PE reservas de flexibilidade que permitam garantir os recursos necessários para financiar todas as políticas europeias deixadas "descalças" pelo Conselho. E para acordar numa clausula de revisão que permita em 2008 não apenas revisitar as despesas - incluindo um mais acelerado desvio de recursos da PAC para políticas de competitividade e inovação - mas também reconsiderar os próprios recursos orçamentais da União.
Não se trata de reabrir o acordado em Bruxelas em Dezembro. Mas antes de o suplementar com os meios necessários para financiar políticas e acções indispensáveis para uma Europa mais coesa e competitiva e mais responsável e credível como actor global".
Na declaração de voto que abaixo transcrevo explico porquê e sugiro meios de se ultrapassar rapidamente o impasse:
"O PE tem não só direito, mas verdadeira obrigação, de exercer as suas competências de co-decisão no processo de definição das perspectivas financeiras para o período 2007-2013, que devem permitir relançar o crescimento e o emprego por toda a Europa.
Em Dezembro último, o Conselho ignorou este direito/obrigação e esqueceu que precisava do PE para assinar o Acordo Inter-Institucional indispensável para a entrada em vigor do orçamento plurianual.
Mais grave ainda, o Conselho esqueceu-se também de assegurar o financiamento de políticas centrais para a aplicação da Estratégia de Lisboa e para a actuação responsável da Europa no mundo. Além do insuficiente tecto orçamental que determinou, contra a proposta da Comissão, o Conselho preferiu distribuir dinheiro pelos Estados Membros numa lógica merceeira e nacionalista de "retorno".
Em consequência, a Comissão acha-se sem recursos para financiar políticas de cidadania, incidindo em particular sobre a juventude, a educação, a pesquisa e o desenvolvimento, a cultura; para financiar o Fundo de Ajustamento à Globalização, tão apregoado pelo Presidente Barroso; e ainda para financiar compromissos assumidos (designadamente pelo Conselho) no quadro da acção externa da União, incluindo missões de paz e a contra-proliferação de armas de destruição maciça.
Por isso votei a favor desta resolução em que o PE rejeita o Acordo na sua presente forma e exige o início de um processo negocial para encontrar os recursos que faltam..
O Conselho deve por isso mandatar a Presidência austríaca para negociar com o PE reservas de flexibilidade que permitam garantir os recursos necessários para financiar todas as políticas europeias deixadas "descalças" pelo Conselho. E para acordar numa clausula de revisão que permita em 2008 não apenas revisitar as despesas - incluindo um mais acelerado desvio de recursos da PAC para políticas de competitividade e inovação - mas também reconsiderar os próprios recursos orçamentais da União.
Não se trata de reabrir o acordado em Bruxelas em Dezembro. Mas antes de o suplementar com os meios necessários para financiar políticas e acções indispensáveis para uma Europa mais coesa e competitiva e mais responsável e credível como actor global".
terça-feira, 17 de janeiro de 2006
Socialistas por governos paritários
Publicado por
AG
No sul da Europa, Zapatero indicou o caminho. Agora é a recentemente eleita presidente do Chile, Michelle Bachelet, que anuncia a formação de um governo paritário no seu país.Decididamente algo está a mudar nos políticos, que percebem finalmente que as mentalidades mudaram e que os cidadãos já não querem que se continuem a perder os talentos das mulheres na vida política. Os preconceitos, se os há contra a competência das mulheres, estão na cabeça de certos políticos, não dos eleitores.
Zapatero e Michelle perceberam isto mesmo. Os eleitores hoje em dia querem uma participação das mulheres em cargos de direcção política em igualdade com os homens.
Quem não percebe isto é parolo - não percebe o que se passa no Mundo.
Na Alemanha, a Chanceler Merkel, para já, surpreende pela positiva.
Em África, na Libéria, uma mulher, Ellen Johnson Sirleaf, foi eleita para a presidência. Nos Estados Unidos veremos o que trará o futuro, tudo apontando para um combate político entre duas mulheres para suceder a Bush: Hillary e Condollezza. Em Portugal, o que eu queria, como socialista, é que fossem os políticos da minha família política a já ter percebido ou estar rapidamente a apreender esta realidade. Em coerência com o historial socialista na luta política em defesa da igualdade.
Os socialistas Zapatero e Michelle, em países nada nórdicos, dão exemplo.
Por quê continuar a cultivar a parolice aqui em Portugal?
Zapatero e Michelle perceberam isto mesmo. Os eleitores hoje em dia querem uma participação das mulheres em cargos de direcção política em igualdade com os homens.
Quem não percebe isto é parolo - não percebe o que se passa no Mundo.
Na Alemanha, a Chanceler Merkel, para já, surpreende pela positiva.
Em África, na Libéria, uma mulher, Ellen Johnson Sirleaf, foi eleita para a presidência. Nos Estados Unidos veremos o que trará o futuro, tudo apontando para um combate político entre duas mulheres para suceder a Bush: Hillary e Condollezza. Em Portugal, o que eu queria, como socialista, é que fossem os políticos da minha família política a já ter percebido ou estar rapidamente a apreender esta realidade. Em coerência com o historial socialista na luta política em defesa da igualdade.
Os socialistas Zapatero e Michelle, em países nada nórdicos, dão exemplo.
Por quê continuar a cultivar a parolice aqui em Portugal?
Obviamente Mário Soares
Publicado por
AG
Porque Portugal precisa de um Presidente da República que o represente bem no mundo. Que ajude a projectar uma imagem progressista do país - dos portugueses que não escondem problemas, atrasos ou desvios, sem soçobrar na lamúria, com consciência histórica das capacidades que têm para procurar soluções sustentáveis.
Cá dentro, um tal Presidente incentivará a auto-estima de que os portugueses carecem para enfrentar os desafios do desenvolvimento económico e da competitividade internacional. Ao contrário de quem só sabe prometer oásis ou agitar o fantasma da crise: assim se propagandeou o «Portugal de tanga», transformando a profecia em realidade.
Portugal precisa na Presidência da República de um defensor dos Direitos Humanos, do Estado de Direito democrático e do Direito Internacional. Com cultura política humanista e internacionalista. Com coragem e ousadia. De quem queira contribuir para controlar a globalização, por um mundo melhor, mais justo e mais seguro para todos, aproveitando as oportunidades extraordinárias, mas também intuindo a voragem desreguladora que alarga o fosso entre ricos e pobres, entre quem progride e quem se sente excluido. Para isso é preciso ser europeista e saber trabalhar em articulação com parceiros e aliados: sem complexos, tanto para afirmar uma visão portuguesa, como para liderar a sua transformação para responder a novos desafios.
Portugal precisa de um Presidente atento às questões que interpelam a sociedade, por incómodas ou dilemáticas que sejam. Que tenha ideias e capacidade de as expressar, curiosidade intelectual e sensibilidade social e cultural. Um Presidente que sempre tenha lido livros, jornais e revistas, oiça rádio, vá ao teatro e a exposições, veja telejornais e hoje até espreite blogues.
Não serve quem se contente em engulir títulos da imprensa em pastilha liofilizada. Quem julgue compensar a limitação de horizontes escudando-se atrás de consultores, conselheiros, aconselhadores e assessores, muitos de interesses duvidosos e revanchismo garantido. Quem tenha um dia sugerido que nunca tinha dúvidas e raramente se enganava. Quem vista farpela tecnocrata, disfarce falhas de relacionamento em rodomas académicas, dissimule impulsões de governar e recorra à hibernação durante anos para não se expôr e para adensar calculadamente o mito do salvador.
Portugal precisa de um Presidente que não se abstenha de intervir. Não para bloquear quem governa e fomentar conflitos institucionais. Mas para exercer a «magistratura de influência» com que os portugueses o investem ao elegê-lo. Para incentivar, alertar ou fazer ponderar quem governa. Para desentorpecer a consciência colectiva. Para ajudar a derimir conflitos, moderar disputas ou enfrentar desafios civilizacionais.
Um Presidente que intervenha, mas não para se substituir ao governo. Não para ditar estratégias ou inventar Secretários de Estado... Antes para ajudar a persuadir o governo, a máquina da administração pública, os empresários e os trabalhadores portugueses que é também cá que é preciso investir para compensar deslocalizações gananciosas, é aqui que é preciso inovar, instruir, qualificar, criar postos de trabalho, racionalizar processos burocráticos e administrativos, inventar e usar novas tecnologias, desenvolver o conhecimento científico e a partir de Portugal descobrir novos mercados exteriores, diversificar produções, serviços e estratégias comerciais, criar mais riqueza e re-investir para tornar a sociedade mais equilibrada e justa.
Um Presidente que intervenha não para exercer poderes que não tem. Mas psicologicamente apetrechado para exercer todos os que tem, segundo a Constituição, para defender a Democracia, o Estado de Direito e o regular funcionamento das instituições democráticas. Integralmente, no tempo certo, sem angústias paralizantes, sem tergiversações debilitantes, ouvindo quem tiver de ouvir.
Em suma: Portugal precisa de um Presidente da República que exerça as competências que a Constituição lhe atribui e deixe o Primeiro Ministro governar durante toda a legislatura, como decidido pelo povo em Fevereiro. Um Presidente que não crie mais factores de crispação na sociedade portuguesa. Um Presidente que não dê alibis ao primeiro governo socialista com maioria absoluta no que respeita à obrigação de governar bem Portugal. Mário Soares reune obviamente todas as qualidades para ser esse Presidente. Provou-o em 10 anos de exercício. E não lhe falta vitalidade, como demonstrou calcorreando de novo o país de lés a lés e nos debates televisionados.
Mário Soares nada tem a ganhar com a Presidência: prestígio nacional e internacional, reconhecimento histórico, nada mais um mandato lhe acrescenta. Pelo contrário, arrisca perder. Corre porque nunca parou. Corre porque está vivo. Corre porque entende, e bem, que Portugal ainda precisa dele.
Ana Gomes
Cá dentro, um tal Presidente incentivará a auto-estima de que os portugueses carecem para enfrentar os desafios do desenvolvimento económico e da competitividade internacional. Ao contrário de quem só sabe prometer oásis ou agitar o fantasma da crise: assim se propagandeou o «Portugal de tanga», transformando a profecia em realidade.
Portugal precisa na Presidência da República de um defensor dos Direitos Humanos, do Estado de Direito democrático e do Direito Internacional. Com cultura política humanista e internacionalista. Com coragem e ousadia. De quem queira contribuir para controlar a globalização, por um mundo melhor, mais justo e mais seguro para todos, aproveitando as oportunidades extraordinárias, mas também intuindo a voragem desreguladora que alarga o fosso entre ricos e pobres, entre quem progride e quem se sente excluido. Para isso é preciso ser europeista e saber trabalhar em articulação com parceiros e aliados: sem complexos, tanto para afirmar uma visão portuguesa, como para liderar a sua transformação para responder a novos desafios.
Portugal precisa de um Presidente atento às questões que interpelam a sociedade, por incómodas ou dilemáticas que sejam. Que tenha ideias e capacidade de as expressar, curiosidade intelectual e sensibilidade social e cultural. Um Presidente que sempre tenha lido livros, jornais e revistas, oiça rádio, vá ao teatro e a exposições, veja telejornais e hoje até espreite blogues.
Não serve quem se contente em engulir títulos da imprensa em pastilha liofilizada. Quem julgue compensar a limitação de horizontes escudando-se atrás de consultores, conselheiros, aconselhadores e assessores, muitos de interesses duvidosos e revanchismo garantido. Quem tenha um dia sugerido que nunca tinha dúvidas e raramente se enganava. Quem vista farpela tecnocrata, disfarce falhas de relacionamento em rodomas académicas, dissimule impulsões de governar e recorra à hibernação durante anos para não se expôr e para adensar calculadamente o mito do salvador.
Portugal precisa de um Presidente que não se abstenha de intervir. Não para bloquear quem governa e fomentar conflitos institucionais. Mas para exercer a «magistratura de influência» com que os portugueses o investem ao elegê-lo. Para incentivar, alertar ou fazer ponderar quem governa. Para desentorpecer a consciência colectiva. Para ajudar a derimir conflitos, moderar disputas ou enfrentar desafios civilizacionais.
Um Presidente que intervenha, mas não para se substituir ao governo. Não para ditar estratégias ou inventar Secretários de Estado... Antes para ajudar a persuadir o governo, a máquina da administração pública, os empresários e os trabalhadores portugueses que é também cá que é preciso investir para compensar deslocalizações gananciosas, é aqui que é preciso inovar, instruir, qualificar, criar postos de trabalho, racionalizar processos burocráticos e administrativos, inventar e usar novas tecnologias, desenvolver o conhecimento científico e a partir de Portugal descobrir novos mercados exteriores, diversificar produções, serviços e estratégias comerciais, criar mais riqueza e re-investir para tornar a sociedade mais equilibrada e justa.
Um Presidente que intervenha não para exercer poderes que não tem. Mas psicologicamente apetrechado para exercer todos os que tem, segundo a Constituição, para defender a Democracia, o Estado de Direito e o regular funcionamento das instituições democráticas. Integralmente, no tempo certo, sem angústias paralizantes, sem tergiversações debilitantes, ouvindo quem tiver de ouvir.
Em suma: Portugal precisa de um Presidente da República que exerça as competências que a Constituição lhe atribui e deixe o Primeiro Ministro governar durante toda a legislatura, como decidido pelo povo em Fevereiro. Um Presidente que não crie mais factores de crispação na sociedade portuguesa. Um Presidente que não dê alibis ao primeiro governo socialista com maioria absoluta no que respeita à obrigação de governar bem Portugal. Mário Soares reune obviamente todas as qualidades para ser esse Presidente. Provou-o em 10 anos de exercício. E não lhe falta vitalidade, como demonstrou calcorreando de novo o país de lés a lés e nos debates televisionados.
Mário Soares nada tem a ganhar com a Presidência: prestígio nacional e internacional, reconhecimento histórico, nada mais um mandato lhe acrescenta. Pelo contrário, arrisca perder. Corre porque nunca parou. Corre porque está vivo. Corre porque entende, e bem, que Portugal ainda precisa dele.
Ana Gomes
sábado, 14 de janeiro de 2006
O gato, os ratos... e as ratazanas
Publicado por
AG
O Presidente altera-se subitamente no cadeirão de onde segue a telenovela nacional de que também é protagonista: ralha ao gato, chama o PGR, pede inquéritos (mas não cabeças, esclarecem ajudantes...)
Acordou finalmente, ou vai ser como das outras vezes, vira-se para o outro lado e volta a fechar os olhos?
È que pode ter eminências psiquiátricas em casa a «fazer-lhe» a cabeça, mas não deve ter perdido os reflexos e a sabedoria do excelente e experiente advogado que foi.
E bastava ter lido a carta que o Juíz Rui Teixeira entregou na AR e desencadeou o interrogatório e prisão de Paulo Pedroso para perceber a tremenda incompetência e malevolência que emergiam da investigação e da prossecução.
Bastava também ter assistido à inacção e desinteresse do MP pelos processos desaparecidos nos anos 80 e pelas «Deneuves» do Parque, em contraste com a perseguição difamatória lançada contra Ferro Rodrigues, para perceber que uma sórdida urdidura estava em marcha, tendo no MP e na PJ servidores tão zelosos como incompetentes (um dia chegaremos às ratazanas mandantes...). Tudo amplificado pela cumplicidade voraz dos media.
Uma urdidura que, incidindo sobre Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso (por razões que hão-de perceber-se quando se identificarem as ratazanas) visava muito mais do que o PS e aqueles seus dirigentes: visava desacreditar o Estado de Direito e a Justiça, para invalidar o processo Casa Pia e impedir que levantasse outras pontas. Para continuar a deixar na sombra, impunes, os criminosos que durante décadas abusaram (uns) e descuraram (outros e outras) as crianças à guarda naquela Casa.
Eu, que nem sou especialista, só li o Perry Mason em pequena, vi a urdidura, disse-o ...e logo senti a rataria a correr freneticamente para me cilindrar.
O Senhor Presidente não a viu? Continuava psiquiatricamente hipnotisado - só isso explica de repente não reconhecer velhos e verdadeiros amigos. Ou nem sequer ter acordado quando a monstruosidade lhe bateu à porta de casa, com uma carta anónima no processo "denunciando-o"; e com as fotografias de outras altas figuras do Estado e até do Cardeal Patriarca (só escapou o inefável PGR) nos albuns de mostrados às «crianças que não mentem» das desveladas Donas Catalina e Dulce. Um leve estremunhar, uma careta de desagrado belenense. E logo rebolou para o outro lado, voltando às asas de Morfeu.
Tão profundamente, que teve de substituir Durão Barroso e conseguiu fazê-lo sempre de olhos fechados: para evitar o embaraço de uma vitória em eleições do amigo de repente desconhecido (o PS de Ferro Rodrigues acabara de ganhar as europeias com 45% dos votos), encomendou o país à paródia santanista.
Azar: quatro meses depois a paródia virara «vaudeville» rasca. Estremunhado, viu-se mesmo forçado a convocar eleições. Do embaraço o menos - o amigo desconhecido já batera com a porta, esclarecido sobre certas «amizades».
Entretanto Paulo Pedroso e outros arguidos são despronunciados por decisão de tribunal superior sustentada em grosseiros erros na investigação e instrução. O PGR dislata como só ele sabe e pode, admitindo insuficiências na investigação e escutas em barda, mas queixando-se de pressões e falta de elementos para sustentar a urdidura. Ferro Rodrigues deita-lhe à bigodice que lhos levou, mas ele desviara a investigação para quem já demonstrara incompetência, preconceito e parcialidade.
O mais recente episódio da telenovela nacional, revelando que as escutas são patrioticamente abrangentes e detalham até para quem fala a familia presidencial, parece ter quebrado o entorpecente.
Mas será que o Presidente acordou mesmo, nesta ponta final? Esperará ainda que o indigente gato desta telenovela, apesar de tão obviamente constipado, surdo e cego, cace ratos ? Ou que ele apareça guilhotinado na ratoeira? E quem vai afinal dar cabo das ratazanas?
(revisto em 18.1.06)
Acordou finalmente, ou vai ser como das outras vezes, vira-se para o outro lado e volta a fechar os olhos?
È que pode ter eminências psiquiátricas em casa a «fazer-lhe» a cabeça, mas não deve ter perdido os reflexos e a sabedoria do excelente e experiente advogado que foi.
E bastava ter lido a carta que o Juíz Rui Teixeira entregou na AR e desencadeou o interrogatório e prisão de Paulo Pedroso para perceber a tremenda incompetência e malevolência que emergiam da investigação e da prossecução.
Bastava também ter assistido à inacção e desinteresse do MP pelos processos desaparecidos nos anos 80 e pelas «Deneuves» do Parque, em contraste com a perseguição difamatória lançada contra Ferro Rodrigues, para perceber que uma sórdida urdidura estava em marcha, tendo no MP e na PJ servidores tão zelosos como incompetentes (um dia chegaremos às ratazanas mandantes...). Tudo amplificado pela cumplicidade voraz dos media.
Uma urdidura que, incidindo sobre Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso (por razões que hão-de perceber-se quando se identificarem as ratazanas) visava muito mais do que o PS e aqueles seus dirigentes: visava desacreditar o Estado de Direito e a Justiça, para invalidar o processo Casa Pia e impedir que levantasse outras pontas. Para continuar a deixar na sombra, impunes, os criminosos que durante décadas abusaram (uns) e descuraram (outros e outras) as crianças à guarda naquela Casa.
Eu, que nem sou especialista, só li o Perry Mason em pequena, vi a urdidura, disse-o ...e logo senti a rataria a correr freneticamente para me cilindrar.
O Senhor Presidente não a viu? Continuava psiquiatricamente hipnotisado - só isso explica de repente não reconhecer velhos e verdadeiros amigos. Ou nem sequer ter acordado quando a monstruosidade lhe bateu à porta de casa, com uma carta anónima no processo "denunciando-o"; e com as fotografias de outras altas figuras do Estado e até do Cardeal Patriarca (só escapou o inefável PGR) nos albuns de mostrados às «crianças que não mentem» das desveladas Donas Catalina e Dulce. Um leve estremunhar, uma careta de desagrado belenense. E logo rebolou para o outro lado, voltando às asas de Morfeu.
Tão profundamente, que teve de substituir Durão Barroso e conseguiu fazê-lo sempre de olhos fechados: para evitar o embaraço de uma vitória em eleições do amigo de repente desconhecido (o PS de Ferro Rodrigues acabara de ganhar as europeias com 45% dos votos), encomendou o país à paródia santanista.
Azar: quatro meses depois a paródia virara «vaudeville» rasca. Estremunhado, viu-se mesmo forçado a convocar eleições. Do embaraço o menos - o amigo desconhecido já batera com a porta, esclarecido sobre certas «amizades».
Entretanto Paulo Pedroso e outros arguidos são despronunciados por decisão de tribunal superior sustentada em grosseiros erros na investigação e instrução. O PGR dislata como só ele sabe e pode, admitindo insuficiências na investigação e escutas em barda, mas queixando-se de pressões e falta de elementos para sustentar a urdidura. Ferro Rodrigues deita-lhe à bigodice que lhos levou, mas ele desviara a investigação para quem já demonstrara incompetência, preconceito e parcialidade.
O mais recente episódio da telenovela nacional, revelando que as escutas são patrioticamente abrangentes e detalham até para quem fala a familia presidencial, parece ter quebrado o entorpecente.
Mas será que o Presidente acordou mesmo, nesta ponta final? Esperará ainda que o indigente gato desta telenovela, apesar de tão obviamente constipado, surdo e cego, cace ratos ? Ou que ele apareça guilhotinado na ratoeira? E quem vai afinal dar cabo das ratazanas?
(revisto em 18.1.06)
sexta-feira, 13 de janeiro de 2006
Basta o que basta
Publicado por
Vital Moreira
Se forem verdadeiras as escandalosas notícias sobre os registos pormenorizados das comunicações telefónicas de várias personalidades políticas alheias ao processo na investigação do processo Casa Pia, o destino do PGR só pode ser a demissão imediata. O que, aliás, surpreende é que seja preciso demiti-lo.
Aníbal Cavaco Deus Silva
Publicado por
Vital Moreira
Um antigo ministro de Cavaco sobre as presidenciais: «Precisamos de um Presidente que veja tudo e que saiba tudo». A omnividência e a omniciência sempre foram propriedades divinas. Felizes os povos que podem eleger Deus para Chefe de Estado...
Zangam-se as comadres.....
Publicado por
AG
Num momento de confusão e incerteza quanto ao futuro do Iraque, em que tanto tropas britânicas como americanas preparam estratégias de retirada, multiplicam-se os ataques pessoais entre responsáveis pela precipitada e desastrosa campanha militar iniciada em 2003.
Agora é nem mais nem menos Paul Bremer, responsável pelo governo provisório da coligação ocupante até Junho de 2004, fiel executor da política de Bush e dos falcões da administração americana, que tenta sacudir a água do capote. Segundo o «Financial Times», Bremer acusa as autoridades militares de tentarem agora transformá-lo em bode expiatório dos insucessos do pós-guerra. Ele, que, segundo diz, defendera que o Iraque precisaria de pelo menos 500.000 militares no terreno para pacificar o país. Rumsfeld é que, segundo ele, teria sido responsável por ter enviado um número muito inferior. Quanto aos políticos iraquianos, as críticas de Bremer são desdenhantes - e bem reveladoras: «eles não conseguiam organizar uma parada, quanto mais um país».
Neste lado do Atlântico o quadro também não é edificante. Um dos mais graduados oficiais britânicos que serviram no Iraque acusa agora os militares americanos de «insensibilidade cultural», muito perto do que chamou «racismo institucional». Nada mais nem menos do que o Brigadeiro Nigel Aylwin-Foster, Sub-Comandante das forças britânicas que treinavam o exército iraquiano. Ele explica, em artigo publicado na revista militar americana «Military Review», que os chefes militares americanos nunca perceberam que os seus homens precisavam de conhecer a cultura árabe e técnicas de combate à insurreição. O que, no seu entender, ajudou a engrossar a insurreição iraquiana. «Em vez de tentar conquistar "hearts and minds" viam a destruição do inimigo como um objectivo estratégico em si», quando o objectivo deveria ter sido «perceber como gerir a população». Comentário seco vindo dos States, segundo o «Daily Telegraph»: em>«Insuportável snob britânico».
Tony Blair também não escapa à fúria das comadres amofinadas. Sir Michael Rose, o General que comandou em tempos a força das NU na Bósnia, apela agora ao «impeachment» do Primeiro Ministro britânico. «As consequências da guerra têm sido desastrosas tanto para o povo iraquiano como para o Ocidente em termos dos nossos interesses na guerra contra o terrorismo. Os políticos têm de ser responsabilizados e na minha opinião Blair deveria ser "impeached". Isto para prevenir que no futuro os políticos tratem levianamente a questão de levar um país a entrar em guerra».
Cheira mesmo a fim de reinado. E não é só em Londres...
Agora é nem mais nem menos Paul Bremer, responsável pelo governo provisório da coligação ocupante até Junho de 2004, fiel executor da política de Bush e dos falcões da administração americana, que tenta sacudir a água do capote. Segundo o «Financial Times», Bremer acusa as autoridades militares de tentarem agora transformá-lo em bode expiatório dos insucessos do pós-guerra. Ele, que, segundo diz, defendera que o Iraque precisaria de pelo menos 500.000 militares no terreno para pacificar o país. Rumsfeld é que, segundo ele, teria sido responsável por ter enviado um número muito inferior. Quanto aos políticos iraquianos, as críticas de Bremer são desdenhantes - e bem reveladoras: «eles não conseguiam organizar uma parada, quanto mais um país».
Neste lado do Atlântico o quadro também não é edificante. Um dos mais graduados oficiais britânicos que serviram no Iraque acusa agora os militares americanos de «insensibilidade cultural», muito perto do que chamou «racismo institucional». Nada mais nem menos do que o Brigadeiro Nigel Aylwin-Foster, Sub-Comandante das forças britânicas que treinavam o exército iraquiano. Ele explica, em artigo publicado na revista militar americana «Military Review», que os chefes militares americanos nunca perceberam que os seus homens precisavam de conhecer a cultura árabe e técnicas de combate à insurreição. O que, no seu entender, ajudou a engrossar a insurreição iraquiana. «Em vez de tentar conquistar "hearts and minds" viam a destruição do inimigo como um objectivo estratégico em si», quando o objectivo deveria ter sido «perceber como gerir a população». Comentário seco vindo dos States, segundo o «Daily Telegraph»: em>«Insuportável snob britânico».
Tony Blair também não escapa à fúria das comadres amofinadas. Sir Michael Rose, o General que comandou em tempos a força das NU na Bósnia, apela agora ao «impeachment» do Primeiro Ministro britânico. «As consequências da guerra têm sido desastrosas tanto para o povo iraquiano como para o Ocidente em termos dos nossos interesses na guerra contra o terrorismo. Os políticos têm de ser responsabilizados e na minha opinião Blair deveria ser "impeached". Isto para prevenir que no futuro os políticos tratem levianamente a questão de levar um país a entrar em guerra».
Cheira mesmo a fim de reinado. E não é só em Londres...
quinta-feira, 12 de janeiro de 2006
Correio dos leitores: O plebiscito
Publicado por
Vital Moreira
«Ao longo de uma campanha eleitoral já longa, formei a convicção de que Cavaco Silva, através de uma encenação estudada, procura protagonizar a esperança e explorar a nossa tentação messiânica.
Fá-lo ao tentar capitalizar o descontentamento, lançando farpas ao Governo quando, ele próprio, preconiza uma política orçamental ainda mais restritiva e contraccionista.
Fá-lo, também, ao dizer que "sabe aquilo de que o País precisa" e que pretende "fixar as prioridades", sem ousar enunciá-las, apenas lançando sugestões como a da criação da Secretaria de Estado para o Investimento Estrangeiro, irrelevante na substância mas reveladora da forma como pretende domesticar o Governo.
Fá-lo, ainda, ao dizer que velará pelo "bom governo" e não se coibirá de avaliar a acção executiva, a par e passo, bem como de propor políticas e medidas legislativas concretas, "cabendo ao Primeiro Ministro convencê-lo do contrário" (vide entrevista ao JN).
Dito isto, sou de opinião de que uma vitória à primeira volta constituiria um plebiscito ao homem. Dessa "legitimação" e da subsequente dinâmica de agregação da direita até à imposição de um presidencialismo "de facto", à margem e ao atropelo da Constituição, iria um só passo.
Atente-se, aliás, nas palavras ontem proferidas por Eanes - aquele que, a partir de Belém, criou o partido "regenerador", que acabou vendendo a sigla a um grupo neo-fascista: "a vitória à primeira volta seria muito importante pela capacidade de manobra que permitiria".
O desequilíbrio efectivo de poderes a favor de um Presidente factualmente legitimado para fazer o contraponto da acção governativa, num contexto de crise e de crispação crescente com o Chefe de Estado e o Primeiro Ministro, sobre o qual recai o ónus das dificuldades sentidas pela população, conduziria facilmente à dissolução do Parlamento, abortando o projecto reformista iniciado pelo PS.
Nestes termos, para além de interrogar sobre o silêncio do Engº Sócrates, pergunto-me como é possível que a esquerda - míope e anestesiada pelas querelas - não seja capaz de se mobilizar pelo essencial (por exemplo, através de manifestos e iniciativas públicas que ultrapassem o espaço de cada candidato) e provoquem o necessário sobressalto e reflexão sobre a natureza e propósitos da candidatura de Cavaco Silva.
Lamentavelmente, é Santana Lopes, ressabiado e no seu estilo narcisista, quem acaba de colocar na ordem do dia o risco da instabilidade e da subversão do equilíbrio de poderes, contra os quais temos de nos bater até ao limite das nossas forças. Se Mário Soares consegue antever este perigo (e outros não) é, desde logo, porque lhe sobra em lucidez e experiência o que aos outros falta.»
Eduardo Gravanita
Fá-lo ao tentar capitalizar o descontentamento, lançando farpas ao Governo quando, ele próprio, preconiza uma política orçamental ainda mais restritiva e contraccionista.
Fá-lo, também, ao dizer que "sabe aquilo de que o País precisa" e que pretende "fixar as prioridades", sem ousar enunciá-las, apenas lançando sugestões como a da criação da Secretaria de Estado para o Investimento Estrangeiro, irrelevante na substância mas reveladora da forma como pretende domesticar o Governo.
Fá-lo, ainda, ao dizer que velará pelo "bom governo" e não se coibirá de avaliar a acção executiva, a par e passo, bem como de propor políticas e medidas legislativas concretas, "cabendo ao Primeiro Ministro convencê-lo do contrário" (vide entrevista ao JN).
Dito isto, sou de opinião de que uma vitória à primeira volta constituiria um plebiscito ao homem. Dessa "legitimação" e da subsequente dinâmica de agregação da direita até à imposição de um presidencialismo "de facto", à margem e ao atropelo da Constituição, iria um só passo.
Atente-se, aliás, nas palavras ontem proferidas por Eanes - aquele que, a partir de Belém, criou o partido "regenerador", que acabou vendendo a sigla a um grupo neo-fascista: "a vitória à primeira volta seria muito importante pela capacidade de manobra que permitiria".
O desequilíbrio efectivo de poderes a favor de um Presidente factualmente legitimado para fazer o contraponto da acção governativa, num contexto de crise e de crispação crescente com o Chefe de Estado e o Primeiro Ministro, sobre o qual recai o ónus das dificuldades sentidas pela população, conduziria facilmente à dissolução do Parlamento, abortando o projecto reformista iniciado pelo PS.
Nestes termos, para além de interrogar sobre o silêncio do Engº Sócrates, pergunto-me como é possível que a esquerda - míope e anestesiada pelas querelas - não seja capaz de se mobilizar pelo essencial (por exemplo, através de manifestos e iniciativas públicas que ultrapassem o espaço de cada candidato) e provoquem o necessário sobressalto e reflexão sobre a natureza e propósitos da candidatura de Cavaco Silva.
Lamentavelmente, é Santana Lopes, ressabiado e no seu estilo narcisista, quem acaba de colocar na ordem do dia o risco da instabilidade e da subversão do equilíbrio de poderes, contra os quais temos de nos bater até ao limite das nossas forças. Se Mário Soares consegue antever este perigo (e outros não) é, desde logo, porque lhe sobra em lucidez e experiência o que aos outros falta.»
Eduardo Gravanita
Três equívocos
Publicado por
Vital Moreira
Passei para a Aba da Causa o meu artigo desta semana no Público, com o título em epígrafe, uma reflexão sobre a campanha presidencial.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2006
Correio dos leitores: «Por que espera Sócrates?»
Publicado por
Vital Moreira
«Revoltado com a barreira que a maioria dos media fazem à campanha de Mário Soares, não veiculando uma só intervenção e apenas relatando os acidentes de campanha, fico entristecido ao observar o distanciamento do Secretário-Geral e muitos dirigentes.
Entristecido, desde logo, porque não tenho dúvidas de que o processo foi mal conduzido pela Direcção e pelo Secretário-Geral, desde a primeira hora, e que tal foi determinante para o aparecimento de duas candidaturas no nosso espaço político.
Entristecido, ainda, porque foi o Partido que incitou Mário Soares para avançar, aos 81 anos, para uma última batalha de que este não necessitava e na qual não estava obrigado a participar, mas à qual não se negou. Não há gratidão possível para o esforço de um homem que, no fim da vida, já foi tudo neste País. Por esta razão, seria exigido maior empenho do Secretário-Geral neste combate.
A 2 semanas do voto, parece-me que só a intervenção enérgica do Secretário-Geral a favor de Mário Soares pode inverter a tendência e colocar Soares na 2ª volta. É perceptível que o País lhe reconhece coragem e que sente não existir alternativa credível a Sócrates e ao PS. Assim sendo, Sócrates tem que utilizar este crédito que conquistou.
"A corda tem que ser esticada" e o Secretário-Geral tem que, com humildade, pedir aos portugueses que, antes de votar, ponderem nas consequências da sua escolha. E deve dizer-lhes, também, que não se pode esperar cooperação de quem diz que "o País está sem rumo" (vide Jornal de Negócios, 09.01.2006), quando é (quase) consensual que assim andou até Fevereiro/05 e que, só depois disso, surgiu uma maioria e um governo com a visão e a coragem que há muito faltavam. E tem, ainda, de dizer-lhes que será sempre leal com o Presidente que os portugueses escolherem mas que nunca abrirá mão das suas competências, assim como respeitará as do Presidente.
O calculismo, na vida como na política, é sempre criticável e, julgo, não colheria frutos. Espero que o Secretário-Geral não prefira fazer declarações brandas, de circunstância e através de meias-palavras, apenas no propósito de afirmar, no futuro, que não foi ele quem lançou a primeira pedra a Cavaco. Até porque este já começou a dar-lhe as primeiras "bicadas".
E, no papel de Presidente, não precisará de ser muito ostensivo, bastando-lhe manter o governo em "lume brando" para lhe ir minando a base social de apoio, ao mesmo tempo que promova a ascensão de um novo líder no PSD.
Sendo tudo isto tão provável, por que espera o Partido e o Secretário-Geral?
Quem não luta, perde...e merece a derrota.
Muito gostaria de, com muitos outros, poder (ajudar a) influenciar a Direcção, mas não sei por que meios. Por isso me lembrei de lhe remeter este e-mail.»
(Eduardo Gravanita, militante do PS)
Entristecido, desde logo, porque não tenho dúvidas de que o processo foi mal conduzido pela Direcção e pelo Secretário-Geral, desde a primeira hora, e que tal foi determinante para o aparecimento de duas candidaturas no nosso espaço político.
Entristecido, ainda, porque foi o Partido que incitou Mário Soares para avançar, aos 81 anos, para uma última batalha de que este não necessitava e na qual não estava obrigado a participar, mas à qual não se negou. Não há gratidão possível para o esforço de um homem que, no fim da vida, já foi tudo neste País. Por esta razão, seria exigido maior empenho do Secretário-Geral neste combate.
A 2 semanas do voto, parece-me que só a intervenção enérgica do Secretário-Geral a favor de Mário Soares pode inverter a tendência e colocar Soares na 2ª volta. É perceptível que o País lhe reconhece coragem e que sente não existir alternativa credível a Sócrates e ao PS. Assim sendo, Sócrates tem que utilizar este crédito que conquistou.
"A corda tem que ser esticada" e o Secretário-Geral tem que, com humildade, pedir aos portugueses que, antes de votar, ponderem nas consequências da sua escolha. E deve dizer-lhes, também, que não se pode esperar cooperação de quem diz que "o País está sem rumo" (vide Jornal de Negócios, 09.01.2006), quando é (quase) consensual que assim andou até Fevereiro/05 e que, só depois disso, surgiu uma maioria e um governo com a visão e a coragem que há muito faltavam. E tem, ainda, de dizer-lhes que será sempre leal com o Presidente que os portugueses escolherem mas que nunca abrirá mão das suas competências, assim como respeitará as do Presidente.
O calculismo, na vida como na política, é sempre criticável e, julgo, não colheria frutos. Espero que o Secretário-Geral não prefira fazer declarações brandas, de circunstância e através de meias-palavras, apenas no propósito de afirmar, no futuro, que não foi ele quem lançou a primeira pedra a Cavaco. Até porque este já começou a dar-lhe as primeiras "bicadas".
E, no papel de Presidente, não precisará de ser muito ostensivo, bastando-lhe manter o governo em "lume brando" para lhe ir minando a base social de apoio, ao mesmo tempo que promova a ascensão de um novo líder no PSD.
Sendo tudo isto tão provável, por que espera o Partido e o Secretário-Geral?
Quem não luta, perde...e merece a derrota.
Muito gostaria de, com muitos outros, poder (ajudar a) influenciar a Direcção, mas não sei por que meios. Por isso me lembrei de lhe remeter este e-mail.»
(Eduardo Gravanita, militante do PS)
domingo, 8 de janeiro de 2006
EDP - é de quem?
Publicado por
AG
Titeriteirices na Cultura irritam qualquer um.
Mas na Economia inquietam: e é na energia que o desnorte estratégico do «centrão» mais assusta. Ressalta num plano tecnológico que ignora recursos que Portugal tem para dar e podia vender bem, se soubesse investir (o mar e a energia solar).
O episódio EDP é mais um na valsa do «centrão» em que ex-governantes alternam na chefia de empresas públicas ou participadas pelo Estado, sob a batuta dos governantes do momento. Mas a promiscuidade atinge níveis inéditos, neste caso: um dos ex-governantes e aspirante a controlador da empresa de serviço público, é também representante máximo de um accionista privado estrangeiro, o principal concorrente da dita empresa; e foi enquanto governante quem autorizou a participação a esse accionista estrangeiro nessa e noutra empresa pública; é ainda ... deputado... socialista.
Joaquim Pina Moura devia ter a decência de abandonar o Parlamento.
A Comissão de Ética da Assembleia da República devia considerar o caso e declarar a incompatibilidade, para credibilizar a função parlamentar.
Governantes e dirigentes socialistas deviam parar de dar cobertura a tal promiscuidade.
Militantes socialistas deviam deixar de continuar calados.
Mas na Economia inquietam: e é na energia que o desnorte estratégico do «centrão» mais assusta. Ressalta num plano tecnológico que ignora recursos que Portugal tem para dar e podia vender bem, se soubesse investir (o mar e a energia solar).
O episódio EDP é mais um na valsa do «centrão» em que ex-governantes alternam na chefia de empresas públicas ou participadas pelo Estado, sob a batuta dos governantes do momento. Mas a promiscuidade atinge níveis inéditos, neste caso: um dos ex-governantes e aspirante a controlador da empresa de serviço público, é também representante máximo de um accionista privado estrangeiro, o principal concorrente da dita empresa; e foi enquanto governante quem autorizou a participação a esse accionista estrangeiro nessa e noutra empresa pública; é ainda ... deputado... socialista.
Joaquim Pina Moura devia ter a decência de abandonar o Parlamento.
A Comissão de Ética da Assembleia da República devia considerar o caso e declarar a incompatibilidade, para credibilizar a função parlamentar.
Governantes e dirigentes socialistas deviam parar de dar cobertura a tal promiscuidade.
Militantes socialistas deviam deixar de continuar calados.
Merkel marca
Publicado por
AG
Há muito, desde 2002, que Guantanamo e a tortura sub-contratada através da «extraordinary rendition» são conhecidos de todos e assumidos e «justificados» pela Administração Bush.
O que não se ouviu, vergonhosamente, foram protestos enérgicos de dirigentes europeus (apesar de insistentemente instigados a manifestar-se pelo Parlamento Europeu). O mais ensurdecedor silêncio veio dos que se dizem «socialistas».
Foi preciso aparecer uma mulher com honradez e coragem para dizer o que há muito devia ter sido dito na cara de Bush: que é moralmente intolerável conviver com Guantanamo. Que é estrategicamente um erro admitir Guantanamo e o mais à margem do direito internacional e da decência que Guantanamo arrasta.
Tanto me dá que Angela Merkel seja de direita. Eu aplaudo-a por isto.
Blair, Schroeder, Persson, Barroso e aprendizezecos: tenham vergonha e aprendam!
O que não se ouviu, vergonhosamente, foram protestos enérgicos de dirigentes europeus (apesar de insistentemente instigados a manifestar-se pelo Parlamento Europeu). O mais ensurdecedor silêncio veio dos que se dizem «socialistas».
Foi preciso aparecer uma mulher com honradez e coragem para dizer o que há muito devia ter sido dito na cara de Bush: que é moralmente intolerável conviver com Guantanamo. Que é estrategicamente um erro admitir Guantanamo e o mais à margem do direito internacional e da decência que Guantanamo arrasta.
Tanto me dá que Angela Merkel seja de direita. Eu aplaudo-a por isto.
Blair, Schroeder, Persson, Barroso e aprendizezecos: tenham vergonha e aprendam!
«Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar».
Publicado por
AG
Nem as declarações crípticas de Condi Rice, nem aqui em Portugal as explicações hábeis do Ministro Freitas do Amaral no Parlamento, dia 13 de Dezembro passado, dissiparam o alarme quanto ao uso por parte da CIA de países europeus para o transporte e/ou o encarceramento ilegal de suspeitos de terrorismo.
Esta semana no Parlamento Europeu, Lotte Leich, representante da Human Rights Watch -a ONG de defesa dos direitos humanos que confirmou alegações inicialmente levantadas pelo Washington Post sobre a existência de prisões secretas da CIA na Europa - declarou que haver fortes suspeitas, sustentadas por fontes credíveis, de que, para além da Polónia e da Roménia, há um terceiro país, membro da União Europeia, envolvido. Numa mudança de estratégia em relação às primeiras revelações, a Human Rights Watch decidiu, desta vez, não revelar o nome do país, mas garantiu estar a organizar uma "visita-surpresa"...
Espero que o governo português esteja realmente a prestar atenção.
Espero que ninguém nos organismos relevantes dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros, da Administração Interna, das Finanças, da Defesa, da Justiça e das Obras Públicas, Transportes e Comunicações interprete as garantias dadas por Washington como o fim desta história.
Espero que os governantes e os funcionários do Estado Português, civis ou militares, não façam vista grossa aos elementos que sugerem que as garantias dadas por esta Administração americana valem tanto como as ADM que o Presidente Bush jurava existirem no Iraque.
Espero que os governantes e funcionários do Estado português, civis e militares, não ignorem declarações de responsáveis da CIA, nem desvalorizem o que disse o ex-Secretário de Estado Colin Powell, estranhando a estranheza de dirigentes europeus.
Cabe ao governo reforçar os controlos, como prometeu o Professor Freitas do Amaral no Parlamento, e certificar-se de que tudo está a ser feito para garantir que Portugal não esteve, nem está, envolvido em violações graves dos direitos humanos através de cumplicidade, mesmo que só negligente, com eventuais voos para transporte de pessoas ilegalmente raptadas, presas ou entregues para sujeição a tortura.
Se, depois do alarme despoletado em Novembro, algum dia se confirmar que um governo europeu partilha responsabilidades no desaparecimento ou tortura de um prisioneiro e/ou na entrega de um suspeito a um regime que pratique a tortura, ninguém pode alegar que não foi avisado.
Como escreveu Sophia: «Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar».
Esta semana no Parlamento Europeu, Lotte Leich, representante da Human Rights Watch -a ONG de defesa dos direitos humanos que confirmou alegações inicialmente levantadas pelo Washington Post sobre a existência de prisões secretas da CIA na Europa - declarou que haver fortes suspeitas, sustentadas por fontes credíveis, de que, para além da Polónia e da Roménia, há um terceiro país, membro da União Europeia, envolvido. Numa mudança de estratégia em relação às primeiras revelações, a Human Rights Watch decidiu, desta vez, não revelar o nome do país, mas garantiu estar a organizar uma "visita-surpresa"...
Espero que o governo português esteja realmente a prestar atenção.
Espero que ninguém nos organismos relevantes dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros, da Administração Interna, das Finanças, da Defesa, da Justiça e das Obras Públicas, Transportes e Comunicações interprete as garantias dadas por Washington como o fim desta história.
Espero que os governantes e os funcionários do Estado Português, civis ou militares, não façam vista grossa aos elementos que sugerem que as garantias dadas por esta Administração americana valem tanto como as ADM que o Presidente Bush jurava existirem no Iraque.
Espero que os governantes e funcionários do Estado português, civis e militares, não ignorem declarações de responsáveis da CIA, nem desvalorizem o que disse o ex-Secretário de Estado Colin Powell, estranhando a estranheza de dirigentes europeus.
Cabe ao governo reforçar os controlos, como prometeu o Professor Freitas do Amaral no Parlamento, e certificar-se de que tudo está a ser feito para garantir que Portugal não esteve, nem está, envolvido em violações graves dos direitos humanos através de cumplicidade, mesmo que só negligente, com eventuais voos para transporte de pessoas ilegalmente raptadas, presas ou entregues para sujeição a tortura.
Se, depois do alarme despoletado em Novembro, algum dia se confirmar que um governo europeu partilha responsabilidades no desaparecimento ou tortura de um prisioneiro e/ou na entrega de um suspeito a um regime que pratique a tortura, ninguém pode alegar que não foi avisado.
Como escreveu Sophia: «Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar».
Carlos Cáceres Monteiro
Publicado por
AG
Não encontro o «Fast Lane». Em que prateleira o terei posto? ... a vida de casa em casa, de terra em terra, de continente em continente, prega partidas destas; quando menos o esperar, um dia destes vai aparecer na estante...
Mas agora precisava mesmo reler. Na altura li a correr. Mas agora aguentava ler. Para estar com ele, apesar da partida, por causa da partida, há dias, mal amanhecia o ano. Por o sentir a interpelar-me, amistosamente como sempre, em todas as «Visões» em todos os escaparates, em todas as bombas de gasolina, em todas as bancas de jornais.
Para lhe agradecer a amizade tranquila, a cumplicidade plácida, a bonomia de sempre, a disponibilidade total, o conselho avisado, o incentivo atento.
Para lhe pedir desculpa por não ter tido a coragem de telefonar só para dizer...não sei ainda hoje o quê, tal foi o acabrunhamento e a falta de palavras desde que soube, apesar das insistências da Joana e do António.
Para homenagear o jornalista de ética impecável, o repórter de curiosidade insaciável, o director de equipa, o militante da informação para fazer compreender - as pessoas, o país e o mundo.
Ele vivia na «fast lane», como se vive na política ou no jornalismo. Mas arranjava sempre tempo para os amigos e para a família, de que falava orgulhoso, enlevado.
Desapareceu também na «fast lane»: depressa demais para nos recompor-nos do anúncio da morte próxima.
Um homem bom como ele deixa rasto imperecível, marcado na «fast lane» das nossas memórias. Mas eu perdi mais do que o grande jornalista: perdi um bom amigo, de há mais de duas décadas. A estrada, em qualquer «lane», nunca mais vai ser a mesma.
Mas agora precisava mesmo reler. Na altura li a correr. Mas agora aguentava ler. Para estar com ele, apesar da partida, por causa da partida, há dias, mal amanhecia o ano. Por o sentir a interpelar-me, amistosamente como sempre, em todas as «Visões» em todos os escaparates, em todas as bombas de gasolina, em todas as bancas de jornais.
Para lhe agradecer a amizade tranquila, a cumplicidade plácida, a bonomia de sempre, a disponibilidade total, o conselho avisado, o incentivo atento.
Para lhe pedir desculpa por não ter tido a coragem de telefonar só para dizer...não sei ainda hoje o quê, tal foi o acabrunhamento e a falta de palavras desde que soube, apesar das insistências da Joana e do António.
Para homenagear o jornalista de ética impecável, o repórter de curiosidade insaciável, o director de equipa, o militante da informação para fazer compreender - as pessoas, o país e o mundo.
Ele vivia na «fast lane», como se vive na política ou no jornalismo. Mas arranjava sempre tempo para os amigos e para a família, de que falava orgulhoso, enlevado.
Desapareceu também na «fast lane»: depressa demais para nos recompor-nos do anúncio da morte próxima.
Um homem bom como ele deixa rasto imperecível, marcado na «fast lane» das nossas memórias. Mas eu perdi mais do que o grande jornalista: perdi um bom amigo, de há mais de duas décadas. A estrada, em qualquer «lane», nunca mais vai ser a mesma.
sábado, 7 de janeiro de 2006
A Constituição na gaveta?
Publicado por
Vital Moreira
Se há palavra rara no discurso cavaquista é a Constituição. E no entanto, o papel do Presidente da República, que começa justamente por jurar a Constituição, é o de a cumprir e fazer cumprir e de promover e dinamizar os valores constitucionais (entre os quais o desenvolvimento é apenas um entre muitos).
Sabendo-se que o candidato não morre de amores pela Lei fundamental e que entre os seus apoiantes estão os defensores de "outra constituição", será excessivo temer que uma eventual presidência cavaquista possa significar meter a Constituição "na gaveta"?
[Reproduzido do Super Mário]
Sabendo-se que o candidato não morre de amores pela Lei fundamental e que entre os seus apoiantes estão os defensores de "outra constituição", será excessivo temer que uma eventual presidência cavaquista possa significar meter a Constituição "na gaveta"?
[Reproduzido do Super Mário]
quinta-feira, 5 de janeiro de 2006
"Paris vale bem uma missa"
Publicado por
Vital Moreira
O séquito de Cavaco Silva deve ter feito figas atrás das costas enquanto cantava o "Grândola, Vila Morena", ontem numa sessão de propaganda eleitoral naquela cidade alentejana. Para muitos deles, a começar pelo candidato, deve ter sido a primeira vez na vida. Ainda os veremos a cantar a Internacional, no Barreiro.
Não haverá limites para o oportunismo eleitoral?
Não haverá limites para o oportunismo eleitoral?
O treinador
Publicado por
Vital Moreira
Já está disponível na Aba da Causa o meu artigo desta semana no Público, acerca da metáfora de Cavaco Silva sobre o "presidente-treinador".
sábado, 31 de dezembro de 2005
O mistério das luzes de Belém - BOM 2006!
Publicado por
AG
«E voltei também à morada de Cavaco. Tratava-se agora de o «espiar» em directo e ao vivo, a assistir ao debate Soares/Alegre. De «pullover» azul, camisa azul, sentou-se diante da televisão com a atenção concentrada e um caderno aberto à sua frente que ia preenchendo com caligrafia enérgica. Como se eu não existisse - nunca existi, de resto - e o mundo também não, porque o mundo se esgotava naquela noite nos rostos tensos de dois adversários estampados no ecrã de televisão».
Foi o que relatou, no EXPRESSO de 23.12.05, Maria João Avillez no artigo «Espírito de Missão», facultando-nos um certeiro e esclarecedor lampejo do temperamento do candidato presidencial Prof. Cavaco Silva.
Esclarecedor, mas instigando também intrigantes questões:
Por que mistério aspirará à Presidência da República quem se alheia tão facilmente de quem o rodeia ou leva a concentração ao extremo de pretender que abstrai da acompanhante? (algum efeito surte, pois apesar de «nunca ter existido», ela persiste enfeitiçada).
Por que aspira Cavaco Silva à Presidência, um cargo sobretudo de representação, com a carga de representar o que há de mais difícil, a Nação, e com a canga de receber, ouvir e conversar (espera-se que afavelmente) com milhares de portugueses e estrangeiros, diariamente, de manhã à noite?
Por que razão aspira o Doutor Cavaco às luzes de um tal cargo - duro pela intensidade mesmo para os mais resistentes anfitriões que recebam e convivam com prazer - sendo ele um homem obviamente tímido, pouco sociável, socialmente inseguro, hirto, de parcas falas, crispação à flor da pele, nenhum senso de humor, sem formação humanística, que sempre preferiu encafuar-se entre papelada a conversar com gente, que naturalmente abstrai de outros ao lado e do mundo em redor, amuralhado em redoma de cristal que ele próprio segrega?
2006 deverá poupar ao sacrifício o Professor Cavaco Silva e deixá-lo aninhado na sua casinha, no regaço da familia, sem esforços de convivência suplementares, entre convidativas pilhas de relatórios bancários e homenagens consternadas de poucos mas dedicados ex-conselheiros, desenganado de vez da luz tentalizante de Belém.
São estes os meus cordiais votos de BOM ANO NOVO para todos os portugueses e em especial para o Professor Cavaco Silva.
Foi o que relatou, no EXPRESSO de 23.12.05, Maria João Avillez no artigo «Espírito de Missão», facultando-nos um certeiro e esclarecedor lampejo do temperamento do candidato presidencial Prof. Cavaco Silva.
Esclarecedor, mas instigando também intrigantes questões:
Por que mistério aspirará à Presidência da República quem se alheia tão facilmente de quem o rodeia ou leva a concentração ao extremo de pretender que abstrai da acompanhante? (algum efeito surte, pois apesar de «nunca ter existido», ela persiste enfeitiçada).
Por que aspira Cavaco Silva à Presidência, um cargo sobretudo de representação, com a carga de representar o que há de mais difícil, a Nação, e com a canga de receber, ouvir e conversar (espera-se que afavelmente) com milhares de portugueses e estrangeiros, diariamente, de manhã à noite?
Por que razão aspira o Doutor Cavaco às luzes de um tal cargo - duro pela intensidade mesmo para os mais resistentes anfitriões que recebam e convivam com prazer - sendo ele um homem obviamente tímido, pouco sociável, socialmente inseguro, hirto, de parcas falas, crispação à flor da pele, nenhum senso de humor, sem formação humanística, que sempre preferiu encafuar-se entre papelada a conversar com gente, que naturalmente abstrai de outros ao lado e do mundo em redor, amuralhado em redoma de cristal que ele próprio segrega?
2006 deverá poupar ao sacrifício o Professor Cavaco Silva e deixá-lo aninhado na sua casinha, no regaço da familia, sem esforços de convivência suplementares, entre convidativas pilhas de relatórios bancários e homenagens consternadas de poucos mas dedicados ex-conselheiros, desenganado de vez da luz tentalizante de Belém.
São estes os meus cordiais votos de BOM ANO NOVO para todos os portugueses e em especial para o Professor Cavaco Silva.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2005
Responsabilidade presidencial
Publicado por
Vital Moreira
O meu artigo desta semana no Público, com o título em epígrafe, encontra-se agora disponível, como habitualmente, na Aba da Causa.
A vez de Sócrates
Publicado por
Vital Moreira
Perante a ostensiva deriva presidencialista da candidatura de Cavaco Silva -- agora até se pronuncia sobre a orgânica do Governo --, é chegada a vez de José Sócrates lembrar ao candidato algumas ideias elementares, nomeadamente as seguintes:
a) O desfecho das eleições presidenciais não tem virtualidades para alterar nem o programa do Governo nem a sua orientação política;
b) O Governo responde politicamente perante a AR, devendo por isso ser o único responsável pela sua política;
c) Cabe ao primeiro-ministro a definição da orgânica do Governo;
d) A superação da crise económica é um incumbência e um compromisso do Governo, que já lançou as bases da mesma (saneamento das finanças públicas, lançamento de grandes investimentos públicos, negociação bem sucedida das contribuição financeira da UE, etc.), pelo que não tem sentido que um candidato presidencial queira aproveitar em seu benefício a obra alheia.
[Reproduzido do Super Mário]
a) O desfecho das eleições presidenciais não tem virtualidades para alterar nem o programa do Governo nem a sua orientação política;
b) O Governo responde politicamente perante a AR, devendo por isso ser o único responsável pela sua política;
c) Cabe ao primeiro-ministro a definição da orgânica do Governo;
d) A superação da crise económica é um incumbência e um compromisso do Governo, que já lançou as bases da mesma (saneamento das finanças públicas, lançamento de grandes investimentos públicos, negociação bem sucedida das contribuição financeira da UE, etc.), pelo que não tem sentido que um candidato presidencial queira aproveitar em seu benefício a obra alheia.
[Reproduzido do Super Mário]
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