quarta-feira, 11 de outubro de 2006

NY, NY

525, 72nd street. Edificio One East River. Entre a York Avenue e o East River. Na esquina em frente, com porta para a York, havia a Sothebys. Ao lado do prédio que acaba de ser abalrroado por um avião. No 32º andar, apartamento G, vivi os meus primeiros seis meses em Nova Iorque em 1997. Vejo na CNN o relógio, o telhado verde, o terraço no 40º andar onde ia apanhar sol.
Já me cairam as Torres, paisagem estruturante do meu 47º andar no 400 West 59th street, Upper West Side, para onde mudei a seguir, mal conclui que o Upper East Side era ...mais chato.
Só espero que este prédio não caia. E que ninguém morra. E que não seja ataque terrorista.

Um pouco mais de seriedade, pf.

Franscisco Louçã denunciou hoje as novas taxas de utilização do SNS (internamentos e cirurgias) como um "aumento de impostos" para os doentes.
Obviamente que passará a haver encargos para serviços hoje gratuitos. Mas o dirigente do BE sabe bem que uma coisa são impostos (contribuições sem contrapartida específica) e outra coisa são taxas (pagamento total ou parcial de um serviço concreto). Pode certamente discordar-se das novas taxas, em nome do princípio da gratuitidade dos cuidados de saúde para quem necessita deles. Mas chamar-lhes impostos não é somente errado, mas também demagógico.
Os serviços públicos que consistem em prestações individuais concretas (saúde, ensino, transportes, etc.) ou são pagos pelos impostos de todos ou por taxas pagas pelos utentes, ou por um misto dos dois, como sucede em geral. Portanto, a criação ou o aumento de taxas não significam um aumento de impostos; antes pelo contrário, são uma alternativa ao aumento de impostos.
A questão politicamente importante é saber se no caso dos cuidados de saúde -- que ninguém procura de bom grado e que se não traduzem propriamente num acréscimo de riqueza de quem os procura -- devem ser suportados somente pelos impostos de todos, doentes ou não, ou também por taxas daqueles que deles precisam. Confundir noções bem distintas é que não ajuda nada à discussão...

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Morrer com dignidade

Obrigada SIC Notícias e Conceição Lino.
Por nos trazerem, com correcção e contenção, o testemunho lúcido, tranquilo e corajoso de Ana Costa. Que, sabendo-se com um cancro incurável, quer o direito a escolher quando morrer. Quer o direito à eutanásia, que hoje a lei portuguesa lhe nega.
Ana explicou não querer suicidar-se, gosta muito de viver, agradece o que a vida já lhe deu. Mostrou até saber viver com a doença, não se deixando vencer pela revolta. Mas quer, naturalmente, viver com dignidade e qualidade até ao fim. Para Ana, a eutanásia não significa suicidio, mas sim libertação do sofrimento - "é caridade cristã" considera.
Muito obrigada, admirável Ana. O seu testemunho é mesmo muito importante. Viva bem, goze a vida, enquanto viver. E morra bem, com dignidade a que inquestionavelmente tem direito.

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Correio dos leitores: A lei das finanças locais

«Não deixo de me rir e ao mesmo tempo de me entristecer com a reacção dos municípios a alguma ordem que o Governo quer pôr no sector! Deixemo-nos do politicamente correcto! Deveria ser muito mais.
Há anos que reina a imoralidade no recrutamento de pessoal para as Câmaras Municipais com os efectivos constantemente a crescer e concursos a que as pessoas já nem se candidatam por saberem que se trata de uma farsa, que mais se nota quando os concursos são para categorias que a dimensão da Câmara nem justifica (relações internacionais, português-francês), ou admitir 3 ou 4 juristas e depois avençar um advogado para dar pareceres, etc. etc
Não se compreende como municípios pequenos (e falo talvez do maior município da Beira Baixa) tem um quadro de pessoal com mais de 175 técnicos superiores e dezenas de chefes de divisão e directores de serviço. Outros, falo de municípios tão pobres que quase não tem receitas próprias, não se coíbem de comprar viaturas topo de gama e gastar milhares de euros mensalmente em telemóvel e para isso apresentam despudoradas razões. Porque não se faz um estudo comparado de Câmaras com idêntica dimensão mas diferente posicionamento face ao caciquismo dos seus autarcas?
A verdade é que muitos dos nossos autarcas não tem dimensão humana e intelectual para os lugares (veja-se a sua corrida às reformas, apesar de continuarem no activo) e estão a dar cabo das terras e a comprometer o futuro, com pavil
hões, rotundas e outros elefantes brancos que no futuro teremos de pagar (...).»
(A. Monteiro)

Sobrevivências corporativas (2)

Embora com atraso, por ter estado afastado do blogue durante uns dias, já está disponível na Aba da Causa o meu artigo da semana passada no Público, com o título em epígrafe.
Assim vou criando "inimigos"...

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

A quadratura do círculo

Um sujeito de meia-idade, forte, barbudo, mal-enjorcado, aspecto magrebino, foi detido à entrada do aeroporto de JFK, em Nova Iorque.
A fotografia no passaporte, português, levantou suspeitas. O sujeito explicou primeiro, berrou depois que era português, esperneou que era/fora até deputado, exigiu contactar a embaixada de Portugal. Invocou o Presidente de Portugal, Cavaco Silva, Barroso o Presidente da Comissão Europeia. Repetia como um mantra: abrupto, abrupto...
Os fiscais aeroportuários não se deixaram impressionar: pouco depois entregavam-no a agentes à paisana.
O homem foi interrogado durante horas numa sala reservada do aeroporto. No final foi despido, apalpado, objecto de investigação rectal (deram-lhe depois uma fralda...). Um fato macaco laranja para vestir. Em seguida foi enfiado num pequeno avião, de olhos vendados e mãos algemadas.
O avião parou horas depois. Não sabia se era dia ou noite, estava confuso, esgotado, escandalizado, incrédulo, era um sonho mau... Entrou um bafo de ar quente e húmido. O avião arrancou de novo. Aterrou algures. Tiraram-no do avião. Ouviu falar árabe. A carrinha parou: disseram-lhe então que estava entrar na cadeia El Falestin, arredores de Damasco, Siria.
Semanas depois, durante uma pausa das brutalizações que acompanhavam o interrogatório, disseram-lhe que se não falasse, não sairia vivo. O "Pide" bom aproveitava-se do seu esgotamento e aconselhava-o a confessar que era íntimo colaborador de Bin Laden. Viera para Portugal para preparar a logística do próximo grande atentado da Al Qaeda. Falava português e isso ajudava na cobertura. O passaporte fora obtido num lote roubado há anos no Consulado Português em Macau - os "primos" portugueses tinham confirmado o número, em consulta rápida logo após a sua chegada a NY.
O homem emagrecera 40 quilos, ao cabo de de treze meses de indizíveis torturas e humilhações. Confessara o que eles queriam, para as sevícias pararem. Pararam. Pasmava como sobrevivia no catre imundo e apertado. Sem livros, jornais, papel, caneta, sem computador, sem abrupto. Como era possível que ninguém o procurasse?
Enganara-se. Uma senhora movia mundos e fundos, a chagar toda a gente. Impossível que tivesse decidido dar o pira, "desaparecer" em NY. Mas ninguém queria admitir a hipótese de que tivesse sido sequestrado, ninguém tinha aparecido a exigir resgate. O tipo estava farto, pensavam. Livros, senhoras, computadores, blogs, C-Span e tudo o que ele apreciava, em NY nada faltava... A embaixada americana garantia ter sido vasculhado tudo - confirmava-se que chegara a JFK, mas depois evaporara-se... Europol, Interpol haviam sido accionadas. Sem resultados... A senhora começou a conformar-se.
Passou mais um ano. Transferiram-no para Bagram, abruptamente. Regime mais leve, apesar de toda a boçalidade. Começou a aprender árabe com um com quem lhe permitiam partilhar horas no páteo ao ar livre.
Ainda lá está. A CIA já percebeu que se enganou. Mas o erro é tão monumental, que custa a admitir: as repercussões serão demolidoras, como as antigas charlas que os "primos" dizem agora que ele fazia na TV em Portugal.
Ainda vai emagrecer mais, o magrebino barbudo. Pacheco Pereira, teima ele que se chama. Abrupto será nickname?
Who cares? And why care?

PS - A ficção acima é inspirada nas provações sofridas por Maher Arar, um engenheiro canadiano de origem siria, preso pela CIA em JFK e torturado numa cadeia síria durante mais de um ano, até que foi liberto sem qualquer acusação (a CIA enganou-se na identificação).
Claro que há diferenças: uma delas é que Arar parece muito menos «árabe» que o Dr. Pacheco Pereira.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Relações com a CIA e "voos da CIA"

Como antes explico, defendo sem pestanejar a necessidade de cooperação dos serviços secretos portugueses com a CIA, e outros congéneres, designadamente no quadro da luta contra o terrorismo.
E defendê-lo não é incompatível com a exigência que faço de que se investigue seriamente os chamados "voos da CIA" e se apure o grau de envolvimento de Portugal e outros países europeus na operação desses voos. Pelo contrário, essa investigação é mesmo essencial para que essa cooperação seja eficaz,legítima e legalmente inquestionável.
Porque essa cooperação só produzirá efeitos perversos na luta contra o terrorismo se assentar em práticas violadoras dos direitos humanos, da legalidade, do Estado de Direito e do Direito Internacional.
E é isso que está a acontecer na operação dos chamados "voos da CIA".
Que não são operações de "intelligence" respaldadas na lei.
Os chamados "voos da CIA" são na maior parte dos casos, de aeronaves civis, privadas, em voos particulares. Servem a operação das chamadas "extraordinary renditions" que implicam a detenção e interrogatório sob tortura de prisioneiros mantidos fora da lei, em prisões secretas ou inacessíveis, sem base legal nos próprios EUA, como veio declarar em Junho o Supremo Tribunal Federal.
Os chamados "voos da CIA" são operados por empresas de fachada (muitas são só uma caixa postal...) e transportaram uma série de pessoas inocentes, perfeitamente identificadas, de várias nacionalidades, entretanto libertadas pelos EUA das prisões secretas ou de Guantanamo, depois de aí terem passado anos sem qualquer acusação ou processo judicial, depois de terem sido feitas "desaparecer", sofrendo sequestro, prisão e tortura.
Os chamados "voos da CIA" poderão ter também servido para transportar verdadeiros terroristas, suspeitos e bem suspeitos. Mas a verdade é que até hoje, através desse programa de "extraordinary renditions" operado pela CIA a mando da Administração Bush, ainda não foi apresentado um único preso a julgamento! Um único preso que tenha sido acusado, julgado e exemplarmente punido por terrorismo. Nos EUA ou na Europa. Pelo 11 de Setembro de 2001 ou por qualquer outro acto de terrorismo. (Zacarias Moussaoui, o único suspeito julgado nos EUA, foi legalmente preso e mantido no sistema prisional americano até ser julgado; nunca foi, portanto, objecto deste programa de "extraordinary renditions").
Em contrapartida, em Espanha, segundo o devido processo legal, já estão a começar a ser julgados os suspeitos dos atentados do 11 de Março de 2004. E não foi preciso transportá-los tortura em prisões líbias, sírias ou marroquinas, nem foi preciso mantê-los em prisões secretas, à margem da lei.
É fundamental que os suspeitos de terrorismo sejam exemplarmente julgados. E exemplarmente punidos, se forem judicialmente condenados. Não é isso que está a acontecer nos EUA. Não é isso que está a resultar do programa das "extraordinary renditions". Nâo é isso que está a resultar dos chamados "voos da CIA" que sulcaram (e porventura sulcam ainda) os aeroportos europeus. Incluindo os portugueses.

Secretas precisam de escutas

Dizem os jornais de hoje que os três responsáveis dos serviços secretos portugueses defenderam no Parlamento, a propósito da revisão da lei orgânica do Sistema de Informações, a autorização de intercepção de telecomunicações pelos serviços que tutelam.
Para que fique registado: eu também defendo. Com respaldo legal e devido controle judicial.
As ameaças com que actualmente as sociedades democráticas como a nossa estão confrontadas, em especial suscitadas pelo terrorismo internacional, exigem-no.
Tal como exigem urgente e substancial reforço dos meios humanos e técnicos ao dispôr dos Serviços de Informação, cooperação e coordenação apertada entre eles,cooperação reforçada com os serviços congéneres de outros países, em particular dos nossos parceiros e aliados. Incluindo a CIA. Sim, a CIA. Em especial a CIA.
Desde que tudo se processe no mais escrupuloso respeito dos direitos humanos, do Estado de Direito e do Direito Internacional. Desde que tudo seja rigorosamente fiscalizado por quem tem de tutelar e fiscalizar: Governo e Parlamento.

Afeganistão: lições da insegurança

Pode ler-se na ABA DA CAUSA o meu artigo sob o título acima, publicado pelo DIÁRIO DE NOTÍCIAS em 1/10/06. Termina assim:

"Por isso, é errado pensar - e fazer crer - que os 140 paraquedistas portugueses recentemente deslocados para Kandahar não correm mais riscos do que em Cabul. Kandahar é, realmente, zona muito mais perigosa. Quem serve nas Forças Armadas sabe que corre riscos. Os governantes e responsáveis políticos têm o dever de explicar às suas opiniões públicas que se paga um preço pela segurança. E que a segurança das ruas de Lisboa ou do Porto também passa pela segurança de paragens distantes e inóspitas como Panjwayi, no sul do Afeganistão."

Irrelevante, a ONU?

Está na ABA DA CAUSA o meu artigo sobre o título acima, publicado pelo "COURRIER INTERNACIONAL" em 29/9/06. Pode resumir-se assim:

(...) "ao contrário das profecias desvalorizadoras de muitos cépticos - designadamente Bush e Blair, nas vésperas da invasão do Iraque - a ONU continua relevante e constitui até, cada vez mais, principal eixo de acção e fonte de legitimidade para qualquer iniciativa em questões de paz e segurança. De facto, nunca a ONU foi tão requisitada (...): missões da ONU têm sido indispensáveis para assegurar a transição para a paz em países tão diversos como o (sul do) Sudão, o Líbano, a RD Congo, o Haiti, o Burundi, a Libéria e Timor-Leste. Só em Agosto passado, o Conselho de Segurança aprovou três resoluções (Líbano, Timor Leste e Darfur) que prevêm a colocação no terreno de mais 37.000 capacetes azuis - um aumento de 50%. Nada mau para uma instituição que há quem apresente como "inútil e ultrapassada"(...).
Tal como atacar a democracia a pretexto de que ela está 'podre' ignora a responsabilidade de todos em contribuir para a sua vitalidade, os ataques à 'utilidade' da ONU não passam de manobras de diversão de quem, realmente, está contra o multilateralismo eficaz".

terça-feira, 3 de outubro de 2006

A direita que não diz o seu nome

Por esquecimento, não transcrevi na Aba da Causa o meu artigo da semana passada no Público, com o título em epígrafe (sobre o congresso do "Compromisso Portugal").
Embora tradiamente, faço-o agora, para efeitos de arquivo.

Um pouco mais de boa-fé, pf

Em apenas dois anos, os Estados Unidos duplicaram as ajudas à sua agricultura (milho, soja, algodão, arroz, trigo, etc.), permitindo-lhe concorrer com vantagem no mercado mundial e criar ainda mais dificuldades aos países pobres do hemisfério sul que dependem da exportação desses produtos.
Para quem prega a liberdade de comércio internacional não está mau. E fica assim explicado por que é que as conversações da OMC chegaram a um impasse. E por que é que os países ricos têm de construir muros para impedir o êxodo dos países pobres que eles ajudam a tornar mais pobres.

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Lula em caldeirada

Será desta que do lado de cá se começa a compreender que fazer vista grossa à corrupção não compensa?
Será que se começa a reconhecer que o pessoal está farto, não gosta que o tomem por parvo, não pode ser enganado o tempo todo e sobretudo não tolera mais a impunidade?

PÚBLICO: selectividade on line

Despedimentos políticos ou qual é o critério dos despedimentos do PÚBLICO ?
Será desta que o Director José Manuel Fernandes vai para o Iraque dar uma mãozinha a ensinar "jornalismo de referência"?

Público online

O jornal Público passou, de novo, a ter online a sua edição impressa, gratuitamente, com excepção dos editoriais e das crónicas dos seus colunistas (reservados para os assinantes).
É uma boa decisão, corrigindo a errada opção anterior de reservar para os assinantes toda a edição impressa. Vão, portanto reaparecer os links para o jornal.

Correio dos leitores: Ordens profissionais

«"[a figura do Provedor de Arquitectura]...tornada obrigatória por lei"
Acho muito bem que seja obrigatória por lei, mas somente se esse Provedor estiver na dependência direta e unicamente do Estado. As Ordens atualmente existentes devem ser destituídas das suas competências legais; não se deve dar-lhes ainda mais competências públicas do que as que atualmente têm - indevidamente. As Ordens, como figuras dotadas de poderes públicos, são resquícios do corporativismo salazarista, que urge eliminar - no sentido de as tornar simples associações privadas de profissionais.
Instituir por lei um Provedor de Arquitetura dependente da Ordem dos Arquitetos é um erro. As funções públicas só podem estar sob a autoridade do Estado. Não sob a autoridade de Ordens.»

Luís Lavoura

Comentário
Independentemente da opinião que possamos ter sobre as ordens como organismos oficias de auto-regulação profissional -- e a minha é bem crítica, como bem se sabe... --, a verdade é que elas existem e não consta que vão desaparecer. Por isso, a criação de uma provedor dos utentes é uma clara vantagem, podendo atenuar a desprotecção daqueles perante os abusos ou erros profissionais.
Por outro lado, as ordens profissionais não são o único caso de exercício de poderes públicos por entidades exteriores ao Estado -- longe disso. A questão não está propriamente aí...

Mais um muro

O Congresso dos Estados Unidos aprovou a construção de um muro na fronteira com o México, na extensão de 1200 Km, para impedir a imigração clandestina. Se pudesse, provavelmente também a Europa edificaria um muro no Mediterrâneo e à volta das Canárias para conter a imigração do Magreb.
Um dia, os países desenvolvidos descobrirão que estão a enclausurar-se a si mesmos...

domingo, 1 de outubro de 2006

Mais um pouco de seriedade política, pf

Será que o Presidente do PSD não sabe a distinção entre impostos, por um lado, e as taxas e contribuições que (como as da segurança social) são destinadas a custear benefícios específicos e pessoais de quem as paga? Se, por hipótese, o Governo decidisse aumentar as propinas do ensino superior, isso também seria um aumento de "impostos"?
Dito isto, é fácil ver que o Governo bem poderia ter escapado a esta crítica demagógica, tornando a ADSE facultativa, de modo a pagar e beneficiar apenas quem quer.

Regresso

João Vasconcelos Costa voltou à blogosfera. Ainda bem!

sábado, 30 de setembro de 2006

Boa ideia

A Ordem dos Arquitectos criou a figura do Provedor da Arquitectura, para permitir aos cidadãos fazer queixas em matéria de arquitectura, incluindo contra os arquitectos, tendo poder de iniciativa disciplinar, entre outros.
É uma ideia merecedora de aplauso. Deveria ser adoptada por outras ordens, e, inclusive, tornada obrigatória por lei.

Laicidade

Os Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) vão homenagear o seu "padroeiro", S. Jerónimo, incluindo uma missa nas respectivas cerimónias. Nada haveria a observar, se tal cerimónia religiosa fosse promovida e organizada por uma associação ou comissão do pessoal católico do estabelecimento. Mas como iniciativa e responsabilidade oficial do próprio hospital, trata-se de uma clara violação do princípio da laicidade do Estado.
Os serviços públicos não têm religião nem podem promover cerimónias religiosas.

Correio dos leitores: ADSE

«"Em vez de extinguir a ADSE, como se impunha (...)"
Não necessariamente.
O que se impõe é dar às pessoas - funcionários públicos ou não - o direito de terem um sistema de saúde mais ou menos abrangente -, desde que paguem os respetivos custos.
No mínimo, deveria ser dado aos funcionários públicos o direito de não terem a cobertura da ADSE - e, então, de deixarem de pagar a respetiva taxa.
Não percebo porque é que o Estado obriga os funcionários públicos a terem um sistema de saúde mais abrangente do que os demais, e a pagarem uma taxa correspondente. Os funcionários deveriam ser lives de dispensarem a ADSE, e ficarem apenas com o SNS geral.(...)»

Luís Lavoura

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Ainda a ADSE

«O ministro das Finanças defendeu hoje que é injusto serem todos os portugueses a pagar o sistema de saúde especial dos funcionários públicos (ADSE), que em 2005 registou um défice de 763 milhões de euros. "Têm que ser os utentes deste sistema a contribuírem para a sua viabilidade", disse Fernando Teixeira dos Santos».
O Ministro em toda a razão, como aqui já se explicou. Há quem esteja habituado a serem os outros a pagar as suas regalias próprias. Só há mais duas coisas: (i) não sendo extinta (como defendo),a ADSE deveria ser facultativa, não fazendo sentido (mesmo em termos constitucionais...) que uma pessoa seja obrigada a subscrever um sistema complementar de cuidados de saúde, para além do SNS; (ii) a ADSE deveria estar aberta a todo o pessoal do sector público administrativo, incluindo os trabalhadores com contrato de trabalho, e não somente aos funcionários, pois não se justifica (mesmo em termos constitucionais...) tal discriminação.

Mais eucaliptos

A Serra de Ossa, no interior alentejano (na imagem: o encantador Convento de S. Paulo, hoje transformado em hotel) constitui o exemplo mais evidente do crime ambiental e paisagístico que é eucaliptização extensiva, ao serviço das celuloses. O fogo devastou a serra no Verão passado (cinco mil hectares ardidos), incluindo as plantações industriais de eucaliptos.
O Público de hoje informa que há um plano oficial para a recuperação florestal da Serra. Infelizmente, aposto que no final terá ainda mais eucaliptos. Com apoio oficial...

Um pouco mais de seriedade, pf

Lê-se no Diário de Notícias de hoje:
«O Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) diz-se "siderado" com a proposta do Governo [e aumentar a taxa para a ADSE], que constitui "uma forma de discriminação em relação aos restantes cidadãos, já que estes pagam 11% e os funcionários públicos passarão a pagar 11,5%".»
Trata-se, porém, de uma pura e grosseira tentativa de mistificação. Os trabalhadores do regime geral descontam 11% só para a segurança social, enquanto os funcionários públicos gozam dos mesmos benefícios (até mais favoráveis), descontando somente 10% para a CGA. Portanto, quem é privilegiado são os funcionários. Além disso, é certo, eles descontam a taxa para a ADSE --, mas para beneficarem de regalias especiais nos cuidados de saúde, de que os demais trabalhadores não gozam e que custam ao orçamento muito mais do que o valor do desconto.
Duplo privilégio, portanto! Quando é que certos sindicatos resolvem ser sérios e responsáveis?

Remendos

Pelos vistos, o Governo está a perder vigor reformista. Em vez de extinguir a ADSE -- o regime de saúde privativo dos funcionários públicos --, como se impunha, limita-se a elevar a taxa a cargo dos beneficiários, para atenuar os encargos orçamentais que tal regalia envolve. Remendos...

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

DARFUR - o que se espera mais para agir?

"O governo de Omar Bashir é o principal responsável pela estratégia genocida contra a população de Darfur. A União Europeia não pode continuar a iludir-se sobre isso. A Comissão, o Conselho e os membros europeus do Conselho de Segurança das Nações Unidas têm de confrontar, de imediato, o Sudão com uma missão militar da ONU na região do Darfur sob o mandato robusto nos termos do capítulo VII da Carta. Não podem tolerar mais desculpas e adiamentos.
Os governantes do Sudão têm de ser punidos se insistirem em travar a acção da comunidade internacional no Darfur. É urgente determinar já o congelamento de contas bancárias e impedir as viagens internacionais de governantes sudaneses e outros indivíduos já identificados pelo Tribunal Penal Internacional como principais responsáveis das atrocidades.
Se a China e a Rússia continuarem a arrastar os pés relativamente a um embargo contra Cartum, a União Europeia deve juntar-se aos Estados Unidos e declarar o embargo comercial, em especial sobre armas e petróleo, e um congelamento total das transacções financeiras do governo sudanês.
São precisas também medidas militares urgentes. Uma no fly zone sobre Darfur pode ser operada a partir do Leste do Chade para impedir os voos da força aérea sudanesa que atacam a população de Darfur - como eu e outras deputadas verificámos em Setembro de 2004, perto de El Fashir.
É preciso enviar já uma força multinacional para o Leste do Chade para proteger os refugiados, para preparar a própria força da ONU no Darfur, para controlar a fronteira entre o Chade e o Sudão e para restabelecer alguma estabilidade regional.
Estabilidade regional que, de resto, está também ameaçada com a escalada na Somália em virtude da intervenção etíope instigada pela administração Bush, com o desastroso resultado de reforçar os tribunais islâmicos em Mogadíscio.
Finalmente, a União Europeia não pode continuar silenciosa sobre o papel da China, da Rússia e da Liga Árabe no apoio à estratégia genocida de Cartum. Depois de ter sido consagrado na ONU o princípio da responsabilidade de proteger, Moscovo, Pequim e as capitais árabes cobrem-se de vergonha ao procurarem fazer esquecer as lições do Ruanda, da Bósnia e do Congo no Darfur contra uma população muçulmana que está a ser massacrada por muçulmanos."

Intervenção minha, ontem, no Plenário do Parlamento Europeu

Carta de agentes da CIA, FBI, Dep.Defesa e Dep. Estado sobre uso de Tortura

Letter From Intelligence and Military Professionals on Use of Torture
Tuesday 26 September 2006

United States Senate
Committee on the Judiciary
224 Dirksen Senate Office Building
Washington, DC 20510

The Honorable Arlen Specter, Chairman
The Honorable Patrick J. Leahy, Ranking Democratic Member

Dear Senators:

We write as experienced intelligence and military officers who have served in the frontlines in waging war against communism and Islamic extremism. We fully support the need for proactive operations to identify and disrupt those individuals and organizations who wish to harm our country or its people. We also recognize that intelligence operations, unlike law enforcement initiatives, enjoy more flexibility and less scrutiny, but at the same time must continue to be guided by applicable US law.

We are very concerned that the proposals now before the Congress, concerning how to handle detainees suspected of terrorist activities, run the risk of squandering the greatest resource our country enjoys in fighting the dictators and extremists who want to destroy us?our commitment as a nation to the rule of law and the protection of divinely granted human rights.

Apart from the moral considerations, we believe it is important that the Congress send a clear message that torture is not an effective or useful tactic. As noted recently by the head of Army Intelligence, Lt. Gen. John Kimmons:

No good intelligence is going to come from abusive practices. I think history tells us that. I think the empirical evidence of the last five years, hard years, tells us that.
Our nation was created in response to the abuses visited on our ancestors by the King of England, who claimed the right to enter their homes, to levy taxes at whim, and to jail those perceived as a threat without allowing them to be confronted by their accusers. Now, 230 years later, we find our own President claiming the right to put people in detention centers without legal recourse and to employ interrogation methods that, by any reasonable legal standard, are categorized as torture.

We ask that the Senate lead the way in upholding the principles set forth in the Declaration of Independence and affirmed in the Geneva Conventions regarding the rights of individuals and the obligations of governing authorities towards those in their power. We believe it is important to combat the hatred and vitriol espoused by Islamic extremists, but not at the expense of being viewed as a nation who justifies or excuses torture and incarceration without recourse to a judicial procedure.

The US has been in the forefront of the human rights campaign throughout the 20th century, led by Theodore Roosevelt and Woodrow Wilson. The end of World War II and the horrors of the Holocaust inspired the United States to take the lead in making the case that human rights were universal, not parochial. Until recently the policy of our country was that all people, not just citizens of the United States, were entitled to these protections. It is important that the world understand that we remain committed to these principles. In fighting our enemies we must wage this battle in harmony with the traditional values of our society that were enshrined in the opening clause of the Declaration of Independence, "We hold these truths to be self-evident...."

Respectfully yours,

CIA Officers:
Milton Bearden, Directorate of Operations
Ray Close, Directorate of Operations
Vincent Cannistraro, Directorate of Operations
Philip Giraldi, Directorate of Operations
James Marcinkowski, Directorate of Operations
Melissa Mahle, Directorate of Operations
Paul Pillar, Directorate of Intelligence
David MacMichael, Directorate of Intelligence
Melvin Goodman, Directorate of Intelligence
Ray McGovern, Directorate of Intelligence
Mary O. McCarthy, DCI professional staff

US Military and Department of Defense:
W. Patrick Lang, (Colonel, US Army retired, Director Defense Humint Services, retired)
A. D. Ackels, (Colonel, US Army, retired)
Karen Kwiatkowski, (Lt. Colonel, USAF, retired)

US Department of State:
Thomas R. Maertens, Deputy Coordinator, Office of Counter Terrorism, US Department of State
Larry C Johnson, Office of Counter Terrorism, US Department of State

Federal Bureau of Investigation:
Christopher Whitcomb, Hostage Rescue Team