sábado, 9 de fevereiro de 2008

Hospitais militares

Tendo defendido há muito a racionalização dos numerosos hospitais militares, por razões de eficiência dos recursos e de qualidade do serviço, só posso saudar a sua consolidação num a única instituição, ainda que com dois pólos.
Só lamento que a mesma solução não tenha sido adoptada no caso das instituições de ensino superior militar, mantendo-se a onerosa dispersão e a redundância existente.

Incentivos

«A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) abriu um processo relacionado com os pagamentos de incentivos a médicos e hospitais para a realização de transplantes.» O que se exige é um imediata revisão dos tais "incentivos"..

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Independência do Kosovo - tudo depende da UE

Cheguei há pouco de uma viagem ao Kosovo, sobretudo para contactos sobre a preparação da missão PESD (Política Europeia de Segurança e Defesa), que em breve para lá deve avançar. A maior missão civil da PESD, com 1800 pessoas, entre polícias, magistrados e juristas (e são muito precisas e pedidas mulheres – o MNE, MAI e MJustiça têm de se chegar à frente oferecendo mulheres polícias e juristas, que não nos faltam e não se cortam de ir – se souberem que se podem candidatar).
Cheguei mais preocupada do que fui. Ir ao terreno faz diferença, ainda que por curto tempo. Percebi, entre outras coisas, que a UE pode fazer toda a diferença - e até aqui não fez...
Não, não venho preocupada com a possível “bordoada” a pretexto da declaração de independência – que está, tudo indica ainda para este mês
. Todos os interlocutores, quer kosovares ou estrangeiros – da UNMIK, K-FOR, EUPT, Comissão Europeia – estão confiantes de que não vai haver guerra ou violência (embora sejam de esperar provocações), quer porque tanto kosovares albaneses como sérvios estão cansados de guerra, quer porque a K-for já aprendeu as lições dos motins de 2004. Todos os interlocutores estão também confiantes de que as sanções sérvias/russas serão mais simbólicas e políticas do que económicamente danosas (embora alguém vá ter de pagar a factura da parte da energia que o Kosovo não produz e hoje importa da Sérvia e amanhã e durante mais uns anos terá de importar de qualquer vizinho).
Venho preocupada com o médio e longo prazo. Pristina é uma cidade caótica, suja, desordenada, combinando ruelas enlameadas, casebres e prédios decadentes e mamarrachos novos em construção – pior que a Brandoa de há 20 anos atrás. O Kosovo não tem economia que sustente a independência, a não ser a dependente das redes da criminalidade organizada.
Na divisão de trabalho dentro da UNMIK cabia aos europeus, nos últimos 8 anos em que o Kosovo viveu já separado da administração da Sérvia, ter lançado as bases e estruturado a economia kosovar: nada de relevante foi feito – nem sequer foi actualizada a tecnologia da única instalação de produção de energia local (e por isso hoje parte tem de ser importada).
Não há investidores estrangeiros que arrisquem investir onde a segurança é incerta, a energia falha e a mão de obra tem baixissima qualificação. As expectativas da população kosovar são altissimas sobre a viragem que independência trará – medem-se pelos milhares de casas tipo “maison” ainda por acabar mas já habitadas que bordejam as péssimas estradas.... Dificilmente essas expectativas poderão ser satisfeitas. A prazo, isso pode levar a revoltas populares. Tanto mais que, tudo indica, no poder vão estar meia dúzia de famílias que, entre si, repartem os negócios de todos os tráficos ilícitos que hoje se cruzam no Kosovo (nos 80 km de estrada entre Pristina e Prinzen, no sul, há dezenas de estações de serviço e móteis, novinhos em folha, todos às moscas – a UNMIK sabe que só servem para lavar dinheiro e sabe quem está atrás...) .
A UNMIK e os americanos que por detrás a manejam fizeram vista grossa à criminalidade organizada, quando não ajudaram a dar legitimidade política a alguns dos principais “padrinhos”.
A UE tem de fazer agora, rapidamente e em força, o que não fez nos últimos 8 anos: cuidar de promover a actividade económica no Kosovo – inclusivé a que a maioria dos kosovares mais deseja, a agrícola – ao mesmo tempo que investe nas infra-estruturas básicas, na educação e qualificação da dominante população jovem (a mais jovem da Europa) e ajuda a estruturar as instituições da lei, ordem e governação. Isso exije combater determinadamente, exemplarmente, a criminalidade organizada, por mais altos que sejam os níveis em que esteja instalada.
Não vale a pena agora discutir se somos a favor ou contra a independência, por fundamentadas que sejam as posições: a independência é já inevitável.
O que importa é que a UE agora não alinhe mais na entrega de um país a bandos de mafiosos. Porque até agora, objectivamente, alinhou. Não serão apenas o Kosovo e toda a região dos Balcãs quem sofrerá se os mafiosos passarem a ter o poder político: toda a Europa o pagará caro. Por isso mais vale agora que a Europa concentre esforços e não desperdice esta última oportunidade de tirar lições dos erros e omissões cometidos e, sobretudo, de fazer tudo o que há a fazer para que o Kosovo independente se torne minimamente viável e limpo.

Tabloidismo

As "dezenas de políticos" que, segundo manchete do Correio da Manhã, tinham pedido segredo das suas declarações de rendimento são afinal uma dúzia, em doze anos, menos de um por mil. E dos poucos requerimentos deferidos pelo TC nenhum dizia respeito aos rendimentos propriamente ditos. Assim vai o rigor da imprensa entre nós...
Mas o melhor é mesmo eliminar a possibilidade legal de requerer tal secretismo, para acabar de vez com a demogogia tablóide.

Pró-Blair

Faço seguramente parte do reduzido naipe de admiradores de Tony Blair. Bem sei que foi um apoiante da lamentável aventura no Iraque, naquela linha de solidariedade anglo-saxónica a que todos os governos de Sua Majestade nos habituaram (não me esqueço que o trabalhista Harold Wilson apoiou, sem hesitações, a intervenção norte-americana no Vietname). Também sei que não é um europeísta incondicional, à Delors, porque, pura e simplesmente, não é possível sê-lo quando se é primeiro-ministro do Reino Unido. Quem ainda não se apercebeu de que os britânicos têm uma forma especial de se sentirem europeus, distantes mas solidários (como a história comprova), propende a vê-los como ilhéus cínicos e hostis à integração europeia. São estes, aliás, os únicos pontos de mira de alguma esquerda continental contra Blair, falhos que parecem ser os argumentos contra o seu restante desempenho governativo.
Full ou não, prefiro um europeu de génese britânica, racional e influente, a um europeísta franco e luxemburguês de tipo Jacques Santer.

Recrutamento de professores

Não concordo com esta crítica ao novo sistema de recrutamento de professores no ensino público. Como qualquer empregador que queira recrutar os melhores profissionais para os seus quadros, o Estado tem o direito (e o dever) de estabelecer provas de selecção dos professores para as suas escolas. A classificação académica dos candidatos não serve, desde logo pela enorme discrepância entre as diferentes escolas (incluindo a conhecida inflação das notas das escolas privadas). Basta considerar o desastre do sistema de "selecção" anterior..
De resto, o exame de selecção ocorre noutras áreas do Estado (como, por exemplo, os candidatos à magistratura) e deveria existir em todos os casos profissionalmente mais exigentes.
[corrigido]

Contra Blair

Há quem queira colocar Blair como futuro presidente do Conselho Europeu, cargo previsto na nova arquitectura institucional da UE resultante do Tratado de Lisboa.
Sou contra. Não por causa do suposto "neoliberalismo ideológico" do ex-primeiro-ministro trabalhista britânico (de que não o acuso), mas sim porque entendo que só deve ocupar tal lugar um "full European", que compartilhe convictamente do projecto europeu na sua globalidade, e não um político que reduz a UE ao "mercado interno", que falhou a entrada da Grã-Bretanha no euro, que reiterou o "opting out" desse país das políticas sociais da UE, da política de justiça e de segurança interna e, "last but not the least", da Carta de Direitos Fundamentais da UE.
Entre um "semi-europeu" de esquerda como Blair e um político de direita inteiramente europeu, como por exemplo o luxemburguês J-C. Juncker, prefiro de longe o segundo.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Quando a técnica substitui a política

Depois de ter decidido a localização do aeroporto (com um estudo que não pagou todo o tributo ao rigor...), o LNEC vai agora escolher a solução para a travessia do Tejo, que estudos incontroversos já davam por assente há muito. Está visto que o LNEC se tornou o passa-responsabilidades políticas do Governo em matéria de obras públicas, como se estas fossem um simples problema de engenharia e não também um problema de economia e de ordenamento territorial e urbanístico, com uma incontornável dimensão política.
A democracia não pode ser capturada pela tecnocracia
. A decisão e a responsabilidade política não podem confundir-se com a decisão e a responsabilidade técnica.
Aditamento
O PSD aplaude e acha pouco, defendendo que o LNEC também deveria ser encarregado de reequacionar o traçado do TGV. E por que não delegar doravante na instituição a decisão sobre todas as obras públicas deste País que suscitem alguma controvérsia, desde o aeroporto às piscinas e caminhos municipais? Pelo menos, poupava-se no MOP e nos pelouros municipais de obras públicas...

USA 2008

Bases sociais dos dois contendores Democratas:
«But the big horse-race message out of Super Tuesday is that demography is destiny. In state after state, Clinton carried the groups she usually carries — white women, people with high school degrees, people earning less than $50,000, Latinos. In state after state, Obama carried the groups he usually carries: the affluent, white men, people with college degrees, African-Americans.»

Desde pequeninos

Se pega a moda de ir vasculhar o passado pessoal e profissional dos políticos antes de o serem, mesmo que tenha sido há décadas, ainda haveremos de ver um grande "jornalismo de investigação" sobre as pequenas e médias malfeitorias juvenis de todos os políticos no activo, incluindo saber se alguma vez escreveram obscenidades na carteira da escola, se copiaram nos testes escritos, se não devolveram um livro à biblioteca do liceu, se viajaram em transportes públicos sem pagar, se "abafaram" alguma galinha para uma farra estudantil, se fumaram erva quando ainda era ilegal, se frequentaram bordéis, etc. etc.
Proponho mesmo mais duas medidas: (i) que todos os candidatos a cargos políticos façam uma declaração, sob compromisso de honra, em como nunca praticaram nenhum desses actos de delinquência cívica, manifestamente incompatíveis com uma futura carreira política; e (ii) que seja oficialmente emitida uma cartilha para todos os futuros políticos, estipulando as normas de conduta que todos os candidatos devem impreterivelmente respeitar como condição de um político virtuoso.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Excessos verbais (2)

Penso que o bastonário da Ordem dos Advogados não ganha nada nos excessos verbais em que por vezes incorre nem tampouco na criação de uma fronda de grupos agravados contra si, que além do mais inviabilizam qualquer hipótese de vencer as batalhas em que está empenhado. Mas parece-me evidente que nada disso justifica a brutalidade verbal dos ataques "ad hominem" do antigo bastonário José Miguel Júdice, por maior que seja o contencioso pessoal entre ambos.
Há uma certa contenção e um certa "gravitas" institucional a que um e outro deveriam estar vinculados.

Excessos verbais

Penso em geral que os dirigentes de serviços públicos dependentes do Governo -- sejam o presidente a Asae ou o da Polícia Judiária -- devem primar pelo silêncio público e que, quando prestarem declarações públicas, devem primar pela discrição.
Ora, sendo Alípio Ribeiro em geral discreto e contido, resta saber o que é que levou a proferir a grave declaração sobre a "precipitação" na constituição dos McCann como arguidos. Erro de quem: da PJ ou do MP? O que é que há de novo no processo que justifica este inesperado volte-face?

USA 2008 (2)

Eu também gostaria de uma dupla Hillary-Barack na candidatura Democrática, defendida por exemplo por Ana Gomes, seguida por outros.
Mas não vejo as coisas assim. Primeiro, duvido que Obama aceitasse ser vice de Clinton (muito menos a inversa); depois, não sei se a dupla funcionaria bem, ou seja, sem conflitos. No palco das presidenciais americanas não há lugar para dois "actores principais".

Progressões automáticas

De aplaudir esta proposta sobre a conexão entre aumentos remuneratórios e avaliação positiva de desempenho nas Forças Armadas, tal como se estabeleceu para o regime geral de emprego público.
De resto, tal regime deveria ser a norma em todo o sector público. Infelizmente as excepções não se limitam aos militares.

USA 2008

Conhecidos os primeiros resultados da "super terça-feira" (2:50 GMT), enquanto no campo Republicano McCain vence folgadamente, como esperado, assegurando a nomeação, já no campo Democrático as coisas estão renhidas. Quanto aos grandes estados, Hillary Clinton parece ter segura a vitória em Nova York, Nova Jersey e Massachussets, enquanto Barak Obama vence no Illinois e na Georgia. Se Clinton ganhar a Califórnia, onde as sondagens lhe dão ligeiro avanço, ganha o dia. Mas a nomeação Democrática está longe de decidida.
Aditamento 1
Obama ganha claramente no Sul, graças ao voto negro, onde chega a conquistar 9 em cada 10 eleitores. Em contrapartida, perde no Nordeste, incluindo uma clara derrota no Massachussets, apesar dos apoios de Edward Kennedy e de John Kerry. A "vaga de fundo" a favor de Obama parece não ter concretização.
Aditamento 2
Hillary Clinton ganhou mesmo na Califórnia com dez pontos de avanço e, embora tenha vencido em menos estados do que Obama, levou a melhor nos maiores, pelo que sai desta batalha com uma vantagem significativa no número de delegados. Mas a nomeação parece que só fica decidida no fim, havendo ainda mais de metade dos estados por disputar, entre eles alguns importantes, como o Texas e a Pennsilvânia.

"Autos de fé"

Mário Crespo pronuncia-se sobre o «folhetim sobre o passado de José Sócrates», criticando os "autos de fé" jornalísticos.

O regresso do "camaleão"

Cumprindo a sua condenação histórica à instabilidade governamental, a Itália vai de novo para eleições, com o Governo de Prodi a meio do mandato. As sondagens prevêem uma confortável vitória da direita, com o regresso do inacreditável Berlusconi.
Quando a esquerda falha, a direita ganha
.

É a economia...

Em Espanha os números do desemprego agravam-se rapidamente, revelando uma deterioração da economia maior do que o esperado. A um mês das eleições, são más notícias para o PSOE...
Aditamento
Confirmam-se as más notícias económicas: «Produção industrial espanhola atinge valor mais baixo em cinco anos». É evidente que estes dados só podem ter efeitos negativos na economia portuguesa, tão imbricada ela está hoje com a espanhola.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Plus ça change...

Já está disponível na Aba da Causa um artigo por mim publicado no Diário de Leiria sobre as Leis do Tabaco e das Autarquias. Mas na verdade o artigo é sobre o medo da mudança...

O relatório da REPRIEVE

Quem pretende obstruir as investigações sobre o envolvimento de Portugal no transporte ilegal de presos subtraídos à Justiça em Guantanamo e nas "prisões secretas do Presidente Bush, esmifra-se agora a tentar descredibilizar a ONG de advogados britânicos REPRIEVE - que já libertou muita gente injustamente acusada - e desvalorizar o relatório "The Journey to Death" que publicou sobre Portugal.
Um dos argumentos usados foi o da estranheza de a REPRIEVE se centrar, assim, de repente, em Portugal, tendo sido postas a circular toda a espécie de teses conspirativas.
A REPRIEVE já explicou que está a preparar relatórios sobre Espanha e Itália, mas se centrou antes em Portugal porque tinha dados a pedir para ser estudados e cruzados: os que constavam da lista da NAV dos 94 voos de e para Guantanamo; e a identificação dos presos e detalhes do transporte para Guantanamo, que obtivera de fontes militares americanas.
O Deputado Carlos Coelho - por razões que ele lá sabe e eu imagino - prestou-se a entrar neste jogo de tentar descredibilizar a REPRIEVE, questionando porque não se interessava antes, por exemplo, pelo Reino Unido, muito mais envolvido na colaboração com as "renditions" do que Portugal...
A beneficio do Deputado Carlos Coelho e de quem caia na armadilha de lhe repetir o argumento, aqui deixo os links de cinco de entre muitos outros relatórios que a REPRIEVE divulgou no último ano, respeitantes ao Reino Unido, Escócia, EUA, Somália, Etiópia e Quénia e Base britânica de Diego Garcia, muito antes de se interessar por Portugal:
http://http://www.reprieve.org.uk/Press_UK_residents_in_GTMO_betrayed_05.04.07.htm
http://http://www.reprieve.org.uk/Press_Call_for_full_investigation_23.08.07.htm
http://http://www.reprieve.org.uk/documents/FinalReprieveSubmissionFASC.pdf
http://http://www.reprieve.org.uk/documents/070321HOArenditionreportfinal.pdf
http://http://www.reprieve.org.uk/documents/OFFTHERECORDFINAL.pdf

A era pós-saco-de-plástico

Há umas semanas, perante uma epidérmica reacção mediática, o Governo renegou precipitadamente a intenção de criar uma taxa sobre os sacos de plástico. A ideia morreu por unas bons anos. Mas na Irlanda, exemplo invocado para todos os milagres financeiros e económicos, esse remédio foi um sucesso, inaugurando a "era pós-saco-de-plástico".
Decididamente, há muita coisa que nos distingue dos irlandeses, entre elas a consciência ecológica...

USA 2008

Eis uma boa razão para preferir Hillary Clinton a Barack Obama: "universal health care"!

Voos da CIA ...e não só

"Voos da CIA" é a designação comum para as investigações do PE, do Conselho da Europa e de vários parlamentos e magistraturas europeias sobre o programa de "extraordinary renditions", operado pela Administração Bush, com apoio de aliados europeus.
As "extraordinary renditions" são transferências ilegais de suspeitos de terrorismo, submetidos a "desaparecimento forçado", tortura, detenção ilegal e subtracção ao devido processo legal. Em Guantanamo e nas prisões secretas, entretanto admitidas pelo Presidente Bush e ainda nem todas localizadas.
Mas não falamos apenas de aviões civis, em voos privados, fretados pela CIA - embora tenha sido sobre eles que se centraram as investigações do PE e do Conselho da Europa em 2006, visto que sobre eles incidiam os dados obtidos através do Eurocontrole.
A lista da portuguesa NAV, de voos de e para Guantanamo, é que fez toda a diferença! Pela primeira vez identificou aviões militares e de Estado envolvidos em tão ilegal transporte.
Hoje as investigações judiciais e políticas em Espanha e noutros países da Europa - de que é exemplo o recente relatório da REPRIEVE centram-se nos voos militares e de Estado.
O novo foco é decisivo - quanto a voos civis privados, as autoridades europeias podiam sempre alegar não ter controlado, não ter sabido, não ter percebido... - tão frouxos eram (são) os procedimentos de controle. Mas o mesmo não podem alegar relativamente a voos de Estado ou militares, que têm de ser sempre politicamente considerados e autorizados.
A lista da NAV regista 94 voos, de e para Guantanamo, autorizados pelo Estado português, entre 11.2.2002 e 24.6.2006. Uma autorização indesmentivelmente política, emitida pelos MNE e MDN, seja caso a caso ou em regime de "autorização genérica" (por 3 meses ou máximo de um ano).
A lista da NAV, sublinho, nunca foi entregue à AR, nem ao PE, pelo Governo, apesar de ter sido repetidamente por mim pedida, desde 2 de Março de 2006.
Mas existia, chegou-me às mãos em Dezembro de 2006 e foi por mim entregue à Comissão de Inquérito do PE no dia final dos seus trabalhos, ficando registada no Relatório do PE de 2007. Foi aí que a REPRIEVE a referenciou.

PS : além de aviões, civis ou militares, há ainda navios envolvidos no mesmo sórdido tráfico. Lá chegaremos...

Voos secretos da CIA

Em Espanha investiga-se a sério, com inquirições judiciais aos ministérios e ao pessoal dos serviços envolvidos, nos aeroportos, no controlo aéreo, na comissão de cooperação hispano-estadunidense, etc. Que diferença!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Generalizando

O General Garcia Leandro lançou um grito de alma contra o estado a que isto chegou, em artigo publicado no último "EXPRESSO".
Ana Lourenço na SIC-Notícias, esta noite, fê-lo demonstrar que o grito é geral, mas só isso - aparentemente inconsequente.
Fiquei sem saber onde é que o General queria chegar, generalizando com tantas no cravo e outras tantas na ferradura!
Claro que me tocou o reflexo militar, respeitoso de quem manda, mesmo se incluído entre quem se deve apontar. Vibrei quando se atirou à banca, aos seguros e aos encaixes escandalosos dos gestores da Opus Dei. Tive até esperanças de que contasse o que deve saber sobre extravagâncias submarinas, desperdícios em helicópteros variegados, sobrevoos com carga humana para Guantanamo e outros desvarios na área que melhor conhecerá. Comoveu-me quando apontou o Ministro Rui Pereira, tutelar do Gabinete de Segurança que dirige, como referência.
Só para ver se entendo melhor para a próxima - alguém faculta entretanto ao Senhor General o que já foi publicado das escutas do processo "Portucale" ? (já que o novo Código de Processo Penal dá um jeitão a quem tem que encobrir, proibindo a publicação de mais escutas).

Despachando pela calada da noite

Telmo Correia não quis ficar atrás do chefe Paulo Portas na noite que antecedeu a saída do governo: um toca a dar à máquina de microfilmagem, outro toca a dar à caneta a assinar despachos freneticamente ...
Um "visto, tomei conhecimento" do então quase ex-Ministro do Turismo Telmo Correia parece ter convencido a Estoril-Sol de que pode reclamar agora a propriedade plena do Pavilhão do Futuro, que é do Estado.
De um despachante como Telmo Correia, da banda sob investigação no caso "Portucale" e dos Jacintos Leite Capelo Rego através de quem o CDS-PP é hoje financiado, todos os recursos despachantes são de esperar, ainda por cima pela calada da noite e com a Estoril-Sol salivando!
Mas ao conhecer-se esta aparente tentativa de esbulho do Estado, que o actual governo socialista se limite a mandar emitir um parecer, inquieta! Cheira a gaveta, cheira a gamela do «centrão», cheira a casinos e a negócios macaenses...
Com ou sem o nariz tapado, todos os olhos estão - e vão estar - sobre o Governo do PS. Sobre como vai fazer valer os interesses do Estado. Sobre se vai ou não accionar mecanismos judiciais e fiscais para avaliar o impacte sobre as finanças do CDS-PP e dos seus empenhados despachantes por actividade tão intensa e denodada em vésperas de saída do governo.

PS- Por favor, poupem-nos as «virgens ofendidas» a clamar contra o Bastonário por não apontar nomes aos bois. Com despachantes tão exímios na arte de cavalgar despachos tão turvamente, quem precisa ainda de por nomes a certos bois?

Regalias sindicais

Segundo o Diário Económico (link não disponível), os CTT querem reduzir de 100 para 38 o número de dirigentes sindicais que gozam de dispensa total de trabalho na empresa. Isso mesmo, uma centena de dirigentes sindicais a tempo inteiro, o que segundo a fonte do jornal significa o dobro do número previsto no Código de Trabalho e quase o triplo do número de dias de dispensa.
Era assim tradicionalmente no sector público. Além de constituir um privilégio face às regalias sindicais no sector privado, esta situação também importa um considerável sobrecusto para a empresa, que actua cada vez mais num mercado concorrencial. Como é habitual, os interessados têm todos os motivos para denunciar a proposta da empresa como um inaceitável "corte dos direitos adquiridos dos trabalhadores" e uma intolerável "ofensiva contra os direitos sindicais"...

Notícias um tanto exageradas

Afinal, a revisão em baixa das perspectivas de crescimento da economia dos Estados Unidos é assaz benigna. A confirmarem-se as novas previsões, as notícias que davam a economia norte-americana já afundada numa recessão eram um tanto exageradas (o que também já resultava daqui)...

Direito de secessão?

Se o Kosovo declara a secessão unilateral da Sérvia, o que é que impede depois os distritos sérvios do Kosovo de assumirem por sua vez a secessão? E depois de reconhecer a independência do Kosovo, com que legitimidade é que a UE recusará reconhecer a "República turca de Chipre", bem como os demais pequenos Estados de facto que se separaram da Moldávia, da Geórgia, etc.? E se os kosovares tiverem êxito na secessão, com apoio da UE, o que é que impedirá outras minorias territoriais, por essa Europa fora, de reivindicar também a sua independência?
Será que a geografia política europeia vai fragmentar-se ainda mais, de acordo com o enorme mosaico étnico? E se a doutrina da secessão étnica for exportada para África, o que é que ficará do seu actual mapa político?

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Caso Maddie: a PJ falha e Portugal afunda-se

Alípio Ribeiro, o Director Nacional da PJ, na entrevista de ontem na TV em que discorreu sobre muita coisa, veio displicentemente admitir o falhanço da investigação criminal portuguesa ao precipitar-se na acusação ao casal McCann, infelizes pais da desaparecida Maddie.
Eu, como cidadã portuguesa, cubro-me de vergonha e sinto o país afundar-se na mais abjecta vileza, se as autoridades portuguesas deixam que a direcção da nossa Polícia Criminal se fique por esta forma “non-chalante” de admitir um clamoroso e cruel erro, que tragicamente abala a credibilidade interna e internacional de Portugal.
O mínimo que a PJ, o MP que é suposto dirigir a investigação e não sei quem mais podem fazer, é pedir humilde e formalmente desculpas aos Mc Cann. E a Portugal inteiro.

PS - E que dizer das coisas que Moita Flores foi opinando sobre este caso nas TVs, ajudando à crucificação pública dos McCann? Irá continuar a ser convidado para comentador-oficioso deste e de outros casos em Justiça?