terça-feira, 21 de abril de 2009

Diário de candidatura (24)

1. A ver se eu percebo bem: se alguém, depois de eleito eurodeputado, se candidatar a (ou aceitar) outro cargo político e por causa disso deixar (ou não) o Parlamento europeu, como sucedeu várias vezes, não há nisso nada de mal. Mas se um candidato a eurodeputado, anunciar antecipadamente, por razões de transparência democrática, a sua intenção de se candidatar proximamente a outro cargo político, então tudo mal. É isto, não é?

2. Não procede o argumento de que a representação do PS deixará de cumprir a "lei da paridade", caso Elisa Ferreira e Ana Gomes venham a deixar o PE no seguimento da sua candidatura aos cargos municipais a que já anunciaram ir concorrer. De facto, bastará assegurar que as vagas daí resultantes sejam preenchidas por outras candidatas da lista, mantendo a mesma representação feminina.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Sintra - escolas em risco

Na terça-feira passada, dia 14 de Abril, visitei a Junta de Freguesia de Monte Abraão, concelho de Sintra. A Presidente da Junta, Fátima Campos, expressou-me particular preocupação com a situação decrépita das escolas sobrelotadas da freguesia, incluindo a de mais recente construção, que apenas em um ano e meio já apresentava infiltrações e outros problemas estruturais, como o calor insuportável no verão. Disse-me ter avisado repetidamente por escrito a Câmara, sem reacção. Pedira repetidamente uma fiscalização - nunca viera.
Três dias depois, a 17 de Abril, caiu o tecto falso de uma sala dessa mesma escola, a EB1/Jardim de Infância, provocando estrondo, ferimentos em três professores e grande comoção nas 160 crianças entre os 5 e 10 anos de idade. A polícia para entrar teve de forçar os portões, que não abriam.
Amanhã a escola deve reabrir com trabalhos de adaptação de feitos à pressão durante o fim-de-semana, contra a opinião da Presidente da Junta que recomenda uma vistoria mais profunda.
Trabalhos de adaptação aparentemente feitos tão sobre o joelho quanto a construção de raiz da escola, em menos de um ano, para abrir em Novembro de 2007.
Como é que é?
Ninguém cuida de averiguar se é precisa de intervenção mais de fundo na estrutura da escola, nem Câmara, nem Ministério da Educação?
Ninguém é responsável pela construção deficiente da escola, nem na Câmara Municipal de Sintra, nem na "Educa", a empresa municipal que tem centenas de funcionários, gasta balúrdios à Câmara e pouco faz para os justificar?
Ninguém liga aos alertas da Presidente da Junta da Freguesia sobre a situação muito grave de uma outra escola básica local, onde se enlatam 900 alunos e onde há um muro a ruir à entrada da escola?

Tratolixo - é o tratas...

A Tratolixo, uma empresa municipal controlada por quatro Câmaras nas mãos do PSD - Sintra, Cascais, Oeiras e Mafra - era suposta tratar dos resíduos sólidos urbanos.
Mas era tudo treta - não tratava!
A ponto de ter originado um crime ambiental, aparentemente "o mais grave do género registado no país", segundo o Secretário de Estado do Ambiente: a contaminação de solos e de águas subterrâneas provocada pela deposição descontrolada de resíduos na estação que era suposta ser "de tratamento" da Tratolixo, em Trajouce (Cascais).
Ficamos a aguardar que quem de direito - o Ministério do Ambiente, o MP e tutti quanti - actue criminalmente contra quem é responsável pelo "grave crime ambiental", se este se confirma.
Mas, a avaliar pelas notícias na imprensa, mais provável é darmo-nos por contentes se a Tratolixo se dignar tratar de apresentar novos planos para tratar o que não tratou, nem trata, além de descontaminar o que contaminou. Planos que metem contratos com empresas de "spinning" mediático e aconselhamento juridico, tão precisos, tão científicos, tão tratados que a Tratolixo estima poder orçar entre 2,5 e ... 10 milhões de euros.
A pagar por quem ? pelos contribuintes dos 4 municipios de gestão camarária PSD que contrataram a Tratolixo e agora tratam de assobiar para o ar.
A Tratolixo não trata do lixo, mas os representantes do PSD nestas 4 autarquias tratam de nos lixar.
Para quê pedir à Dra. Ferreira Leite mais demonstrações do "PSD de verdade"?

Agentes do status quo...

O PR Cavaco e Silva, diante de uma audiência de empresários e gestores cristãos criticou os "empresários e gestores submissos ao poder político" e os "agentes que beneficiaram do status quo - e que tiveram um papel activo nesta crise financeira - continuam a ser capazes de condicionar as políticas públicas, quer pela sua dimensão económica, quer pela sua proximidade ao poder político". Implícita estava, a denúncia dos agentes do poder político atreitos a promiscuidades com tal nata empresarial...
O PR sabia, por saber feito de experiência própria, do que falava. E falava para uma audiência aquiescente, devidamente abrilhantada por um dos expoentes máximos desse conúbio condicionante: Durão Barroso.
Pena é que ainda não tenham passado do reconhecimento dos seus pecados a qualquer elementar acto de contricção: o Presidente, por exemplo, esperará fúria divina para mandar Dias Loureiro saltar do Conselho de Estado?

Furacão ou Furação?

Ricardo Pinheiro, alto quadro do BPN, disse há dias na AR que, nas vésperas de uma busca no quadro da Operação Furacão, a direcção do Banco fez sair para Cabo Verde dois contentores de documentação.
E então ninguém se incomoda na PGR ou onde quer que seja? Ninguém protesta? Ninguém investiga ou pelo menos faz que investiga?
Nem sequer aquele novo chefe sindicalista do MP, tão intrépido a denunciar pressões sobre a justiça como, dias depois, a desmentir que as tivesse denunciado?
Ninguém se emociona com esta evidente frustração da Operação Furacão, por alguém certamente de dentro do sistema judicial ou policial?
Ou será que já é caso para chamar Operação Furação à Operação Furacão?

Ciclone - do Caldas para Viana

Fez bem o Ministro da Defesa Nacional em mandar instaurar inquérito ao processo da construção dos navios "Atlântida" e "Anticiclone" pelos Estaleiros Navais de Viana dos Castelo, por não corresponderem às especificações contratadas.
Esperemos que as averiguações sejam céleres e esclareçam a perturbação comercial e aparentemente tecnológica que atingiu os ENVC depois que o inefável Ministro Paulo Portas entendeu... restruturá-los.

A 40%, o crime compensa?

O PS apoiou na AR - e eu aplaudo - a proposta do BE de pôr fim ao sigilo bancário. E aparentemente, foi até mais longe propondo, pela mão de Vera Jardim, a metodologia espanhola para o controlo a exercer pelo fisco sobre as contas bancárias.
Claro que ainda falta criminalizar o enriquecimento ilícito - espero que aí cheguemos, apesar dos fundamentalistas supostos zeladores pela não inversão do ónus da prova (não inverte nada, ao MP continuará a caber provar que há bens em desconformidade com a declaração fiscal e não justificados, ao acusado basta demonstrar que os adquiriu licitamente).
O que não percebo é a lógica de uma proposta governamental que visa imputar uma taxa de 60% ao enriquecimento patrimonial injustificado de valor superior a 100 mil euros. Como é que é? Se é injustificado, deve investigar-se se há crime, não é? E se há crime, como só cativar 60% e não confiscar integralmente?
Alguém me explica ou sou eu que estou embotadinha de todo?

Insolações....

Não percebi, francamente, o interesse de Portugal convidar (e pagar) a um grupo de estudantes estrangeiros para virem fazer turismo a Portugal e ver como vamos de energias renováveis. Sobretudo em tempo de crise... E sobretudo quando, realmente, não vamos tão bem como poderíamos ir, se houvesse mais investimento público na inovação nacional para construir soluções tecnológicas mais rentáveis e exportáveis. Na energia solar e não só.
Mas ainda menos percebi, quando apesar de todas as campanhas de promoção governamental dos incentivos financeiros a dar à compra e instalação de painéis solares pelos cidadãos, abrindo oportunidades comerciais a PMEs, afinal os bancos - incluindo a CGD - não estão realmente preparados para aconselhar fornecedores e equipamentos.
Ou alguém desmente o artigo do PÚBLICO, de 18 de Abril, "Bancos prestam informação confusa e escassa sobre campanha dos painéis solares" ?

sábado, 18 de abril de 2009

Diário de candidatura (23)

Realiza-se hoje em Lisboa uma sessão das Novas Fronteiras para apresentação da lista do PS às eleições europeias, incluindo a participação do ex-Presidente da República, Jorge Sampaio.
Tendo em conta raridade da intervenção política do antigo Presidente da República, apraz-me registar e agradecer o seu apoio.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Coimbra, 17 de Abril de 1969


Foi assim que tudo começou, há quarenta anos. Quando esse Abril de Coimbra prenunciou outro Abril.

Um pouco mais de seriedade política, sff

Depois de ter proposto a criminilização do enriquecimento injustificado -- que, isso sim, dificilmente poderia ser defensável sem alteração constitucional, por inverter o ónus da prova em matéria penal --, o PSD vem agora considerar inconstitucional o agravamento fiscal dos rendimentos injustificados acima de certo montante, que nada tem a ver com punição penal nem sequer com sanção fiscal.
Vá-se lá entender a contradição. Decididadamente, o PSD perdeu o sentido da responsabilidade e da seriedade política.

Diário de candidatura (22)

Há gente com uma concepção tão integrista da organização partidária que não concebe a ideia de que um partido plural e aberto possa admitir posições políticas diferenciadas dos seus candidatos ou deputados (o que obviamente lhe dá mais autoridade e legitimidade para tornar vinculativa uma posição oficial e esperar o respeito por ela, quando entenda ser caso disso) .
Pelos vistos, o "centralismo democrático" do PCP está a conquistar inesperados seguidores...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A isto chegámos

«Jardim diz que lei do pluralismo é "nazificante" e de "iniciativa fascista"».
Duas questões: (i) até quando é que teremos de aturar estes despautérios institucionais provindos de um titular de um cargo público? (ii) Até quando é que o PSD continuará a "assobiar para o ar", sem se sentir obrigado a demarcar-se da reiterada incivilidade política do seu líder regional?

Diário pessoal, quando calha

Só podia ser negativa a minha resposta ao pedido de um conhecido jornal popular para uma reportagem (ou série) sobre "casais políticos", ou algo assim, em que os dois cônjuges desempenham cargos políticos ou afins.
Por menos "fashionable" que seja, não tenciono mudar na minha concepção de que os políticos (em cuja malquista condição vou reentrar, inesperadamente) não têm de fazer exposição pública da sua vida privada e familiar, muito menos deixar explorá-la para efeitos políticos. Se não posso evitá-lo, já posso pelo menos não colaborar nisso.

Diário de candidatura (21)

Entrevista ao Diário de Notícias, de ontem.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

As armas nucleares da NATO

"...In other words, if a European vision for NATO's nuclear deterrent is lacking, it is very likely that the US' nuclear posture review will decide for everyone else: the reduction of US stockpiles, the reconfiguration of US delivery systems, the effects of US strategic disinvestment from Europe and its efforts to improve relations with Russia could mean that Washington's national nuclear posture review becomes NATO's nuclear posture review; once again, Europe seems to be unable to take the lead in its own security and looks hopefully to the US for a positive outcome; maybe it will get it, maybe not;"

Este é um extracto de uma intervenção que fiz esta tarde num debate organizado pela Fundação Friedrich Ebert, em Bruxelas, sobre o tema: "O futuro das armas nucleares na NATO".
O texto integral já está disponível na Aba da Causa.

Afeganistão - outra Somália?

Discordo de Manuel Alegre quando este critica a decisão do governo de reforçar a presença militar portuguesa no Afeganistão.
Discordo ainda mais da caracterização da missão da NATO no Afeganistão como "aventura que nada tem a ver com a nossa tradição e a nossa História".
Devo dizer que sempre desconfiei de argumentos que se baseiam na sacralização da "tradição", como se o passado português fosse uma fonte inesgotável de sabedoria, mais importante do que os valores imperativos do presente e as ambições para o futuro.
Manuel Alegre considera que o fortalecimento dos laços militares entre Portugal e a CPLP, nomeadamente no apoio à estabilização da Guiné-Bissau "é muito mais importante e urgente para nós do que o Afeganistão" e que a presença portuguesa neste país não reflecte os interesses portugueses e não contribui para a segurança nacional. Claro que Portugal e a CPLP podiam fazer mais pela Guiné-Bissau - mas o que podiam fazer não implica necessariamente enviar militares. O que é preciso é fazer os militares guineenses abandonar o poder e as lutas de poder.

Já estive no Afeganistão.
A situação neste país, que origina mais de 90% da heroína disponível no mercado mundial (e na Europa em particular) e onde a ausência de Estado, lei e direitos humanos criou um ambiente acolhedor para organizações terroristas e criminosas com alcance global, constitui indubitavelmente um perigo para a segurança global - e por isso também portuguesa.
A estabilização, a reconstrução e o desenvolvimento do Afeganistão é por isso do interesse nacional.
Tropas não chegam. E é por isso que a União Europeia é um dos maiores dadores de ajuda ao desenvolvimento para o Afeganistão, embora durante a Administração Bush se tenha resignado a não contribuir para a orientação estratégica da presença internacional no país. Mas não é possível construir escolas, estradas e hospitais sem proteger os internacionais e os locais que trabalham no terreno.
Parece-me que a nova estratégia flexível de Obama que assenta num reforço do contingente militar, mas também - e acima de tudo - numa abordagem regional que inclua o Paquistão, num novo ênfase no desenvolvimento, no erigir das instituições, e na protecção das populações, merece pelo menos o benefício da dúvida.
E os EUA agora estão mais abertos do que nunca para discutir alternativas e propostas europeias: por exemplo, recentemente, pela primeira vez, Javier Solana foi convidado pelo Secretário da Defesa Gates e pelo Chefe do Estado Maior Geral das Forças Armadas dos EUA, o Almirante Mike Mullen, para consultas sobre o Afeganistão. Pela primeira vez, o Comandante do Comando Central americano, o General David Petraeus, deslocou-se a Bruxelas para discutir o Afeganistão com o Comité Político e de Segurança da União Europeia.
A NATO e os EUA fizeram erros, e muitos, no Afeganistão. A solução é fazer melhor. Não é abandonar o Afeganistão à sua sorte. E não é apresentar uma falsa alternativa entre apoiar os países da CPLP e apoiar a estabilização do Afeganistão.
Já temos um estado falhado, negligenciado pela comunidade internacional, entregue à violência, à fome e ao fanatismo: chama-se Somália.

STOP CORRUPÇÃO - em português


Já está online a versão portuguesa da petição STOP CORRUPÇÃO, que foi ontem lançada por mim e pelo eurodeputado José Ribeiro e Castro (PPE), no Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa, durante a conferência de imprensa da sessão de abertura de Lisbon 2009 ECPR, um congresso de ciência política que reuniu cerca de mil académicos de mais de 300 instituições europeias e internacionais.
A petição insta a Comissão Europeia e os Estrados Membros da União Europeia (UE) a propor legislação e mecanismos de combate à corrupção, em particular nas relações da UE com países terceiros.
Nos países em vias de desenvolvimento ricos em recursos naturais os montantes subtraídos ao Estado chegam, por vezes, a igualar os valores da dívida nacional. A corrupção ao mais alto nível reduz a capacidade de muitos Estados para garantir serviços básicos às populações, como o direito à alimentação, habitação, saúde e educação.
Lutar contra a corrupção é, por isso, uma questão de direitos humanos. E toca a todos, porque todos pagamos.

Assine em http://www.stopcorruption.eu/

Diário de candidatura (20)

Pedem-me um comentário acerca da absurda acusação do cabeça de lista do PSD sobre uma pretensa "mordaça" que eu teria colocado à discussão de temas nacionais nas eleições europeias.
Comento que a excitação juvenil pode gerar disparates. Defendi e defendo que, sendo as eleições para o Parlamento Europeu (que vai aprovar as leis europeias, aprovar o orçamento europeu e escrutinar o executivo europeu), elas devem centrar-se naturalmente em temas europeus.
Verifico, porém, que, mesmo sem "mordaça" nenhuma, a apresentação do candidato do PSD primou pelo vazio de ideias sobre as questões europeias. Imagino que, se se tratasse de eleições para a AR, o candidato do PSD se recusaria então a discutir problemas nacionais, preferindo talvez tratar de assuntos locais do Porto...
Quando faltam as ideias e propostas, a tentação é desconversar. Pelos vistos, é isso que o PSD se prepara para fazer nas eleições europeias. Terá a merecida resposta.

Diário pessoal

É hoje o lançamento público da minha colectânea de textos sobre a Europa, intitulada «Nós, Europeus». António Vitorino, que já escreveu o prefácio do livro, "faz as despesas" da sessão. Registo aqui a minha gratidão pela sua disponibilidade.
Além dos meus amigos, convido para a sessão todos os interessados na União Europeia.
Aditamento
Perguntam-me sobre a coincidência do título do livro com o lema da minha candidatura às eleições europeias. Esclareço que a ideia do livro (que faz parte de um projecto mais vasto, de reunir em volumes temáticos a minha colaboração jornalística ao longo dos anos) e o respectivo título (que vem do título de um dos artigos coligidos) são anteriores à candidatura (só o derradeiro artigo foi acrescentado posteriormente). Logo após a aceitação da candidatura, dei-me conta de que o título do livro constituía um excelente motto político. Por isso o adoptei.

Um pouco mais de jornalismo, sff

«Irmão de Santana Lopes ligado ao caso BPN».
Mas que raio de interesse é que tem a referida ligação familiar, senão o de envolver enviesadamente o mencionado político num caso a que é alheio?!

Mais um "atentado à liberdade individual"...

«Militares proibidos de usar tatuagens e maquilhagem».
E, claro, só pode ser culpa do Governo!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Notícias da crise

Comenta-se que as novas projecções económicas do Banco de Portugal (que os dados sobre o comércio externo e sobre o investimento já prenunciavam) configuram "a maior crise desde 1975".
Falta dizer que o mesmo ou pior sucede em muitos outros países, sendo que em alguns a crise é a maior desde a Grande Depressão, ou seja, nos últimos 80 anos.
Quando se fazem comparações convém não ser selectivo.
[revisto]

Diário de candidatura (19)

Apraz registar que finalmente o PSD foi capaz de ultrapassar as aparentes dificuldades na escolha dos seus candidatos ao Parlamento Europeu. Dou as boas-vindas a Paulo Rangel, como meu adversário mais directo nesta disputa eleitoral.
Mau sinal é, porém, que o cabeça de lista do PSD tenha começado a sua campanha a combater os fantasmas ele próprio ficcionou de acordo com as suas conveniências. Se ele prefere disputar as eleições europeias como se fossem um ensaio para as eleições nacionais (por não ter nada a dizer sobre as questões europeias), sinta-se totalmente livre para o fazer, sem as "mordaças" que ele inventou. Obviamente, não ficará a falar sozinho. Vamos a isso!

Diário de candidatura (18)

«The  [European] parliament’s clout is growing and will grow even more if the EU’s Lisbon treaty enters into effect as planned next year. Love it or loathe it, the parliament is increasingly the place to turn to understand what drives the EU.»
(Tony Barber, Financial Times).

Obama delivers

«Obama põe fim às restrições de viagens e ao envio de dinheiro para Cuba».
Venha agora o fim do embargo comercial, e o regime cubano perderá o seu principal argumento contra os Estados Unidos e a principal desculpa para as dificuldades da ilha...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Diário pessoal

Na próxima 4ª feira, dia 15, pelas 18:30, no Belém Bar Café, em Lisboa, faz-se o lançamento público do meu livro "Nós, Europeus", que reúne os meus textos sobre temas europeus publicados no Público e no Diário Económico nos últimos 10 anos, acrescentados de um prefácio de António Vitorino.
A sessão é pública.

O PSD de verdade

Não encontro na net, para aqui deixar devidamente ilustrada, a imagem desse PSD DE VERDADE que nos vai assombrando aí pelas esquinas e rotundas.
Refiro-me aos "outdoors" admoestantes da soturna Dra. Manuela Ferreira Leite, trajando de castanho sombrio sobre fundo cinzo-castanho-acabrunhante, carregado ainda pelo contraste com fina estria alaranjada que tudo enquadra.
Duas perguntas:
Com "outdoors" destes, para que precisa a Dra. Manuela Ferreira Leite de Luises Filipes Menezes?
Não poderá o PSD rentabilizar o "outdoor" oferecendo a concepção gráfica à Servilusa ou congènere cangalheira?

Salazar também era português

Os cronistas apuram-se, na imprensa dos últimos dias, na exegese das diversas opiniões dentro do PS sobre Barroso.
Como se o que mais interessasse fosse o futuro de Barroso e não o futuro da Europa.
No afã de marcarem os seus pontos, tratam de me citar selectivamente, distorcendo o que disse e penso.
Por isso entendo esclarecer:
Não subscrevo as “razões patrióticas” que o Governo do PS invoca para apoiar a renovação do mandato de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia.
Não adiantei o nome de António Guterres como possível alternativa a Barroso por ser português. Indiquei-o por ser figura de indesmentível competência para o lugar (tanto que em tempos foi para ele desafiado), independentemente da sua nacionalidade.
Não adiantei o nome de António Guterres isoladamente – integrei-o num rol de personalidades de diferentes nacionalidades que, além de serem da família socialista ou social-democrata europeia, têm inquestionavelmente perfil para o cargo: citei Pascal Lamy, Margot Wallstrom, Mary Robinson e Poul Nyrup Rasmussen (atenção “Publico” de 8 de Abril, o outro Rasmussen, o Anders Fogh, é neo-liberal de direita, ainda mais à direita que o Dr. Barroso, e na minha opinião nem para porteiro da NATO deveria servir...)
Adiantei ainda um outro nome não português que, não sendo socialista nem social-democrata, é progressista e portanto susceptível de ser apoiado por gente de esquerda como eu, se depois das eleições europeias de Junho for preciso agregar mais apoios para encontrar uma alternativa de esquerda a Barroso: o verde alemão Joshka Fisher.
São por isso totalmente ilegítimas e manipuladoras as interpretações que me atribuem a sugestão do nome de António Guterres para, rejeitando Barroso, ir apesar de tudo ao encontro dos sentimentos nacionalistas dominantes.
Queridos e queridas cronistas e comentadores: sou completamente imune a patrioteirices dessas. É que eu sei bem que, para efeitos políticos, ser português não basta e sobretudo não salva mesmo nada. Convém não esquecer que Salazar também era português.

domingo, 12 de abril de 2009

Aventino

Conhecia-o desde os anos exaltantes e exaltados do MRPP post-25 de Abril, de me cruzar com ele na sede da Álvares Cabral, no Infantário Ribeiro Santos, nas manifs diversas e na azáfama do 25 de Novembro, claro.
Há anos que só nos encontravamos, volta e meia, por acaso, no Procópio. Da ultima vez pareceu-me anormalmente mais magro, estaria já doente, da doença que o levou agora.
Sempre me fascinou como, debaixo da farfalhuda bigodeira, aliava humor caustico, agudeza na crítica política e fidelidade nas amizades. Com o General Eanes, em particular, com quem vinha almoçar religiosamente todas as quintas-feiras, sem nunca deixar de praguejar a torto e direito. Praguejava sempre afavelmente, quando nos cruzavamos nos corredores de Belém.
Um dia, no início de 1985, começou a preparar-se uma visita do Presidente à China. A primeira de um Chefe de Estado português a Pequim, Xangai, Quilin, Cantão e Macau. Ia começar a discutir-se a passagem de Macau para a administração chinesa.
O Aventino, obviamente, achava que tinha de ir – fora uma passagem por Macau que o ligara a Eanes. E China, chineses e sobretudo maoistas era com ele, o MFA de serviço no MRPP...
Passou a descer ao meu gabinete, todas as semanas: “Olha lá, já há lista da comitiva?”. “Não, deixa estar que quando houver, eu aviso”.
A lista foi-se fazendo (eram um castigo aquelas listas de comitivas, até à partida para o aeroporto iam sendo alteradas e sobretudo acrescentadas, para desespero do Protocolo e dos embaixadores ...).
Mas nada de Aventino.
Comecei a picar o Presidente: “Então e o Aventino?”. “O Aventino?!”, erguia-se o sobrolho, decerto espantado pela minha insolência (afinal o amigo do peito era dele, Eanes). “A ver vamos...”
Passaram mais semanas e o Aventino além de continuar a passar lá pela Casa Civil, passou a telefonar. “Atão, o gajo já me pôs na lista?”. “Pá, tá descansado, a lista ainda se está compôr...”.
“Mas eu já topei que ele se está a torcer todo. Tá bem lixado comigo, tá!..”.
“Calma! Isto compõe-se...”
A verdade é que não se compunha, nunca mais se compunha, por mais que eu intercedesse pela nervoseira do Aventino.
Na véspera da partida, ao fim da tarde, finalmente, o Presidente, disse-me que avisasse o Aventino para fazer a mala (ele já tinha visto no passaporte e tudo, havia eu esgrimido uns dias antes...).
Há dias encontrei a fotografia, em que estamos sentados, ao lado um do outro, no avião a caminho da China. O Aventino bigodudo e eu. Ele acabara de me passar uma carta para a mão. Uma carta que havia escrito ao amigo Eanes uns dias antes, para o caso de não estar ali no avião para Pequim. Uma carta desnecessária, afinal. “Pá, lês e rasgas logo!”
Começava: “Porque é que eu não vou à China e tu, assim, também não vais a lado nenhum”.