quarta-feira, 8 de junho de 2011

A honra manchada do PT

Como era esperado desde há dias no Brasil, o chefe da Casa Civil de Dilma Roussef -- que é uma espécie de primeiro-ministro delegado da Presidente da República -- acabou por se demitir, acusado de enriquecimento injustificado em actividades de consultoria nos últimos anos, enquanto era deputado federal.
Depois de José Dirceu, com o presidente Lula, trata-se de segunda figura grada do "petismo" governamental a cair em desgraça pelo mesmo motivo. Decididamente, os escrúpulos pessoais e a decência política não são universais na elite política do PT.

Liderança do PS

É pena que António Costa tenha decidido não se candidatar à liderança do PS. Para além do seu traquejo e do seu peso político, ele estaria bem colocado para conjugar o sentido de responsabilidade política que se exige ao PS (e que o distingue da esquerda de protesto) com a determinação e o vigor que se impõem ao partido que lidera a oposição de esquerda a um governo maioritário de direita, não podendo por isso deixar os seus créditos por mãos alheias.
Além disso, as oportunidades para assumir lideranças partidárias (e quiçá de governo...) não se costumam repetir...

terça-feira, 7 de junho de 2011

Aviso

Foi o que fiz, esta manhã, ao microfone da rubrica Conselho Superior da ANTENA UM. Por sentido de cidadania. Por entender que estão em causa a idoneidade e a credibilidade, pessoal e politicamente, do Dr. Paulo Portas para voltar a desempenhar cargos governamentais.

A derrota do PS

A derrota do PS nestas eleições era inevitável, nestas circunstâncias, sobre o pano de fundo da crise económica nacional e europeia.
Por muitos erros que se tivessem evitado (como a degradante contratação de paquistaneses ou vilanovenses para comícios) e por muito mais cuidado prospectivo que tivesse posto na narrativa.
Quem quer que fosse governo, neste tempo, só podia sair penalizado.
O PS tem sido bom a averbar tudo o que de bom fez no governo - e fez muito. Mas tem sido mau a evitar reconhecer erros - e cometeu-os. Teimar em não o reconhecer só descredibiliza os socialistas e mina a confiança dos portugueses no PS. Porque quem não reconhece erros mostra não estar preparado para os corrigir.
O pior de todos os erros cometidos pelo PS, determinante de muitos outros, foi ter guinado à direita, a pretexto de desideologizar a acção política. Um caminho que facilitou a captura por interesses, designadamente do sector financeiro. Bem basta que eles estejam sempre a postos para infiltrar os partidos do poder... não convem escancarar-lhes a porta.
A procura de uma nova liderança para o PS é uma oportunidade para corrigir erros e começar a transformar esta derrota em vitória. Para o futuro. E para Portugal.

Sistema proporcional?

Tendo alcançado cerca de 38,5% dos votos, o PSD pode ter eleito 108 deputados (contando os 3 deputados da emigração que provavelmente vai acrescentar), o que representa cerca de 47% da composição da AR. Portanto, uma "majoração" de 8,5 pontos em relação à percentagem de votos.
Fazendo mais umas contas elementares e adoptanto estimativas prudentes, verifica-se que o PSD poderia ter chegado à maioria absoluta na AR (116 deputados) com apenas cerca de 41,5% de votos. Tratar-se-ia de um fenómeno inédito entre nós, questionando a natureza enuinamente proporcional do nosso sistema eleitoral.
Já se sabia desde o início que o partido mais votado tem sempre um número mais do que proporcional de deputados, proporcionado maiorias parlamentares (mais de metade dos deputados) com menos de metade dos votos.
O aue não se sabia é que, caso a vantagen do partido vencedor em relação ao segundo partido seja muito expressiva (nestas eleições, vantagem superior a 10 pontos), o "prémio de vitória" pode ser muito expressivo

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Uma função meritória

Estas eleições revelaram uma função útil do BE. Sendo certo que uma parte das suas perdas eleitorais acabaram por se transferir para o PS, o BE teve a meritória função de ajudar a minorar a derrota do PS, que sem essa "ajuda" bloquista teria sido mais expressiva.
Finalmente, um serviço útil do BE para a esquerda. Quem diria, hein?!

Direita dos negócios

Afastado há muitos anos do poder, o PSD deixou de ser dirigido por políticos profissionais, a tempo inteiro, para passar a ser dirigido por políticos em part time, onde a cada pronúncia pública se adivinha o banqueiro, o empresário, o gestor, o consultor de negócios, o advogado de negócios.
De facto, porventura sem paralelo noutras geografias, o PSD assemelha-se muito a um conselho de administração político do mundo dos negócios. Ao saber ouvi-los, fica sempre a dúvida sobre saber se quem fala é o político ou o homem de negócios, representando os seus interesses próprios...

Cumpriram-ser os fados

O desaire eleitoral do PS é tudo menos surpreendente, ainda que a sua expressão tenha sido mais pesada do que era geralmente antecipado.
Cumpriu-se a regra de que em tempos de crise e de austeridade, os partidos incumbentes, qualquer que seja a sua orientação e o seu desempenho, pagam pesada fatura eleitoral. Portugal e o PS não são exceção nesta "lei de bronze" dos julgamentos eleitorais. O mesmo sucedeu recentemente no Reino Unido e na Irlanda e assim vai acontecer, segundo tudo indica, em Espanha dentro de poucos meses. Para esperar um resultado diferente teria sido necessário mudar toda a sociologia eleitoral.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

De longe

Não me lembro de estar fora do País e da Europa durante quase toda uma campanha eleitoral, como agora, por razões profissionais.
Há duas impressões marcantes. Por um lado, não fora a Internet e não seria possível ter a mais pequena ideia do que se passa em Portugal. Os media estrangeiros, neste caso os brasileiros, prestam pouca atenção ao que se passa na Europa, incluindo no nosso País (as eleições presidenciais peruanas, essas sim, estão na agenda da comunicação social).
Por outro lado, estando limitado, por falta de tempo, a fugazes visitas aos sites dos jornais portugueses, não deixa de me impressionar a imagem um tanto surrealista que a generalidade da imprensa dá da campanha eleitoral, marcada ostensivamente pela parcialidade, se não mesmo pelo sectarismo. Aparentemente todos os jornalistas tomaram partido pelos favoritos...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Vintage PSD!

"Nogueira Leite considerou que Portugal será obrigado a renegociar dívida", segundo registos da TSF.
Passos Coelho apressou-se a corrigir o seu conselheiro económico, diz a imprensa.
Opps! Segurem-se! É a montanha russa PSD a dar um ar da sua graça!
Convem votar prudentemente. O vintage depressa nos amargará em zurrapa.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Pias e ímpias

Pedro Passos Coelho recorreu ao aconselhamento politico de Dias Loureiro, noticiaram ha dias DN e CM, sem que tal fosse desmentido. Via ímpia e inquietante que logo deu para se agitar o espectro de o país poder ver um dos artifices da criminalidade BPN ungido na pia do Ministério das Finanças, passando Passos a PM.
É certo que o lider do PSD se acha capaz de milagres e até já pediu maioria absoluta para não ter de governar com "pau de cabeleira" à ilharga.
Bem faria, porém, em meditar na lixadela piamente vaticinada pelo Senhor seu Pai.
Começando por tratar de evitar que o pau seja de loureiro e a cabeleira loura, à la Deneuve, como a disfarçante de ímpia e insinuante careca.
Questão também de se por a pau com rabos-de-palha e alforrecas arrastados por quem se toma por impunível, superando-se sempre a afivelar as mais pias intenções.
É que nem o rosa complacente e acolchoado das ímpias Necessidades poderá minorar os estragos de impiedoso rebentamento fervilhando em submarinas profundezas.
Com tão ímpio lastro, muitas vias serão pias para finalmente se destrancarem as trancas postas à Justiça.
 bon entendeur...

O que temos a decidir dia 5

Ao aproximar-se o final da campanha eleitoral, fica claro que é a escolha do próximo Primeiro Ministro pelos portugueses que determinará a forma como o Memorando assinado com a Troika será traduzido em políticas, mais ou menos violentas, nos próximos anos.
Independentemente das qualidades exigidas pela gravidade dos desafios à liderança do futuro governo (José Sócrates tem defeitos, mas também determinação, resistência e experiência, enquanto Passos Coelho tem certamente qualidades, mas a campanha revelou-o tergiversante, influenciável e impreparado, até para a acção no plano europeu), trata-se no fundo de escolher entre a tendência ultra-liberal deste PSD, que abandonou a tradicional matriz social-democrata, e a orientação do PS que, apesar da austeridade imposta pela vinculação ao Memorando, mantem a preocupação de preservar o Estado Social, reformando-o para lhe garantir a sustentabilidade.
Seria esclarecedor se, ainda antes do dia das eleições, os líderes do PS e PSD informassem os portugueses sobre a quem tencionam atribuir a pasta das Finanças, se lhes couber chefiar o governo.

Depois, temos de exigir a todos que tudo se faça para o próximo Governo ser formado e entrar em funções com a máxima celeridade. O PR terá nisto um papel a desempenhar.

Ganhe quem ganhar as eleições, espero que a luta contra a corrupção seja colocada na agenda nacional e da Troika, na aplicação do Memorando. Para que consigamos realmente eliminar ineficiências e redundâncias na administração pública a todos os níveis, nas parcerias público-privadas e nas empresas públicas, que só existem para facilitar a corrupção no nosso país. E para que novas oportunidades não se lhe abram e aproveitem com o programa de privatizações previsto no Memorando.

Foi que o procurei dizer hoje no Conselho Superior na Antena 1 .

A Troika pode ignorar a corrupção, ou não?

"Portugal Daily View" é um novo portal informativo sobre Portugal, em lingua inglesa. Com que eu aceitei colaborar, escrevendo no blogue "Europlural".
Comecei já, com notas sobre a assistência da UE à libertação da Líbia e sobre a ausência das palavras "combate à corrupção" no Memorando de Entendimento assinado por Portugal com a Troika CE/BCE/FMI.
E sobre como não vamos resignarmo-nos com essa ausência. A propósito das finanças e da justiça que se afundam em Portugal... em dois submarinos alemães. E não só.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Com a verdade me enganas

«Pedro Passos Coelho garante que PSD "não vai mexer nas taxas do IVA"». Porém, como a subida do IVA (subida da taxa normal ou eliminação da taxa intermédia) tinha sido aventada pelo próprio PSD como única maneira de compensar a segurança social do corte de 4% na contribuição patronal para a mesma, só há que concluir que o PSD se prepara para fazer esse corte sem compensar a segurança social.

Antologia do dislate político

«WSJ: Portugal "à espera de Salazar"».

Pois claro

«Jerónimo: povo deve pronunciar-se sobre saída do euro».
E já agora sobre saída da UE, não é?! É desta que o PCP vai avançar com uma proposta de referendo?

domingo, 29 de maio de 2011

Viagens na minha Terra




São José dos Campos, SP, Brasil, este fim-de-semana.

sábado, 28 de maio de 2011

Sem surpresa

«Bloco rejeita coligação com PS».
Alguém esperava outra posição do BE? Seguramente não. Por um lado, como partido de protesto radical, o BE nunca se dispõe a assumir responsabilidades de governo. Por outro lado, depois de se ter aliado à direita para derrubar o governo do PS e provavelmente abrir o poder à direita, é evidente que o BE escolheu o seu caminho -- como sempre, contra o PS.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Não fica pedra sobre pedra?

O despudorado "flirt" que Passos Coelho ensaiou com a cruzada da direita católica contra a despenalização do aborto não revela somente que vale tudo para disputar esse eleitorado ao CDS. Esse oportunismo mostra também que para tentar ganhar mais uns votos (ainda que provavelmente à custa da perda de outros...) o PSD está disponível para reabrir a "guerra do aborto" entre nós.
Não se conhece lá fora nenhum caso de retrocesso nesta matéria. Mesmo quando não foi ela mesma a despenalizar o aborto (como em França) a direita respeitou essa herança como irreversível. Será que o PSD quer assumir a irresponsabilidade de abrir um triste precedente entre nós?
E que se seguirá mais: rever a lei do divórcio, questionar a lei do casamento de pessoas do mesmo sexo?!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ruído

Não vejo que vantagem há, do lado do PS, em especular sobre os cenários pós-eleitorais de governo, mesmo sabendo-se que o próximo governo será necessariamente de coligação.
De duas uma: para o caso de o PS ganhar e por isso ser chamado a formar governo, só há vantagem em manter todas as hipóteses de coligação maioritária em aberto, sem escolher antecipadamente uma delas; no caso de ser o PSD a ganhar, o PS deve disponibilizar-se, sem anátemas pessoais à partida, para uma coligação, se tal for necessário para um governo de maioria (mas só nesse caso). Se a direita coligada tiver maioria absoluta, não sei por que é que o PS se haveria de dispor a servir de pau-de-cabeleira de uma maioria de direita, sem nenhum poder negocial, portanto.
A meu ver, todas as declarações que fujam deste prudente paradigma só causam ruído na percepção da posição do PS.

É a vida! Será?

Face as sucessivas derrotas socialistas na Europa, o Vital parece resignado: "os socialistas são as principais vítimas políticas das situações de crise prolongada".
Vitimas ou algozes, pergunto eu, por terem mandado o socialismo às malvas, complacentes/corrompidos pela financeirização da economia e da politica (importa reflectir para sairmos da crise e o Vital pode ajudar a reflectir).
E por também por, numa mesma deriva perversa, mandarem a mais elementar ética democrática às malvas, descendo a "outsourcings" marqueteiros aviltantes, lá porque outros também os praticam...
Não, não pode ser a vida, Vital.
Se fosse, já estávamos todos mortos.
E não estamos.
Estamos numa campanha eleitoral em que para os verdadeiros socialistas não vale tudo, não pode valer tudo.
Como vamos constatar no próximo dia 5. Vencedores ou derrotados, ver-se-à que estamos vivos.
E que não é nada da vida, Vital.
É por ser preciso fazermos por ela.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Aqui del-rei!

No meu artigo de ontem no Público mostrei por que me parece impraticável compensar o rombo nas receitas da segurança social resultante do corte de 4 pontos na TSU proposto pelo PSD com um aumento de impostos do mesmo valor, tal o montante em causa. Mas hoje uma das personalidades que, tal como Catroga, costuma desvendar a agenda menos evidente da direita, Bagão Félix, em entrevista ao Diário Económico, vem fornecer a chave do enigma -- a solução estaria em utilizar o próprio fundo de estabilidade da segurança social, ou seja, pura e simplesmente arruinar a segurança social, medainte um rombo de mais de 10% das saus receitas anuais.
Decididamente, no seu dogmatismo sectário contra a segurança social pública, a nossa direita não tem limites!

Um pouco mais de isenção, sff.

Debate na SIC: de um lado, Marcelo Rebelo de Sousa e Morais Sarmento, do outro Francisco Assis. Dois contra um, é assim que a generalidade dos media trata a disputa entre o PSD e o PS. 
Se, apesar festa vergonhosa parcialidade, o PS ainda consegue um empate nas sondagens, só por milagre!

Diferente

O PCP diz que aceitaria coligar-se com "um PS diferente": nós sabemos bem, com um PS que aceitasse o programa do PCP, uma espécie de "duplo" do PCP, como os chamados Verdes.
O PS também poderia dizer que se poderia coligar com um PCP diferente, ou seja que aceitasse o fim do "socialismo real", a democracia parlamentar, a "economia social de mercado" e a integração europeia.
Como se vê, condição bastante menos exigente, porém hipótese improvável, bem o sabemos...

terça-feira, 24 de maio de 2011

Preocupação

Mais papista que o papa, Eduardo Catroga regressou de férias e recomeçou a falar. Passos Coelho só pode ficar preocupado...

É a vida

Hungria, Reino Unido, Espanha -- sucessivas derrotas eleitorais socialistas. Decididamente, os socialistas são as principais vítimas políticas das situações de crise prolongada. Há obviamente algo de incongruente entre o tradicional ideário socialista -- emprego, melhoria das condições de vida, progresso social -- e aquilo que uma grave crise traz, ou seja, desemprego, agravamento das condições de vida, retrocesso social. O facto de essas consequências serem indiferentes aos governos não altera a percepção dos eleitores.
Como António Guterres costumava dizer perante os as coisas mal-sucedidas -- "é a vida"...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Na Líbia livre - III


A caminho do mercado de 6a. feira, Benghazi leste, 20.5.2011

Na Libia livre - II



Tobruk, encontro com dirigentes do CNT local, 17.5.2011

Na Libia livre - I



Em Al Marj, antes, durante e depois da Oração de 6a-feira, 20.5.2011



A caminho da linha da frente, saudações em V de Vitoria, como as feitas por toda a gente em todo o lado. E almoço rapido em casa do Representante local do CNT em Ajdabia. 18.5.2011.

domingo, 22 de maio de 2011

Nova Libia - a pensar o futuro



Mohamed Chebani foi preso e perseguido por Khadaffi e viveu no exilio em diferentes paises até se fixar no Canadá.
Voltou para a Revolução na Libia, há semanas.
Incendeia multidões nas orações de sexta-feira. A dizer que a Libia deve ser uma democracia secular, em que sejam respeitados os direitos humanos e todos sejam iguais, homens e mulheres, e todos beneficiem das riquezas do país, que tem de proteger o ambiente.
Em cada chekpoint, em cada café onde paramos, na linha da frente, na universidade, nas ruas, no terreiro da mesquita depois das orações de 6a.feira, atraía gente aos magotes. Para o abraçar, fazer tocar nas criancinhas, fotografar, agradecer.
Na Faculdade de Medicina de Benghazi, um auditorio discute o caminho a seguir, depois de Tripoli e toda a Libia libertada. Serenamente (que contraste com as agitadas assembleias em Portugal, três meses depois do 25 de Abril)
Uma assembleia constitucional, um governo provisorio, por quanto tempo, que sistema será melhor, como foi em Portugal, Espanha, Europa de Leste, como será na Tunisia e no Egipto?
A nova Libia começa a pensar o futuro e a produzir novos líderes.