segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Visita ao Curdistão iraquiano -18 - Hankhe (Dohuk) - campo dedeslocados não-registados


Na mesma aldeia de Hankhe, há outro campo de IDPs yazidis, mas ainda não registados. Por isso se queixam amargamente  de serem deixados de lado, nos apoios. Ninguém nos soube explicar porquê. As condições são deprimentes...






Visita ao Curdistão iraquiano 15 - Dohuk - 1 milhão acolhe mais 1milhão de IDPs e 200.000 refugiados sírios

Visita ao Curdistão iraquiano - 3

Logo na primeira noite jantamos com membros do Conselho Legislativo do Iraque e do Parlamento Regional curdo. 

A tragédia de Paris presente na cabeça e nas palavras de pesar de todos. Os colegas iraquianos a sublinhar que sabem o que é: desde há anos sofrem de devastadores ataques terroristas. Agravados no Curdistão desde que  o chamado EI capturou Mosul, em Junho passado. Com muitos criminosos europeus nas suas fileiras a cometer barbaridades contra iraquianos e sirios, incluindo decapitações, massacres, raptos  de crianças e escravização de raparigas. 


Nós na UE chamamos-lhes "foreign fighters", mas na realidade muitos são europeus, como os que atacaram o Charlie Hebdo. 

É preciso compreender porque tantos jovens se radicalizam. Para o prevenir.

Visita ao Curdistão iraquiano - 24 - Erbil, chá ao sol

No domingo não podíamos deixar de visitar o souk e de tomar um chá quente, numa manhã ensolarada mas fria, nas arcadas do sopé da cidadela de Erbil.
Quem sucumbe à chantagem dos terroristas e tem medo de visitar o Iraque? Não estes membros do Parlamento Europeu.



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Visita ao Curdistão iraquiano - 21 - Erbil - discutindo a Síria

A situação na Síria e a resistência em Kobane foram principais temas de uma discussão com representantes do PYD (partido curdo sírio).

No meio está Thomas Schmidinger, professor da universidade de Viena e especialista sobre o Curdistão, crucial organizador da nossa visita. Danke sehr, Thomas!


Visita ao Curdistão iraquiano - 20 - na estrada, perto de Mosul...

Não foi sem riscos, esta visita. A metralhadora ia aos meus pés. Pela estrada passavam camiões com tanques mal escondidos...
Que contraste com um deputado do Bundestag, com quem nos cruzamos várias vezes,  e que ia flanqueado por 6 guarda-costas, que não o deixavam sequer aventurar-se a falar com as pessoas nos campos de refugiados...
Passamos na 6a. Feira a 10 km da actual linha da frente com os terroristas do chamado "Estado Islâmico" em Makmour. Onde no dia seguinte houve um violento combate, em que morreram terroristas e peshmerga.







Visita ao Curdistão iraquiano - 19 - a caminho de Dohuk - IDPs emprédios inacabados


Mais difícil, ainda, é a situação dos deslocados que ocupam edifícios em construção. O estarem de espalhados por todo o lado, não facilita a assistência humanitária, até porque não têm visibilidade junto das autoridades e das agências humanitárias.




Visita ao Curdistão iraquiano - 17 - Hankhe (Dohuk)

O jovem de 16 anos é hoje quem cuida dos 6 irmãos, com a ajuda duma tia-avó.
Os pais e 3 outros irmãos foram raptados pelos terroristas do Daesh, quando assaltaram a aldeia nas montanhas do Sinjar. Ele e os irmãos e irmãs andaram três dias a pé pelos montes, até conseguir chegar à fronteira com a Turquia.
Além de saber dos pais e irmãos, o que mais queriam era poder voltar à escola...




Visita ao Curdistão iraquiano -16 - Hankhe (Dohuk), campo de IDPs Yazidi



Nos campos de IDPs das comunidades Yazidi, refugiadas dos ataques do EI às montanhas do Sinjar e à cidade de Mosul - na aldeia Yazidi de Hankhe, a 20 minutos de Dohuk.
Não há ainda escolas a funcionar nos campos de IDPs registados, que regurgitam de crianças e jovens sem nada para fazer...















Visita ao Curdistão iraquiano - 14 - Dohuk - a ouvir jovens raptadas eescravizadas por EI

Visita ao Curdistão iraquiano - 13 - Mosteiro St. Hormidz - terroristasEI a 30 km..





Visita ao Curdistão iraquiano - 12 - Al Qosh, Convento de Santo Hormidz

Visita ao Curdistão iraquiano - 11 -Presépio do Mosteiro Nossa Senhora das Sementes, Al Qosh

Visita ao Curdistão iraquiano 10 - Al Qosh, Mosteiro Nossa Senhora dasSementes

Visita ao Curdistão iraquiano - 9 - Al Qosh, Mosteiro de Nossa Senhora das Sementes

Visita ao Curdistão iraquiano - 8 - Lalish - "72 genocídio" dos Yazidi,desta vez pelo EI

Visita ao Curdistão iraquiano - 7 - Templo Yazidi de Lalish - só se entra sem sapatos

Visita ao Curdistão iraquiano - 6 - Lalish - a simbologia Yazidi do pavão

Visita ao Curdistão iraquiano - 5 - Lalish, entrada do templo Yazidi

Visita a Curdistão iraquiano - 2 - Mapa das ambições do califado;incluindo Andalus



Visita ao Curdistão iraquiano 1 - Erbil

Integrei um grupo de 4 membros do Parlamento Europeu que visitou o Norte do Iraque, entre 8 e 11 deste mês. Incluía Joseph Weidenholzer, austríaco e do meu Grupo S&D, Marietje Schaake, holandesa do ALDE, e Cornelia Ernst, alemã do GUE. Connosco viajaram também dois assessores S&D (Eldar Mamedov e Rebecca Kampl) e dois jornalistas austríacos.

Como é óbvio, não se tratou de missão oficial do PE - nunca teríamos autorização para ela, por razões de segurança. Por isso, juntámos-nos e ...fomos.

Aqui deixo uma resumida reportagem fotográfica. Começo com o "skyline" de Erbil, incrívelmente modificado, desde que lá fui em 2008 e 2012. Não sei se gosto da construção de estilo turco moderno.


Visita ao Curdistāo iraquiano - 4 - Lalish, o templo Yazidi, para reunir com líderes comunidade

domingo, 11 de janeiro de 2015

Na linha da frente contra o terrorismo

8.1.2015, 10 horas

Dormi 2,5 horas para apanhar um avião para Viena e dali outro para Erbil, no Curdistão iraquiano. Impossível dormir mais, impossível adormecer com a TV e o Twitter a passarem os filmes das manifs espontâneas nas praças de milhares de "Je.suis.Charlie" e da caça aos assassinos da chacina. 
Emoção e preocupação obrigam-me a escrever, em busca de exorcismo...Escrevo, vou mesmo escrever tudo o que puder nesta viagem, e num tom pessoal, como me recomendou a Leonor Xavier em almoço post-Natal, quando lhe disse que vinha. 

Não sabia, então, que viria no caldo deste horror - não é rescaldo ainda, nem sequer apanharam os monstros, à hora a que escrevo. A CNN no aeroporto de Viena dava noticia de tiroteios nuns subúrbios de Paris e em Reims estava montado um cerco armado num bairro.

Não é rescaldo também, porque o pior está ainda para vir: as manifestações xenófobas de gente empobrecida pela crise e pelo austerismo, que culpa os árabes, os islâmicos, os emigrantes, os refugiados, em suma, os estrangeiros, pelo medo de perder o emprego e benefícios sociais que julga usurpados...e agora por estes três dias de terror. 

Não, não é rescaldo: é caldo de incultura e de medo, fervilhante, a direita extremista e populista já começou a cavalgar a vaga. Onde li uma comparação com a Kristallnacht?!...

E, no entanto, comovo-me com a admirável reacção  dos franceses - desde o Hollande, que se redimiu ao precipitar-se para o local do crime ainda sem se saber se por lá ainda havia criminosos, aos líderes muçulmanos rejeitando que a matança pudesse invocar e servir o Islão, passando pelos  jornalistas e cartoonistas que não se intimidaram e escreveram, reportaram, desenharam, tuitaram - o mais premonitório e pedagógico tweet é aquele que mostra o criminoso caído, tropeçante na fuga, e o polícia que acabava de assassinar cruelmente, identificando um como o terrorista e outro como"Je suis Ahmed". 

Mas o que mais admiro são esses homens e mulheres, de todas as idades, cores e credos, que estão a encher as praças de França e do mundo recusando ceder à chantagem do terrorismo, ocupando o espaço público para o desafiar e derrotar ideológicamente, em defesa das liberdades e da democracia. Liberté, Egalité, Fraternité - ontem, unida pela desgraça, a França voltou a ser a França, a República mostrou o que é ser República.

Lembro-me de Jacarta em 2000, 2001, 2002. Antes da bomba de Bali, que fez parangonas globais porque morreram 200 estrangeiros, incluindo o soldado Diogo Ribeirinho (que não conheci em vida, mas não vou poder nunca esquecer pelo que me fez conhecer do macabro e do cheiro de corpos chacinados). Antes só morriam indonésios, na maioria muçulmanos, às mãos das bombas da Jemaah Islamyia, filial da Al Qaeda. Morriam que nem tordos, mas não valiam três linhas na imprensa ocidental... Ficou-me daí este reflexo de entrar num aeroporto, numa estação, num shopping, e rolar os olhos pelos cantos, a localizar mochilas ou sacos abandonados.


11.1.2015, 17 horas 

Reflexo que serviu agora mesmo, para avisar um dos jornalistas austríacos que nos acompanhou nesta viagem pelo Norte do Iraque de que se tinha esquecido de um saco, na sala de embarque...

Acabamos de entrar no avião que nos vai trazer de volta a Viena. 
Impossível chegar a tempo da manifestação de hoje em Paris, em que todos queríamos estar - só há um voo por dia a ligar Erbil com a Europa.
Ao longo da viagem de carro de dois dias até Dohuk, junto a fronteiras com a Síria e a Turquia, fomos ocasionalmente conseguindo net para acompanhar o desenrolar da tragédia. O horror prolongado e agravado com o odioso ataque ao supermercado "kosher" e a matança dos reféns, antes da eliminação dos criminosos.

Escrever estas linhas será a minha forma de prestar homenagem às vítimas e solidariedade às suas famílias, aos sobreviventes e ao povo francês. E de partilhar os gritos "NOUS SOMMES TOUS CHARLIE!", "NOUS SOMMES TOUS AHMED!" e "NOUS SOMMES TOUS JUIFS!".


11.1.2015,  23 horas

Cheguei do Iraque com o coração e a cabeça ainda mais pesados de apreensão.
Não apenas por causa dos ataques de ódio que já proliferam contra muçulmanos por essa Europa fora (até a mesquita apareceu conspurcada, oiço de Lisboa) e outros primarismos perigosos. Derivas "bushistas" fazem as democracias degradar-se, descendo ao nível dos terroristas e fazendo o jogo do terrorismo: pois não são as liberdades e os direitos humanos, que são fundamento das sociedades democráticas, justamente o que o terrorismo quer destruir?!
Pesam-me ainda mais coração e cabeça porque oiço declarações sobre Schengen, PNRs, "guerra contra o terrorismo" e o mais. E temo o pior. 

Ao longo destes anos não vi a UE fazer o que a luta contra o terrorismo implicava. E implica.
Vi tremenda falta de Europa: o cada um por si, polícias consumidas em rivalidades internas, serviços de informação a fazer caixinha com os congéneres e sem meios para investir em "inteligência humana" (a francesa falhou e não foi por falta de "tuyaux" dos americanos...); magistraturas lentas, alheadas, sem meios e pouco cooperantes entre si; governos a competirem estupidamente a apaparicar - na mira de negócios de armas, outros contratos e investimento - os financiadores sauditas, qataris e turcos do dito "Estado Islâmico", ou da Al Nusra, ou de outras declinações da hidra Al Qaeda. 
Não vi investimento em programas de prevenção da radicalização de jovens e, ainda menos, de desradicalização:  pelo contrário, vejo o materialismo desenfreado, a sociedade sem valores a não ser o dinheiro (denunciada pelo Papa a quem os fanáticos da austeridade, embora se digam crentes, fazem orelhas moucas), vejo o desemprego, o desinvestimento na escolarização, no modelo social europeu, nas responsabilidades sociais dos Estados. Tudo factores que fomentam a desintegração das famílias, a marginalização e a alienação individual, que transforma demasiados jovens europeus - como os franceses perpetradores destas chacinas - em ardorosos jihado-nihilistas.

A ninguém escapa no Iraque a relação entre a tragédia de Paris e aquela que cruamente golpeia a sua martirizada população e a da vizinha Síria, mesmo antes de se saber que um dos terroristas franceses reclamou agir pelo EI ("Estado Islâmico"). 
No Curdistão iraquiano está hoje a linha da frente do combate a esta banda de cruéis e desvairados criminosos. 5000 jihadistas entraram num só dia, vindos da Turquia... e hoje controlam a região de Mossul, antes com 3 milhões de habitantes.

Passamos a 10 km do que lá chamam "Daesh" (o "Estado Islâmico") em Mahkmoud, depois a 40 km de Mossul,  na estrada para Dohuk. A caminho de visitar as comunidades yazidis e cristãs que tiveram de fugir das montanhas do Sinjar e das planícies de Ninewa, alvos de massacres e violências indescritíveis (todos choramos ao ouvir os relatos daquelas miúdas de 15 e 17 capturadas pelos jihadistas para os servir como escravas sexuais...). 

200.000 refugiados sírios e um milhão e meio de IDPs (deslocados internos) que o  Governo Regional e a população do Curdistão acolhem como podem. Enquanto nós, europeus egoístas e insensatos, fechamos fronteiras a desgraçados forçados a atirar-se ao mar, os curdos recebem refugiados e deslocados internos que representam um acréscimo de 35% da sua população (5 milhões). 
Claro que as condições são más, muito más, e só podem convencer aldeias inteiras de vítimas de perseguição e  massacres que não têm mais futuro no Iraque: todos  anseiam por emigrar para... a Europa!
A mesma Europa que não faz o suficiente, nem o que é preciso, para os ajudar a ter condições para ficar. Incluindo e antes de mais, condições de segurança - derrotar e eliminar militarmente o "Daesh" ( EI) é possível, indispensável e urgente. 
Mas, mais uma vez, falta-nos Europa - nem sequer os fornecimentos de armas aos peshmerga, que lutam no terreno, governos europeus coordenam entre si... nem sequer a ajuda humanitária que a UE presta se coordena com a que prestam alguns Estados Membros; para não falar  da coordenação da acção humanitária com ajuda de desenvolvimento (não há escolas nos campos de refugiados, que regurgitam de crianças e jovens). Nem há o imperativo  mas trabalhoso apoio político à tão necessária reconciliação intercomunitária... Quando Mossul cair, tudo se agravará com nova crise humanitária, desta vez afectando sobretudo populações sunitas.

Como nos disseram os abades de Al Qosh: "Estamos a procurar fazer sobreviver: as pessoas  e ancestrais culturas pré-islâmicas, que a Humanidade está à beira de ver eliminadas na terra onde nasceram, no próprio berço da civilização".

Ou os governos europeus acordam e fazem finalmente o que é preciso fazer, o que exige mais solidariedade e políticas internas e externas mais coordenadas, mais inteligentes e mais estratégicas   - ou seja, precisamos mesmo de mais Europa! 
Ou preparemo-nos para o pior: esta barbárie pode ainda só ter começado.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

O BCE resgatará a Zona Euro do austerismo alemão?

A Europa enfrenta um grave risco de disrupção económica geral, perante a perspectiva de deflação associada a um crescimento anémico. 
Mario Draghi, Presidente do BCE, reconheceu o perigo na declaração formal que fez na passada sexta-feira, 2 de Janeiro, e numa entrevista que deu a um jornal económico alemão - o risco de deflação na Europa exige acção urgente, e por isso ele anunciou que o BCE começaria a comprar dívida pública dos Estados membros do Euro, como forma de injectar liquidez na economia europeia.
É fazer aquilo que nos Estados Unidos da América se chama "quantitative easing" e  funcionou. Foi assim que lá, onde teve origem a actual crise europeia, deram  a volta por cima da crise.  Os presságios de que uma injecção de liquidez na economia viria a provocar inflação foram desmentidos. O PIB dos EUA recuperou. A retoma do crescimento e do emprego é um facto, a economia norte-americana está muito longe do perigo de deflação gerado pelo austerismo alemão aplicado à Europa.
É da Alemanha que Draghi antecipa  resistências - o governo alemão, e sua ala austeritária mais fanática, liderada pelo ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, têm impedido uma acção estruturada e estruturante por parte do BCE e já rosnam contra as intenções de Mario Draghi, acusando-o de exceder o mandato do BCE.  
Mas para que serve um BCE cuja única missão oficial é a de "controlar a inflação" ao nível convencionado de 2%? Face ao perigo iminente, o mandato do BCE soa caricato. Um BCE sem competências e capacidade de agir contra o descalabro não serve os interesses do euro e dos 19 membros do euro (a Lituânia aderiu ao € em 1 de Janeiro). Nem serve, realmente, os interesses da Alemanha, apenas convém à narrativa da liderança míope e preconceituada da Alemanha.  A actual crise mostra como estava errado e incompleto o desenho alemão das instituições criadas para enquadrar o Euro. 
Ora, apesar dos tremendos problemas com que se debate a Zona Euro, Berlim insiste no 'diktat, continua a querer ditar as regras sobre uma moeda que pertence a 19 países-membros  e arrasta cada vez mais a Zona Euro para um beco sem saída. 
Na mesma linha arrogante e anti-democrática, Berlim volta a querer condicionar a escolha dos eleitores gregos, acenando com a saída da Grécia do Euro, se nas próximas eleições não ganhar a coligação lá do sítio que se aplicou na receita austeritária: o escândalo é tal que até a Comissão Europeia se viu forçada a lembrar que a entrada no Euro é irrevogável. 
Só por isso, eu, socialista portuguesa, aqui deixo uma declaração de incentivo ao Syriza e a Tsipras! Precisamos de alguém com coragem no Conselho Europeu para dizer que o rei vai nu e que as dívidas públicas exorbitadas pelo austerismo são impagáveis, precisam de ser renegociadas  e precisam de políticas de crescimento e emprego para que possam ser pagas.
É urgente o BCE agora agir, como se propõe Mario Draghi finalmente fazer, não apenas em defesa do Euro, mas para evitar um cenário catastrófico: a conjugação de deflação e estagnação. Por isso é fundamental apoiar Mario Draghi para vencer a obsoleta oposição alemã. Onde estão o Governo português e o Governador do Banco de Portugal, que não se ouvem? Não estão! porque nunca se ouvem na Europa, agachados e agarrados às calças da Sra. Merkel, que vende ao público alemão a patranha de que Portugal "está no bom caminho" graças a ser "bom aluno" do austerismo.
A realidade é outra, como sabemos : Portugal coleccionou nos últimos anos um rosário negro de indicadores macroecomómicos e sociais. Desemprego, quebra de rendimentos, pobreza atingiram recordes de sempre, nos últimos 3 anos. Tal como atingiram máximos de sempre os aumentos de impostos e a injustiça na sua distribuição. 2015 arranca sem nenhuma esperança fundada de melhoria dos indicadores económicos e sociais. O Governo repete a receita cega do austerismo económico e da irresponsabilidade social. Por detrás do OE 2015 escondem-se vários jogos de sombras. Na verdade, são apenas truques destinados a criar, em ano eleitoral, três tipos de convicção: que o pior já passou, que o governo salvou o país e que até o nível de vida já melhorou. Nada mais falso. Sem níveis de investimento e de crescimento suficientes, cenário mais do que provável, agora agravado pelas sombras de deflação que pairam sobre a UE - que continua a ser o maior o principal destino das exportaçóes portuguesas - 2015 será apenas mais um ano desperdiçado. 
O próximo Governo, certamente não este, terá como tarefa primordial a renegociação da dívida pública,  que aumentou brutalmente nos últimos três anos. No actual formato de  amortização, ela consome a maior parte dos recursos necessários para desenvolver o país. É preciso renegociar a dívida. Para libertar recursos para criar riqueza e podermos pagá-la. É preciso refazer as contas. É preciso negociar prazos de amortização realistas. É preciso rever taxas de juro - algumas já acima dos valores normais de mercado. É preciso termos voz na Europa, agirmos com determinação, capacidade negocial e sem dramatizações. Precisamos uma nova atitude na Europa. Sem complexos, sem subserviências, com ambição para Portugal e para a Europa. 
2015, com as eleições de Outubro e a mudança de governo, abre-nos essa oportunidade, essa esperança. 

(Transcrição da minha crónica no Conselho Superior da Antena 1, esta manhã)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Organizações "tribais"


Defendo desde há muito que o código de conduta dos titulares de cargos públicos deveria exigir a declaração de pertença a qualquer associação ou organização coletiva ou grupo de interesses comuns, incluindo as "irmandades" de solidariedade intensa como a maçonaria e a opus dei, em prol da transparência, da independência e da imparcialidade no exercício desses cargos.

Abuso de autoridade (9)


Esta notícia constitui uma machada mortal na lisura de processos do Ministério Público quanto a J. Sócrates. Em vez de ter dado seguimento à disponibilidade do visado para ser ouvido, o MP preferiu detê-lo para interrogatório, não fossem as televisões já contratadas perderem o espetáculo live.
É evidente que a sonegação da disponibilidade de Sócrates para prestar declarações só pode ter sido propositada, para submetê-lo à humilhação pública da detenção, o que constitui uma notória instrumentalização desta, que afinal era desnecessária, deitando também por terra o argumento do "perigo de fuga" como justificação da prisão preventiva com que foi depois "agraciado".
Até agora, tudo indica que os "milhões de Sócrates" não passam de ficção resultante de excesso de imaginação policial. Mas os enormes danos materiais e morais causados pelo abuso de poder do Ministério Público bem podem no final proporcionar-lhe uns milhões de indemnização do Estado!

Requisição

A greve contra a privatização da TAP não tem nenhuma motivação nobre, antes pelo contrário, tendo como único objetivo defender as benesses laborais e sindicais que a fraqueza dos governos e das administrações e a captura sindical proporcionou; a greve só vai afundar a empresa ainda mais, para além dos enormes prejuízos que causa aos passageiros e à economia do país.
Todavia, não basta uma greve ser condenável a todos os títulos para legitimar a requisição administrativa dos grevistas. A requisição civil não poder servir para retirar toda e qualquer eficácia á greve. O direito à greve só pode ser restringido nos termos previstos na Constituição, ou seja, para assegurar os serviços mínimos nas atividades de primordial interesse social; por isso, a "requisição civil" só poderá ser legitimamente utilizada para assegurar tais serviços mínimos.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Duplicidade


Um dos mais chocantes aspetos do "folhetim Sócrates" é a duplicidade dos media, e não só a imprensa tablóide.
Quando se trata de veicular os recados da acusação, dão-se as imputações como factos assentes, por mais inverosímeis que sejam, tipo "o motorista de Sócrates levava malas de dinheiro a Paris". Quando esses alegados factos são perentoriamente desmentidos (afinal o tal motorista nunca passou os Pirenéus!), isso é posto entre aspas e levado à conta da "defesa" do advogado, como na notícia acima.
Um pouco mais de imparcialidade, sff!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Coimbra, "capital da saúde"


Nesta análise de Coimbra do Diário de Negócios de hoje (clicar na imagem para ler) é fácil ver que a principal "indústria" da cidade é a saúde (hospitais, clínicas, consultórios). Tem quase 30 médicos por mil habitantes, enquanto a média do país não chega a 5!

"Patrão fora..."


Eis o cabeçalho do minha coluna semanal de hoje no Diário Económico.