quarta-feira, 7 de julho de 2004

Sem escrúpulos

No longo tempo de antena que a RTP 1 ontem deu ao CDS-PP à porta do palácio de Belém, depois da audiência presidencial, Paulo Portas invocou um livro do Presidente da República em que este teorizava sobre os possíveis fundamentos de dissolução parlamentar e convocação antecipada de eleições, entre as quais não cabia alegadamente a presente crise política. Por isso -- rematou Portas --, para ser fiel ao seu pensamento, o PR não poderia deixar de reconduzir a coligação no Governo.
Só que, verificado o livro em causa (vol. VI da série "Portugueses"), encontra-se esta passagem:
«A não ser nessas situações, ela [a dossolução parlamentar] só deve verificar-se em circunstâncias excepcionais e muito estritamente delimitadas. Será esse o caso em que a sua avaliação pessoal e maduramente ponderada, o PR conclua que o interesse nacional exige a relegitimação da representação parlamentar, quando se convença que a representação parlamentar deixou definitivamente de corresponder à vontade do eleitorado ou quando considere que ela não permite a formação de um Governo capaz de mobilizar adequadamente as energias nacionais para as tarefas que se colocam ao país.»
Esse texto, que confere plena justificação para uma eventual convocação de eleições antecipadas nas circunstâncias presentes, e que obviamente destrói a tentativa do CDS-PP para "encostar o PR à parede" e enganar a opinião pública, foi porém omitido pela arenga de Portas, como revela hoje o Público.
Uma pura vigarice, é evidente, para além do agravo institucional ao PR. Esta gente não tem escrúpulos. E o Governo só deveria ser composto por gente politicamente séria. Uma razão adicional para despedir este Governo!