quarta-feira, 3 de dezembro de 2003

Desilusão?

O texto de Luís Osório sobre serviço público de televisão é, a muitos títulos, exemplar. Exemplar na homenagem que presta a uma pessoa cuja visão, capacidade de realizar e elevação de pensamentos merecem tudo o que lhe deixa dito. Exemplar na descrição da ascenção e queda do papel da Comissão Independente e na compreensível frustração com que se defronta face à programação da RTP1 e à situação actual da RTP2 ( sendo certo que não tenho grandes expectativas sobre o seu futuro ).

Seria deslocado estar aqui com considerações sobre, em minha opinião, como uma política de filisteus e os interesses dos privados conduziram à actual situação, onde apenas se salvarão aspectos contabilísticos relativos ao emagracimento da RTP. No entanto, sabendo você pelo menos tão bem como eu o que pode e deve ser um serviço público de televisão, e não podendo a actual situação fazer-nos perder a esperança que ele poderá ser construído, surpreende-me sinceramente vê-lo baixar os braços e defender soluçoes definitivas de privatização que têm tanto de nefastas para o futuro como de irrealizáveis ( face aos interesses da SIC/TVI ). Aceito a sua desilusão, compreendo a sua frustração e até eventualmente a mágoa de ter sido ( mal ) utilizado. A idade dá-me a certeza de que não podemos ceder em pontos essenciais apenas porque uma ( aqui são várias ) conjunturas são desfavoráveis. Espero pois que o seu artigo seja só o fruto de um momento de maior desilusão. Para além daquilo que julgo serem as suas convicções, aquilo que você já fez em televisão e que só num serviço público tem guarida, não lhe permitirão espero abandonar a barricada dos defensores de uma televisão que rompa o círculo vicioso actual.

Manuel Pedroso de Lima