segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

A autodisciplina jornalística: desacordo continua

A réplica de Vital Moreira sobre o que fazer para garantir uma autodisciplina eficaz dos jornalistas não me convence. De acordo, só num ponto: não se tem visto o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas (CDJ) intervir perante os desmandos deontológicos a que todos temos assistido. Mas, lá porque o órgão parece morto, não creio que seja líquido e imperioso realizar um implante. Defendo, isso sim, que é preciso curá-lo e revitalizá-lo.
Porquê?
1. Desde os anos 80 que o CDJ deixou de ser encarado como mero órgão do Sindicato. A sua eleição deixou de se fazer em bloco com a dos órgãos sociais do Sindicato. Tendencialmente caminhou-se para que a sua eleição ocorresse em momento diferente da destes e para que todos os jornalistas (não só os sindicalizados) fossem chamados a eleger o CDJ. Aprofundar este caminho aumentaria a legitimidade do CDJ. Mas nada o impede, desde já, de se pronunciar publicamente sobre a violação das regras deontológicas por parte de qualquer jornalista (sindicalizado, ou não).
2. Não vejo vantagem em fazer coincidir na mesma sede o juízo deontológico e o juízo sobre quem reúne condições para poder exercer a profissão. Pelo contrário, vejo inúmeras vantagens em separar as duas funções, atribuindo-as a órgãos distintos: o primeiro constituído apenas por jornalistas, o segundo formado por representantes destes, das entidades patronais e do público e presidido por um magistrado. Até porque não me parece que o objecto primeiro do juízo deontológico seja punir legalmente, mas sim o de prevenir práticas nocivas, se preciso recorrendo à condenação ética.
3. Por outro lado, quanto a "punição", recordo o aforismo. "Os médicos enterram os seus erros, os advogados enforcam-nos, os jornalistas... publicitam-nos". Quer dizer, não há nada mais público do que os erros dos jornalistas. A denúncia deontológica desses erros que toda a gente leu, ouviu ou viu, realizada por um órgão prestigiado dos próprios profissionais e tornada pública, não chega para arruinar o principal capital do jornalista: o seu nome?
4. Mas o enigma principal da actual situação é este: onde pára o CDJ, que ninguém sabe dele?

J. Wemans