Se eu tivesse de seleccionar os meus cronistas favoritos, entre eles estaria seguramente Mário Mesquita, aos domingos no Público, pela clareza das ideias, pelo destemor das posições críticas, pela qualidade da escrita. Esta semana, numa crónica intitulada "Missas laicas da TV", ele aborda o insólito protagonismo dos políticos-comentadores nos nossos canais de televisão, sobretudo nos privados, bem como o predomínio laranja nos mesmos (matéria aliás também referida ha pouco tempo aqui no Causa Nossa).
Vale a pena transcrever alguns excertos.
«O panorama dos comentaristas do "prime-time" das televisões generalistas é, no mínimo, preocupante. Traduz, em primeiro lugar, uma significativa atrofia do pluralismo democrático. Revela, em segundo lugar, a predominância dos actores políticos (exprimindo-se fora do âmbito do contraditório em que, normalmente, deveriam intervir) sobre as figuras de jornalistas ou especialistas, com um estatuto de alguma distância, o que não é, obviamente, sinónimo de serem incolores, inodoros e insípidos.
Não sei se este quadro é africano, sul-americano ou asiático. Europeu não é, com certeza. Nem propriamente democrático. Além disso, permite situações ridículas, como aquela que se verifica quando a SIC chama o burgomestre de Lisboa, na qualidade de comentarista, a analisar, sobre a hora, o discurso do Presidente da República. Está em causa a separação entre o espaço do comentário, da interpretação e da análise e o lugar da intervenção dos representantes políticos. Nalguns casos, é demasiado evidente que o "comentarista" deveria estar no lugar de "comentado"...
(...) A opinião cor de laranja ou alaranjada está claramente empolada no nosso universo televisivo. Para isso, concorrem a abstenção da televisão pública (onde não há missas marcelistas, nem quaisquer outras...), o silêncio da entidade reguladora (à espera da extrema unção) e a vontade dos proprietários das televisões privadas. O Governo, pelo seu lado, joga nos três carrinhos e nem precisa de agradecer os elogios à RTP do líder do principal partido da oposição.»
Acrescentei os sublinhados. Se puder não perca o resto no original.