O resultado é uma confusão enorme, que leva potenciais espectadores a perderem-se na tradução de que filme se trata, já que, nos jornais, aparece sistematicamente referido ora com um título ora com o outro (os críticos adoptaram o original mas as agendas de espectáculos imprimem o tal que... se perdeu na tradução). Daí não viria mal nenhum ao mundo se o filme fosse uma banalidade qualquer. Simplesmente, não é. É mesmo dos filmes mais refrescantes, inteligentes, comoventes e subtis do actual cinema americano (sem esquecer outros que por aí ainda permanecem como "Mystic River" e "Elephant" - que, aliás, ninguém se atreveu a traduzir por "Rio Místico" e "Elefante").
A partir de situações que exploram as "perdas de tradução" entre o japonês e o inglês, Sofia Coppola ultrapassa a superfície da comicidade (embora divertidíssima) de um choque cultural vivido por dois americanos em Tóquio. O que se perde na tradução é, no fundo, menos esse choque do que os sinais dificilmente traduzíveis dos sentimentos que se insinuam entre uma rapariga e um homem maduro que poderia ser pai dela, tendo como pano de fundo uma cidade onde a estranheza predomina. Sofia Coppola consegue afinal o pequeno milagre de traduzir o intraduzível. Ou seja: torna-o sensível, faz-nos cúmplices dele, sem que nenhum de nós seja capaz de traduzir para si mesmo esses sentimentos que fazem parte da parte mais subtil e secreta de nós mesmos.
Vicente Jorge Silva