Como o jornal recorda, era o café da oposição. Passei lá muitas horas, até porque morava perto, na Praça Marquês de Pombal, ao pé dos correios. No Verão estanciavam por aí alguns espanhóis e os escassos turistas de além Pirinéus que se atreviam a viajar de automóvel para Portugal e que tinham posses para se alojarem no Hotel de Turismo, a dois passos dali.
O Café ficava situado junto ao jardim principal da cidade, na estrada que a atravessava, vinda da Covilhã, e ao fundo de uma rua estreita, íngreme, às curvas e sem passeios que descia do Liceu, situado lá em cima, perto do morro do castelo [na imagem]. No Inverno, nos belos dias de nevão (pareciam sempre belos nessa altura...), descíamos a ladeira deslizando pela neve, sentados em cima das pastas escolares, em vertiginoso “slalom”, rés-vés das casas. Algumas vezes, por erro na condução, acabava-se a aterrar dentro de alguma casa ou oficina de sapateiro, com algumas contusões. Nada que dissuadisse a repetição da aventura na próxima oportunidade.
Desde há vários anos – informa o jornal –, no lugar do desaparecido Café Mondego encontra-se instalada uma agência bancária. Os bancos foram os principais predadores dos cafés de outrora, cujo desaparecimento marcou o fim de uma forma de característica de convívio urbano. Apetece praguejar: “raios partam os bancos”!
Mas ao rever a imagem pergunto-me o que seria das nossas memórias sem a fotografia.
Vital Moreira