segunda-feira, 5 de julho de 2004

A impossível derrota

Não sei se é melhor perder-se bem contra um antagonista manifestamente superior, ou perder-se mal ante um adversário ao nosso alcance. Pouco importa. A verdade é que desbaratámos uma oportunidade irrepetível de nos sagrarmos campeões europeus.

O texto de VJS, Fatalidades mediterrânicas, mais abaixo, traduz fielmente o estado de espírito que acompanhou a Selecção até ao seu último combate e os previsíveis efeitos do desaire na psique nacional. Só discordo da análise "técnica" da partida - o nosso erro não foi a mistura fatal de auto-confiança e ansiedade mórbida. Pelo contrário, pecámos por falta de ambição, pelo medo de vencer, pela atitude fatalista nos momentos cruciais.

Eu, que estive na Luz, vi uma claque grega tão forte quanto o bloco defensivo da sua selecção. Em clara minoria, numa proporção de um para quatro, os cânticos helénicos calaram o mole público português, visivelmente apático e falho de dotes canoros. Aí começou a desgraça. À minha volta, estrangeiros de todas as nacionalidades perguntavam a cada instante se os adeptos portugueses estavam a poupar a voz para o prolongamento. Lá lhes dizíamos que não, cantarolando uns breves "olé, Portugal, olé", mas a coisa não era convincente. Ainda antes do início da partida, pressenti o pior.

Depois veio o medo. Traumatizada pela derrota na partida inaugural, a nossa Selecção refugiou-se na contenção táctica e acomodou-se ao jogo cínico dos gregos, numa atitude incompatível com a atmosfera de confiança e com a superioridade futebolística que vínhamos revelando. O nosso mal foi não termos caído em cima deles "que nem tarzões" desde o primeiro minuto, não lhes dando tempo para respirar nem espaço para evidenciar o seu pobre (mas honrado) futebol. A estratégia é isso mesmo - saber tirar partido das vantagens próprias. Pensar que se vence o adversário utilizando as mesmas armas do que ele é meio caminho andado para a desgraça. Como se viu.

Luís Nazaré