O meu lado supersticioso faz-me suspeitar das coincidências. O facto de a posse do novo Governo ter coincidido com a abertura da «silly season» será puramente fortuito ou, como muita gente desconfia, constitui a prova de que se trata de um Governo completamente «silly»? Indício suplementar: o novo primeiro-ministro não foi já, durante sucessivas temporadas, o campeão absoluto das performances «silly» da época estival?
A verdade é que os acontecimentos se sucedem a um ritmo vertiginoso, sem que a imprensa de referência se interrogue sobre as razões de tantos mistérios. Aliás, os jornais perderam a atenção e a saudável curiosidade de saber o que se esconde por detrás dos factos e parecem achar tudo burocraticamente normal. Estará a imprensa «silly»?
Porque é que Paulo Portas só soube na hora, em directo do palácio da Ajuda, frente às câmaras de televisão, que iria ser também ministro dos Assuntos do Mar? Porque é que Santana Lopes terá «andado aos papéis» durante o discurso da sua tomada de posse? Como se compreende tanta atrapalhação?
Mas os mistérios não se resumem ao Governo. Quem explica a extraordinária aliança entre o «fracturante» Sérgio Sousa Pinto e o «blairiano» José Sócrates, já consagrado secretário-geral do PS? E quem diria que Sérgio (co-autor recente de um livro de diálogos com Mário Soares) seria o «maître-à-penser» do candidato favorito de José Lello e tantas figuras relevantes do PS profundo? O meu espanto não tem fim. Só o dos jornais é que parece ter-se esgotado. Sinais dos tempos (ou da «silly season»)?
Vicente Jorge Silva