O fenómeno Francisco Louçã contém algo de absolutamente paradoxal. Como é que o voto de protesto se conjuga com aquele pseudo-discurso de poder? Como é que possível juntar na mesma frase e no mesmo local, a defesa de impossíveis, com a ideia de que se está reflectir com seriedade sobre a gestão dos assuntos públicos? Fantástico o discurso sobre a "sustentabilidade" da Segurança Social que Louçã conseguiu produzir no debate televisivo de terça-feira: juntar em três frases os pressupostos da bancarrota da Segurança Social, conseguindo aparentar um ar lúcido e sem que ninguém o chamasse à realidade - foi absolutamente genial!
Que o voto de protesto tem mais do que razões para ser numeroso, está fora de dúvida. Mas que a essas motivações se consiga juntar as de eleitores atraídos por um discurso que lhes soa a razoável e capaz de suportar a gestão da coisa pública, é obra de se lhe tirar o chapéu!