sábado, 14 de maio de 2005

A doer

Se se confirmarem as piores expectativas quanto à situação das finanças públicas, que a "Comissão Constâncio" está a apurar -- alguma imprensa já noticiou uns chocantes 7% de défice para este ano, muito acima do previsto no orçamento e mais do dobro do limite dos 3% do PEC --, isso não revela somente a incompetência e a irresponsabilidade da gestão financeira dos governos PSD/CDS, em geral, e da dupla Santana Lopes - Bagão Félix, em especial, a quem se deve o orçamento-ficção para o corrente ano. Significa também que o actual Governo vai ter de anunciar sem demora, preferivelmente acto contínuo, as linhas-mestras do seu plano de disciplina das finanças públicas, de modo a realizar a prometida meta de redução sustentada do défice para 3% em 2009, baixando 1% por ano.
Sabendo-se que não se pode contar com um crescimento económico suficente para operar um milagre, pelo simples aumento automático das receitas fiscais, a redução do défice só pode obter-se pela redução das despesas públicas e pelo aumento das receitas. Há portanto soluções duras no horizonte, que não podem ser mais adiadas.

Adenda
O Governador do Banco de Portugal declarou hoje que a situação é «ainda pior» do que temia, qualificando-a como «crise orçamental grave» (embora abstendo-se de revelar as conclusões finais do relatório que está a ultimar). Sendo conhecida a habitual contenção verbal de Vítor Constâncio, isto quer dizer que situação financeira nacional é mesmo muito grave.