Uma das mais ideológicas (e socialmente mais reaccionárias) das medidas fiscais do Governo PSD/CDS foi a eliminação do imposto sobre sucessões e doações, cujo caminho tinha sido aberto na revisão constitucional de 1997, com a estranha concordância do PS. A justificação de Durão Barroso para essa desoneração fiscal das fortunas -- «é injusto que as pessoas paguem impostos depois de mortas» -- merece ficar nos anais da demagogia política do nosso País, pois é evidente, por um lado, que o imposto sucessório não recaía sobre os mortos mas sim sobre os felizes beneficiários das heranças e, por outro lado, que tal argumento não podia justificar a abolição também do imposto sobre as doações em vida.
O novo Governo anuncia agora a recuperação do imposto sobre as doações em dinheiro, cuja abolição deu lugar a enormes fraudes fiscais. É bom mas é pouco: devia abranger todas as doações e restaurar-se também o imposto sucessório, devidamente revisto. Num país como o nosso, com uma elevadíssima desigualdade entre ricos e pobres e com uma pesada tributação dos rendimentos do trabalho, é de elementar justiça repor o imposto sobre todas as aquisições gratuitas de património.