quarta-feira, 26 de março de 2008

Pobre processo de paz...


Esta tarde no PE tivemos uma sessão do Grupo de Trabalho Médio Oriente, com Tony Blair, o MNE norueguês e um Secretario de Estado francês. Sobre onde estamos e próximas jogadas do processo de paz israelo-palestino relançado (?) em Annapolis.
De mais significativo apenas a admissão de que a estratégia israelo/americano/europeia de ostracizar o Hamas acabou por ser contraproducente: contribuiu para a queda do governo de unidade nacional palestino, legitimamente saído das eleições, e agrava a fractura inter-palestiniana, não favorecendo assim o objectivo hoje por todos assumido como desejável (pelo menos em palavras) de estabelecer “dois Estados” – pois sem reconciliação nacional palestina, nao haverá Estado palestino viável, como sublinhou o MNE norueguês.
Tony Blair não foi tão explícito, mas reconheceu que é preciso tirar as lições dos erros cometidos: «em Gaza isolou-se o povo, em vez de isolar os extremistas e cada dia se radicaliza mais gente» e admitiu que para negociar a paz na Irlanda negociou que se fartou com o IRA, na penumbra, quando isso era ainda heresia na Grã-Bretanha.
Também sobre uma solução internacional para Jerusalem, a travagem dos colonatos, o fim da ocupação israelita, o desmantelamento de barreiras na Margem Ocidental, o papel da Europa – político, humanitário e numa possível(?) força de interposição - o norueguês e o francês foram mais longe e mais afirmativos do que Tony Blair. Aliás, o que mais me impressionou no ex -PM britânico, foi constatar-lhe o inesperado “low profile” – tiraram-lhe as cabecinhas pensantes que o costumavam aconselhar e o boneco desinsuflou de forma pungente.
De tudo, ficou-me uma desesperante sensação de “déjà vu”- a mesma que venho revivendo ciclicamente, desde os tempos empolgantes do inicio do processo de paz, que acompanhei de perto na nossa presidência europeia em 1992. No final, comentei para um colega “se estes tipos nem nos conseguem convencer a nós que desta vez é que vai fazer-se tudo para alcançar a paz, como hão-de convencer quem está no terreno a sofrer os horrores do conflito, de um lado e do outro?”.