segunda-feira, 23 de abril de 2018

Hipóteses de governo, 2019

1. Ao contrário do que entendeu Marques Mendes, penso o PS não vai nunca pedir maioria absoluta nas eleições do ano que vem. Augusto Santos Silva só falou num "reforço" eleitoral do PS, sendo óbvio que para ter bem mais do que os 32% de 2015 não seria sequer preciso um extraordinário resultado. As atuais sondagens, que colocam o PS consistentemente acima dos 40%, já seriam um enorme reforço!
As maiorias absolutas não se obtêm a pedido e a apresentação explícita desse objetivo não ajuda a alcançá-lo, pelo contrário! A fácil equação "maioria absoluta = poder absoluto" só serve para afastar eleitores mais receosos. Por isso, sendo óbvio candidato a ganhar folgadamente as eleições, o PS vai fazer o que puder para obter maioria absoluta, mas não vai pedi-la, até porque pedi-la e não a obter seria um revés que macularia a vitória eleitoral.
Para além de ganhar as eleições - o que já é um "reforço" em relação a 2015 -, o objetivo principal do PS vai ser o de obter um resultado suficientemente robusto que lhe permita pelo menos formar Governo sem necessitar à partida de nenhuma coligação nem de nenhum acordo de apoio parlamentar com outro(s) partido(s), o que lhe dará um acrescido poder de negociação para eventuais alianças, ao contrário do que sucedeu em 2015, em que só podia formar Governo contra a coligação de direita, que ganhara as eleições, através de um prévio acordo com a sua esquerda.

2. Obviamente, se o PS obtiver a maioria absoluta, tanto melhor. Melhor para o PS, sem dúvida, mas também, a meu ver, a melhor solução governativa para o país, em termos de estabilidade e de coerência e de responsabilidade governativa.
Uma maioria relativa, apesar de permitir três diferentes soluções governativas - governo minoritário, aliança de governo à direita ou à esquerda -, nenhuma delas é melhor solução, desde logo quanto à estabilidade.
Os governos minoritários governam à vista e não conseguem assegurar a disciplina orçamental, por causa das concessões que têm de fazer à esquerda e à direita para conseguir aprovar os orçamentos; um governo de "bloco central" cancela a lógica da alternância governativa e alimenta o crescimento dos extremos, sendo a pior das alternativas; uma aliança de esquerda, como a atual experiência mostra, é onerosa orçamentalmente - pelo que só é possível em período de "vacas gordas", que não dura sempre - e obriga o PS a continuar a abdicar de uma parte importante do seu programa político.