segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Eleições parlamentares 2022 (24): Um terramoto político


[Fonte: Aqui]

1. Resumindo a jornada eleitoral de ontem:

- ao apontar para um "empate técnico", as sondagens falharam rotundamente em antecipar os resultados eleitorais;

- surpreendentemente, o PS, merecido vencedor, conseguiu uma folgada maioria absoluta (a segunda vez que a obtém na história da democracia em Portugal), embora com menos de 42% dos votos (mercê da grande distância para o PSD e da dispersão de votos noutros partidos), quando tinha sido "forçado" a deixar de a pedir, confirmando o velho ditado de que "as maiorias absolutas não se pedem, obtêm-se", se merecidas;

- o PSD falhou de novo, e fragorosamente, a aposta em ser alternativa de governo, continuando abaixo do limiar dos 30% (embora com ligeira melhoria em relação a 2019, levando Rio à demissão, como era inevitável, perante a sua inconvincente liderança;

- o PCP e o Bloco foram severamente punidos, como deviam, pela irresponsável rejeição do orçamento e abertura da crise política, perdendo respetivamente quase três quartos e metade dos seus deputados, embora, como é tradicional nestes partidos, nenhum dos seus líderes tenha decidido tirar consequências da sua rotunda leviandade política (a culpa é sempre dos eleitores...);

- o CDS desapareceu do Parlamento, como se antecipava, e o presidente demitiu-se, como tinha de ser;

- o PAN ficou reduzido a um deputado, fragilizando a agenda animalista;

- só a direita populista (Chega) e liberal (IL) obtiveram o êxito que as sondagens lhes atribuíam; 

- as direitas somadas aumentam a votação, as esquerdas juntas descem apesar da substancial subida do PS.

2. Em suma, estas eleições constituíram um verdadeiro terramoto político no arco parlamentar, reconfigurando tanto a esquerda partidária (humilhação da esquerda radical em proveito do PS), como a direita (enfraquecimento relativo do PSD, desaparecimento de um partido histórico e emergência de dois novos partidos à direita mais radicais e mais doutrinários). 

Claramente, estas eleições vão ficar na história política nacional, pois, a partir de hoje, há um novo sistema partidário em Portugal e isso vai ter impacto no funcionamento do sistema de governo e no sistema político em geral.

[revisto]