«Na verdade, o mal [das condecorações a esmo] já vem de muito antes: começou com Mário Soares, continuou com Cavaco, seguiu com Jorge Sampaio e, quando se imaginaria que já não houvesse ninguém mais para condecorar, não abrandou com Marcelo.
Começaram por se condecorar todos os ‘antifascistas’ existentes e antes que morressem, depois os exilados, os irmãos da maçonaria, as forças vivas da província, os financiadores dos partidos e das campanhas presidenciais, todos os desportistas que ganhassem lá fora qualquer coisa de um terceiro lugar para cima, ministros cessantes, dinossauros autárquicos, magistrados jubilados, militares passados à reserva, diplomatas reformados, artistas vários e também de variedades, todos os cientistas disponíveis, os emigrantes ilustres, os banqueiros e os empresários antes que caídos em desgraça, e mais todos aqueles e aquelas que entraram pela quota das inevitáveis ‘cunhas’ a que nem os Presidentes escapam.»
[M. Sousa Tavares, no Expresso desta semana, acesso eletrónico reservado a assinantes.]
Adenda (26/4)
Um leitor não vê mal nenhum naquilo que chama a "democratização das condecorações", considerando que só a elite que tradicionalmente beneficiava de condecorações pode ser contra, por recear a desvalorização das suas. Observo, porém, que, não aceitando condecorações, por princípio, entendo que a banalização das condecorações degrada a sua função de reconhecimento da República por destaque pessoal eminente. Por definição, as condecorações não podem ser objeto de "democratização".