1. Apraz-me saber que o antigo hotel de turismo da Guarda (acima numa foto antiga) vai ser devolvido à atividade, na rede das Pousadas de Portugal, depois de muitos anos de abandono e de degradação do edifício.
Ligam-me a ele agradáveis memórias, não como hóspede, o que só depois de 1974 ocorreu ocasionamente, mas como jovem aluno do liceu da Guarda, que frequentei entre 1955 e 1962 (embora oriundo da Bairrada). Morava perto, e o hotel, localizado junto ao tribunal, ao jardim e ao quartel da cidade, era o mais marcante edifício civil da urbe. Por vezes, íamos observar a chegada e saída dos abonados hóspedes e admirar os seus automóveis, especialmente os dos poucos estrangeiros que nessa altura visitavam o país, entrando pela fronteira de Vilar Formoso.
2. Porém, a minha principal memória juvenil do hotel tem a ver com o comício de Humberto Delgado, na sua empolgante campanha das eleições presidenciais de maio de 1958 e com a profunda impressão que me causou a sua vigorosa intervenção da varanda principal do hotel, perante o aplauso da multidão que se juntara para o ouvir, entre a qual se contava um pequeno número de alunos do liceu que desafiaram a advertência reitoral dessa manhã (meu pai foi depois chamado a justificar a minha ausência...). Ainda não tinha 14 anos, e essa foi a minha primeira experiência política contra o regime.
Iniciada nesse dia, nunca cessou a minha admiração pela coragem política e pessoal de Delgado contra a ditadura - que o havia de mandar assassinar poucos anos depois.