sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Causa palestina (5): Um único Estado binacional?

 1. Em relação ao post anterior, sobre o reconhecimento do Estado da Palestina, um leitor comentou, discordando:

«Primeiro, não faz qualquer sentido reconhecer um Estado que, de facto, não existe, não tem um mínimo de independência nem controle efetivo sobre o seu putativo território. Não faz sentido reconhecer ficções, coisas que não correspondem à realidade no terreno. Depois, a solução de dois Estados é, atualmente, totalmente inexequível. Porque, tanto o Estado israelita tem imensos palestinos, como o putativo Estado palestino teria imensos israelitas. 
No momento atual, a luta pelos direitos dos palestinos passa por exigir que Israel os aceite como seus cidadãos, passa pela solução de um único Estado, do rio até ao mar, com cidadãos árabes e judeus com os mesmos direitos.»
2. Não concordo com esta tese. 

Primeiro, nos territórios palestinos existe Governo (da OLP na Cisjordânia, do Hamas em Gaza), administração pública, serviços públicos (escolas e hospitais, etc.). A OLP tem um serviço de representação externa. Muitos Estados soberanos atuais começaram com muito menos. 

Quanto à população, Israel, como Estado de natureza étnica que é (uma aberração...), nunca vai aceitar os árabes israelitas como cidadãos de pleno direito; e nos territórios palestinos não há civis israelitas, salvo nos colonatos, ilegais. O reconhecimento do Estado da Palestina é o único meio que resta para extinguir a tutela israelita dos territórios palestinos, para parar a continuada anexação territorial e para reivindicar a devolução  dos territórios já anexados. 

Quanto à ideia utópica de um único Estado pluri-étnico e plurirreligioso, parece-me logicamente impossível agregar sob a mesma bandeira dois povos profundamente hostis entre si