segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Estado social (12): Reformular a contribuição das empresas para a segurança social?

1. Considero, em princípio, bem-vinda a proposta do novo SG do PS, no seu discurso de encerramento do congresso do Partido, de «reforma das fontes de financiamento da Segurança Social», a qual, embora não explicitada, parece apontar para a adoção de uma velha proposta da Intersindical e do PCP (por exemplo, neste PL de 2005), no sentido de introduzir uma TSU empresarial mista, composta, por um lado, pela contribuição sobre os salários pagos (hoje, de 23.75%), e, por outro lado, por uma contribuição sobre o valor acrescentado bruto de cada empresa - o que seria a inovação -, a qual incidiria sobretudo sobre as empresas mais tecnológicas, de elevado VAB, mas com reduzido número de trabalhadores, contribuindo por isso comparativamente menos para a SS.

Dada a crescente diversidade setorial das empresas quanto à relação trabalho - VAB, é tempo de tornar mais equitativa a contribuição empresarial para a segurança social, deixando de sobrecarregar relativamente as empresas de mão-de-obra mais intensiva.

2. Sendo certo que há muitos anos que sufrago tal ideia (por exemplo, AQUI) - sem compreender, aliás, porque é que o PS nunca a adotou -, entendo, porém, que a receita adicional da nova componente VAB da TSU deve servir menos para reforçar o financiamento da segurança social, como defende o PCP, mas sobretudo para o redistribuir, reduzindo a componente da contribuição sobre os salários, através da diminuição da atual taxa desta.

Não é obviamente a mesma coisa. Tanto ou mais importante do que aumentar o financiamento da segurança social (à custa do aumento da atual carga tributária geral sobre as empresas, já muito elevada,) é baixar os custos não salariais do trabalho (como defendi AQUI), através da diminuição da atual TSU empresarial sobre os salários, de modo a favorecer o emprego e os salários.

Torna-se, por isso, essencial conhecer melhor os seus termos, para avaliar politicamente a anunciada proposta do PS.

Adenda
Um leitor «aposta» que o PS vai optar por acrescentar a nova receita às atuais fontes de financiamento da SS, aumentando, portanto, os encargos das empresas, porque «PNS precisa de mais dinheiro para pagar os aumentos de pensões que prometeu». Creio, porém, que, sem conhecermos os termos da proposta, é precipitada qualquer especulação. Pela minha parte, insisto em que tanto ou mais importante do que reforçar o financiamento da SS (que, aliás, já beneficia também de transferências orçamentais) é a redução dos custos não salariais do trabalho.