Mais papel, mais celulose, mais eucaliptos em Portugal. O Governo aplaude e apoia com um pacote de ajudas de Estado de quase 200 milhões de euros.
Os que, como eu, alimentavam alguma ilusão de que Portugal poderia alguma vez deixar de ser o eucaliptal da Europa podem perder toda a esperança. A fealdade e a monotonia da nossa paisagem rural vai agravar-se. Pobre país!
Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006
Correio dos leitores: "Porteucaliptal"
Publicado por
Vital Moreira
«(...) A florestação pode não ser uma virtude e os incultos podem ter um potencial económico não negligenciável. Senão vejamos. Falo em proveito próprio, é certo. Mas o interesse colectivo também parte de muitos interesses individuais. No interior do Alentejo e do Algarve, em Mértola e Alcoutim, o Estado tem enterrado fortunas, a subsidiar a plantação de pinhais mansos, em solos esqueléticos, num clima sequíssimo. Naquela aridez está a nascer o pinhal do interior alentejano. Não produz um pinhão, não produz madeira que se aproveite, apenas lenha reles e caruma boa para semear inçêndios no estio alentejano. Para isso sacrificaram-se os matagais, aonde se produzia o mel de rosmaninho, sem favor um dos melhores do mundo. Mel esse que tem uma Denominação de Origem Protegida, agora ameaçada de extinção por falta de pastagem para o produzir. Para além do mel, que também é uma riqueza de Portugal, o mato produz lenha, essências, ervas aromáticas e é a base de uma economia de recolecção, ela mesma agonizante, que inclui os espargos bravos, os cogumelos, as túberas, a aguardente de medronho. Património gastronómico do Alentejo. O mato é compatível com a caça e até com o pastoreio. É fonte de biodiversidade.
Estão por fazer as contas ao que se perdeu com a aventura de fazer desta região árida um pinhal. Impõe-se agora começar a pensar em reparar o estrago. Se tem havido dinheiro para gastar assim, mal gasto, é preciso que ele apareça para reimplantar matos de qualidade, onde os havia e deixou de haver, plantar alecrim, rosmaninho, medronheiro. Ordenar a limpeza da floresta, de modo a que o mato seja compatível com o combate e prevenção do fogo - é mais combustivel o pinhal do que o matagal - e compatibilizar os vários interesses, tornando o matagal uma alternativa de futuro economicamente apetecivel e sustentável.»
Pedro Bravo
Estão por fazer as contas ao que se perdeu com a aventura de fazer desta região árida um pinhal. Impõe-se agora começar a pensar em reparar o estrago. Se tem havido dinheiro para gastar assim, mal gasto, é preciso que ele apareça para reimplantar matos de qualidade, onde os havia e deixou de haver, plantar alecrim, rosmaninho, medronheiro. Ordenar a limpeza da floresta, de modo a que o mato seja compatível com o combate e prevenção do fogo - é mais combustivel o pinhal do que o matagal - e compatibilizar os vários interesses, tornando o matagal uma alternativa de futuro economicamente apetecivel e sustentável.»
Pedro Bravo
Correio dos leitores: "Escola pública"
Publicado por
Vital Moreira
«Um dos argumentos dos professores é que não deveria fazer parte das suas funções "entreter alunos" ou dar informação sobre matérias que não as da sua especialidade, tendo de se adaptar e não estando isso previsto na sua carreira.
Isso levanta-me duas interrogações:
a) Que tipo de professores temos nós que não conseguem - além-currículos definidos - arranjar temas para debater com as suas turmas?
b) A adaptação que se lhes pede não será bem menor do que a adaptação que muitos professores não colocados (infelizmente, o Estado não pode empregar toda a gente) têm de arranjar como vendedores, caixas de supermercados ou escriturários? (...)»
Pedro Sousa
Isso levanta-me duas interrogações:
a) Que tipo de professores temos nós que não conseguem - além-currículos definidos - arranjar temas para debater com as suas turmas?
b) A adaptação que se lhes pede não será bem menor do que a adaptação que muitos professores não colocados (infelizmente, o Estado não pode empregar toda a gente) têm de arranjar como vendedores, caixas de supermercados ou escriturários? (...)»
Pedro Sousa
Ler os outros
Publicado por
Vital Moreira
«Ninguém sabe ao certo quantas pessoas estão, simultaneamente, a receber subsídio de desemprego e a trabalhar à socapa, juntando ao subsídio um salário do qual a Segurança Social não vê um cêntimo. Os interesses imediatos dos trabalhadores e dos empregadores conjugam-se nisso facilmente.
Sabe-se que muitas "reformas antecipadas" são obtidas (com mútuo proveito para trabalhador e empresa) através da alegação de invalidez ? que nem sempre existe. Noutros casos, a reforma antecipada surge como solução de reestruturação (admitida por lei), mas os reformados continuam a trabalhar para a mesma empresa, sob várias formas mais ou menos disfarçadas. Em casos especiais e mais elaborados, criam "empresas prestadoras de serviços" à que anteriormente os tinha nos seus quadros.»
(A. Monteiro Fernandes, Diário Económico)
Sabe-se que muitas "reformas antecipadas" são obtidas (com mútuo proveito para trabalhador e empresa) através da alegação de invalidez ? que nem sempre existe. Noutros casos, a reforma antecipada surge como solução de reestruturação (admitida por lei), mas os reformados continuam a trabalhar para a mesma empresa, sob várias formas mais ou menos disfarçadas. Em casos especiais e mais elaborados, criam "empresas prestadoras de serviços" à que anteriormente os tinha nos seus quadros.»
(A. Monteiro Fernandes, Diário Económico)
O exemplo espanhol
Publicado por
Vital Moreira
À última hora, quando parecia assegurado o êxito da OPA da Gas Natural sobre a Endesa, com o beneplácito do Governo espanhol, eis que da Alemanha surge o ataque surpresa da E-on, um potentado europeu e mundial da energia (electricidade-gás natural), com uma oferta de valor assaz superior ao da Gas Natural. Imediatamente bem recebida pela Endesa, a nova OPA constitui um choque para o Governo espanhol, que dificilmente poderá usar o veto que lhe proporciona a golden share que tem na Endesa, pouco depois de anunciar a intenção de abandonar as golden shares.
Será que isto pode dizer alguma coisa para o caso da OPA da Sonae sobre a PT? Não terá ela despertado também a cobiça de alguma telecom europeia sobre a vulnerável PT?
Será que isto pode dizer alguma coisa para o caso da OPA da Sonae sobre a PT? Não terá ela despertado também a cobiça de alguma telecom europeia sobre a vulnerável PT?
terça-feira, 21 de fevereiro de 2006
Oa "amigos" da escola pública
Publicado por
Vital Moreira
Os sindicatos da Fenprof decidiram convocar mais greve de vários dias contra as medidas governamentais relativas às "aulas de substituição" e ao alargamento do horário das escolas do ensino básico.
É evidente que os sindicatos têm todo o direito de defender os interesses dos seus membros e de lutar contra as medidas que os possam afectar. O que não se compreende é que procurem justificar a sua greve em nome de "uma escola pública de qualidade", como dizem os cartazes da referida força sindical, pois é evidente que neste caso os interesses privativos dos professores não coincidem com o interesse público na promoção da qualidade da escola pública, pelo contrário.
Com "amigos" destes, aliás, a escola pública não precisaria de inimigos!
É evidente que os sindicatos têm todo o direito de defender os interesses dos seus membros e de lutar contra as medidas que os possam afectar. O que não se compreende é que procurem justificar a sua greve em nome de "uma escola pública de qualidade", como dizem os cartazes da referida força sindical, pois é evidente que neste caso os interesses privativos dos professores não coincidem com o interesse público na promoção da qualidade da escola pública, pelo contrário.
Com "amigos" destes, aliás, a escola pública não precisaria de inimigos!
Correio dos leitores: "Porteucaliptal"
Publicado por
Vital Moreira
«Os castinçais, os carvalhais, os sobreirais, os azinhais, os freixiais, os salgueirais e amiais ou combinações destas espécies também são susceptíveis aos fogos florestais (que são também ocorrências naturais) quando não são geridos. É o abandono combinado com uma actividade económica ligada ao fogo que conduz à situação actual, onde se obtém rendimento da floresta pela negativa com custos ambientais e económicos de grande dimensão espacial (pela área onde ocorrem) e temporal (por comprometerem a produção acumulada de dezenas/centenas de anos bem como as produções futuras).
Se não houver um programa de gestão para as áreas florestais (que implica uma economia associada à silvicultura) e pessoas para os executar, integradas num plano de ordenamento racional do território, não vamos conseguir sair do ciclo vicioso em que nos encontramos. Temos de reinventar uma economia agrária que cative as pessoas a viver no mundo rural.
A valorização dos bens e serviços indirectos da floresta (economia ambiental) como sejam o sequestro de carbono, produção de oxigénio, controlo de erosão com o aumento da infiltração da água (que é purificada quando passa pela rede de raízes), valorização da paisagem são a via para a activação da actividade florestal produtiva (onde a produção de madeira, cortiça e frutos também são fundamentais).
Num plano de ordenamento, fundamentado por exemplo nas bacias hidrográficas (baseado na protecção das linhas de água temporárias ou permanentes) e com uma alocação das espécies florestais de acordo com as suas características ecológicas e de produção, obteríamos um território mais valorizado e belo com os pinhais, castinçais ou eucaliptais limitados por faixas (largas) de povoamentos puros ou mistos de carvalhos, freixos, amieiros, salgueiros instalados nas linhas de água.
Já agora, para finalizar, no último inventário florestal nacional foram identificados cerca de 2 milhões de hectares de áreas incultas. Imagine o valor que estas superfícies podem ter, se forem florestadas no âmbito de um programa de sequestro de carbono em que os emissores (indústria, cidadãos, etc.) sejam estimulados a contribuir para o financiamento da florestação e gestão deste território. Não teríamos de pagar multas pela produção dos gases de estufa num período de 100 anos, ou nunca, se utilizarmos a energia de forma sustentada.»
Nuno de Almeida Ribeiro
Se não houver um programa de gestão para as áreas florestais (que implica uma economia associada à silvicultura) e pessoas para os executar, integradas num plano de ordenamento racional do território, não vamos conseguir sair do ciclo vicioso em que nos encontramos. Temos de reinventar uma economia agrária que cative as pessoas a viver no mundo rural.
A valorização dos bens e serviços indirectos da floresta (economia ambiental) como sejam o sequestro de carbono, produção de oxigénio, controlo de erosão com o aumento da infiltração da água (que é purificada quando passa pela rede de raízes), valorização da paisagem são a via para a activação da actividade florestal produtiva (onde a produção de madeira, cortiça e frutos também são fundamentais).
Num plano de ordenamento, fundamentado por exemplo nas bacias hidrográficas (baseado na protecção das linhas de água temporárias ou permanentes) e com uma alocação das espécies florestais de acordo com as suas características ecológicas e de produção, obteríamos um território mais valorizado e belo com os pinhais, castinçais ou eucaliptais limitados por faixas (largas) de povoamentos puros ou mistos de carvalhos, freixos, amieiros, salgueiros instalados nas linhas de água.
Já agora, para finalizar, no último inventário florestal nacional foram identificados cerca de 2 milhões de hectares de áreas incultas. Imagine o valor que estas superfícies podem ter, se forem florestadas no âmbito de um programa de sequestro de carbono em que os emissores (indústria, cidadãos, etc.) sejam estimulados a contribuir para o financiamento da florestação e gestão deste território. Não teríamos de pagar multas pela produção dos gases de estufa num período de 100 anos, ou nunca, se utilizarmos a energia de forma sustentada.»
Nuno de Almeida Ribeiro
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006
Porteucaliptal
Publicado por
Vital Moreira
A Mata de Vale de Canas, em Coimbra, severamente devastada no grande fogo do verão do ano passado, que chegou a penetrar na cidade, vai ser reconstituída com... castanheiros. Aposto que, se nas restantes áreas ardidas o eucalipto e o pinheiro bravo fossem substituídos por espécies indígenas, estaria andado meio caminho para o controlo dos fogos florestais e para a recriação da beleza originária das matas do país.
Conflito de interesses
Publicado por
Vital Moreira
Parece que o movimento cívico independente nascido da candidatura presidencial de Manuel Alegre encara a hipótese de vir a concorrer no futuro a eleições autárquicas. Tendo o movimento dirigentes partidários entre os seus animadores e protagonistas, será que não se verifica aí um evidente conflito de interesses políticos?
O raid
Publicado por
Vital Moreira
Será que o raid policial sobre o jornal 24 Horas se destinou a habilitar Souto de Moura com os elementos necessários para instruir finalmente o prometido inquérito sobre o caso dos registos abusivos de chamadas telefónicas descobertos no processo Casa Pia? E quanto mais tempo vão esperar o Presidente da República e a Assembleia da República pelos resultados desse inquérito?
Regresso
Publicado por
Vital Moreira
Depois de algumas semanas de escassa presença neste espaço, devido a acumulação de afazeres profissionais, estou de volta.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2006
Solana: pior a emenda que o soneto
Publicado por
AG
Importava demarcar a União Europeia dos propósitos ofensivos dos "cartoons" dinamarqueses, importava declarar que a Europa rejeita a xenofobia, que os objectivos da acção externa da União Europeia são postos em causa quando se publicam provocações como as do tal jornal dinamarquês de extrema-direita. Importava acima de tudo sublinhar que a liberdade de expressão no espaço público europeu - uma das conquistas da nossa civilização e da humanidade - não é posta em causa quando se consideram certas mensagens como racistas, estigmatizantes e fora de qualquer consenso do debate civilizado. Importava mostrar que a Europa não alimenta a tese do confronto de civilizações porque acredita na universalidade dos direitos humanos.
Mas o Representante Especial do Conselho Europeu, a cara da Política Externa e de Segurança Comum da União, Javier Solana, não foi capaz de demarcar, na altura certa, a Europa deste tipo de discurso. Agora, à pressa para corrigir a ausência inicial das instituições europeias (Conselho e Comissão) neste debate, Solana decide emendar a mão. E a emenda é bem pior que o soneto.
Numa conferência de imprensa conjunta com o Secretário Geral da Organização da Conferência Islâmica (OIC) em Jeddah, Solana pronunciou-se ontem a favor da pretensão dos governos representados na OIC - a maior parte ditatoriais e violadores dos direitos humanos -de uma acção das Nações Unidas contra a "difamação da religião", indo até ao ponto de admitir que se incluísse linguagem contra a "blasfémia" nos estatutos do futuro Conselho dos Direitos Humanos da ONU (que deverá substituir a actual Comissão de Direitos Humanos da ONU)
Mas não se trata aqui de proteger 'a religião', qualquer religião. Não se trata até de considerar a religião como uma ordem de valores que deva ser mais respeitada do que qualquer outra. Não se trata, sobretudo,de por em causa a organização secular da ONU e de muitos Estados Membros da ONU (e estes não são apenas ocidentais, como demonstram países de população maioritariamente muçulmana como a Indonésia e a Turquia).
Trata-se, sim, de demarcar a Europa de mensagens de incitamento conflitual que tomem todos os membros individuais de um grupo - seja ele étnico, religioso, nacional, etc - por gente perigosa, pelo simples facto de pertencerem a esse grupo.
Goze-se com Jesus, Moisés, Maomé, se se quiser e faltar o bom senso. A liberdade de expressão permite-o. Mas quando programas na televisão sobre Jesus ou o Papa insinuarem que todos os católicos são pedófilos; mal um texto sobre Moisés for aproveitado para negar o holocausto; mal um cartoon sobre Maomé servir para apresentar o Islão como árabe e todos os árabes e muçulmanos como terroristas - chegámos aos limites da liberdade de expressão. Cabe então às forças políticas progressistas (não conto muito com a Direita para estas coisas irrelevantes da 'diversidade'), e às instituições da União, antes de mais, distanciar-se.
Javier Solana fê-lo tarde e mal, meteu os pés pelas mãos.
Solana passou claramente o prazo de validade. Nestes tempos conturbados, não chega um mínimo denominador comum para a UE. Para isso já temos Durão Barroso na Comissão.
Mas o Representante Especial do Conselho Europeu, a cara da Política Externa e de Segurança Comum da União, Javier Solana, não foi capaz de demarcar, na altura certa, a Europa deste tipo de discurso. Agora, à pressa para corrigir a ausência inicial das instituições europeias (Conselho e Comissão) neste debate, Solana decide emendar a mão. E a emenda é bem pior que o soneto.
Numa conferência de imprensa conjunta com o Secretário Geral da Organização da Conferência Islâmica (OIC) em Jeddah, Solana pronunciou-se ontem a favor da pretensão dos governos representados na OIC - a maior parte ditatoriais e violadores dos direitos humanos -de uma acção das Nações Unidas contra a "difamação da religião", indo até ao ponto de admitir que se incluísse linguagem contra a "blasfémia" nos estatutos do futuro Conselho dos Direitos Humanos da ONU (que deverá substituir a actual Comissão de Direitos Humanos da ONU)
Mas não se trata aqui de proteger 'a religião', qualquer religião. Não se trata até de considerar a religião como uma ordem de valores que deva ser mais respeitada do que qualquer outra. Não se trata, sobretudo,de por em causa a organização secular da ONU e de muitos Estados Membros da ONU (e estes não são apenas ocidentais, como demonstram países de população maioritariamente muçulmana como a Indonésia e a Turquia).
Trata-se, sim, de demarcar a Europa de mensagens de incitamento conflitual que tomem todos os membros individuais de um grupo - seja ele étnico, religioso, nacional, etc - por gente perigosa, pelo simples facto de pertencerem a esse grupo.
Goze-se com Jesus, Moisés, Maomé, se se quiser e faltar o bom senso. A liberdade de expressão permite-o. Mas quando programas na televisão sobre Jesus ou o Papa insinuarem que todos os católicos são pedófilos; mal um texto sobre Moisés for aproveitado para negar o holocausto; mal um cartoon sobre Maomé servir para apresentar o Islão como árabe e todos os árabes e muçulmanos como terroristas - chegámos aos limites da liberdade de expressão. Cabe então às forças políticas progressistas (não conto muito com a Direita para estas coisas irrelevantes da 'diversidade'), e às instituições da União, antes de mais, distanciar-se.
Javier Solana fê-lo tarde e mal, meteu os pés pelas mãos.
Solana passou claramente o prazo de validade. Nestes tempos conturbados, não chega um mínimo denominador comum para a UE. Para isso já temos Durão Barroso na Comissão.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006
nota parva em noite de insónia
Publicado por
LFB
Acabo de ver na RTP-Memória o João Gil no tempo da Ala dos Namorados, acompanhado do Nuno Guerreiro. Ao pensar que agora tem a Filarmónica Gil, com o Nuno Norte, dou-me conta da sua versatilidade musical: o homem passou de Maria Callas para Toto Cutugno.
Resposta ao Augusto
Publicado por
AG
Querido Augusto,
Só agora li a carta que me enviaste ontem através do «Público».
Como explico num artigo que encontrarás na «Aba da Causa» e que escrevi para o «Courrier Internacional» no dia 6 (antes de saber se o MNE falara e o que haveria de comentar Nuno Pacheco em editorial), a passagem pela Indonésia ensinou-me algumas coisas.
Antes de mais, a não tomar por islâmico tudo o que se apresenta como tal e, sobretudo, a não provocar incidentes por desdém religioso. Fez-me ainda entender como se pode desencadear uma espiral de violência insultando sentimentos religiosos dos muçulmanos (ofender-lhes o Profeta é gratuitamente desrespeitoso - e muito diferente de contestar violações de direitos humanos decorrentes de certas interpretações da Sharia). Sobretudo no contexto actual em que milhões de muçulmanos vivem na pobreza e oprimidos, tendo boas razões para se queixar dos dois pesos e duas medidas das democracias ocidentais que, em boa parte, sustentam no poder os seus opressores.
Como é evidente, tens todo o direito de discordar de mim e de me censurar. Espanta-me é que possas pensar que eu pudesse ter escrito o que escrevi, ao criticar um editorial de Nuno Pacheco, por subscrever «os principios da cataquese» do Prof. Freitas do Amaral.
Eu - e tu deverias sabê-lo, já era assim nos nossos tempos de liceu, que evocas - ando na política por convicções: não me sujeito a «outras ordens de políticas» e, muito menos (vacinada que fiquei pelo maoismo) a ordens de outros políticos.
E por isso só apoiei Freitas do Amaral na exacta medida do que deixei registado. Não subscrevi, nem subscrevo, tudo o que ele possa ter invocado em comunicado do MNE - o qual, de resto, eu não conhecia quando escrevi o que escrevi sobre o editorial do «Público». O que me chegou - e a distância, em Bruxelas não facilita ver tudo o que se publica, na íntegra e na hora - foram relatos das agências indicando que o MNE se/nos distanciara dos propósitos ofensivos do jornal dinamarquês que publicou os «cartoons». Era isso, apenas, que eu afirmei (e mantenho) que o Prof. Freitas do Amaral andou bem em fazer, quando outros responsáveis europeus só cuidavam de condenar a violência - obviamente condenável - contra embaixadas da Dinamarca. E era contra esse aspecto principal da actuação de Freitas do Amaral que Nuno Pacheco se insurgia, inclusivamente perguntando «se os povos muçulmanos nos tinham pedido alguma coisa», como se fosse preciso um tal pedido para o Governo fazer o que devia fazer - que era demarcar Portugal dos propósitos insultuosos dos «cartoons» (sem prejuízo de eles continuarem a ser publicados por quem quer que fosse).
Não era - não é, no meu entender - a liberdade de expressão na Europa que estava em causa (liberdade pela qual muita gente nos países muçulmanos luta, com o meu apoio activo). O que estava em causa era o incitamento à perseguição religiosa e racista visada pelos «cartoons» num contexto de crescente estigmatização contra os muçulmanos, instigada pela extrema-direita na Europa e no mundo. E nesta leitura estou, de facto, acompanhada pela palestiniana Leila Shahid, que citas. Segundo ela (Deutsche Welle,de 8/2), os desenhos foram «the straw that broke the camel's back para os muçulmanos, empurrados «ao limite» pelos desenhos, o que deveria ser entendido «no contexto islamofóbo» e «na linguagem islamófoba» prevalecentes hoje a nível mundial.
Na tua carta lembras as récitas de ópera que vimos na geral do Coliseu, já lá vão uns 35 anos. Claro que antes do 25 de Abril nunca lá ouvimos a «Flauta», onde o genial Mozart canta as virtudes da tolerância. Mas era Mozart o que tocava no carro, ontem de manhã, quando parei em frente da Sinagoga Portuguesa de Amesterdão. Estava fechada. Chovia. Mas parei na mesma. Para evocar, nestes tempos conturbados de incitamento preconceituoso, o sofrimento dos judeus portugueses - os que conseguiram sobreviver e exilar-se para fugir à Santa Inquisição. Tão «santa», quanto Bin Laden será «islâmico» e os «cartoons» dinamarqueses «inocentes» e «libertadores».
Retomemos, então, Mozart...
Com a amizade de sempre
da
Ana
Só agora li a carta que me enviaste ontem através do «Público».
Como explico num artigo que encontrarás na «Aba da Causa» e que escrevi para o «Courrier Internacional» no dia 6 (antes de saber se o MNE falara e o que haveria de comentar Nuno Pacheco em editorial), a passagem pela Indonésia ensinou-me algumas coisas.
Antes de mais, a não tomar por islâmico tudo o que se apresenta como tal e, sobretudo, a não provocar incidentes por desdém religioso. Fez-me ainda entender como se pode desencadear uma espiral de violência insultando sentimentos religiosos dos muçulmanos (ofender-lhes o Profeta é gratuitamente desrespeitoso - e muito diferente de contestar violações de direitos humanos decorrentes de certas interpretações da Sharia). Sobretudo no contexto actual em que milhões de muçulmanos vivem na pobreza e oprimidos, tendo boas razões para se queixar dos dois pesos e duas medidas das democracias ocidentais que, em boa parte, sustentam no poder os seus opressores.
Como é evidente, tens todo o direito de discordar de mim e de me censurar. Espanta-me é que possas pensar que eu pudesse ter escrito o que escrevi, ao criticar um editorial de Nuno Pacheco, por subscrever «os principios da cataquese» do Prof. Freitas do Amaral.
Eu - e tu deverias sabê-lo, já era assim nos nossos tempos de liceu, que evocas - ando na política por convicções: não me sujeito a «outras ordens de políticas» e, muito menos (vacinada que fiquei pelo maoismo) a ordens de outros políticos.
E por isso só apoiei Freitas do Amaral na exacta medida do que deixei registado. Não subscrevi, nem subscrevo, tudo o que ele possa ter invocado em comunicado do MNE - o qual, de resto, eu não conhecia quando escrevi o que escrevi sobre o editorial do «Público». O que me chegou - e a distância, em Bruxelas não facilita ver tudo o que se publica, na íntegra e na hora - foram relatos das agências indicando que o MNE se/nos distanciara dos propósitos ofensivos do jornal dinamarquês que publicou os «cartoons». Era isso, apenas, que eu afirmei (e mantenho) que o Prof. Freitas do Amaral andou bem em fazer, quando outros responsáveis europeus só cuidavam de condenar a violência - obviamente condenável - contra embaixadas da Dinamarca. E era contra esse aspecto principal da actuação de Freitas do Amaral que Nuno Pacheco se insurgia, inclusivamente perguntando «se os povos muçulmanos nos tinham pedido alguma coisa», como se fosse preciso um tal pedido para o Governo fazer o que devia fazer - que era demarcar Portugal dos propósitos insultuosos dos «cartoons» (sem prejuízo de eles continuarem a ser publicados por quem quer que fosse).
Não era - não é, no meu entender - a liberdade de expressão na Europa que estava em causa (liberdade pela qual muita gente nos países muçulmanos luta, com o meu apoio activo). O que estava em causa era o incitamento à perseguição religiosa e racista visada pelos «cartoons» num contexto de crescente estigmatização contra os muçulmanos, instigada pela extrema-direita na Europa e no mundo. E nesta leitura estou, de facto, acompanhada pela palestiniana Leila Shahid, que citas. Segundo ela (Deutsche Welle,de 8/2), os desenhos foram «the straw that broke the camel's back para os muçulmanos, empurrados «ao limite» pelos desenhos, o que deveria ser entendido «no contexto islamofóbo» e «na linguagem islamófoba» prevalecentes hoje a nível mundial.
Na tua carta lembras as récitas de ópera que vimos na geral do Coliseu, já lá vão uns 35 anos. Claro que antes do 25 de Abril nunca lá ouvimos a «Flauta», onde o genial Mozart canta as virtudes da tolerância. Mas era Mozart o que tocava no carro, ontem de manhã, quando parei em frente da Sinagoga Portuguesa de Amesterdão. Estava fechada. Chovia. Mas parei na mesma. Para evocar, nestes tempos conturbados de incitamento preconceituoso, o sofrimento dos judeus portugueses - os que conseguiram sobreviver e exilar-se para fugir à Santa Inquisição. Tão «santa», quanto Bin Laden será «islâmico» e os «cartoons» dinamarqueses «inocentes» e «libertadores».
Retomemos, então, Mozart...
Com a amizade de sempre
da
Ana
domingo, 12 de fevereiro de 2006
Fazer o jogo do terrorismo
Publicado por
AG
«Foi também na Indonésia que apreendi como é injusto e contraproducente estigmatizar todos os muçulmanos e o Islão pelas interpretações mais reaccionárias deste».
«Quem se empenha em concretizar a profecia do "choque de civilizações", como os fundamentalistas de todos os quadrantes, deita mão à xenofobia e à ofensa de sentimentos religiosos. Quem o justifica, a qualquer pretexto, inclusivé o da liberdade de expressão, faz objectivamente o jogo dos terroristas»-
são extractos de um artigo que escrevi dia 6 para o «COURRIER INTERNACIONAL» (publicado a 10/2) sobre os "cartoons" dinamarqueses estigmatizantes dos muçulmanos. Já está também na ABA DA CAUSA.
«Quem se empenha em concretizar a profecia do "choque de civilizações", como os fundamentalistas de todos os quadrantes, deita mão à xenofobia e à ofensa de sentimentos religiosos. Quem o justifica, a qualquer pretexto, inclusivé o da liberdade de expressão, faz objectivamente o jogo dos terroristas»-
são extractos de um artigo que escrevi dia 6 para o «COURRIER INTERNACIONAL» (publicado a 10/2) sobre os "cartoons" dinamarqueses estigmatizantes dos muçulmanos. Já está também na ABA DA CAUSA.
sábado, 11 de fevereiro de 2006
brothers in arms
Publicado por
LFB
o episódio que me assombrou o dia todo
Publicado por
LFB
E depois há a história da mulher à beira dos 40 anos, que foi violada aos 7, e que todas as noites em que os cigarros acabam na sua casa da margem sul, veste uma mini-saia, produz-se de forma provocante, e vem comprar um maço a meio da noite, ao Cais do Sodré. Leva o seu tempo, olha nos olhos os homens que habitam a toca do lobo, como quem acusa o mundo de perfídia, e tenta o destino uma e outra vez.
Debaixo daquela capa ostensiva, sob a superfície do trauma, toda ela é pureza.
Debaixo daquela capa ostensiva, sob a superfície do trauma, toda ela é pureza.
Correio dos leitores: Madeira
Publicado por
Vital Moreira
«É com espanto e indignação que constato a complacência do Presidente da República perante a situação ocorrida com um deputado eleito pelo PS à Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, cuja sanidade mental foi posta em causa de uma forma infame, com a complacência do Presidente da referida Assembleia.
Será que o actual Presidente da República vai levar até ao fim um mandato sem um rasgo de ousadia na aplicação dos preceitos constitucionais? Será que aqui o Sr. Presidente acha que o juramento de cumprir e fazer cumprir a Constituição não o obriga a intervir? Será que a coragem demonstrada por João Carlos Gouveia, deputado do PS eleito pelo concelho de São Vicente vai ser pretexto para mais um atentado à liberdade de expressão na Madeira, agora com o beneplácito do Sr. Presidente da República?
Se a resposta às questões acima colocadas for o silêncio do Sr. Presidente, e a atitude do PSD na Madeira não for devidamente repudiada o regime democrático em Portugal está em causa.»
D. Caldeira
Será que o actual Presidente da República vai levar até ao fim um mandato sem um rasgo de ousadia na aplicação dos preceitos constitucionais? Será que aqui o Sr. Presidente acha que o juramento de cumprir e fazer cumprir a Constituição não o obriga a intervir? Será que a coragem demonstrada por João Carlos Gouveia, deputado do PS eleito pelo concelho de São Vicente vai ser pretexto para mais um atentado à liberdade de expressão na Madeira, agora com o beneplácito do Sr. Presidente da República?
Se a resposta às questões acima colocadas for o silêncio do Sr. Presidente, e a atitude do PSD na Madeira não for devidamente repudiada o regime democrático em Portugal está em causa.»
D. Caldeira
Ignorância e preconceito
Publicado por
Vital Moreira
O editorial de ontem de José Manuel Fernandes no Público sobre os supostos perigos do projecto de cartão único de cidadão e de pré-preenchimento da declaração de IRS pelos serviços tributários seria bastante mais fundamentado e despreconceituoso, se tivesse em conta que: (i) o resenseamento eleitoral é legalmente obrigatório entre nós, pelo que a inclusão do número de eleitor no cartão único de cidadão nada tem de intrusivo; (ii) os serviços tributários dispõem legalmente de dados sobre os rendimentos das pessoas, cujo fornecimento é obrigatório por parte das entidades que pagam remunerações e serviços, pelo que a sua inclusão automática na declaração de IRS só facilita a vida dos contribuintes.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006
E todavia mexe
Publicado por
Vital Moreira
A Bélgica tornou-se o 14º país da UE a aprovar a Constituição europeia, não se deixando contaminar pelo voto negativo nos referendos dos seus vizinhos do Norte e do Sul (Holanda e França) no ano passado.
Entretanto, apesar do apelo à reflexão sobre o destino a dar ao tratado constitucional, lançado pelo Conselho Europeu há vários meses, em Portugal o tema tem merecido um completo silêncio oficial. Por que se espera?
Entretanto, apesar do apelo à reflexão sobre o destino a dar ao tratado constitucional, lançado pelo Conselho Europeu há vários meses, em Portugal o tema tem merecido um completo silêncio oficial. Por que se espera?
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006
Umbiguismo...
Publicado por
AG
Umbiguismo - é o mínimo que se poderá dizer do editorial de hoje de Nuno Pacheco no "Público" e do ataque que faz às declarações do MNE português a propósito das reacções às caricaturas dinamarquesas.
Freitas do Amaral esteve bem ao demarcar o Governo português e Portugal do conteúdo insultuoso e do propósito estigmatizante de todos os muçulmanos visado nas caricaturas. Fez o que o Governo de direita dinamarquês deveria ter feito inicialmente e não fez. Por incompetência, arrogância e por calculados interesses políticos internos - dependente, como é, do apoio da extrema-direita racista e xenófoba detrás do jornal que publicou as caricaturas. Incompetência e arrogância que levou o PM Andreas Rasmussen ao extremo de durante meses recusar receber os embaixadores de países muçulmanos - e logo ali podia ter acabado com o problema, distanciando-se dos propósitos ofensivos dos "cartoons" e também rejeitando, como é óbvio, qualquer ingerência ou sanção contra o jornal (o que eventualmente apenas caberia aos tribunais).
Freitas do Amaral fez o que a Europa deveria ter feito mais cedo. Porque a primeira vez que a Europa (Solana e a Presidência) se referiu à questão foi no fim-de-semana passado e apenas para condenar a violência contra as embaixadas da Dinamarca (obviamente condenável). Mas nem uma referência ao conteúdo gravemente ofensivo das caricaturas. E à demarcação da Europa da tolerância, do respeito pelos direitos e liberdades fundamentais face à insensibilidade política e propósitos insultuosos e estigmatizantes das caricaturas.
O que está em causa não é a liberdade de expressão. Esta não é, nem nunca foi a questão central - ninguém foi impedido de publicar o que quer que fosse. Mas a liberdade de imprensa deve ser exercida com responsabilidade e bom senso. E quem não se revê em publicações estigmatizantes e insultuosas deve demarcar-se.
O que está em causa é o aproveitamento da liberdade de expressão por uma direita, xenófoba, defensora da Europa 'clube cristão', apostada em fomentar o ódio religioso. Uma Europa desmemoriada (ou, ominosamente, talvez não...) das caricaturas nazis que antecederam a perseguição dos judeus. Lembro a Nuno Pacheco as declarações do rabino-chefe da França que disse "partilhar a raiva dos muçulmanos em relação a esta publicação" e "compreender a hostilidade [em relação às caricaturas] no mundo árabe". O que estas caricaturas (e uma delas em particular) insinuam é que a maior parte dos muçulmanos são árabes e a maior parte dos árabes são potenciais bombistas-suicidas. Citando um artigo escrito por Bradley Burston no "Haaretz" (um dos mais respeitados diários israelitas) no passado dia 6 ('The new anti-semitism, cartoon division'),: "esta mensagem é obscena. É racista. Desrespeita as convicções fundamentais de um em cada seis seres humanos no planeta. Nesse sentido, o que estas caricaturas fazem é profanar o direito à liberdade de expressão, transformando-o no direito a promover o ódio."
O que também está em causa é o aproveitamento deste incidente e dos sentimentos ofendidos de milhões de muçulmanos por parte de extremistas islâmicos, que querem a derrota da democracia, das liberdades e princípios e valores de direitos humanos. Quem não entende isto, não percebe que vivermos na era da globalização impõe especiais obrigações de tolerância e respeito pela sensibilidades dos outros. Penso-o eu, que sou ateia e que sempre defendi a universalidade dos direitos humanos e combati o relativismo cultural invocado para a contestar.
Quando Nuno Pacheco considera as declarações do MNE "afectadas por uma cegueira que toca as raias do absurdo" e que "há quem dê mais importância a uns desenhos do que à vida humana", o jornalista está a ser demagógico, simplista, e acima de tudo, esquece-se das responsabilidades que advêm de se ser Ministro dos Negócios Estrangeiros de um país europeu. Na mesma linha, os PMs turco e espanhol, em carta publicada em conjunto no "International Herald Tribune" de 5 de Fevereiro, qualificaram as caricaturas de "profundamente ofensivas" e salientaram que "não existem direitos sem responsabilidades e respeito por sensibilidades diversas."
Nuno Pacheco pergunta se "os povos muçulmanos pediram a Portugal qualquer coisa" e responde à pergunta, retórica, com um rotundo "não". Independentemente da reacção fora da Europa, independentemente e para além de embaixadas queimadas e muito antes sequer de reflectir sobre a reacção no mundo muçulmano às caricaturas, a Europa pode e deve condenar este tipo de manifestações de xenofobia, baseando-se pura e simplesmente na tolerância, no respeito pela diversidade e na experiência dolorosa de horrores passados. São esses os fundamentos da "raison d'être" da União Europeia.
(Carta enviada à direcção do "Público", em reacção ao editorial de hoje)
Freitas do Amaral esteve bem ao demarcar o Governo português e Portugal do conteúdo insultuoso e do propósito estigmatizante de todos os muçulmanos visado nas caricaturas. Fez o que o Governo de direita dinamarquês deveria ter feito inicialmente e não fez. Por incompetência, arrogância e por calculados interesses políticos internos - dependente, como é, do apoio da extrema-direita racista e xenófoba detrás do jornal que publicou as caricaturas. Incompetência e arrogância que levou o PM Andreas Rasmussen ao extremo de durante meses recusar receber os embaixadores de países muçulmanos - e logo ali podia ter acabado com o problema, distanciando-se dos propósitos ofensivos dos "cartoons" e também rejeitando, como é óbvio, qualquer ingerência ou sanção contra o jornal (o que eventualmente apenas caberia aos tribunais).
Freitas do Amaral fez o que a Europa deveria ter feito mais cedo. Porque a primeira vez que a Europa (Solana e a Presidência) se referiu à questão foi no fim-de-semana passado e apenas para condenar a violência contra as embaixadas da Dinamarca (obviamente condenável). Mas nem uma referência ao conteúdo gravemente ofensivo das caricaturas. E à demarcação da Europa da tolerância, do respeito pelos direitos e liberdades fundamentais face à insensibilidade política e propósitos insultuosos e estigmatizantes das caricaturas.
O que está em causa não é a liberdade de expressão. Esta não é, nem nunca foi a questão central - ninguém foi impedido de publicar o que quer que fosse. Mas a liberdade de imprensa deve ser exercida com responsabilidade e bom senso. E quem não se revê em publicações estigmatizantes e insultuosas deve demarcar-se.
O que está em causa é o aproveitamento da liberdade de expressão por uma direita, xenófoba, defensora da Europa 'clube cristão', apostada em fomentar o ódio religioso. Uma Europa desmemoriada (ou, ominosamente, talvez não...) das caricaturas nazis que antecederam a perseguição dos judeus. Lembro a Nuno Pacheco as declarações do rabino-chefe da França que disse "partilhar a raiva dos muçulmanos em relação a esta publicação" e "compreender a hostilidade [em relação às caricaturas] no mundo árabe". O que estas caricaturas (e uma delas em particular) insinuam é que a maior parte dos muçulmanos são árabes e a maior parte dos árabes são potenciais bombistas-suicidas. Citando um artigo escrito por Bradley Burston no "Haaretz" (um dos mais respeitados diários israelitas) no passado dia 6 ('The new anti-semitism, cartoon division'),: "esta mensagem é obscena. É racista. Desrespeita as convicções fundamentais de um em cada seis seres humanos no planeta. Nesse sentido, o que estas caricaturas fazem é profanar o direito à liberdade de expressão, transformando-o no direito a promover o ódio."
O que também está em causa é o aproveitamento deste incidente e dos sentimentos ofendidos de milhões de muçulmanos por parte de extremistas islâmicos, que querem a derrota da democracia, das liberdades e princípios e valores de direitos humanos. Quem não entende isto, não percebe que vivermos na era da globalização impõe especiais obrigações de tolerância e respeito pela sensibilidades dos outros. Penso-o eu, que sou ateia e que sempre defendi a universalidade dos direitos humanos e combati o relativismo cultural invocado para a contestar.
Quando Nuno Pacheco considera as declarações do MNE "afectadas por uma cegueira que toca as raias do absurdo" e que "há quem dê mais importância a uns desenhos do que à vida humana", o jornalista está a ser demagógico, simplista, e acima de tudo, esquece-se das responsabilidades que advêm de se ser Ministro dos Negócios Estrangeiros de um país europeu. Na mesma linha, os PMs turco e espanhol, em carta publicada em conjunto no "International Herald Tribune" de 5 de Fevereiro, qualificaram as caricaturas de "profundamente ofensivas" e salientaram que "não existem direitos sem responsabilidades e respeito por sensibilidades diversas."
Nuno Pacheco pergunta se "os povos muçulmanos pediram a Portugal qualquer coisa" e responde à pergunta, retórica, com um rotundo "não". Independentemente da reacção fora da Europa, independentemente e para além de embaixadas queimadas e muito antes sequer de reflectir sobre a reacção no mundo muçulmano às caricaturas, a Europa pode e deve condenar este tipo de manifestações de xenofobia, baseando-se pura e simplesmente na tolerância, no respeito pela diversidade e na experiência dolorosa de horrores passados. São esses os fundamentos da "raison d'être" da União Europeia.
(Carta enviada à direcção do "Público", em reacção ao editorial de hoje)
terça-feira, 7 de fevereiro de 2006
Assim de repente, o que me ocorre dizer
Publicado por
LFB
é que a grande questão em "Munich" não é averiguar se Spielberg fez um filme pró-israelita ou pró-palestiniano, mas sim constatar que a película é medíocre.
Pop-down
Publicado por
LFB
A França pode muito bem ser a pátria iluminista por excelência mas sempre que passo pelos seus canais musicais percebo que - no que respeita à música pop - parecem ter ficado, precisamente, parados nesse tempo.
sábado, 4 de fevereiro de 2006
«O PS c'est moi»
Publicado por
AG
No DN de hoje, Ana Sá Lopes assina «O PS c'est moi».
Comentário: Pois.
Comentário: Pois.
Oriente Próximo
Publicado por
AG
A Alexandra Lucas Coelho anuncia no «PÚBLICO» que a de hoje é a última crónica da série «Oriente Próximo».
Que a próxima não tarde! Porque esta foi jornalismo de extraordinária qualidade.
Obrigada, Alexandra.
Que a próxima não tarde! Porque esta foi jornalismo de extraordinária qualidade.
Obrigada, Alexandra.
Negócio fechado
Publicado por
LFB
Liliana Queiroz, Miss Playboy Internacional
Ia eu descansadinho da vida, quinta passada, para uma reunião de trabalho no bar do Hotel D.Pedro V quando, ao chegar, sou recebido pela pessoa interessada em contratar-me e por esta sorridente menina, que terminava a sua própria reunião.
Ainda ficou para um cafézinho antes de partir deixando um rasto de tromboses, taquicardias, dois colapsos nervosos, e pranto incontido de uma dúzia de empresários japoneses que bebericavam pisang ambons no bar.
Mal devia começar a minha reunião perguntei de pronto ao meu interlocutor onde estava o contrato. Assino de olhos fechados. Foi a mais brilhante estratégia negocial que já vi.
Edições Livramento
Publicado por
LFB
Estreando em grande estilo uma nova editora, uma associação luso-francesa com design radical, Nuno Costa Santos e Alexandre Borges estão em tourné pelos Açores para lançar, respectivamente, OS DIAS NÃO ESTÃO PARA ISSO e HEARTBREAK HOTEL (já disponíveis nas FNAC's da grande Lx). Duas obras muitíssimo recomendáveis de dois dos nossos mais brilhantes bloggers, de quem Pauleta já disse "Há nesta escrita um traço comum, de génese atlântica, de rasgo solitário mas mordaz. Dois açorianos que provam à saciedade que é possível sorrir nas ilhas e nem tudo são xailes negros. Recomendo com os mais elevados encómios".
Sou português, e agora?
Publicado por
LFB
capítulo em pré-publicação do livro a lançar dia 5 de Março no Páteo Alfacinha pela Esfera dos Livros. Estão todos convidados.
Não seria possível tratar em livro um tema tão complexo como o ser-se português sem, antes de mais nada, se procurar definir o que é, exactamente, um português. Para isso, peço ao leitor o esforço de notar atentamente no seguinte questionário.
Há 3 respostas possíveis para cada uma das 10 perguntas ? respostas a), valoradas com 5 pontos; b), com 10 pontos e c) com 15 pontos:
1) Contam-lhe uma anedota com um francês, um inglês e um português. Você:
a) ri quando o francês morre;
b) ri quando o inglês é despedido;
c) ri quando o português dorme com as mulheres dos outros dois;
2) Você está, por acaso, numa zona de obras onde pode facilmente ser confundido com um trolha. Passa uma miúda muito gira (ou um adolescente magrinho, louro e de cabelo comprido que, como está de costas, parece mesmo uma miúda muito gira ? por isso, para o efeito, tanto faz). Você:
a) descobre que a sua verdadeira vocação é a construção civil;
b) apalpa a miúda enquanto lhe diz uma alarvidade e se esconde rapidamente atrás do Geraldão, picheleiro cabo-verdiano;
c) segue o seu caminho como se nada fosse e entra no primeiro peep-show que encontrar;
3) Teve de apanhar um táxi. O condutor, sem sequer olhar para trás, inicia uma conversa de teor fascista, acompanhada de reparos pejorativos à raça africana. Você:
a) não diz rigorosamente nada;
b) conclui rapidamente, de acordo com o taxista, que Portugal precisava ?mas era de 2 Salazares?;
c) é africano;
4) Um político discursa na televisão. Você:
a) escuta-o até ao fim e analisa o dito cujo;
b) muda imediatamente de canal ao perceber, horrorizado, que não está na TVI;
c) tem toda a família reunida e feliz, dando-lhe os parabéns por tão excelente discurso;
5) Cruza-se com um dos seus vizinhos no corredor. Você:
a) não perde a oportunidade de dizer que o odeia;
b) dá-lhe os parabéns pelo carro novo, nova amante e jardim cuidadosamente podado;
c) dá-lhe 23 facadas e, antes de se suicidar, telefona à sua esposa para não se esquecer de comprar ?O Crime? de amanhã;
6) No trabalho, o patrão explica que o seu rendimento não é o melhor e que, por isso e lamentavelmente, vai ter de o dispensar. Você:
a) aceita a decisão com bonomia, reconhece-lhe razão, e parte à procura de novo emprego;
b) você perde a cabeça, insulta o patrão e, de caminho, ainda espanca o gajo que respondeu tal qual como na alínea anterior;
c) você explica ao patrão que é filho do amigo dele com quem costuma jogar golfe aos fins-de-semana;
7) Uma jornalista da TVI aborda-o na rua para saber se você já alguma vez teve problemas do foro sexual. Você:
a) confessa que sim e que toda a gente passa por isso pelo menos uma vez na vida;
b) ri-se à gargalhada e mostra as fotos da sua carteira. As dos 7 filhos e as das 29 ?bifas? engatadas ao longo de vários Verões na Praia da Rocha;
c) nem sequer se digna responder e faz um filho à jornalista, mesmo ali em frente às câmaras e contra a parede do Banco Espírito Santo;
8) Chegaram finalmente as férias. Você:
a)parte finalmente para Praga, onde sonha percorrer os locais calcorreados por Kafka;
b)enfia a filharada na caravana e mete-se Espanha adentro, onde inicia os putos na nobre arte da escarradela. À vossa partida, meia Castela está intrigada com o ácido que corrói os seus monumentos;
c)invade a primeira praia que encontrar munido de lancheira, rádio, família, cães, tablóides, telemóveis, sogros e respectivos vizinhos, livros da Margarida Rebelo Pinto e doenças venéreas. Ao avistar o rapaz guineense que vende os gelados na praia, grita de imediato: ?ARRASTÃO?, provocando uma batalha campal que encherá os noticiários durante todo o mês de Agosto;
9) No trânsito, ultrapassam-no pela direita. Você:
a) deixa o indivíduo seguir e explica aos seus filhos adolescentes, sentados no banco de trás e com o cinto posto, que aquilo não se faz porque é perigoso;
b) buzina, dá-lhe com os máximos, encosta-se à sua traseira, e insulta o infractor e todos os seus familiares e antepassados. Os seus filhos começam a chorar;
c) persegue o veículo a 180 kms/hora, durante tempo suficiente para furar uma operação Stop e atropelar um casal de idosos que, explica você aos filhos no banco de trás, ?Assim como assim, já estavam mortos, só não tinham recebido ainda o aviso das Finanças?. Ao fim de meia hora, o veículo perseguido entra num Hospital e você percebe, enfim, que se tratava de uma ambulância;
10) Decidiu fazer um pic-nic com a família. Mas o guarda-florestal explica que estão numa reserva natural e que o seu filho mais novo não devia estar a fumar ali. Você:
a) pede de imediato desculpas, jura que não percebeu que estava na reserva e pergunta ao guarda qual o melhor restaurante das redondezas;
b)explica ao indivíduo que o seu filho é um rapaz atinado e maduro, muito mais inteligente do que o próprio guarda-florestal alguma vez foi aos 9 anos de idade;
c)amarra o guarda-florestal à árvore mais próxima, utilizando a toalha do pic-nic, e pede ao seu filhote que lhe empreste o zippo. Depois vão para casa ver as imagens nos noticiários e maldizer os incendiários. Quando a esposa/mãe perguntar por que têm as mãos chamuscadas, espancam-na com uma ?TvGuia?.
AVALIAÇÃO:
- Se teve entre 50 a 75 pontos, você é claramente estrangeiro e, das duas uma, ou é espanhol e veio comprar mais uma empresa portuguesa; ou é turista ? pelo que deve estar de calções, chanatas e uma camisa cor-de-rosa aberta até ao umbigo e que envergonharia até mesmo os dois elementos masculinos dos Abba. Faça favor de passar pelo Corte Inglês, comprar uma roupinha decente, e ir ao Hotel mudar de indumentária. Então, pá? Agora!
- Se teve entre 75 e 100 pontos, você é claramente um português médio. Os meus pêsames, estou consigo nesta luta, boa leitura e já agora obrigadinho por ter comprado o livro.
- Se teve mais de 100 pontos e, na verdade, o trabalho de fazer contas à pontuação das suas respostas como se este questionário fosse mesmo para levar a sério, então você é claramente um idiota.
Concluído o questionário e chegados a este ponto, os meus editores pediram-me encarecidamente ? ao rever o livro ? que acrescentasse uma conclusão a seguir ao inquérito. Aqui vai:
CONCLUSÃO
Não seria possível tratar em livro um tema tão complexo como o ser-se português sem, antes de mais nada, se procurar definir o que é, exactamente, um português. Para isso, peço ao leitor o esforço de notar atentamente no seguinte questionário.
Há 3 respostas possíveis para cada uma das 10 perguntas ? respostas a), valoradas com 5 pontos; b), com 10 pontos e c) com 15 pontos:
1) Contam-lhe uma anedota com um francês, um inglês e um português. Você:
a) ri quando o francês morre;
b) ri quando o inglês é despedido;
c) ri quando o português dorme com as mulheres dos outros dois;
2) Você está, por acaso, numa zona de obras onde pode facilmente ser confundido com um trolha. Passa uma miúda muito gira (ou um adolescente magrinho, louro e de cabelo comprido que, como está de costas, parece mesmo uma miúda muito gira ? por isso, para o efeito, tanto faz). Você:
a) descobre que a sua verdadeira vocação é a construção civil;
b) apalpa a miúda enquanto lhe diz uma alarvidade e se esconde rapidamente atrás do Geraldão, picheleiro cabo-verdiano;
c) segue o seu caminho como se nada fosse e entra no primeiro peep-show que encontrar;
3) Teve de apanhar um táxi. O condutor, sem sequer olhar para trás, inicia uma conversa de teor fascista, acompanhada de reparos pejorativos à raça africana. Você:
a) não diz rigorosamente nada;
b) conclui rapidamente, de acordo com o taxista, que Portugal precisava ?mas era de 2 Salazares?;
c) é africano;
4) Um político discursa na televisão. Você:
a) escuta-o até ao fim e analisa o dito cujo;
b) muda imediatamente de canal ao perceber, horrorizado, que não está na TVI;
c) tem toda a família reunida e feliz, dando-lhe os parabéns por tão excelente discurso;
5) Cruza-se com um dos seus vizinhos no corredor. Você:
a) não perde a oportunidade de dizer que o odeia;
b) dá-lhe os parabéns pelo carro novo, nova amante e jardim cuidadosamente podado;
c) dá-lhe 23 facadas e, antes de se suicidar, telefona à sua esposa para não se esquecer de comprar ?O Crime? de amanhã;
6) No trabalho, o patrão explica que o seu rendimento não é o melhor e que, por isso e lamentavelmente, vai ter de o dispensar. Você:
a) aceita a decisão com bonomia, reconhece-lhe razão, e parte à procura de novo emprego;
b) você perde a cabeça, insulta o patrão e, de caminho, ainda espanca o gajo que respondeu tal qual como na alínea anterior;
c) você explica ao patrão que é filho do amigo dele com quem costuma jogar golfe aos fins-de-semana;
7) Uma jornalista da TVI aborda-o na rua para saber se você já alguma vez teve problemas do foro sexual. Você:
a) confessa que sim e que toda a gente passa por isso pelo menos uma vez na vida;
b) ri-se à gargalhada e mostra as fotos da sua carteira. As dos 7 filhos e as das 29 ?bifas? engatadas ao longo de vários Verões na Praia da Rocha;
c) nem sequer se digna responder e faz um filho à jornalista, mesmo ali em frente às câmaras e contra a parede do Banco Espírito Santo;
8) Chegaram finalmente as férias. Você:
a)parte finalmente para Praga, onde sonha percorrer os locais calcorreados por Kafka;
b)enfia a filharada na caravana e mete-se Espanha adentro, onde inicia os putos na nobre arte da escarradela. À vossa partida, meia Castela está intrigada com o ácido que corrói os seus monumentos;
c)invade a primeira praia que encontrar munido de lancheira, rádio, família, cães, tablóides, telemóveis, sogros e respectivos vizinhos, livros da Margarida Rebelo Pinto e doenças venéreas. Ao avistar o rapaz guineense que vende os gelados na praia, grita de imediato: ?ARRASTÃO?, provocando uma batalha campal que encherá os noticiários durante todo o mês de Agosto;
9) No trânsito, ultrapassam-no pela direita. Você:
a) deixa o indivíduo seguir e explica aos seus filhos adolescentes, sentados no banco de trás e com o cinto posto, que aquilo não se faz porque é perigoso;
b) buzina, dá-lhe com os máximos, encosta-se à sua traseira, e insulta o infractor e todos os seus familiares e antepassados. Os seus filhos começam a chorar;
c) persegue o veículo a 180 kms/hora, durante tempo suficiente para furar uma operação Stop e atropelar um casal de idosos que, explica você aos filhos no banco de trás, ?Assim como assim, já estavam mortos, só não tinham recebido ainda o aviso das Finanças?. Ao fim de meia hora, o veículo perseguido entra num Hospital e você percebe, enfim, que se tratava de uma ambulância;
10) Decidiu fazer um pic-nic com a família. Mas o guarda-florestal explica que estão numa reserva natural e que o seu filho mais novo não devia estar a fumar ali. Você:
a) pede de imediato desculpas, jura que não percebeu que estava na reserva e pergunta ao guarda qual o melhor restaurante das redondezas;
b)explica ao indivíduo que o seu filho é um rapaz atinado e maduro, muito mais inteligente do que o próprio guarda-florestal alguma vez foi aos 9 anos de idade;
c)amarra o guarda-florestal à árvore mais próxima, utilizando a toalha do pic-nic, e pede ao seu filhote que lhe empreste o zippo. Depois vão para casa ver as imagens nos noticiários e maldizer os incendiários. Quando a esposa/mãe perguntar por que têm as mãos chamuscadas, espancam-na com uma ?TvGuia?.
AVALIAÇÃO:
- Se teve entre 50 a 75 pontos, você é claramente estrangeiro e, das duas uma, ou é espanhol e veio comprar mais uma empresa portuguesa; ou é turista ? pelo que deve estar de calções, chanatas e uma camisa cor-de-rosa aberta até ao umbigo e que envergonharia até mesmo os dois elementos masculinos dos Abba. Faça favor de passar pelo Corte Inglês, comprar uma roupinha decente, e ir ao Hotel mudar de indumentária. Então, pá? Agora!
- Se teve entre 75 e 100 pontos, você é claramente um português médio. Os meus pêsames, estou consigo nesta luta, boa leitura e já agora obrigadinho por ter comprado o livro.
- Se teve mais de 100 pontos e, na verdade, o trabalho de fazer contas à pontuação das suas respostas como se este questionário fosse mesmo para levar a sério, então você é claramente um idiota.
Concluído o questionário e chegados a este ponto, os meus editores pediram-me encarecidamente ? ao rever o livro ? que acrescentasse uma conclusão a seguir ao inquérito. Aqui vai:
CONCLUSÃO
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006
Avestruzes
Publicado por
AG
A Lena e a Teresa vivem juntas, são homossexuais assumidas e querem casar.
Se fossem a Espanha, aqui ao lado, ou à Bélgica, ou à Holanda, ou à Grã-Bretanha, poderiam já casar.
Em Portugal ainda não (sublinho o ainda, porque é só uma questão de tempo).
"Não é uma prioridade", dizem dirigentes socialistas para desvalorizar o assunto e assim evitar equacionar o problema e tomar as decisões políticas que ele requer. (A JS, porém, mostra que no PS há gente sem preconceitos e desculpas caretas).
Desde quando é que questões de direitos humanos (e não se ser discriminado negativamente releva dos direitos humanos e liberdades fundamentais) não são uma prioridade para quem é coerentemente socialista?
Desde quando é que quem é dirigente prefere a táctica da avestruz e se abstém de liderar em questões de sociedade, de relevância política, social e cultural da maior actualidade - tanto, que até já estão resolvidas noutros nossos parceiros europeus? (E os devotos de Tony Blair bem podiam inspirar-se na liderança dele nesta matéria).
Desde quando é que se rejeitam como não prioritários dilemas que estão na nossa frente, impostos pela evolução social e política no nosso país, que obviamente não escapa (e ainda bem) à influência da evolução de costumes e percepções na Europa e no mundo globalizado em que vivemos?
É que estas são questões estrategicamente prioritárias para uma esquerda moderna, sobretudo quando no governo se atem ao paradigma económico dominante. Questões que devem ser enfrentadas agora pelos socialistas, com o tempo de debate necessário, e não à pressa, mais tarde, num momento necessariamente condicionado por disputas eleitorais e naturalmente menos propício a uma reflexão séria. Se não for a esquerda, quem será? Esperar-se-à que seja a direita a promover a resolução destas questões?
Com o argumento de atender apenas a interesses ditos prioritários (o emprego e o progresso económico sempre foram desafios "prioritários", não é de agora nem apenas conjuntural) e de temer afrontar sentimentos conservadores, machistas, enraizados em sectores da sociedade portuguesa, nunca se teria evoluído na regulação jurídica e política de matérias de profundas implicações sociais e até religiosas.
Nessa lógica salazarenta ainda hoje teríamos filhos "ilegítimos", não teríamos divórcio, nem uniões de facto protegidas pela lei, nem certamente teríamos mulheres na carreira diplomática e na magistratura.
Nessa lógica bolorenta ainda hoje em Portugal se condenam as mulheres a poderem ser perseguidas por prática de aborto.
Na (i)moralidade subjacente ao artigo do Código Civil que exclui o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a sociedade fecha os olhos ao casamento de quem é homossexual, desde que com parceiro de outro sexo, como cobertura para a orientação e práticas homossexuais.
É esta hipocrisia que a Lena e a Teresa não aceitam. É essa (i)moralidade que elas desafiam.
Se fossem a Espanha, aqui ao lado, ou à Bélgica, ou à Holanda, ou à Grã-Bretanha, poderiam já casar.
Em Portugal ainda não (sublinho o ainda, porque é só uma questão de tempo).
"Não é uma prioridade", dizem dirigentes socialistas para desvalorizar o assunto e assim evitar equacionar o problema e tomar as decisões políticas que ele requer. (A JS, porém, mostra que no PS há gente sem preconceitos e desculpas caretas).
Desde quando é que questões de direitos humanos (e não se ser discriminado negativamente releva dos direitos humanos e liberdades fundamentais) não são uma prioridade para quem é coerentemente socialista?
Desde quando é que quem é dirigente prefere a táctica da avestruz e se abstém de liderar em questões de sociedade, de relevância política, social e cultural da maior actualidade - tanto, que até já estão resolvidas noutros nossos parceiros europeus? (E os devotos de Tony Blair bem podiam inspirar-se na liderança dele nesta matéria).
Desde quando é que se rejeitam como não prioritários dilemas que estão na nossa frente, impostos pela evolução social e política no nosso país, que obviamente não escapa (e ainda bem) à influência da evolução de costumes e percepções na Europa e no mundo globalizado em que vivemos?
É que estas são questões estrategicamente prioritárias para uma esquerda moderna, sobretudo quando no governo se atem ao paradigma económico dominante. Questões que devem ser enfrentadas agora pelos socialistas, com o tempo de debate necessário, e não à pressa, mais tarde, num momento necessariamente condicionado por disputas eleitorais e naturalmente menos propício a uma reflexão séria. Se não for a esquerda, quem será? Esperar-se-à que seja a direita a promover a resolução destas questões?
Com o argumento de atender apenas a interesses ditos prioritários (o emprego e o progresso económico sempre foram desafios "prioritários", não é de agora nem apenas conjuntural) e de temer afrontar sentimentos conservadores, machistas, enraizados em sectores da sociedade portuguesa, nunca se teria evoluído na regulação jurídica e política de matérias de profundas implicações sociais e até religiosas.
Nessa lógica salazarenta ainda hoje teríamos filhos "ilegítimos", não teríamos divórcio, nem uniões de facto protegidas pela lei, nem certamente teríamos mulheres na carreira diplomática e na magistratura.
Nessa lógica bolorenta ainda hoje em Portugal se condenam as mulheres a poderem ser perseguidas por prática de aborto.
Na (i)moralidade subjacente ao artigo do Código Civil que exclui o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a sociedade fecha os olhos ao casamento de quem é homossexual, desde que com parceiro de outro sexo, como cobertura para a orientação e práticas homossexuais.
É esta hipocrisia que a Lena e a Teresa não aceitam. É essa (i)moralidade que elas desafiam.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006
E a energia solar ?
Publicado por
AG
Num contexto em que importa diminuir a dependência portuguesa do crude, o projecto (em que, aparentemente, todos embandeiraram em arco...) de uma nova central refinadora em Sines, embora destinada à exportação, é um contra-senso estratégico. Sem sequer falar das mais de 2,5 milhões de toneladas de emissões de CO2 a produzir por ano! Será que as mais-valias e os anunciados 800 postos de trabalho a serem criados compensam os gastos envolvidos em comprar ainda mais direitos a emissões no quadro de Quioto?
Este é um extracto de artigo meu publicado na última edição do COURRIER INTERNACIONAL (27.1.06) e que já está também na ABA DA CAUSA.
Este é um extracto de artigo meu publicado na última edição do COURRIER INTERNACIONAL (27.1.06) e que já está também na ABA DA CAUSA.
A nova Política Europeia de Vizinhança e Cabo Verde
Publicado por
AG
Já está na ABA DA CAUSA o texto de uma intervenção que fiz no Plenário do PE no passado dia 18 de Janeiro defendendo que Cabo Verde deveria ser elegível para programas no âmbito da nova PEV.
Em resultado de uma boa articulação «cross party» entre deputados portugueses, conseguimos fazer aprovar emendas ao texto do Relatório Tannock pedindo à Comissão que se pronuncie sobre a aplicação da PEV a situações como a de Cabo Verde.
Em resultado de uma boa articulação «cross party» entre deputados portugueses, conseguimos fazer aprovar emendas ao texto do Relatório Tannock pedindo à Comissão que se pronuncie sobre a aplicação da PEV a situações como a de Cabo Verde.
Administração, Constituição e lei
Publicado por
Vital Moreira
No caso da tentativa de casamento de duas pessoas do mesmo sexo, contra o que dispõe o Código Civil, será que a autoridade administrativa (no caso o conservador de registo civil) pode deixar de aplicar a lei por alegada inconstitucionalidade da mesma?
Há quem entenda que sim, embora a questão seja assaz controversa, desde logo por a fiscalização administrativa da constitucionalidade das leis não estar prevista na Constituição, que só prevê a fiscalização pelos tribunais. Mas em geral quem defende essa posição limita esse poder a certas hipóteses especiais: inconstitucionalidade evidente, a norma já ter sido julgada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional, e outras semelhantes. É claro que nos casos de ausência de lei incumbe à Administração aplicar directamente a Constituição em relação às normas exequíveis sem necessidade de lei; mas, havendo lei, cumpre à Administração aplicá-la (com eventual ressalva das situações referidas), deixando para os tribunais a questão de saber se ela é ou não conforme à Constituição. É o que manda o princípio da separação de poderes e o princípio da legalidade da administração.
Há quem entenda que sim, embora a questão seja assaz controversa, desde logo por a fiscalização administrativa da constitucionalidade das leis não estar prevista na Constituição, que só prevê a fiscalização pelos tribunais. Mas em geral quem defende essa posição limita esse poder a certas hipóteses especiais: inconstitucionalidade evidente, a norma já ter sido julgada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional, e outras semelhantes. É claro que nos casos de ausência de lei incumbe à Administração aplicar directamente a Constituição em relação às normas exequíveis sem necessidade de lei; mas, havendo lei, cumpre à Administração aplicá-la (com eventual ressalva das situações referidas), deixando para os tribunais a questão de saber se ela é ou não conforme à Constituição. É o que manda o princípio da separação de poderes e o princípio da legalidade da administração.
Paridade
Publicado por
Vital Moreira
Cumprindo o seu compromisso eleitoral, a nova presidente do Chile, Michle Bachelet, nomeou um governo com tantas ministras como ministros. O princípio da "paridade de género" no exercício de cargos políticos marca mais um ponto.
Homossexualidade e casamento
Publicado por
Vital Moreira
Eu, se fosse militante da causa do casamento de pessoas do mesmo sexo, não metia a Constituição "ao barulho". Porque nada garante que o Tribunal Constitucional venha a dar-lhes razão. Ora, se investem muito no argumento constitucional, e depois este falhar, ficam desarmados.
De facto, pode parecer evidente o argumento de que, ao proibir discriminações baseadas na orientação sexual, a Constituição torna necessariamente ilícita a norma do Código Civil que reserva o casamento para pessoas de sexo diferente; mas o que parece evidente nem sempre é concludente. Por um lado, para o Código Civil só interessa o género (que é uma questão biológica) e não a orientação sexual, pelo que não existe nenhuma discriminação directa com base na segunda; por outro lado, pode defender-se que a noção constitucional de casamento (art. 36º da CRP) pressupõe claramente uma união conjugal e a possibilidade de filhos comuns, o que não dá cobertura ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por isso, há mesmo quem entenda que o casamento entre pessoas do mesmo sexo não só não é constitucionalmente imposto como até é inconstitucional.
Na minha opinião, a melhor interpretação da Constituição é a de que ela não reconhece o casamento de pessoas do mesmo sexo, mas também não proíbe a lei de o reconhecer, ao abrigo da norma constitucional que permite a criação ou extensão de direitos por via legislativa.
Por isso, penso que para os interessados o melhor seria manter a questão no terreno político-legislativo, em vez de o colocar no foro constitucional, onde as hipóteses de êxito se me afiguram assaz problemáticas. A questão do casamento de pessoas do mesmo sexo deve ser decidida pelos deputados e não pelos juízes do Palácio Ratton, por muito que os primeiros gostassem de devolver a questão para os segundos.
Para não deixar dúvidas, devo dizer que, se eu fosse juiz do TC, não votaria a inconstitucionalidade do Código Civil; mas, se fosse deputado, votaria a favor da sua alteração.
De facto, pode parecer evidente o argumento de que, ao proibir discriminações baseadas na orientação sexual, a Constituição torna necessariamente ilícita a norma do Código Civil que reserva o casamento para pessoas de sexo diferente; mas o que parece evidente nem sempre é concludente. Por um lado, para o Código Civil só interessa o género (que é uma questão biológica) e não a orientação sexual, pelo que não existe nenhuma discriminação directa com base na segunda; por outro lado, pode defender-se que a noção constitucional de casamento (art. 36º da CRP) pressupõe claramente uma união conjugal e a possibilidade de filhos comuns, o que não dá cobertura ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por isso, há mesmo quem entenda que o casamento entre pessoas do mesmo sexo não só não é constitucionalmente imposto como até é inconstitucional.
Na minha opinião, a melhor interpretação da Constituição é a de que ela não reconhece o casamento de pessoas do mesmo sexo, mas também não proíbe a lei de o reconhecer, ao abrigo da norma constitucional que permite a criação ou extensão de direitos por via legislativa.
Por isso, penso que para os interessados o melhor seria manter a questão no terreno político-legislativo, em vez de o colocar no foro constitucional, onde as hipóteses de êxito se me afiguram assaz problemáticas. A questão do casamento de pessoas do mesmo sexo deve ser decidida pelos deputados e não pelos juízes do Palácio Ratton, por muito que os primeiros gostassem de devolver a questão para os segundos.
Para não deixar dúvidas, devo dizer que, se eu fosse juiz do TC, não votaria a inconstitucionalidade do Código Civil; mas, se fosse deputado, votaria a favor da sua alteração.
terça-feira, 31 de janeiro de 2006
O ministro das Finanças vai permitir isto?
Publicado por
Vital Moreira
Do "Jornal de Negócios" de hoje:
«BCP dá condições preferenciais a funcionários das Finanças
O BCP celebrou este mês um protocolo com as Finanças que prevê condições mais favoráveis para os funcionários deste ministério, soube o Jornal de Negócios. O acordo abrange cerca de 12 mil potenciais clientes, uma vez que inclui os organismos públicos sob a alçada deste ministério.»
Não existe um código de ética da administração fiscal?
«BCP dá condições preferenciais a funcionários das Finanças
O BCP celebrou este mês um protocolo com as Finanças que prevê condições mais favoráveis para os funcionários deste ministério, soube o Jornal de Negócios. O acordo abrange cerca de 12 mil potenciais clientes, uma vez que inclui os organismos públicos sob a alçada deste ministério.»
Não existe um código de ética da administração fiscal?
domingo, 29 de janeiro de 2006
Criticar não é insultar
Publicado por
AG
No programa "O eixo do mal» na SIC Noticias da noite de ontem, a propósito de hipotéticos insultos ao Presidente Jorge Sampaio, José Júdice disse que eu tinha organizado uma manifestação contra o Presidente em Belém.
José Judice está enganado - é completamente falso que eu alguma vez tenha sequer participado e muito menos organizado uma manifestação contra Jorge Sampaio. E muito menos me passaria pela cabeça insultar um Presidente que respeito, apesar de discordar de algumas das suas mais importantes decisões. Ainda por cima tratando-se de Jorge Sampaio, de quem o meu marido é muito amigo e foi Chefe da Casa Civil e de quem ainda sou amiga - apesar de irremediavelmente desgostada.
O que eu fiz foi criticar duramente o Presidente Jorge Sampaio por ter decidido, depois de semanas de excruciante hesitação, aceitar o desastroso esquema que lhe foi proposto por Durão Barroso quando preferiu a Comissão em Bruxelas, ao optar por dar posse a seguir a Santana Lopes, em vez de dissolver logo o Parlamento. Tanto mais que essa opção implicou, como o Presidente Jorge Sampaio bem anteciparia, em protesto a demissão de Secretário-Geral do PS do seu velho amigo Ferro Rodrigues, que acabara de conduzir o PS nas eleições europeias obtendo 45% dos votos, apesar da mais pérfida campanha de demolição pessoal sobre ele lançada a pretexto de acusações falsas no processo Casa Pia.
Eu não sofro diminuições face aos amigos e aos ditos poderosos - não deixo de criticar por ser amigo ou Presidente, se o erro é grave e irreparável.
Mas insultar, não insulto.
José Judice está enganado - é completamente falso que eu alguma vez tenha sequer participado e muito menos organizado uma manifestação contra Jorge Sampaio. E muito menos me passaria pela cabeça insultar um Presidente que respeito, apesar de discordar de algumas das suas mais importantes decisões. Ainda por cima tratando-se de Jorge Sampaio, de quem o meu marido é muito amigo e foi Chefe da Casa Civil e de quem ainda sou amiga - apesar de irremediavelmente desgostada.
O que eu fiz foi criticar duramente o Presidente Jorge Sampaio por ter decidido, depois de semanas de excruciante hesitação, aceitar o desastroso esquema que lhe foi proposto por Durão Barroso quando preferiu a Comissão em Bruxelas, ao optar por dar posse a seguir a Santana Lopes, em vez de dissolver logo o Parlamento. Tanto mais que essa opção implicou, como o Presidente Jorge Sampaio bem anteciparia, em protesto a demissão de Secretário-Geral do PS do seu velho amigo Ferro Rodrigues, que acabara de conduzir o PS nas eleições europeias obtendo 45% dos votos, apesar da mais pérfida campanha de demolição pessoal sobre ele lançada a pretexto de acusações falsas no processo Casa Pia.
Eu não sofro diminuições face aos amigos e aos ditos poderosos - não deixo de criticar por ser amigo ou Presidente, se o erro é grave e irreparável.
Mas insultar, não insulto.
sábado, 28 de janeiro de 2006
De 80 a 8 - e às armadilhas para o PS
Publicado por
AG
Como o episódio do aplauso às posições do deputado Duarte Lima demonstra, das (euro)minas às armadilhas a distância é mínima para o PS. Cuidado a pisar o tapete!
De 80 a 8 bis
Publicado por
AG
Eu também não concordo nada com o deputado Duarte Lima e a sua proposta de impedir escutas telefónicas como meios de investigação criminal (com devido e adequado controle judicial - que é o que tem faltado), em crimes de corrupção, tráfico de influências, fraudes fiscais e criminalidade económica em geral.
Mas o que mais inquieta no episódio é que, segundo a imprensa, ele terá sido longamente aplaudido por deputados de todos os partidos, excepto do PCP.
E um deputado do PS, Ricardo Rodrigues - por sinal o mesmo que se destacou no afã de dar por findas as audições no âmbito da comissão parlamentar de inquérito à gestão do caso Eurominas - segundo o «Público», «elogiou a 'eloquência', 'sapiência' e 'coragem' de Lima».
Assim se vê a sinergia do «centrão». «Et pour cause!...».
Mas o que mais inquieta no episódio é que, segundo a imprensa, ele terá sido longamente aplaudido por deputados de todos os partidos, excepto do PCP.
E um deputado do PS, Ricardo Rodrigues - por sinal o mesmo que se destacou no afã de dar por findas as audições no âmbito da comissão parlamentar de inquérito à gestão do caso Eurominas - segundo o «Público», «elogiou a 'eloquência', 'sapiência' e 'coragem' de Lima».
Assim se vê a sinergia do «centrão». «Et pour cause!...».
sexta-feira, 27 de janeiro de 2006
De 80 a 8
Publicado por
Vital Moreira
O deputado Duarte Lima propôs uma restrição drástica do uso de escutas telefónicas como meio de investigação criminal, que só seriam admissíveis em caso de «terrorismo organizado, de tráfico de droga e crimes de sangue».
Parece que foi muito aplaudido no parlamento. Por mim, não concordo. Seria passar de um excesso a outro, tornando praticamente ineficaz, por exemplo, a investigação dos crimes de corrupção, tráfico de influências, criminalidade económica, etc. Uma coisa é a necessidade de controlar a utilização das escutas e punir os abusos, outra coisa é privar as autoridades de investigação criminal e os tribunais de um meio imprescindível para a luta contra o crime.
Parece que foi muito aplaudido no parlamento. Por mim, não concordo. Seria passar de um excesso a outro, tornando praticamente ineficaz, por exemplo, a investigação dos crimes de corrupção, tráfico de influências, criminalidade económica, etc. Uma coisa é a necessidade de controlar a utilização das escutas e punir os abusos, outra coisa é privar as autoridades de investigação criminal e os tribunais de um meio imprescindível para a luta contra o crime.
Eurominas e armadilhas
Publicado por
AG
"O Partido Socialista recusou a continuação das audições na comissão de inquérito ao processo Eurominas..." - assim se inicia um artigo no «Público» de hoje.
Não será também por exasperação contra atitudes suspeitas de cobertura/encobrimento de negócios duvidosos e comportamentos anti-éticos que muitos militantes e mais de um milhão de eleitores do PS escolheram censurar ou ignorar o PS nas eleições presidenciais?
É por estas e por outras que eu não concordo que se varram para debaixo do tapete os erros cometidos no processo das presidenciais, obviamente no intuito de poupar ao pedido de contas os seus principais responsáveis. (E, repito, eu nunca disse que Manuel Alegre foi «o responsável», o único). Debaixo de tapetes podem esconder-se erros, euros, minas, eurominas... e também armadilhas explosivas e decepantes.
Não será também por exasperação contra atitudes suspeitas de cobertura/encobrimento de negócios duvidosos e comportamentos anti-éticos que muitos militantes e mais de um milhão de eleitores do PS escolheram censurar ou ignorar o PS nas eleições presidenciais?
É por estas e por outras que eu não concordo que se varram para debaixo do tapete os erros cometidos no processo das presidenciais, obviamente no intuito de poupar ao pedido de contas os seus principais responsáveis. (E, repito, eu nunca disse que Manuel Alegre foi «o responsável», o único). Debaixo de tapetes podem esconder-se erros, euros, minas, eurominas... e também armadilhas explosivas e decepantes.
Chirac à compita com Bush
Publicado por
AG
Em reuniões no PE esta semana, na Sub-comissão de Segurança e Defesa e na Comissão de Negócios Estrangeiros, interpelei a Presidência austríaca e a Comissão sobre a falta de reacções do Conselho (ou pelo menos de Javier Solana) e da Comissão relativamente às alarmantes declarações do Presidente Chirac no passado dia 19 ameaçando usar armas nucleares contra Estados que apoiassem o terrorismo.
Sublinhei que esta posição do Presidente francês punha em causa a Estratégia Europeia de Segurança, violava as obrigações da França à luz do Direito Internacional e era totalmente contraproducente relativamente ao objectivo da não-proliferação de ADM, em particular num momento em que a comunidade internacional se acha confrontada com as pretensões iranianas.
Sublinhei que esta posição do Presidente francês punha em causa a Estratégia Europeia de Segurança, violava as obrigações da França à luz do Direito Internacional e era totalmente contraproducente relativamente ao objectivo da não-proliferação de ADM, em particular num momento em que a comunidade internacional se acha confrontada com as pretensões iranianas.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2006
Hamas a mais
Publicado por
AG
"Grande questão: que fazer no caso de o Hamas vir a fazer parte do executivo palestiniano, ou mesmo só se aquela organização extremista se tornar numa das forças políticas principais nas instituições da Palestina? Dilema sério... Como lidar com um movimento que pretende islamizar a Palestina - uma sociedade árabe conhecida pela sua laicidade - e destruir Israel; um movimento que foi responsável por centenas de mortos civis em atentados suicidas.
...
Se é difícil imaginar o Hamas à mesa com Israel, pensem nas relações entre este país e a OLP nos anos 70: agora todos rezam em Tel Aviv para que a Fatah ganhe as eleições - como mudaram as coisas numa geração... Como dizia Robert Malley, director do programa do Médio Oriente do International Crisis Group em Bruxelas recentemente, não se admirem se daqui a uns anos - do nada - descobrirmos que Israel e o Hamas andavam há que tempos a dialogar e chegaram a uma plataforma negocial. Não temos que gostar deles para nos sentarmos a uma mesa com eles."
As lúcidas e oportunas considerações acima não são minhas (mas subscrevo). Estão na Boina Frígia (http://boinafrigia.blogspot.com/), e foram posted ontem, mesmo antes de se saber que as eleições palestinianas revelariam ainda mais Hamas do que já se esperava.
...
Se é difícil imaginar o Hamas à mesa com Israel, pensem nas relações entre este país e a OLP nos anos 70: agora todos rezam em Tel Aviv para que a Fatah ganhe as eleições - como mudaram as coisas numa geração... Como dizia Robert Malley, director do programa do Médio Oriente do International Crisis Group em Bruxelas recentemente, não se admirem se daqui a uns anos - do nada - descobrirmos que Israel e o Hamas andavam há que tempos a dialogar e chegaram a uma plataforma negocial. Não temos que gostar deles para nos sentarmos a uma mesa com eles."
As lúcidas e oportunas considerações acima não são minhas (mas subscrevo). Estão na Boina Frígia (http://boinafrigia.blogspot.com/), e foram posted ontem, mesmo antes de se saber que as eleições palestinianas revelariam ainda mais Hamas do que já se esperava.
O que dizem os outros (2): Manuel Alegre
Publicado por
Vital Moreira
«(...) A vitória e o milhão de votos servem para quê, ao certo? É provável que Manuel Alegre ainda não saiba bem, e só a ele compete decidir. O primeiro efeito que queria provocar, esgotou-se no acto eleitoral. E só continuará a produzir novos efeitos se Manuel Alegre deixar de acumular os cargos com a dissidência. De resto, a direita espera ansiosamente uma decisão sua, e espera que ele ajude a dar cabo do Partido Socialista, como Alegre muito bem sabe. O entalanço aumenta. E um Movimento de Cidadania pode precisar de filiados mas não precisa de deputados.» (Clara Ferreira Alves)
A minha visão das presidenciais
Publicado por
Vital Moreira
Está disponível na Aba da Causa o meu artigo no Público de 3ª feira sobre as eleições presidenciais, intitulado "Vencedores e vencidos".
Pelas reacções que recebi, há maus-ganhadores que acham que quando são eles a vencer, as eleições não se discutem. Apraz-me contrariá-los...
Pelas reacções que recebi, há maus-ganhadores que acham que quando são eles a vencer, as eleições não se discutem. Apraz-me contrariá-los...
quarta-feira, 25 de janeiro de 2006
Cidadania alargada
Publicado por
Vital Moreira
Antigamente o voto era reservado aos cidadãos residentes no território nacional. Nas últimas décadas, porém, deu-se um alargamento da cidadania para além do território nacional (voto dos emigrantes) e para além da nacionalidade (voto dos imigrantes). O primeiro está razoavelmente garantido entre nós (direito de voto dos emigrantes nas duas eleições de âmbito nacional, ou seja, legislativas e presidenciais). Já o mesmo não sucede com o voto dos imigrantes, ressalvado o caso do direito de voto dos cidadãos europeus nas eleições para o PE e para as autarquias locais e dos cidadãos lusófonos em todas as eleições, desde que satisfeito o requisito de reciprocidade. O mesmo vale em relação aos cidadãos de outros países residentes em Portugal, mas somente em relação às eleições locais.
Trata-se de um regime muito restritivo, sobretudo no que respeita ao requisito da reciprocidade, visto que muitos países de que os imigrantes são oriundos não vêem com bons olhos a integração dos seus nacionais nos países de destino, pelo que não estão disponíveis para colaborar nessa integração. Mas ela é do interesse dos países de residência, para ajudar a coesão social e política nacional. Importa afastar o requisito da reciprocidade e alargar as eleições em que os imigrantes com residência de longa duração podem participar. Por isso merece todo o aplauso o artigo do Alto Comissário para a Imigração e as Minorias Étnicas, no Público de hoje (link só para assinantes).
Trata-se de um regime muito restritivo, sobretudo no que respeita ao requisito da reciprocidade, visto que muitos países de que os imigrantes são oriundos não vêem com bons olhos a integração dos seus nacionais nos países de destino, pelo que não estão disponíveis para colaborar nessa integração. Mas ela é do interesse dos países de residência, para ajudar a coesão social e política nacional. Importa afastar o requisito da reciprocidade e alargar as eleições em que os imigrantes com residência de longa duração podem participar. Por isso merece todo o aplauso o artigo do Alto Comissário para a Imigração e as Minorias Étnicas, no Público de hoje (link só para assinantes).
terça-feira, 24 de janeiro de 2006
Trogloditas militares aqui ao lado?
Publicado por
AG
É o que nota o New York Times em editorial de hoje. O jornal chama a atenção para os sentimentos muito pouco democráticos, a bordejar o golpismo, ainda instalados nos quadros das forças armadas da nossa vizinha Espanha.
Sublinhando a firmeza com que Zapatero tem actuado a este propósito (um dos oficiais foi preso e expulso das Forças Armadas), o editorial lamenta que o partido da oposição, o Partido Popular, não tenha conseguido demarcar-se deste tipo de atitudes, optando por encontrar desculpas para o comportamento dos trogloditas militares em vez de defender a ordem democrática. O PP nunca recuperou da derrota eleitoral de 2004. Nunca aceitou a legitimidade democrática dessa votação. "Já é tempo do PP olhar para a frente" diz o NYT.
Sublinhando a firmeza com que Zapatero tem actuado a este propósito (um dos oficiais foi preso e expulso das Forças Armadas), o editorial lamenta que o partido da oposição, o Partido Popular, não tenha conseguido demarcar-se deste tipo de atitudes, optando por encontrar desculpas para o comportamento dos trogloditas militares em vez de defender a ordem democrática. O PP nunca recuperou da derrota eleitoral de 2004. Nunca aceitou a legitimidade democrática dessa votação. "Já é tempo do PP olhar para a frente" diz o NYT.
Chamem o Volker outra vez!
Publicado por
AG
Na América chegou o tempo de deitar contas ao que se gastou e se fez na reconstrução iraquiana. O resultado deste balanço, como se vinha antevendo, não pode ser mais desastroso. Para o Iraque e para a administração americana. Falta de pessoal habilitado, burocracia, lutas intestinas entre departamentos, secretismo, aumento constante dos custos de segurança, são apenas alguns dos epítetos do relatório oficial, ainda em fase de projecto, a que o New York Times teve acesso e hoje divulga.
É a primeira "história" oficial sobre o esforço de 25 milhares de milhão de dólares gastos pelo Governo americano no Iraque e pelas empresas envolvidas no "plano de reconstrução".
Ficou a saber-se que o planeamento da reconstrução do Iraque começou em segredo uns bons meses antes do início da guerra.
E confirmaram-se os interesses específicos neste processo da gigante Haliburton, empresa a que pertencia Dick Cheney antes de entrar para o governo de Bush.
Ainda a procissão vai no adro. Aguardemos o relatório definitivo.
E já agora para quando o relatório quanto à corrupção e desvio de fundos durante o governo liderado por Paul Bremer, de que a imprensa se tem feito eco? Porque não nomear Paul Volker, que conduziu o inquérito à ONU a propósito do programa "oil for food"?
É a primeira "história" oficial sobre o esforço de 25 milhares de milhão de dólares gastos pelo Governo americano no Iraque e pelas empresas envolvidas no "plano de reconstrução".
Ficou a saber-se que o planeamento da reconstrução do Iraque começou em segredo uns bons meses antes do início da guerra.
E confirmaram-se os interesses específicos neste processo da gigante Haliburton, empresa a que pertencia Dick Cheney antes de entrar para o governo de Bush.
Ainda a procissão vai no adro. Aguardemos o relatório definitivo.
E já agora para quando o relatório quanto à corrupção e desvio de fundos durante o governo liderado por Paul Bremer, de que a imprensa se tem feito eco? Porque não nomear Paul Volker, que conduziu o inquérito à ONU a propósito do programa "oil for food"?
Responsabilidades
Publicado por
AG
O DN de 23.1.06, na página 7 («A coabitação de Sócrates com ...Alegre») imputa-me incorrectamente a afirmação de que Manuel Alegre seria «o responsável pela derrota da esquerda». Na página 12, (em «Mário Soares: como mais uma vez demonstrei, não desisto de lutar») no entanto, já me atribui que «se se confirmar a derrota da esquerda, Manuel Alegre é responsável».
Esclareço: em momento algum eu disse ou quis dizer que Manuel Alegre é «o responsável», o único, pela derrota. Disse sim, e mantenho, que Manuel Alegre é «co-responsável», ou «também responsável». E, portanto, «responsável» pela derrota (e até me lembro de ter dito «e bem responsável»).
Mas ele há mais responsáveis.
E as responsabilidades várias, julgo eu, deveriam ser discutidas nos órgãos próprios do PS - incluindo por Manuel Alegre, que neles tem assento. Juntamente com as ilacções a retirar do significado - crítico ou mesmo de censura ao PS - de um milhão de portugueses (alguns militantes e a maior parte eleitorado normalmente socialista) ter votado Manuel Alegre, contra o candidato apoiado pela direcção do PS.
É que eu acho que reconhecer erros é fazer prova de sanidade democrática. E acredito que um partido democrático deve ser diferente de um albergue espanhol.
Esclareço: em momento algum eu disse ou quis dizer que Manuel Alegre é «o responsável», o único, pela derrota. Disse sim, e mantenho, que Manuel Alegre é «co-responsável», ou «também responsável». E, portanto, «responsável» pela derrota (e até me lembro de ter dito «e bem responsável»).
Mas ele há mais responsáveis.
E as responsabilidades várias, julgo eu, deveriam ser discutidas nos órgãos próprios do PS - incluindo por Manuel Alegre, que neles tem assento. Juntamente com as ilacções a retirar do significado - crítico ou mesmo de censura ao PS - de um milhão de portugueses (alguns militantes e a maior parte eleitorado normalmente socialista) ter votado Manuel Alegre, contra o candidato apoiado pela direcção do PS.
É que eu acho que reconhecer erros é fazer prova de sanidade democrática. E acredito que um partido democrático deve ser diferente de um albergue espanhol.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2006
Correio dos leitores: "Lições de democracia"
Publicado por
Vital Moreira
«Lições de democracia (dadas pelo povo soberano):
Para o PS - e em particular para o secretário-geral, eng José Sócrates: ter humildade para perceber o redondo engano em que se deixaram cair com o recurso à candidatura do dr Mário Soares. Ainda que se aceite que o dr Manuel Alegre pudesse não ser para o PS o melhor candidato ao cargo de PR, o recurso à figura patriarcal do dr Soares soou a tão desesperado que o eleitorado castigou forte e feio a "falta de recursos" de um partido que reclama ser o maior partido português, pluralista e tolerante, dando uma expressiva vantagem ao candidato enjeitado pelo partido do governo.
Para o dr Soares: ter humildade para saber quando a estrela começa a empalidecer (processo começado já na eleição para presidente do Parlamento Europeu) e é aconselhável dar o lugar aos mais novos (uma das vantagens da República em democracia também é poder alternar os eleitos, pelo menos do ponto de vista de quem elege). Uma vez que não temos em Portugal o equivalente à Câmara dos Lordes Britânica, esperemos que finalmente saiam para o prelo as famosas memórias há muito prometidas...
(...)»
Luís Malheiro
Para o PS - e em particular para o secretário-geral, eng José Sócrates: ter humildade para perceber o redondo engano em que se deixaram cair com o recurso à candidatura do dr Mário Soares. Ainda que se aceite que o dr Manuel Alegre pudesse não ser para o PS o melhor candidato ao cargo de PR, o recurso à figura patriarcal do dr Soares soou a tão desesperado que o eleitorado castigou forte e feio a "falta de recursos" de um partido que reclama ser o maior partido português, pluralista e tolerante, dando uma expressiva vantagem ao candidato enjeitado pelo partido do governo.
Para o dr Soares: ter humildade para saber quando a estrela começa a empalidecer (processo começado já na eleição para presidente do Parlamento Europeu) e é aconselhável dar o lugar aos mais novos (uma das vantagens da República em democracia também é poder alternar os eleitos, pelo menos do ponto de vista de quem elege). Uma vez que não temos em Portugal o equivalente à Câmara dos Lordes Britânica, esperemos que finalmente saiam para o prelo as famosas memórias há muito prometidas...
(...)»
Luís Malheiro
Correio dos leitores: Ilações
Publicado por
Vital Moreira
«Há que saber retirar algumas ilações do voto de 22 de Janeiro.
Em primeiro lugar, os eleitores que há onze meses deram a maioria absoluta ao PS, valorizaram a imagem de marca de Cavaco - o (pretenso) rigor e o conhecimento das questões económicas -, não dando crédito aos que antevêem algum perigo de instabilidade política. Compreende-se que assim tenha sido, já que o Primeiro-Ministro, pilar da actual maioria, não fez uma referência a este cenário.
Em segundo, parece inequívoco que os portugueses não quiseram conceder a Cavaco uma legitimidade plebiscitária, já que o resultado obtido não constitui o "raz-de-maré" que alguma direita reclamava, para assim desequilibrar a relação de poderes.
Em terceiro, os eleitores pretendem um Presidente que não tenha uma leitura minimalista dos seus poderes - como tantas vezes aconteceu com Sampaio - e chumbou quem se apresentou pela negativa e numa lógica de mera resistência, acima de tudo procurando barrar o caminho a Cavaco.
Em quarto, os cidadãos infligiram uma derrota pesada ao PS e a Mário Soares, assim manifestando incompreensão quer pelas circunstâncias que conduziram à divisão daquele quadrante, quer pelo regresso de Soares, já fora do seu tempo político. Um dia saberemos o que, verdadeiramente, se passou.
Em quinto lugar, os portugueses deram um sinal, mais uma vez, de cansaço face a quem tem uma existência e um discurso exclusivamente políticos. Neste sentido, estão em vantagem os que possuem créditos firmados noutras áreas da sociedade e que revelem alguma capacidade para mobilizar os cidadãos para objectivos mais concretos, com tradução na vida real. (...)
Algumas destas conclusões, inevitáveis, têm um sabor amargo. Desde logo, porque Mário Soares não nos parece merecedor do resultado que obteve. Será, pois, de enaltecer aqui a sua coragem, vitalidade e desprendimento inexcedíveis. Deve também assinalar-se que Manuel Alegre - que apoiei nas eleições internas do PS - não esteve, desta vez, à altura da sua obra e do seu percurso, cedendo ao populismo fácil do discurso "anti-aparelho". Face a tal discurso, sentar-se de novo na bancada parlamentar e nos órgãos do PS seria de uma insanável incoerência.
Mas a Direcção do Partido não é isenta de críticas. Quem assume o "mea culpa" pela estratégia prosseguida nas Autárquicas e nas Presidenciais? Por momentos, sou levado a pensar que o objectivo nem sempre foi vencer. São devidas explicações convincentes.
Aparte disso, o essencial é "abanar o Partido" e mobilizar o País para as reformas necessárias na sociedade. É que mal vai a democracia quando os Partidos se esgotem em si mesmos e não existam para responder às necessidades dos cidadãos.»
Eduardo Gravanita
Em primeiro lugar, os eleitores que há onze meses deram a maioria absoluta ao PS, valorizaram a imagem de marca de Cavaco - o (pretenso) rigor e o conhecimento das questões económicas -, não dando crédito aos que antevêem algum perigo de instabilidade política. Compreende-se que assim tenha sido, já que o Primeiro-Ministro, pilar da actual maioria, não fez uma referência a este cenário.
Em segundo, parece inequívoco que os portugueses não quiseram conceder a Cavaco uma legitimidade plebiscitária, já que o resultado obtido não constitui o "raz-de-maré" que alguma direita reclamava, para assim desequilibrar a relação de poderes.
Em terceiro, os eleitores pretendem um Presidente que não tenha uma leitura minimalista dos seus poderes - como tantas vezes aconteceu com Sampaio - e chumbou quem se apresentou pela negativa e numa lógica de mera resistência, acima de tudo procurando barrar o caminho a Cavaco.
Em quarto, os cidadãos infligiram uma derrota pesada ao PS e a Mário Soares, assim manifestando incompreensão quer pelas circunstâncias que conduziram à divisão daquele quadrante, quer pelo regresso de Soares, já fora do seu tempo político. Um dia saberemos o que, verdadeiramente, se passou.
Em quinto lugar, os portugueses deram um sinal, mais uma vez, de cansaço face a quem tem uma existência e um discurso exclusivamente políticos. Neste sentido, estão em vantagem os que possuem créditos firmados noutras áreas da sociedade e que revelem alguma capacidade para mobilizar os cidadãos para objectivos mais concretos, com tradução na vida real. (...)
Algumas destas conclusões, inevitáveis, têm um sabor amargo. Desde logo, porque Mário Soares não nos parece merecedor do resultado que obteve. Será, pois, de enaltecer aqui a sua coragem, vitalidade e desprendimento inexcedíveis. Deve também assinalar-se que Manuel Alegre - que apoiei nas eleições internas do PS - não esteve, desta vez, à altura da sua obra e do seu percurso, cedendo ao populismo fácil do discurso "anti-aparelho". Face a tal discurso, sentar-se de novo na bancada parlamentar e nos órgãos do PS seria de uma insanável incoerência.
Mas a Direcção do Partido não é isenta de críticas. Quem assume o "mea culpa" pela estratégia prosseguida nas Autárquicas e nas Presidenciais? Por momentos, sou levado a pensar que o objectivo nem sempre foi vencer. São devidas explicações convincentes.
Aparte disso, o essencial é "abanar o Partido" e mobilizar o País para as reformas necessárias na sociedade. É que mal vai a democracia quando os Partidos se esgotem em si mesmos e não existam para responder às necessidades dos cidadãos.»
Eduardo Gravanita
Aqui entre nós...
Publicado por
Vital Moreira
...creio bem que para o PS e Sócrates foi preferível esta vitória fraca de Cavaco Silva à 1ª volta do que uma 2ª volta sem hipóteses de sucesso entre Cavaco e Alegre. Primeiro, porque, o resultado seria seguramente uma vitória muito menos apertada de Cavaco, reforçando o seu peso político; depois, porque para o PS e muitos votantes soaristas seria insuportável o constrangimento de ter de apoiar o candidato que se apresentou contra o partido e ajudou à pesada derrota do seu candidato oficial. Do mal, o menos...
Uma vitória fraca
Publicado por
Vital Moreira
A vitória de Cavaco Silva é obviamente inatacável sob o ponto de vista da sua legitimidade democrática. Mas é uma vitória politicamente fraca. Foi uma vitória à tangente, a mais magra de todos presidentes até agora; foi uma vitória assente numa forte abstenção, principalmente no campo socialista; foi uma vitória em queda acentuada, ficando a anos-luz das expectativas de vitória esmagadora do início (basta reler os bloggers e colunistas do campo cavaquista de há umas semanas). Dá a impressão de que com mais uns dias de campanha e a vitória escaparia.
Esta vitória fraca não lhe deixa grande margem para o intervencionismo presidencial que ele e os seus apoiantes acalentavam. Se a política tivesse lógica, seria de esperar uma moderação dos propósitos de activismo presidencial do candidato eleito. Tal como Mário Soares no seu primeiro mandato, o mais lógico seria uma presidência contida, sem obstaculizar o governo de Sócrates, esperando tirar proveito próprio do previsível sucesso deste na superação da crise económica e financeira. Mas será que Cavaco Silva é previsível?
Esta vitória fraca não lhe deixa grande margem para o intervencionismo presidencial que ele e os seus apoiantes acalentavam. Se a política tivesse lógica, seria de esperar uma moderação dos propósitos de activismo presidencial do candidato eleito. Tal como Mário Soares no seu primeiro mandato, o mais lógico seria uma presidência contida, sem obstaculizar o governo de Sócrates, esperando tirar proveito próprio do previsível sucesso deste na superação da crise económica e financeira. Mas será que Cavaco Silva é previsível?
A abstenção que venceu
Publicado por
Vital Moreira
Cavaco Silva ganhou com a menor margem de sempre (0,6%), em todas as eleições presidenciais até agora. E ganha com a maior taxa de abstenção registada na primeira eleição de um candidato (só ultrapassada nas reeleições de Soares e de Sampaio, quando o desfecho da eleição não estava em causa). A junção das duas coisas com uma outra quase certa -- a abstenção deve-se sobretudo ao eleitorado de esquerda -- torna claro que a esquerda só pode queixar-se de si mesma. Perdeu por falta de comparência de uma parte dos seus...
Despromoção
Publicado por
Vital Moreira
O problema com Cavaco Silva não é só ele ser o primeiro presidente oriundo da direita política, nem o enigma sobre a sua prática presidencial. É ele suceder a quem sucede: 10 anos de um presidente maior do que o País (Mário Soares); 10 anos de um dos presidentes mais cultos e "aristocratas"(no verdadeiro sentido da noção) que já tivemos (Jorge Sampaio). Ter agora um presidente que não ultrapassa os limites de uma cultura economista e tecnocrática é uma enorme sensação de despromoção...
sábado, 21 de janeiro de 2006
PGR na AR
Publicado por
AG
Surpresa? Não.
Apenas a reter e não esquecer: PSD e PCP aliaram-se na defesa deste PGR.
Apenas a reter e não esquecer: PSD e PCP aliaram-se na defesa deste PGR.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2006
Correio dos leitores: "Presidenciais da instabilidade"
Publicado por
Vital Moreira
«Relativamente às eleições presidenciais, gostaria de referir alguns aspectos que considero relevantes:
1) Estamos perante um acto eleitoral que visa eleger um dos seis candidatos para o cargo de Presidente da República e não um Governo ou um Primeiro-Ministro. Porém, muitos ainda ignoram os poderes presidenciais e confundem os cargos;
2) Para uma melhor decisão, deveremos olhar para o cargo e, tendo em atenção o que esse cargo representa e os poderes que o Presidente pode exercer, escolher qual dos candidatos que, no nosso entender, melhor pode servir o país e mais garantias nos dá de exercer correctamente os poderes que lhe são conferidos pela Constituição. Porém, muitos insistem em escolher primeiro o candidato que mais agrada e só depois "escolhemos" e pensamos que poderes melhor se encaixam nesse candidato (há até quem fale em mudar para um regime presidencialista);
3) Tendo em conta os poderes que podem ser exercidos, considero que nenhum dos candidatos tem o perfil necessário, neste momento, para ser Presidente, nem me transmite garantias de estabilidade. Garcia Pereira, Francisco Louça e Jerónimo de Sousa representam uma oposição frontal a este Governo e o cargo presidencial seria um meio para fazerem oposição, levando inevitavelmente a um conflito institucional e grave. Manuel Alegre leva a cabo uma "vendetta" política por não ter sido escolhido pelo PS, o que provocaria, de igual modo, um conflito entre ele e o Governo. Mário Soares durante dez anos mostrou virtudes como Presidente mas parece-me já sem todas as condições para exercer cabalmente o cargo. Cavaco Silva e ao contrário do que muitos pretendem fazer crer, não será um pacificador nem colaborará ou ajudará este Governo. Basta ouvir as suas afirmações para se perceber que tentará impor as suas ideias, sobretudo as económico-financeiras, ao Governo, imiscuindo-se nas suas competências reservadas. Se este não as aceitar, teremos também um gravíssimo conflito ou, nas palavras do revoltado mas lúcido Santana Lopes, "um sarilho institucional".
4) Olhando para os seis candidatos que se me apresentam, mais fico convencido que quem melhor poderia exercer o cargo presidencial e os poderes que lhe são atrbuídos, seria, pelo seu perfil, pela sua experiência, pelo seu percurso político e moderação, o Prof. Dr. Diogo Freitas do Amaral. Até esteve para avançar, pena não ter tido apoios partidários...
5) Há quem diga demagogicamente que Cavaco Silva será, dos seis candidatos, aquele que melhor compreenderá e mais colaborará com este Governo. Só um distraído vai na cantiga. Se assim fosse, não diria que "o país está sem rumo" nem que iria propor ao Governo alterações à política que está a seguir.
6) Por último, diz-se que uma das razões de as sondagens darem uma vitória folgada a Cavaco Silva prende-se com um descontentamento em relação às medidas do Governo. Não me parece lógico, pois se tal fosse verdade as sondagens que periodicamente são realizadas não mostrariam um PS mantendo as percentagens nem a vantagem sobre o PSD que conseguiu nas últimas eleições legislativas. Nem Cavaco teria sondagens tão animadoras, pois é visto (enganadoramente) como um apoiante das medidas deste Governo. É uma questão de lógica, que muitos ignoram, com claras intenções político-partidárias.
Só me resta dizer que, quem quer que venha a ser o próximo Presidente, este Governo terá que ser bastante coeso, determinado e corajoso, como tem sido até ao momento.»
(Ricardo Sardo)
1) Estamos perante um acto eleitoral que visa eleger um dos seis candidatos para o cargo de Presidente da República e não um Governo ou um Primeiro-Ministro. Porém, muitos ainda ignoram os poderes presidenciais e confundem os cargos;
2) Para uma melhor decisão, deveremos olhar para o cargo e, tendo em atenção o que esse cargo representa e os poderes que o Presidente pode exercer, escolher qual dos candidatos que, no nosso entender, melhor pode servir o país e mais garantias nos dá de exercer correctamente os poderes que lhe são conferidos pela Constituição. Porém, muitos insistem em escolher primeiro o candidato que mais agrada e só depois "escolhemos" e pensamos que poderes melhor se encaixam nesse candidato (há até quem fale em mudar para um regime presidencialista);
3) Tendo em conta os poderes que podem ser exercidos, considero que nenhum dos candidatos tem o perfil necessário, neste momento, para ser Presidente, nem me transmite garantias de estabilidade. Garcia Pereira, Francisco Louça e Jerónimo de Sousa representam uma oposição frontal a este Governo e o cargo presidencial seria um meio para fazerem oposição, levando inevitavelmente a um conflito institucional e grave. Manuel Alegre leva a cabo uma "vendetta" política por não ter sido escolhido pelo PS, o que provocaria, de igual modo, um conflito entre ele e o Governo. Mário Soares durante dez anos mostrou virtudes como Presidente mas parece-me já sem todas as condições para exercer cabalmente o cargo. Cavaco Silva e ao contrário do que muitos pretendem fazer crer, não será um pacificador nem colaborará ou ajudará este Governo. Basta ouvir as suas afirmações para se perceber que tentará impor as suas ideias, sobretudo as económico-financeiras, ao Governo, imiscuindo-se nas suas competências reservadas. Se este não as aceitar, teremos também um gravíssimo conflito ou, nas palavras do revoltado mas lúcido Santana Lopes, "um sarilho institucional".
4) Olhando para os seis candidatos que se me apresentam, mais fico convencido que quem melhor poderia exercer o cargo presidencial e os poderes que lhe são atrbuídos, seria, pelo seu perfil, pela sua experiência, pelo seu percurso político e moderação, o Prof. Dr. Diogo Freitas do Amaral. Até esteve para avançar, pena não ter tido apoios partidários...
5) Há quem diga demagogicamente que Cavaco Silva será, dos seis candidatos, aquele que melhor compreenderá e mais colaborará com este Governo. Só um distraído vai na cantiga. Se assim fosse, não diria que "o país está sem rumo" nem que iria propor ao Governo alterações à política que está a seguir.
6) Por último, diz-se que uma das razões de as sondagens darem uma vitória folgada a Cavaco Silva prende-se com um descontentamento em relação às medidas do Governo. Não me parece lógico, pois se tal fosse verdade as sondagens que periodicamente são realizadas não mostrariam um PS mantendo as percentagens nem a vantagem sobre o PSD que conseguiu nas últimas eleições legislativas. Nem Cavaco teria sondagens tão animadoras, pois é visto (enganadoramente) como um apoiante das medidas deste Governo. É uma questão de lógica, que muitos ignoram, com claras intenções político-partidárias.
Só me resta dizer que, quem quer que venha a ser o próximo Presidente, este Governo terá que ser bastante coeso, determinado e corajoso, como tem sido até ao momento.»
(Ricardo Sardo)
quarta-feira, 18 de janeiro de 2006
A minha Presidente
Publicado por
Anónimo
A globalização tem destas coisas. Aproxima-nos mais das dores e das alegrias dos outros. Das suas derrotas e da suas vitórias. Dos seus candidatos a presidente ou a primeiro-ministro. Já se torna frequente nas eleições americanas esperarmos pelos resultados com tanta ansiedade como se fosse o nosso presidente (sabe-se lá porquê!).
Domingo o meu coração estava no Chile. E finalmente a notícia no ecran: Michelle Bachelet vence na segunda volta. Pela sua experiência de governação, pela coragem da sua vida, pela sua postura e pela sua campanha ela tornou-se a Minha Presidente. Pela segunda vez na vida festejei as eleições chilenas. Este domingo não «choveu em Santiago».
Domingo o meu coração estava no Chile. E finalmente a notícia no ecran: Michelle Bachelet vence na segunda volta. Pela sua experiência de governação, pela coragem da sua vida, pela sua postura e pela sua campanha ela tornou-se a Minha Presidente. Pela segunda vez na vida festejei as eleições chilenas. Este domingo não «choveu em Santiago».
PE não aceita acordo sobre perspectivas financeiras
Publicado por
AG
Dentro de uma hora, no Plenário do Parlamento Europeu, votarei a favor de uma resolução que rejeita na sua forma actual o acordo sobre perspectivas financeiras alcançado no último Conselho Europeu.
Na declaração de voto que abaixo transcrevo explico porquê e sugiro meios de se ultrapassar rapidamente o impasse:
"O PE tem não só direito, mas verdadeira obrigação, de exercer as suas competências de co-decisão no processo de definição das perspectivas financeiras para o período 2007-2013, que devem permitir relançar o crescimento e o emprego por toda a Europa.
Em Dezembro último, o Conselho ignorou este direito/obrigação e esqueceu que precisava do PE para assinar o Acordo Inter-Institucional indispensável para a entrada em vigor do orçamento plurianual.
Mais grave ainda, o Conselho esqueceu-se também de assegurar o financiamento de políticas centrais para a aplicação da Estratégia de Lisboa e para a actuação responsável da Europa no mundo. Além do insuficiente tecto orçamental que determinou, contra a proposta da Comissão, o Conselho preferiu distribuir dinheiro pelos Estados Membros numa lógica merceeira e nacionalista de "retorno".
Em consequência, a Comissão acha-se sem recursos para financiar políticas de cidadania, incidindo em particular sobre a juventude, a educação, a pesquisa e o desenvolvimento, a cultura; para financiar o Fundo de Ajustamento à Globalização, tão apregoado pelo Presidente Barroso; e ainda para financiar compromissos assumidos (designadamente pelo Conselho) no quadro da acção externa da União, incluindo missões de paz e a contra-proliferação de armas de destruição maciça.
Por isso votei a favor desta resolução em que o PE rejeita o Acordo na sua presente forma e exige o início de um processo negocial para encontrar os recursos que faltam..
O Conselho deve por isso mandatar a Presidência austríaca para negociar com o PE reservas de flexibilidade que permitam garantir os recursos necessários para financiar todas as políticas europeias deixadas "descalças" pelo Conselho. E para acordar numa clausula de revisão que permita em 2008 não apenas revisitar as despesas - incluindo um mais acelerado desvio de recursos da PAC para políticas de competitividade e inovação - mas também reconsiderar os próprios recursos orçamentais da União.
Não se trata de reabrir o acordado em Bruxelas em Dezembro. Mas antes de o suplementar com os meios necessários para financiar políticas e acções indispensáveis para uma Europa mais coesa e competitiva e mais responsável e credível como actor global".
Na declaração de voto que abaixo transcrevo explico porquê e sugiro meios de se ultrapassar rapidamente o impasse:
"O PE tem não só direito, mas verdadeira obrigação, de exercer as suas competências de co-decisão no processo de definição das perspectivas financeiras para o período 2007-2013, que devem permitir relançar o crescimento e o emprego por toda a Europa.
Em Dezembro último, o Conselho ignorou este direito/obrigação e esqueceu que precisava do PE para assinar o Acordo Inter-Institucional indispensável para a entrada em vigor do orçamento plurianual.
Mais grave ainda, o Conselho esqueceu-se também de assegurar o financiamento de políticas centrais para a aplicação da Estratégia de Lisboa e para a actuação responsável da Europa no mundo. Além do insuficiente tecto orçamental que determinou, contra a proposta da Comissão, o Conselho preferiu distribuir dinheiro pelos Estados Membros numa lógica merceeira e nacionalista de "retorno".
Em consequência, a Comissão acha-se sem recursos para financiar políticas de cidadania, incidindo em particular sobre a juventude, a educação, a pesquisa e o desenvolvimento, a cultura; para financiar o Fundo de Ajustamento à Globalização, tão apregoado pelo Presidente Barroso; e ainda para financiar compromissos assumidos (designadamente pelo Conselho) no quadro da acção externa da União, incluindo missões de paz e a contra-proliferação de armas de destruição maciça.
Por isso votei a favor desta resolução em que o PE rejeita o Acordo na sua presente forma e exige o início de um processo negocial para encontrar os recursos que faltam..
O Conselho deve por isso mandatar a Presidência austríaca para negociar com o PE reservas de flexibilidade que permitam garantir os recursos necessários para financiar todas as políticas europeias deixadas "descalças" pelo Conselho. E para acordar numa clausula de revisão que permita em 2008 não apenas revisitar as despesas - incluindo um mais acelerado desvio de recursos da PAC para políticas de competitividade e inovação - mas também reconsiderar os próprios recursos orçamentais da União.
Não se trata de reabrir o acordado em Bruxelas em Dezembro. Mas antes de o suplementar com os meios necessários para financiar políticas e acções indispensáveis para uma Europa mais coesa e competitiva e mais responsável e credível como actor global".
terça-feira, 17 de janeiro de 2006
Socialistas por governos paritários
Publicado por
AG
No sul da Europa, Zapatero indicou o caminho. Agora é a recentemente eleita presidente do Chile, Michelle Bachelet, que anuncia a formação de um governo paritário no seu país.Decididamente algo está a mudar nos políticos, que percebem finalmente que as mentalidades mudaram e que os cidadãos já não querem que se continuem a perder os talentos das mulheres na vida política. Os preconceitos, se os há contra a competência das mulheres, estão na cabeça de certos políticos, não dos eleitores.
Zapatero e Michelle perceberam isto mesmo. Os eleitores hoje em dia querem uma participação das mulheres em cargos de direcção política em igualdade com os homens.
Quem não percebe isto é parolo - não percebe o que se passa no Mundo.
Na Alemanha, a Chanceler Merkel, para já, surpreende pela positiva.
Em África, na Libéria, uma mulher, Ellen Johnson Sirleaf, foi eleita para a presidência. Nos Estados Unidos veremos o que trará o futuro, tudo apontando para um combate político entre duas mulheres para suceder a Bush: Hillary e Condollezza. Em Portugal, o que eu queria, como socialista, é que fossem os políticos da minha família política a já ter percebido ou estar rapidamente a apreender esta realidade. Em coerência com o historial socialista na luta política em defesa da igualdade.
Os socialistas Zapatero e Michelle, em países nada nórdicos, dão exemplo.
Por quê continuar a cultivar a parolice aqui em Portugal?
Zapatero e Michelle perceberam isto mesmo. Os eleitores hoje em dia querem uma participação das mulheres em cargos de direcção política em igualdade com os homens.
Quem não percebe isto é parolo - não percebe o que se passa no Mundo.
Na Alemanha, a Chanceler Merkel, para já, surpreende pela positiva.
Em África, na Libéria, uma mulher, Ellen Johnson Sirleaf, foi eleita para a presidência. Nos Estados Unidos veremos o que trará o futuro, tudo apontando para um combate político entre duas mulheres para suceder a Bush: Hillary e Condollezza. Em Portugal, o que eu queria, como socialista, é que fossem os políticos da minha família política a já ter percebido ou estar rapidamente a apreender esta realidade. Em coerência com o historial socialista na luta política em defesa da igualdade.
Os socialistas Zapatero e Michelle, em países nada nórdicos, dão exemplo.
Por quê continuar a cultivar a parolice aqui em Portugal?
Obviamente Mário Soares
Publicado por
AG
Porque Portugal precisa de um Presidente da República que o represente bem no mundo. Que ajude a projectar uma imagem progressista do país - dos portugueses que não escondem problemas, atrasos ou desvios, sem soçobrar na lamúria, com consciência histórica das capacidades que têm para procurar soluções sustentáveis.
Cá dentro, um tal Presidente incentivará a auto-estima de que os portugueses carecem para enfrentar os desafios do desenvolvimento económico e da competitividade internacional. Ao contrário de quem só sabe prometer oásis ou agitar o fantasma da crise: assim se propagandeou o «Portugal de tanga», transformando a profecia em realidade.
Portugal precisa na Presidência da República de um defensor dos Direitos Humanos, do Estado de Direito democrático e do Direito Internacional. Com cultura política humanista e internacionalista. Com coragem e ousadia. De quem queira contribuir para controlar a globalização, por um mundo melhor, mais justo e mais seguro para todos, aproveitando as oportunidades extraordinárias, mas também intuindo a voragem desreguladora que alarga o fosso entre ricos e pobres, entre quem progride e quem se sente excluido. Para isso é preciso ser europeista e saber trabalhar em articulação com parceiros e aliados: sem complexos, tanto para afirmar uma visão portuguesa, como para liderar a sua transformação para responder a novos desafios.
Portugal precisa de um Presidente atento às questões que interpelam a sociedade, por incómodas ou dilemáticas que sejam. Que tenha ideias e capacidade de as expressar, curiosidade intelectual e sensibilidade social e cultural. Um Presidente que sempre tenha lido livros, jornais e revistas, oiça rádio, vá ao teatro e a exposições, veja telejornais e hoje até espreite blogues.
Não serve quem se contente em engulir títulos da imprensa em pastilha liofilizada. Quem julgue compensar a limitação de horizontes escudando-se atrás de consultores, conselheiros, aconselhadores e assessores, muitos de interesses duvidosos e revanchismo garantido. Quem tenha um dia sugerido que nunca tinha dúvidas e raramente se enganava. Quem vista farpela tecnocrata, disfarce falhas de relacionamento em rodomas académicas, dissimule impulsões de governar e recorra à hibernação durante anos para não se expôr e para adensar calculadamente o mito do salvador.
Portugal precisa de um Presidente que não se abstenha de intervir. Não para bloquear quem governa e fomentar conflitos institucionais. Mas para exercer a «magistratura de influência» com que os portugueses o investem ao elegê-lo. Para incentivar, alertar ou fazer ponderar quem governa. Para desentorpecer a consciência colectiva. Para ajudar a derimir conflitos, moderar disputas ou enfrentar desafios civilizacionais.
Um Presidente que intervenha, mas não para se substituir ao governo. Não para ditar estratégias ou inventar Secretários de Estado... Antes para ajudar a persuadir o governo, a máquina da administração pública, os empresários e os trabalhadores portugueses que é também cá que é preciso investir para compensar deslocalizações gananciosas, é aqui que é preciso inovar, instruir, qualificar, criar postos de trabalho, racionalizar processos burocráticos e administrativos, inventar e usar novas tecnologias, desenvolver o conhecimento científico e a partir de Portugal descobrir novos mercados exteriores, diversificar produções, serviços e estratégias comerciais, criar mais riqueza e re-investir para tornar a sociedade mais equilibrada e justa.
Um Presidente que intervenha não para exercer poderes que não tem. Mas psicologicamente apetrechado para exercer todos os que tem, segundo a Constituição, para defender a Democracia, o Estado de Direito e o regular funcionamento das instituições democráticas. Integralmente, no tempo certo, sem angústias paralizantes, sem tergiversações debilitantes, ouvindo quem tiver de ouvir.
Em suma: Portugal precisa de um Presidente da República que exerça as competências que a Constituição lhe atribui e deixe o Primeiro Ministro governar durante toda a legislatura, como decidido pelo povo em Fevereiro. Um Presidente que não crie mais factores de crispação na sociedade portuguesa. Um Presidente que não dê alibis ao primeiro governo socialista com maioria absoluta no que respeita à obrigação de governar bem Portugal. Mário Soares reune obviamente todas as qualidades para ser esse Presidente. Provou-o em 10 anos de exercício. E não lhe falta vitalidade, como demonstrou calcorreando de novo o país de lés a lés e nos debates televisionados.
Mário Soares nada tem a ganhar com a Presidência: prestígio nacional e internacional, reconhecimento histórico, nada mais um mandato lhe acrescenta. Pelo contrário, arrisca perder. Corre porque nunca parou. Corre porque está vivo. Corre porque entende, e bem, que Portugal ainda precisa dele.
Ana Gomes
Cá dentro, um tal Presidente incentivará a auto-estima de que os portugueses carecem para enfrentar os desafios do desenvolvimento económico e da competitividade internacional. Ao contrário de quem só sabe prometer oásis ou agitar o fantasma da crise: assim se propagandeou o «Portugal de tanga», transformando a profecia em realidade.
Portugal precisa na Presidência da República de um defensor dos Direitos Humanos, do Estado de Direito democrático e do Direito Internacional. Com cultura política humanista e internacionalista. Com coragem e ousadia. De quem queira contribuir para controlar a globalização, por um mundo melhor, mais justo e mais seguro para todos, aproveitando as oportunidades extraordinárias, mas também intuindo a voragem desreguladora que alarga o fosso entre ricos e pobres, entre quem progride e quem se sente excluido. Para isso é preciso ser europeista e saber trabalhar em articulação com parceiros e aliados: sem complexos, tanto para afirmar uma visão portuguesa, como para liderar a sua transformação para responder a novos desafios.
Portugal precisa de um Presidente atento às questões que interpelam a sociedade, por incómodas ou dilemáticas que sejam. Que tenha ideias e capacidade de as expressar, curiosidade intelectual e sensibilidade social e cultural. Um Presidente que sempre tenha lido livros, jornais e revistas, oiça rádio, vá ao teatro e a exposições, veja telejornais e hoje até espreite blogues.
Não serve quem se contente em engulir títulos da imprensa em pastilha liofilizada. Quem julgue compensar a limitação de horizontes escudando-se atrás de consultores, conselheiros, aconselhadores e assessores, muitos de interesses duvidosos e revanchismo garantido. Quem tenha um dia sugerido que nunca tinha dúvidas e raramente se enganava. Quem vista farpela tecnocrata, disfarce falhas de relacionamento em rodomas académicas, dissimule impulsões de governar e recorra à hibernação durante anos para não se expôr e para adensar calculadamente o mito do salvador.
Portugal precisa de um Presidente que não se abstenha de intervir. Não para bloquear quem governa e fomentar conflitos institucionais. Mas para exercer a «magistratura de influência» com que os portugueses o investem ao elegê-lo. Para incentivar, alertar ou fazer ponderar quem governa. Para desentorpecer a consciência colectiva. Para ajudar a derimir conflitos, moderar disputas ou enfrentar desafios civilizacionais.
Um Presidente que intervenha, mas não para se substituir ao governo. Não para ditar estratégias ou inventar Secretários de Estado... Antes para ajudar a persuadir o governo, a máquina da administração pública, os empresários e os trabalhadores portugueses que é também cá que é preciso investir para compensar deslocalizações gananciosas, é aqui que é preciso inovar, instruir, qualificar, criar postos de trabalho, racionalizar processos burocráticos e administrativos, inventar e usar novas tecnologias, desenvolver o conhecimento científico e a partir de Portugal descobrir novos mercados exteriores, diversificar produções, serviços e estratégias comerciais, criar mais riqueza e re-investir para tornar a sociedade mais equilibrada e justa.
Um Presidente que intervenha não para exercer poderes que não tem. Mas psicologicamente apetrechado para exercer todos os que tem, segundo a Constituição, para defender a Democracia, o Estado de Direito e o regular funcionamento das instituições democráticas. Integralmente, no tempo certo, sem angústias paralizantes, sem tergiversações debilitantes, ouvindo quem tiver de ouvir.
Em suma: Portugal precisa de um Presidente da República que exerça as competências que a Constituição lhe atribui e deixe o Primeiro Ministro governar durante toda a legislatura, como decidido pelo povo em Fevereiro. Um Presidente que não crie mais factores de crispação na sociedade portuguesa. Um Presidente que não dê alibis ao primeiro governo socialista com maioria absoluta no que respeita à obrigação de governar bem Portugal. Mário Soares reune obviamente todas as qualidades para ser esse Presidente. Provou-o em 10 anos de exercício. E não lhe falta vitalidade, como demonstrou calcorreando de novo o país de lés a lés e nos debates televisionados.
Mário Soares nada tem a ganhar com a Presidência: prestígio nacional e internacional, reconhecimento histórico, nada mais um mandato lhe acrescenta. Pelo contrário, arrisca perder. Corre porque nunca parou. Corre porque está vivo. Corre porque entende, e bem, que Portugal ainda precisa dele.
Ana Gomes
sábado, 14 de janeiro de 2006
O gato, os ratos... e as ratazanas
Publicado por
AG
O Presidente altera-se subitamente no cadeirão de onde segue a telenovela nacional de que também é protagonista: ralha ao gato, chama o PGR, pede inquéritos (mas não cabeças, esclarecem ajudantes...)
Acordou finalmente, ou vai ser como das outras vezes, vira-se para o outro lado e volta a fechar os olhos?
È que pode ter eminências psiquiátricas em casa a «fazer-lhe» a cabeça, mas não deve ter perdido os reflexos e a sabedoria do excelente e experiente advogado que foi.
E bastava ter lido a carta que o Juíz Rui Teixeira entregou na AR e desencadeou o interrogatório e prisão de Paulo Pedroso para perceber a tremenda incompetência e malevolência que emergiam da investigação e da prossecução.
Bastava também ter assistido à inacção e desinteresse do MP pelos processos desaparecidos nos anos 80 e pelas «Deneuves» do Parque, em contraste com a perseguição difamatória lançada contra Ferro Rodrigues, para perceber que uma sórdida urdidura estava em marcha, tendo no MP e na PJ servidores tão zelosos como incompetentes (um dia chegaremos às ratazanas mandantes...). Tudo amplificado pela cumplicidade voraz dos media.
Uma urdidura que, incidindo sobre Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso (por razões que hão-de perceber-se quando se identificarem as ratazanas) visava muito mais do que o PS e aqueles seus dirigentes: visava desacreditar o Estado de Direito e a Justiça, para invalidar o processo Casa Pia e impedir que levantasse outras pontas. Para continuar a deixar na sombra, impunes, os criminosos que durante décadas abusaram (uns) e descuraram (outros e outras) as crianças à guarda naquela Casa.
Eu, que nem sou especialista, só li o Perry Mason em pequena, vi a urdidura, disse-o ...e logo senti a rataria a correr freneticamente para me cilindrar.
O Senhor Presidente não a viu? Continuava psiquiatricamente hipnotisado - só isso explica de repente não reconhecer velhos e verdadeiros amigos. Ou nem sequer ter acordado quando a monstruosidade lhe bateu à porta de casa, com uma carta anónima no processo "denunciando-o"; e com as fotografias de outras altas figuras do Estado e até do Cardeal Patriarca (só escapou o inefável PGR) nos albuns de mostrados às «crianças que não mentem» das desveladas Donas Catalina e Dulce. Um leve estremunhar, uma careta de desagrado belenense. E logo rebolou para o outro lado, voltando às asas de Morfeu.
Tão profundamente, que teve de substituir Durão Barroso e conseguiu fazê-lo sempre de olhos fechados: para evitar o embaraço de uma vitória em eleições do amigo de repente desconhecido (o PS de Ferro Rodrigues acabara de ganhar as europeias com 45% dos votos), encomendou o país à paródia santanista.
Azar: quatro meses depois a paródia virara «vaudeville» rasca. Estremunhado, viu-se mesmo forçado a convocar eleições. Do embaraço o menos - o amigo desconhecido já batera com a porta, esclarecido sobre certas «amizades».
Entretanto Paulo Pedroso e outros arguidos são despronunciados por decisão de tribunal superior sustentada em grosseiros erros na investigação e instrução. O PGR dislata como só ele sabe e pode, admitindo insuficiências na investigação e escutas em barda, mas queixando-se de pressões e falta de elementos para sustentar a urdidura. Ferro Rodrigues deita-lhe à bigodice que lhos levou, mas ele desviara a investigação para quem já demonstrara incompetência, preconceito e parcialidade.
O mais recente episódio da telenovela nacional, revelando que as escutas são patrioticamente abrangentes e detalham até para quem fala a familia presidencial, parece ter quebrado o entorpecente.
Mas será que o Presidente acordou mesmo, nesta ponta final? Esperará ainda que o indigente gato desta telenovela, apesar de tão obviamente constipado, surdo e cego, cace ratos ? Ou que ele apareça guilhotinado na ratoeira? E quem vai afinal dar cabo das ratazanas?
(revisto em 18.1.06)
Acordou finalmente, ou vai ser como das outras vezes, vira-se para o outro lado e volta a fechar os olhos?
È que pode ter eminências psiquiátricas em casa a «fazer-lhe» a cabeça, mas não deve ter perdido os reflexos e a sabedoria do excelente e experiente advogado que foi.
E bastava ter lido a carta que o Juíz Rui Teixeira entregou na AR e desencadeou o interrogatório e prisão de Paulo Pedroso para perceber a tremenda incompetência e malevolência que emergiam da investigação e da prossecução.
Bastava também ter assistido à inacção e desinteresse do MP pelos processos desaparecidos nos anos 80 e pelas «Deneuves» do Parque, em contraste com a perseguição difamatória lançada contra Ferro Rodrigues, para perceber que uma sórdida urdidura estava em marcha, tendo no MP e na PJ servidores tão zelosos como incompetentes (um dia chegaremos às ratazanas mandantes...). Tudo amplificado pela cumplicidade voraz dos media.
Uma urdidura que, incidindo sobre Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso (por razões que hão-de perceber-se quando se identificarem as ratazanas) visava muito mais do que o PS e aqueles seus dirigentes: visava desacreditar o Estado de Direito e a Justiça, para invalidar o processo Casa Pia e impedir que levantasse outras pontas. Para continuar a deixar na sombra, impunes, os criminosos que durante décadas abusaram (uns) e descuraram (outros e outras) as crianças à guarda naquela Casa.
Eu, que nem sou especialista, só li o Perry Mason em pequena, vi a urdidura, disse-o ...e logo senti a rataria a correr freneticamente para me cilindrar.
O Senhor Presidente não a viu? Continuava psiquiatricamente hipnotisado - só isso explica de repente não reconhecer velhos e verdadeiros amigos. Ou nem sequer ter acordado quando a monstruosidade lhe bateu à porta de casa, com uma carta anónima no processo "denunciando-o"; e com as fotografias de outras altas figuras do Estado e até do Cardeal Patriarca (só escapou o inefável PGR) nos albuns de mostrados às «crianças que não mentem» das desveladas Donas Catalina e Dulce. Um leve estremunhar, uma careta de desagrado belenense. E logo rebolou para o outro lado, voltando às asas de Morfeu.
Tão profundamente, que teve de substituir Durão Barroso e conseguiu fazê-lo sempre de olhos fechados: para evitar o embaraço de uma vitória em eleições do amigo de repente desconhecido (o PS de Ferro Rodrigues acabara de ganhar as europeias com 45% dos votos), encomendou o país à paródia santanista.
Azar: quatro meses depois a paródia virara «vaudeville» rasca. Estremunhado, viu-se mesmo forçado a convocar eleições. Do embaraço o menos - o amigo desconhecido já batera com a porta, esclarecido sobre certas «amizades».
Entretanto Paulo Pedroso e outros arguidos são despronunciados por decisão de tribunal superior sustentada em grosseiros erros na investigação e instrução. O PGR dislata como só ele sabe e pode, admitindo insuficiências na investigação e escutas em barda, mas queixando-se de pressões e falta de elementos para sustentar a urdidura. Ferro Rodrigues deita-lhe à bigodice que lhos levou, mas ele desviara a investigação para quem já demonstrara incompetência, preconceito e parcialidade.
O mais recente episódio da telenovela nacional, revelando que as escutas são patrioticamente abrangentes e detalham até para quem fala a familia presidencial, parece ter quebrado o entorpecente.
Mas será que o Presidente acordou mesmo, nesta ponta final? Esperará ainda que o indigente gato desta telenovela, apesar de tão obviamente constipado, surdo e cego, cace ratos ? Ou que ele apareça guilhotinado na ratoeira? E quem vai afinal dar cabo das ratazanas?
(revisto em 18.1.06)
sexta-feira, 13 de janeiro de 2006
Basta o que basta
Publicado por
Vital Moreira
Se forem verdadeiras as escandalosas notícias sobre os registos pormenorizados das comunicações telefónicas de várias personalidades políticas alheias ao processo na investigação do processo Casa Pia, o destino do PGR só pode ser a demissão imediata. O que, aliás, surpreende é que seja preciso demiti-lo.
Aníbal Cavaco Deus Silva
Publicado por
Vital Moreira
Um antigo ministro de Cavaco sobre as presidenciais: «Precisamos de um Presidente que veja tudo e que saiba tudo». A omnividência e a omniciência sempre foram propriedades divinas. Felizes os povos que podem eleger Deus para Chefe de Estado...
Zangam-se as comadres.....
Publicado por
AG
Num momento de confusão e incerteza quanto ao futuro do Iraque, em que tanto tropas britânicas como americanas preparam estratégias de retirada, multiplicam-se os ataques pessoais entre responsáveis pela precipitada e desastrosa campanha militar iniciada em 2003.
Agora é nem mais nem menos Paul Bremer, responsável pelo governo provisório da coligação ocupante até Junho de 2004, fiel executor da política de Bush e dos falcões da administração americana, que tenta sacudir a água do capote. Segundo o «Financial Times», Bremer acusa as autoridades militares de tentarem agora transformá-lo em bode expiatório dos insucessos do pós-guerra. Ele, que, segundo diz, defendera que o Iraque precisaria de pelo menos 500.000 militares no terreno para pacificar o país. Rumsfeld é que, segundo ele, teria sido responsável por ter enviado um número muito inferior. Quanto aos políticos iraquianos, as críticas de Bremer são desdenhantes - e bem reveladoras: «eles não conseguiam organizar uma parada, quanto mais um país».
Neste lado do Atlântico o quadro também não é edificante. Um dos mais graduados oficiais britânicos que serviram no Iraque acusa agora os militares americanos de «insensibilidade cultural», muito perto do que chamou «racismo institucional». Nada mais nem menos do que o Brigadeiro Nigel Aylwin-Foster, Sub-Comandante das forças britânicas que treinavam o exército iraquiano. Ele explica, em artigo publicado na revista militar americana «Military Review», que os chefes militares americanos nunca perceberam que os seus homens precisavam de conhecer a cultura árabe e técnicas de combate à insurreição. O que, no seu entender, ajudou a engrossar a insurreição iraquiana. «Em vez de tentar conquistar "hearts and minds" viam a destruição do inimigo como um objectivo estratégico em si», quando o objectivo deveria ter sido «perceber como gerir a população». Comentário seco vindo dos States, segundo o «Daily Telegraph»: em>«Insuportável snob britânico».
Tony Blair também não escapa à fúria das comadres amofinadas. Sir Michael Rose, o General que comandou em tempos a força das NU na Bósnia, apela agora ao «impeachment» do Primeiro Ministro britânico. «As consequências da guerra têm sido desastrosas tanto para o povo iraquiano como para o Ocidente em termos dos nossos interesses na guerra contra o terrorismo. Os políticos têm de ser responsabilizados e na minha opinião Blair deveria ser "impeached". Isto para prevenir que no futuro os políticos tratem levianamente a questão de levar um país a entrar em guerra».
Cheira mesmo a fim de reinado. E não é só em Londres...
Agora é nem mais nem menos Paul Bremer, responsável pelo governo provisório da coligação ocupante até Junho de 2004, fiel executor da política de Bush e dos falcões da administração americana, que tenta sacudir a água do capote. Segundo o «Financial Times», Bremer acusa as autoridades militares de tentarem agora transformá-lo em bode expiatório dos insucessos do pós-guerra. Ele, que, segundo diz, defendera que o Iraque precisaria de pelo menos 500.000 militares no terreno para pacificar o país. Rumsfeld é que, segundo ele, teria sido responsável por ter enviado um número muito inferior. Quanto aos políticos iraquianos, as críticas de Bremer são desdenhantes - e bem reveladoras: «eles não conseguiam organizar uma parada, quanto mais um país».
Neste lado do Atlântico o quadro também não é edificante. Um dos mais graduados oficiais britânicos que serviram no Iraque acusa agora os militares americanos de «insensibilidade cultural», muito perto do que chamou «racismo institucional». Nada mais nem menos do que o Brigadeiro Nigel Aylwin-Foster, Sub-Comandante das forças britânicas que treinavam o exército iraquiano. Ele explica, em artigo publicado na revista militar americana «Military Review», que os chefes militares americanos nunca perceberam que os seus homens precisavam de conhecer a cultura árabe e técnicas de combate à insurreição. O que, no seu entender, ajudou a engrossar a insurreição iraquiana. «Em vez de tentar conquistar "hearts and minds" viam a destruição do inimigo como um objectivo estratégico em si», quando o objectivo deveria ter sido «perceber como gerir a população». Comentário seco vindo dos States, segundo o «Daily Telegraph»: em>«Insuportável snob britânico».
Tony Blair também não escapa à fúria das comadres amofinadas. Sir Michael Rose, o General que comandou em tempos a força das NU na Bósnia, apela agora ao «impeachment» do Primeiro Ministro britânico. «As consequências da guerra têm sido desastrosas tanto para o povo iraquiano como para o Ocidente em termos dos nossos interesses na guerra contra o terrorismo. Os políticos têm de ser responsabilizados e na minha opinião Blair deveria ser "impeached". Isto para prevenir que no futuro os políticos tratem levianamente a questão de levar um país a entrar em guerra».
Cheira mesmo a fim de reinado. E não é só em Londres...
quinta-feira, 12 de janeiro de 2006
Correio dos leitores: O plebiscito
Publicado por
Vital Moreira
«Ao longo de uma campanha eleitoral já longa, formei a convicção de que Cavaco Silva, através de uma encenação estudada, procura protagonizar a esperança e explorar a nossa tentação messiânica.
Fá-lo ao tentar capitalizar o descontentamento, lançando farpas ao Governo quando, ele próprio, preconiza uma política orçamental ainda mais restritiva e contraccionista.
Fá-lo, também, ao dizer que "sabe aquilo de que o País precisa" e que pretende "fixar as prioridades", sem ousar enunciá-las, apenas lançando sugestões como a da criação da Secretaria de Estado para o Investimento Estrangeiro, irrelevante na substância mas reveladora da forma como pretende domesticar o Governo.
Fá-lo, ainda, ao dizer que velará pelo "bom governo" e não se coibirá de avaliar a acção executiva, a par e passo, bem como de propor políticas e medidas legislativas concretas, "cabendo ao Primeiro Ministro convencê-lo do contrário" (vide entrevista ao JN).
Dito isto, sou de opinião de que uma vitória à primeira volta constituiria um plebiscito ao homem. Dessa "legitimação" e da subsequente dinâmica de agregação da direita até à imposição de um presidencialismo "de facto", à margem e ao atropelo da Constituição, iria um só passo.
Atente-se, aliás, nas palavras ontem proferidas por Eanes - aquele que, a partir de Belém, criou o partido "regenerador", que acabou vendendo a sigla a um grupo neo-fascista: "a vitória à primeira volta seria muito importante pela capacidade de manobra que permitiria".
O desequilíbrio efectivo de poderes a favor de um Presidente factualmente legitimado para fazer o contraponto da acção governativa, num contexto de crise e de crispação crescente com o Chefe de Estado e o Primeiro Ministro, sobre o qual recai o ónus das dificuldades sentidas pela população, conduziria facilmente à dissolução do Parlamento, abortando o projecto reformista iniciado pelo PS.
Nestes termos, para além de interrogar sobre o silêncio do Engº Sócrates, pergunto-me como é possível que a esquerda - míope e anestesiada pelas querelas - não seja capaz de se mobilizar pelo essencial (por exemplo, através de manifestos e iniciativas públicas que ultrapassem o espaço de cada candidato) e provoquem o necessário sobressalto e reflexão sobre a natureza e propósitos da candidatura de Cavaco Silva.
Lamentavelmente, é Santana Lopes, ressabiado e no seu estilo narcisista, quem acaba de colocar na ordem do dia o risco da instabilidade e da subversão do equilíbrio de poderes, contra os quais temos de nos bater até ao limite das nossas forças. Se Mário Soares consegue antever este perigo (e outros não) é, desde logo, porque lhe sobra em lucidez e experiência o que aos outros falta.»
Eduardo Gravanita
Fá-lo ao tentar capitalizar o descontentamento, lançando farpas ao Governo quando, ele próprio, preconiza uma política orçamental ainda mais restritiva e contraccionista.
Fá-lo, também, ao dizer que "sabe aquilo de que o País precisa" e que pretende "fixar as prioridades", sem ousar enunciá-las, apenas lançando sugestões como a da criação da Secretaria de Estado para o Investimento Estrangeiro, irrelevante na substância mas reveladora da forma como pretende domesticar o Governo.
Fá-lo, ainda, ao dizer que velará pelo "bom governo" e não se coibirá de avaliar a acção executiva, a par e passo, bem como de propor políticas e medidas legislativas concretas, "cabendo ao Primeiro Ministro convencê-lo do contrário" (vide entrevista ao JN).
Dito isto, sou de opinião de que uma vitória à primeira volta constituiria um plebiscito ao homem. Dessa "legitimação" e da subsequente dinâmica de agregação da direita até à imposição de um presidencialismo "de facto", à margem e ao atropelo da Constituição, iria um só passo.
Atente-se, aliás, nas palavras ontem proferidas por Eanes - aquele que, a partir de Belém, criou o partido "regenerador", que acabou vendendo a sigla a um grupo neo-fascista: "a vitória à primeira volta seria muito importante pela capacidade de manobra que permitiria".
O desequilíbrio efectivo de poderes a favor de um Presidente factualmente legitimado para fazer o contraponto da acção governativa, num contexto de crise e de crispação crescente com o Chefe de Estado e o Primeiro Ministro, sobre o qual recai o ónus das dificuldades sentidas pela população, conduziria facilmente à dissolução do Parlamento, abortando o projecto reformista iniciado pelo PS.
Nestes termos, para além de interrogar sobre o silêncio do Engº Sócrates, pergunto-me como é possível que a esquerda - míope e anestesiada pelas querelas - não seja capaz de se mobilizar pelo essencial (por exemplo, através de manifestos e iniciativas públicas que ultrapassem o espaço de cada candidato) e provoquem o necessário sobressalto e reflexão sobre a natureza e propósitos da candidatura de Cavaco Silva.
Lamentavelmente, é Santana Lopes, ressabiado e no seu estilo narcisista, quem acaba de colocar na ordem do dia o risco da instabilidade e da subversão do equilíbrio de poderes, contra os quais temos de nos bater até ao limite das nossas forças. Se Mário Soares consegue antever este perigo (e outros não) é, desde logo, porque lhe sobra em lucidez e experiência o que aos outros falta.»
Eduardo Gravanita
Três equívocos
Publicado por
Vital Moreira
Passei para a Aba da Causa o meu artigo desta semana no Público, com o título em epígrafe, uma reflexão sobre a campanha presidencial.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2006
Correio dos leitores: «Por que espera Sócrates?»
Publicado por
Vital Moreira
«Revoltado com a barreira que a maioria dos media fazem à campanha de Mário Soares, não veiculando uma só intervenção e apenas relatando os acidentes de campanha, fico entristecido ao observar o distanciamento do Secretário-Geral e muitos dirigentes.
Entristecido, desde logo, porque não tenho dúvidas de que o processo foi mal conduzido pela Direcção e pelo Secretário-Geral, desde a primeira hora, e que tal foi determinante para o aparecimento de duas candidaturas no nosso espaço político.
Entristecido, ainda, porque foi o Partido que incitou Mário Soares para avançar, aos 81 anos, para uma última batalha de que este não necessitava e na qual não estava obrigado a participar, mas à qual não se negou. Não há gratidão possível para o esforço de um homem que, no fim da vida, já foi tudo neste País. Por esta razão, seria exigido maior empenho do Secretário-Geral neste combate.
A 2 semanas do voto, parece-me que só a intervenção enérgica do Secretário-Geral a favor de Mário Soares pode inverter a tendência e colocar Soares na 2ª volta. É perceptível que o País lhe reconhece coragem e que sente não existir alternativa credível a Sócrates e ao PS. Assim sendo, Sócrates tem que utilizar este crédito que conquistou.
"A corda tem que ser esticada" e o Secretário-Geral tem que, com humildade, pedir aos portugueses que, antes de votar, ponderem nas consequências da sua escolha. E deve dizer-lhes, também, que não se pode esperar cooperação de quem diz que "o País está sem rumo" (vide Jornal de Negócios, 09.01.2006), quando é (quase) consensual que assim andou até Fevereiro/05 e que, só depois disso, surgiu uma maioria e um governo com a visão e a coragem que há muito faltavam. E tem, ainda, de dizer-lhes que será sempre leal com o Presidente que os portugueses escolherem mas que nunca abrirá mão das suas competências, assim como respeitará as do Presidente.
O calculismo, na vida como na política, é sempre criticável e, julgo, não colheria frutos. Espero que o Secretário-Geral não prefira fazer declarações brandas, de circunstância e através de meias-palavras, apenas no propósito de afirmar, no futuro, que não foi ele quem lançou a primeira pedra a Cavaco. Até porque este já começou a dar-lhe as primeiras "bicadas".
E, no papel de Presidente, não precisará de ser muito ostensivo, bastando-lhe manter o governo em "lume brando" para lhe ir minando a base social de apoio, ao mesmo tempo que promova a ascensão de um novo líder no PSD.
Sendo tudo isto tão provável, por que espera o Partido e o Secretário-Geral?
Quem não luta, perde...e merece a derrota.
Muito gostaria de, com muitos outros, poder (ajudar a) influenciar a Direcção, mas não sei por que meios. Por isso me lembrei de lhe remeter este e-mail.»
(Eduardo Gravanita, militante do PS)
Entristecido, desde logo, porque não tenho dúvidas de que o processo foi mal conduzido pela Direcção e pelo Secretário-Geral, desde a primeira hora, e que tal foi determinante para o aparecimento de duas candidaturas no nosso espaço político.
Entristecido, ainda, porque foi o Partido que incitou Mário Soares para avançar, aos 81 anos, para uma última batalha de que este não necessitava e na qual não estava obrigado a participar, mas à qual não se negou. Não há gratidão possível para o esforço de um homem que, no fim da vida, já foi tudo neste País. Por esta razão, seria exigido maior empenho do Secretário-Geral neste combate.
A 2 semanas do voto, parece-me que só a intervenção enérgica do Secretário-Geral a favor de Mário Soares pode inverter a tendência e colocar Soares na 2ª volta. É perceptível que o País lhe reconhece coragem e que sente não existir alternativa credível a Sócrates e ao PS. Assim sendo, Sócrates tem que utilizar este crédito que conquistou.
"A corda tem que ser esticada" e o Secretário-Geral tem que, com humildade, pedir aos portugueses que, antes de votar, ponderem nas consequências da sua escolha. E deve dizer-lhes, também, que não se pode esperar cooperação de quem diz que "o País está sem rumo" (vide Jornal de Negócios, 09.01.2006), quando é (quase) consensual que assim andou até Fevereiro/05 e que, só depois disso, surgiu uma maioria e um governo com a visão e a coragem que há muito faltavam. E tem, ainda, de dizer-lhes que será sempre leal com o Presidente que os portugueses escolherem mas que nunca abrirá mão das suas competências, assim como respeitará as do Presidente.
O calculismo, na vida como na política, é sempre criticável e, julgo, não colheria frutos. Espero que o Secretário-Geral não prefira fazer declarações brandas, de circunstância e através de meias-palavras, apenas no propósito de afirmar, no futuro, que não foi ele quem lançou a primeira pedra a Cavaco. Até porque este já começou a dar-lhe as primeiras "bicadas".
E, no papel de Presidente, não precisará de ser muito ostensivo, bastando-lhe manter o governo em "lume brando" para lhe ir minando a base social de apoio, ao mesmo tempo que promova a ascensão de um novo líder no PSD.
Sendo tudo isto tão provável, por que espera o Partido e o Secretário-Geral?
Quem não luta, perde...e merece a derrota.
Muito gostaria de, com muitos outros, poder (ajudar a) influenciar a Direcção, mas não sei por que meios. Por isso me lembrei de lhe remeter este e-mail.»
(Eduardo Gravanita, militante do PS)
domingo, 8 de janeiro de 2006
EDP - é de quem?
Publicado por
AG
Titeriteirices na Cultura irritam qualquer um.
Mas na Economia inquietam: e é na energia que o desnorte estratégico do «centrão» mais assusta. Ressalta num plano tecnológico que ignora recursos que Portugal tem para dar e podia vender bem, se soubesse investir (o mar e a energia solar).
O episódio EDP é mais um na valsa do «centrão» em que ex-governantes alternam na chefia de empresas públicas ou participadas pelo Estado, sob a batuta dos governantes do momento. Mas a promiscuidade atinge níveis inéditos, neste caso: um dos ex-governantes e aspirante a controlador da empresa de serviço público, é também representante máximo de um accionista privado estrangeiro, o principal concorrente da dita empresa; e foi enquanto governante quem autorizou a participação a esse accionista estrangeiro nessa e noutra empresa pública; é ainda ... deputado... socialista.
Joaquim Pina Moura devia ter a decência de abandonar o Parlamento.
A Comissão de Ética da Assembleia da República devia considerar o caso e declarar a incompatibilidade, para credibilizar a função parlamentar.
Governantes e dirigentes socialistas deviam parar de dar cobertura a tal promiscuidade.
Militantes socialistas deviam deixar de continuar calados.
Mas na Economia inquietam: e é na energia que o desnorte estratégico do «centrão» mais assusta. Ressalta num plano tecnológico que ignora recursos que Portugal tem para dar e podia vender bem, se soubesse investir (o mar e a energia solar).
O episódio EDP é mais um na valsa do «centrão» em que ex-governantes alternam na chefia de empresas públicas ou participadas pelo Estado, sob a batuta dos governantes do momento. Mas a promiscuidade atinge níveis inéditos, neste caso: um dos ex-governantes e aspirante a controlador da empresa de serviço público, é também representante máximo de um accionista privado estrangeiro, o principal concorrente da dita empresa; e foi enquanto governante quem autorizou a participação a esse accionista estrangeiro nessa e noutra empresa pública; é ainda ... deputado... socialista.
Joaquim Pina Moura devia ter a decência de abandonar o Parlamento.
A Comissão de Ética da Assembleia da República devia considerar o caso e declarar a incompatibilidade, para credibilizar a função parlamentar.
Governantes e dirigentes socialistas deviam parar de dar cobertura a tal promiscuidade.
Militantes socialistas deviam deixar de continuar calados.
Merkel marca
Publicado por
AG
Há muito, desde 2002, que Guantanamo e a tortura sub-contratada através da «extraordinary rendition» são conhecidos de todos e assumidos e «justificados» pela Administração Bush.
O que não se ouviu, vergonhosamente, foram protestos enérgicos de dirigentes europeus (apesar de insistentemente instigados a manifestar-se pelo Parlamento Europeu). O mais ensurdecedor silêncio veio dos que se dizem «socialistas».
Foi preciso aparecer uma mulher com honradez e coragem para dizer o que há muito devia ter sido dito na cara de Bush: que é moralmente intolerável conviver com Guantanamo. Que é estrategicamente um erro admitir Guantanamo e o mais à margem do direito internacional e da decência que Guantanamo arrasta.
Tanto me dá que Angela Merkel seja de direita. Eu aplaudo-a por isto.
Blair, Schroeder, Persson, Barroso e aprendizezecos: tenham vergonha e aprendam!
O que não se ouviu, vergonhosamente, foram protestos enérgicos de dirigentes europeus (apesar de insistentemente instigados a manifestar-se pelo Parlamento Europeu). O mais ensurdecedor silêncio veio dos que se dizem «socialistas».
Foi preciso aparecer uma mulher com honradez e coragem para dizer o que há muito devia ter sido dito na cara de Bush: que é moralmente intolerável conviver com Guantanamo. Que é estrategicamente um erro admitir Guantanamo e o mais à margem do direito internacional e da decência que Guantanamo arrasta.
Tanto me dá que Angela Merkel seja de direita. Eu aplaudo-a por isto.
Blair, Schroeder, Persson, Barroso e aprendizezecos: tenham vergonha e aprendam!
«Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar».
Publicado por
AG
Nem as declarações crípticas de Condi Rice, nem aqui em Portugal as explicações hábeis do Ministro Freitas do Amaral no Parlamento, dia 13 de Dezembro passado, dissiparam o alarme quanto ao uso por parte da CIA de países europeus para o transporte e/ou o encarceramento ilegal de suspeitos de terrorismo.
Esta semana no Parlamento Europeu, Lotte Leich, representante da Human Rights Watch -a ONG de defesa dos direitos humanos que confirmou alegações inicialmente levantadas pelo Washington Post sobre a existência de prisões secretas da CIA na Europa - declarou que haver fortes suspeitas, sustentadas por fontes credíveis, de que, para além da Polónia e da Roménia, há um terceiro país, membro da União Europeia, envolvido. Numa mudança de estratégia em relação às primeiras revelações, a Human Rights Watch decidiu, desta vez, não revelar o nome do país, mas garantiu estar a organizar uma "visita-surpresa"...
Espero que o governo português esteja realmente a prestar atenção.
Espero que ninguém nos organismos relevantes dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros, da Administração Interna, das Finanças, da Defesa, da Justiça e das Obras Públicas, Transportes e Comunicações interprete as garantias dadas por Washington como o fim desta história.
Espero que os governantes e os funcionários do Estado Português, civis ou militares, não façam vista grossa aos elementos que sugerem que as garantias dadas por esta Administração americana valem tanto como as ADM que o Presidente Bush jurava existirem no Iraque.
Espero que os governantes e funcionários do Estado português, civis e militares, não ignorem declarações de responsáveis da CIA, nem desvalorizem o que disse o ex-Secretário de Estado Colin Powell, estranhando a estranheza de dirigentes europeus.
Cabe ao governo reforçar os controlos, como prometeu o Professor Freitas do Amaral no Parlamento, e certificar-se de que tudo está a ser feito para garantir que Portugal não esteve, nem está, envolvido em violações graves dos direitos humanos através de cumplicidade, mesmo que só negligente, com eventuais voos para transporte de pessoas ilegalmente raptadas, presas ou entregues para sujeição a tortura.
Se, depois do alarme despoletado em Novembro, algum dia se confirmar que um governo europeu partilha responsabilidades no desaparecimento ou tortura de um prisioneiro e/ou na entrega de um suspeito a um regime que pratique a tortura, ninguém pode alegar que não foi avisado.
Como escreveu Sophia: «Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar».
Esta semana no Parlamento Europeu, Lotte Leich, representante da Human Rights Watch -a ONG de defesa dos direitos humanos que confirmou alegações inicialmente levantadas pelo Washington Post sobre a existência de prisões secretas da CIA na Europa - declarou que haver fortes suspeitas, sustentadas por fontes credíveis, de que, para além da Polónia e da Roménia, há um terceiro país, membro da União Europeia, envolvido. Numa mudança de estratégia em relação às primeiras revelações, a Human Rights Watch decidiu, desta vez, não revelar o nome do país, mas garantiu estar a organizar uma "visita-surpresa"...
Espero que o governo português esteja realmente a prestar atenção.
Espero que ninguém nos organismos relevantes dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros, da Administração Interna, das Finanças, da Defesa, da Justiça e das Obras Públicas, Transportes e Comunicações interprete as garantias dadas por Washington como o fim desta história.
Espero que os governantes e os funcionários do Estado Português, civis ou militares, não façam vista grossa aos elementos que sugerem que as garantias dadas por esta Administração americana valem tanto como as ADM que o Presidente Bush jurava existirem no Iraque.
Espero que os governantes e funcionários do Estado português, civis e militares, não ignorem declarações de responsáveis da CIA, nem desvalorizem o que disse o ex-Secretário de Estado Colin Powell, estranhando a estranheza de dirigentes europeus.
Cabe ao governo reforçar os controlos, como prometeu o Professor Freitas do Amaral no Parlamento, e certificar-se de que tudo está a ser feito para garantir que Portugal não esteve, nem está, envolvido em violações graves dos direitos humanos através de cumplicidade, mesmo que só negligente, com eventuais voos para transporte de pessoas ilegalmente raptadas, presas ou entregues para sujeição a tortura.
Se, depois do alarme despoletado em Novembro, algum dia se confirmar que um governo europeu partilha responsabilidades no desaparecimento ou tortura de um prisioneiro e/ou na entrega de um suspeito a um regime que pratique a tortura, ninguém pode alegar que não foi avisado.
Como escreveu Sophia: «Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar».
Carlos Cáceres Monteiro
Publicado por
AG
Não encontro o «Fast Lane». Em que prateleira o terei posto? ... a vida de casa em casa, de terra em terra, de continente em continente, prega partidas destas; quando menos o esperar, um dia destes vai aparecer na estante...
Mas agora precisava mesmo reler. Na altura li a correr. Mas agora aguentava ler. Para estar com ele, apesar da partida, por causa da partida, há dias, mal amanhecia o ano. Por o sentir a interpelar-me, amistosamente como sempre, em todas as «Visões» em todos os escaparates, em todas as bombas de gasolina, em todas as bancas de jornais.
Para lhe agradecer a amizade tranquila, a cumplicidade plácida, a bonomia de sempre, a disponibilidade total, o conselho avisado, o incentivo atento.
Para lhe pedir desculpa por não ter tido a coragem de telefonar só para dizer...não sei ainda hoje o quê, tal foi o acabrunhamento e a falta de palavras desde que soube, apesar das insistências da Joana e do António.
Para homenagear o jornalista de ética impecável, o repórter de curiosidade insaciável, o director de equipa, o militante da informação para fazer compreender - as pessoas, o país e o mundo.
Ele vivia na «fast lane», como se vive na política ou no jornalismo. Mas arranjava sempre tempo para os amigos e para a família, de que falava orgulhoso, enlevado.
Desapareceu também na «fast lane»: depressa demais para nos recompor-nos do anúncio da morte próxima.
Um homem bom como ele deixa rasto imperecível, marcado na «fast lane» das nossas memórias. Mas eu perdi mais do que o grande jornalista: perdi um bom amigo, de há mais de duas décadas. A estrada, em qualquer «lane», nunca mais vai ser a mesma.
Mas agora precisava mesmo reler. Na altura li a correr. Mas agora aguentava ler. Para estar com ele, apesar da partida, por causa da partida, há dias, mal amanhecia o ano. Por o sentir a interpelar-me, amistosamente como sempre, em todas as «Visões» em todos os escaparates, em todas as bombas de gasolina, em todas as bancas de jornais.
Para lhe agradecer a amizade tranquila, a cumplicidade plácida, a bonomia de sempre, a disponibilidade total, o conselho avisado, o incentivo atento.
Para lhe pedir desculpa por não ter tido a coragem de telefonar só para dizer...não sei ainda hoje o quê, tal foi o acabrunhamento e a falta de palavras desde que soube, apesar das insistências da Joana e do António.
Para homenagear o jornalista de ética impecável, o repórter de curiosidade insaciável, o director de equipa, o militante da informação para fazer compreender - as pessoas, o país e o mundo.
Ele vivia na «fast lane», como se vive na política ou no jornalismo. Mas arranjava sempre tempo para os amigos e para a família, de que falava orgulhoso, enlevado.
Desapareceu também na «fast lane»: depressa demais para nos recompor-nos do anúncio da morte próxima.
Um homem bom como ele deixa rasto imperecível, marcado na «fast lane» das nossas memórias. Mas eu perdi mais do que o grande jornalista: perdi um bom amigo, de há mais de duas décadas. A estrada, em qualquer «lane», nunca mais vai ser a mesma.
sábado, 7 de janeiro de 2006
A Constituição na gaveta?
Publicado por
Vital Moreira
Se há palavra rara no discurso cavaquista é a Constituição. E no entanto, o papel do Presidente da República, que começa justamente por jurar a Constituição, é o de a cumprir e fazer cumprir e de promover e dinamizar os valores constitucionais (entre os quais o desenvolvimento é apenas um entre muitos).
Sabendo-se que o candidato não morre de amores pela Lei fundamental e que entre os seus apoiantes estão os defensores de "outra constituição", será excessivo temer que uma eventual presidência cavaquista possa significar meter a Constituição "na gaveta"?
[Reproduzido do Super Mário]
Sabendo-se que o candidato não morre de amores pela Lei fundamental e que entre os seus apoiantes estão os defensores de "outra constituição", será excessivo temer que uma eventual presidência cavaquista possa significar meter a Constituição "na gaveta"?
[Reproduzido do Super Mário]
quinta-feira, 5 de janeiro de 2006
"Paris vale bem uma missa"
Publicado por
Vital Moreira
O séquito de Cavaco Silva deve ter feito figas atrás das costas enquanto cantava o "Grândola, Vila Morena", ontem numa sessão de propaganda eleitoral naquela cidade alentejana. Para muitos deles, a começar pelo candidato, deve ter sido a primeira vez na vida. Ainda os veremos a cantar a Internacional, no Barreiro.
Não haverá limites para o oportunismo eleitoral?
Não haverá limites para o oportunismo eleitoral?
O treinador
Publicado por
Vital Moreira
Já está disponível na Aba da Causa o meu artigo desta semana no Público, acerca da metáfora de Cavaco Silva sobre o "presidente-treinador".
Subscrever:
Mensagens (Atom)