sábado, 16 de dezembro de 2006

Voos CIA - o que sabiam os MNEs?

Mas eu cá, se tivesse havido tempo (e menos «controlo de danos»), até teria o maior gosto em adicionar ao Dr. Paulo Portas os seus três sucessivos colegas de governo no MNE, para os questionar sobre o que sabiam e não sabiam relativamente ao envolvimento de Portugal no programa de deslocalização da tortura da Administração Bush.
Garanto que tenho pertinentes questões para lhes colocar.
Querem um exemplo?
Para o Dr. Martins da Cruz, entre muitas outras: o que dizia a cartinha que foi levar a Khadaffi, naquele Junho de 2003, batendo-lhe à porta da tenda, solicitamente armado em carteiro de Bush e Berlusconi?
É que apenas três meses depois começava a carreira aérea dos voos da CIA (com algumas paragens em Portugal) para Misurata (Líbia)...
Não é extraordinário que nunca ninguém tenha perguntado muito o que dizia a tal cartinha?
Talvez o Dr. Martins da Cruz ou o actual MENE queiram agora revelar o conteúdo da dita. Para sossego de todos.
Ou será que vamos ter de esperar pela abertura dos arquivos americanos, daqui a uns anos?

Quem não deve, não teme

O ex-Ministro da Defesa Paulo Portas anda, aparentemente incomodado, a perguntar porque foram só ele e o seu colega ex-MAI chamados a ser ouvidos pela Comissão Temporária de Inquérito do PE sobre os chamados «voos da CIA» e não também os ex-MNEs. Sugere até uma incongruência pelo facto do interlocutor da Comissão no actual governo ser o MENE Luis Amado.
Pois a explicação é simples:
O actual governo escolheu um porta-voz: o MENE. Um governo em funções, por definição, deve estar coordenado e coordenar os serviços e responsáveis das instâncias técnicas e policiais que foram ouvidos pela Comissão: SEF, INAC e NAV.
Os anteriores governos, por definição, não têm já existência e muito menos coordenação ou porta-vozes.
Só MNEs dos anteriores governos a Comissão teria de ouvir 3 pessoas (Martins da Cruz, Teresa Gouveia e António Monteiro). E, cortesia do deputado Carlos Coelho (a presidência de uma Comissão serve também para «controlar danos»), a delegação do PE só tinha um dia para passar em Lisboa. Era preciso escolher judiciosamente quem ouvir no insuficiente tempo disponível.
Eu escolhi: e por isso propus Paulo Portas e Figueiredo Lopes. O que foi aprovado pela Comissão. E por isso eles foram convidados a vir conversar com a delegação do PE. Não vieram: o que tem um significado político, como não escapou a ninguém.
Além disso, de facto, os MNEs seriam objectivamente menos úteis para a investigação: não foi o MNE quem superintendeu subtantivamente serviços essenciais nos mecanismos de controle que deveriam ter funcionado relativamente a voos civis ou militares autorizados por Portugal e envolvidos no circuito das «extraordinary renditions» da Administração Bush.
SEF e SIS estiveram sob a alçada do MAI.
E quanto aos voos militares e ao SIEDM, a responsabilidadezinha pertenceu inquestionavelmente ao MDN.
Isto é, ao Dr. Paulo Portas, que transitou, inefavelmente, do Governo Durão Barroso para o de Santana Lopes.
O Dr. Paulo Portas que é quem, certamente, mais sabe da poda. Talhada pelo seu amigo e medalhante Donald Rumsfeld.
Se não fosse assim, o Dr. Paulo Portas, que até se costuma pelar por chicuelinas, não se furtava a dar a cara frente à Comissão do PE.
Já lá diz o ditado: quem não deve, não teme.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Apito Dourado

«(...)não se percebe nada deste país, nos tempos que correm, se não se tentar perceber alguma coisa dos negócios do futebol. O que quer dizer, da relação promíscua de empresas do futebol com a política, a construção civil, tráficos diversos, os media, a noite, etc... Uma promiscuidade que serve e potencia a criminalidade e que tem, por isso, de ser exposta, denunciada, travada, combatida e punida. («Ingénua e triturável», não falta quem já me arrume as botas...).
Quando falei há dias na SIC-Noticias, a propósito do fiasco do PEC e das políticas do Dr. Barroso e da Dra. Ferreira Leite, nos «gabirus do futebol que se gabam de não pagar impostos», não era evidentemente de futebol que falava. Era de quem não paga impostos, daqueles que se vangloriam de não os pagar e sobretudo do Governo que nada faz para os obrigar a pagar e para os penalizar pela evasão e fraude ao fisco. Do Governo e das autoridades administrativas, policiais e judiciais que continuam indiferentes, inoperantes ou coniventes com os «off-shores dos pequeninos» descritos por Maria José Morgado e José Vegar no livro «O inimigo sem rosto - fraude e corrupção em Portugal» a propósito dos circuitos entre clubes, empresas e autarquias em que se reciclam proventos de negócios «informais» e esquemas criminais que defraudam o erário público e, assim, escandalosamente roubam Portugal inteiro.»


isto escrevi eu faz hoje precisamente três anos, no segundo post que publiquei no CAUSA NOSSA, intitulado "Majores Carapuças".
Era a propósito de um major menor que se indignara por eu me indignar com a impunidade dos "gabirus do futebol".
Um major menor que hoje está a ser investigado no quadro do "Apito Dourado".
Apito que acabou de ser - e muito bem - entregue ao fôlego da incorruptível Procuradora Maria José Morgado.

Melodrama em Teerão

Segundo o EXPRESSO online, Nuno Rogeiro foi apanhado de surpresa pela natureza revisionista, negacionista e anti-semita da conferência sobre o holocausto em Teerão. Durante meses da retórica insultuosa e por altifalante de Ahmadinejad, decerto andou por outra galáxia...
No entanto, Nuno Rogeiro disse ter considerado participar num dos painéis desta conferência-farsa não sem ter ponderado "a possibilidade de a sua presença poder servir para legitimar a conferência". E antes de partir para Teerão até consultou, esforçadamente, o Embaixador de Israel em Lisboa e Esther Muznick, Vice-Presidente da comunidade judaica.
Segundo descrição no EXPRESSO online, Nuno Rogeiro, prestes a entrar na sala da conferência, dá-se conta da presença de um dos muitos tratantes que compunham a lista de participantes (David Duke, líder do Ku Klux Klan) e exige, em demonstração de lusitano heroísmo, que este saisse da sala, sob pena de ele (Nuno Rogeiro) se recusar a participar. Seguem-se cenas dramáticas e Nuno Rogeiro acaba por não falar. Não foi fácil para ele, que naqueles momentos difíceis pensou "na minha mulher e nos meus quatro filhos". Todo o melodrama serviu para alguma coisa: ajudou Nuno Rogeiro a chegar a uma conclusão clara - "a conferência era uma farsa."
Mais vale tarde do que nunca. O tempo ajuda a ver algumas coisas. Como o levado por Nuno Rogeiro para concluir que a invasão no Iraque, que tanto apoiou, também foi uma farsa. Com pesadas consequências que hoje todos pagamos.

Uma perda

A demissão do presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) -- que presidiu ao nascimento e à afirmação institucional dessa autoridade pública -- constitui uma importante perda para a actividade reguladora, em geral, e para a regulação da energia, em particular. Não há muitos reguladores assim, em termos de competência e de rigor, de independência e de transparência no exercício das suas funções, tanto à frente da ERSE como no âmbito do conselho europeu de reguladores de energia, a que ele presidiu.

O Presidente da República fez bem...

...em enviar a nova lei das finanças locais para o Tribunal Cosntitucional, para averiguação da conformidade constitucional de um dos pontos seus pontos mais controvertidos (a disponibilidade de 5% do IRS pelos municípios, podendo estes prescindir da sua cobrança em favor do seus munícipes). De facto, tendo em conta o objecto da lei, há todo o interesse em que as dúvidas de constitucionalidade sejam clarificadas preventivamente.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

"A male world"

As fotografias desta cerimónia de atribuição de prémios de gestão das empresas cotadas, com a nata dos empresários e gestores portugueses, mais os diversos reguladores, não enganam. São todos homens!
As mulheres bem podem inundar as universidades, invadir as profissões (mesmo as mais tradicionalmente masculinas), assediar a esfera da política. Há um mundo que lhes continua vedado, porém: o dos conselhos de administração, sobretudo a elite das grandes empresas. São situações destas que clamam por medidas impositivas de "acção afirmativa" (como já sucede em alguns países e se projecta em Espanha). À atenção da CMVM...

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Parlamento e accão penal

Mesmo com o abandono do "procurador especial" e com limitação dos crimes em causa, continuo sem ser convencido sobre a ideia de pôr o Parlamento a intervir em acções penais, em consequência de inquéritos parlamentares, com poder de se constituir assistente e de designar mandatário. Em qualquer caso, não vejo como é que isso pode furtar-se ao risco de politização da acção penal.
Por maioria de razão, tenho as maiores reservas contra a ideia de rever a Constituição para permitir às comissões de inquérito fazer acusações penais. Na minha opinião, a acção penal deve ser um exclusivo do Ministério Público (tanto mais que a Constituição já permite ao poder político estabelecer prioridades quanto à acção penal). Ao Parlamento compete exercer a fiscalização política, e não intervir na justiça. Estado de direito quer dizer, também, separação e limitação de poderes.

"Opressão abominável"

O antigo presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, que publicou recentemente um polémico livro sobre a questão palestiniana, intitulado "Palestine: Peace Not Apartheid", defende-se bravamente num artigo no Los Angeles Times dos ataques de que tem sido alvo por causa das acusações que fez sobre o "apartheid" instituído por Israel nos territórios ocupados. E não poupa nas palavras:
«The book describes the abominable oppression and persecution in the occupied Palestinian territories, with a rigid system of required passes and strict segregation between Palestine's citizens and Jewish settlers in the West Bank. An enormous imprisonment wall is now under construction, snaking through what is left of Palestine to encompass more and more land for Israeli settlers. In many ways, this is more oppressive than what blacks lived under in South Africa during apartheid.»
De facto, "pior do que na África do Sul durante o apartheid"...

A revolução anunciada

«OCDE recomenda que universidades e politécnicos [portugueses] passem a ser fundações».
Quando as instituições não se auto-reformam a tempo, tornam-se inevitáveis as revoluções impostas de fora...

O mistério

Um dos maiores mistérios do País consiste em saber onde é que o Município de Lisboa gasta o que tem e o que não tem (uma dívida colossal), sabendo-se ainda por cima que o Estado lhe poupa generosamente encargos que os demais municípios do País suportam (como os transportes públicos). Agora começamos a ter um princípio de explicação: as empresas municipais fantasma. Quando é que o Tribunal de Contas resolve lançar uma investigação a sério sobre as finanças da capital?

Excesso de funcionários públicos

A comparação do número de funcionários públicos nos países da UE, que Miguel Frasquilho apresenta neste artigo do Jornal de Negócios, está obviamente distorcida pelo facto de se referirem somente à Administração Central do Estado, sabendo-se que entre nós esta tem um sobrepeso que não tem nos países mais descentralizados, designadamente os que são federações ou têm regiões ou comunidades autónomas (como a Alemanha ou a Espanha).
Contudo, mesmo comparando com Estados de estrutura semelhante ao nosso (por exemplo, Grécia, Hungria, Irlanda) é evidente que Portugal tem comparativamente muito mais funcionários. Por aí se explica que, ainda que as remunerações não sejam comparativamente mais elevadas do que nos outros países, a nossa despesa com o pessoal da Administração Pública (em geral) seja muito superior à média europeia (14% contra 10,5% do PIB).

30 anos de poder local

Nos trinta anos do poder local democrático (aniversário das primeiras eleições locais, em 1976), o prestígio do poder local não é hoje o que já foi. Há os atentados urbanísticos em muitas cidades e vilas, as obras de aparato em prejuízo de investimentos mais fecundos, os casos de corrupção, as ligações perigosas com o futebol e a construção civil, etc.. Mesmo se o panorama global está longe de ser esse (pelo contrário), todos pagam por esses erros e abusos. Seja como for, porém, o poder local constitui indubitavelmente uma das grandes realizações da democracia portuguesa nascida do 25 de Abril de 1974.
Gostei de participar na sessão comemorativa, realizada ontem em Lisboa. De salientar o discurso do Presidente da República (apontando para uma nova fase do poder local, apostada no desenvolvimento económico e nas tarefas sociais), bem como a proposta de um novo pacote de descentralização anunciada pelo Governo.

O triângulo fatal

O director autárquico, o clube de futebol e os construtores civis. O resultado dessa ligação perigosa está à vista, desta vez em Coimbra.
Quando é que se encara de vez a incompatibilidade entre cargos de poder municipal e funções de direcção desportiva?

Juízes e futebol

«PSD quer afastar juízes da jurisdição do futebol» (Público de ontem).
Não posso concordar mais. Sempre achei essa acumulação um atentado à exclusividade funcional dos juízes e um perigo para a sua independência e o seu prestígio de magistrados.

Gostaria de ter escrito isto

«O Império missionário [Estados Unidos] perdeu a sua missão. A Europa ainda não encontrou a sua. É este, porventura, o lado mais amargo e mais pesado de consequências da loucura americana [no Iraque].»
(Teresa de Sousa, Público de hoje - link para assinantes]

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Palestina

Como explicar o que se passou ontem em Gaza? Palestinianos armados assassinaram em plena luz do dia três crianças (entre 6 e 9 anos), filhos do Coronel Baha Balousha, homem duro da Fatah que esteve envolvido na repressão do Hamas nos anos 90, no quadro dos Acordos de Oslo.
O Hamas rejeita as acusações. O Presidente Abbas ameaça demitir o governo encabeçado pelo movimento islâmico. As ruas de Gaza fervem. A guerra civil já esteve mais longe.
Só há uma solução: um governo de unidade nacional, que mantenha aceso o sonho de uma Palestina una, livre e segura. Vivendo em paz, lado a lado, com Israel.
De que é que na Europa estamos à espera para tomar a iniciativa e começar a atacar o cancro?

A "bomba árabe"

Os países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) (Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Omã, Emirados Árabes Unidos e Qatar) decidiram estudar a hipótese de colaborarem num "programa nuclear para fins pacíficos."
Tendo em conta como é fácil transformar um programa nuclear civil baseado no enriquecimento de urânio num programa nuclear para fins militares, trata-se de mais uma má notícia para aqueles - como eu - que vêm na proliferação nuclear e na erosão do Tratado de Não Proliferação Nuclear um dos maiores perigos com que a Humanidade se defronta.
É claro que esta decisão dos Estados do Golfo é uma resposta ao programa nuclear iraniano e não à bomba israelita - recém admitida, inadvertidamente, pelo PM Olmert, mas que já existe há 50 anos. Teerão não pára de dar sinais políticos e militares que indicam ambições hegemónicas no Golfo - e por isso está tudo cada vez mais nervoso, da Arábia Saudita ao Egipto.
Mas Israel dificilmente se pode queixar da iminente 'bomba árabe' (seja ela egípcia, argelina, ou saudita), já que nunca ligou pevide ao TNP (é uma das três potências nucleares que nunca assinaram o Tratado, juntamente com a India e o Paquistão), contribuindo assim para a sua fragilidade e erosão.

Pinobushada

O cinismo sem vergonha da Administração Bush, ao evocar a memória das vítimas do assassino Pinochet a propósito da sua morte.
Como se a alguém escapasse a co-autoria moral e material pelos crimes de Pinochet que cabe aos EUA, pelo incentivo, respaldo e ajuda dados pela Administração Nixon, Henry Kissinger e a CIA ao ditador e seus cúmplices chilenos.

Pinochet - fim de um canalha

Vai hoje a enterrar um canalha.
Morreu no dia dos Direitos Humanos. E deixou o nome: de ditador assassino e corrupto.
Durante anos viajou, na casa que levei às costas, de país para país, uma garrafa de champanhe. Para abrir no dia em que Pinochet morresse ou fosse preso.
Tive de a abrir, na falta de outra, em 1998, estava eu em Nova Iorque - para celebrar a queda de outro ditador assassino e corrupto: Suharto.
Substitui-a no mesmo dia, o patife chileno não perderia pela demora...
Não tardou muito - umas semanas mais e Pinochet seria detido em Londres, à conta do mandato de captura emitido pelo nosso vizinho Juíz Baltazar Garzon.
Além das libações tive prazer mais útil: o trabalho da Joana, em estágio na «Human Rights Watch», a ajudar o Reed Brody a apertar a rede em torno do assassino, para que os «bifes» não o soltassem, antes o julgassem ou entregassem a Espanha. Em demonstração da atávica perfidia, soltaram. E o patife voltou ao Chile. Nunca foi julgado, mas também nunca mais voltou a livrar-se da perseguição da Justiça no seu país. E a verdade é que, a partir dali, acabou-se no mundo a noção de que os Chefes de Estado tiranos ficariam impunes.
O Chile voltou a ser uma democracia. E recentemente elegeu Presidente da República Michelle Bachelet, uma das vítimas do abjecto ditador.

Que a mortalha te seja pesada, canalha!

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Registo

Só hoje inseri na Aba da Causa o meu artigo da semana passada no Público. "O território, de novo" -- assim se chama ele. Para quem se interesse por tal tema...

Gostaria de ter escrito isto

«É verdadeiramente risível o apelo à vitória feito por Bush, na conferência de imprensa que deu no dia seguinte à apresentação do relatório [realtório Baker-Hamilton sobre o Iraque], juntamente com Blair. Todos concordarão com a sua afirmação "a vitória no Iraque é importante... é importante para o mundo civilizado". O que é lamentável é que, numa altura em que ela já não tem qualquer possibilidade de ser alcançada, o primeiro responsável por este desastre ainda continue a tomar posições que terão como efeito torná-lo mais dramático e doloroso. E também que Blair não tenha a coragem de se demarcar publicamente de um verdadeiro irresponsável, quando já decidiu retirar as forças britânicas do Iraque, no próximo ano.»
(General Loureiro dos Santos, Público de hoje, link para assinantes).

Iniquidade territorial

«Transportes [públicos] de Coimbra vão ficar 5,6 por cento mais caros» -- noticia o Público de hoje. Vale uma aposta em como os transportes públicos de Lisboa e do Porto não vão aumentar tanto, mesmo se o aumento de encargos (nomeadamente combustíveis) seja igual?
É que em Coimbra, como noutras cidades do País onde os transportes urbanos são um serviço municipal (como a lei prevê, aliás), quem suporta os défices dos serviços públicos é o orçamento municipal. Mas em Lisboa e no Porto, quem os suporta é o orçamento de Estado, ou seja, os contribuintes de todo o País, incluindo os que já pagam os transportes das suas próprias cidades (como expliquei aqui). Quando são os outros a pagar, que importa o aumento do défice?

Correio da Causa: Competição fiscal na UE

« ... "quando os Estados-membros travam uma suicidária competição fiscal entre si".
Os Estados-membros da UE são democráticos e devem ter o direito de, democraticamente, decidirem qual a política fiscal que adoptam. Decidir o que taxam e como taxam e a que nível taxam.
É normal que certos Estados se abstenham de ter impostos mais altos, quando não necessitam deles. Se o orçamento de um determinado Estado-membro da UE está equilibrado, por que é que esse Estado não há-de ter o nível de impostos que tem?
Por exemplo, Espanha tem impostos bastante mais baixos do que Portugal, pelo menos em certos casos. Mas tem o orçamento equilibrado, ao contrário do português. Será que o povo português deve ter o direito de obrigar os espanhóis a aumentar os seus impostos, para que Espanha não faça concorrência fiscal a Portugal, quando o Estado espanhol consegue perfeitamente viver com os impostos que tem?
Bruxelas não tem nada que dar ordens aos Estados-membros sobre o seu nível fiscal. Cabe ao povo de cada Estado decidir sobre os seus impostos.»

Luís L.

Comentário
A independência fiscal pressupõe espaços económicos autónomos. Porém, num mercado integrado, como o da UE, sem fronteiras internas e com inteira liberdade de circulação de factores de produção ("mercado interno" ou "mercado único"), torna-se nececessário um mínimo de harmonização fiscal, especialmente no que respeita ao imposto sobre as empresas, sob pena de uma competição sem fim pela diminuição da carga fiscal, que só pode favorecer o "dumping" fiscal e social.

Correio da Causa: Ordem dos Médicos

«"A Ordem dos Médicos não é uma associação médica privada, de tendência religiosa, nem sectária."
... mas devia ser.
Seria muito saudável, e correcto, que houvesse diferentes "Ordens" (ou com qualquer outro nome) das quais os médicos que o desejassem fizessem parte, e que defendessem os princípios éticos e deontológicos que desejassem, sem interferência nem protecção do Estado.
A situação actual - de uma Ordem única, à qual (ainda por cima!) os profissionais são obrigados a pertencer e a pagar quotas, protegida pelo Estado - presta-se a abusos como este.
Abusos aliás que não são exclusivos da Ordem dos Médicos, nem de outras Ordens profissionais. No mundo do desporto verificam-se abusos semelhantes, com as federações desportivas a impor, ano a ano e dia a dia, regulamentos que vão contra a lei geral do Estado.»

Luís L.

Correio da Causa: Eduardo Cintra Torres contra a ERC

«Agradeço a sua atenção ao caso em que fui envolvido a respeito de um artigo que publiquei no nosso jornal.
Relativamente à sua questão, gostaria de lhe indicar que as minhas acusações não foram levianas, pois resultaram de trabalho aprofundado de investigação quantitativa, qualitativa e textual de noticiários televisivos. Baseei-me também em informações recolhidas. Desde Agosto até agora, as informações adicionais recolhidas apenas reforçam a convicção do que escrevi a respeito da correcção da sua factualidade. Nesse sentido, mantenho todo o conteúdo do que escrevi nos meus artigos sobre a matéria, um dos quais (de 17.09.2006), aliás, foi ignorado, na minha opinião deliberadamente, pela ERC.
Considero o documento da ERC muito grave para o futuro da liberdade de informar e até de criticar. Abre precedentes inaceitáveis na forma de um regulador apreciar um texto e analisar o seu contexto. Entra em domínios que claramente extravasam as competências do regulador, seja a meu respeito, seja a respeito do jornal.
Inclui,além disso, um incrível enviesamento, na minha opinião, não só na análise textual do meu primeiro artigo como nos próprios critérios de análise documental das emissões televisivas.
É também enviesado, na minha opinião, na dualidade de critérios com que trata os meus textos (e os do Director) e com que trata todas e quaisquer informações com origem no Governo e na RTP.
Será necessário tempo para analisar em detalhe o texto da ERC, mas a sua gravidade deve ser considerada por todos os que utilizam o espaço público,independentemente da sua posição política ou da apreciação que façam a respeito do meu trabalho.(...)»

Eduardo Cintra Torres

domingo, 10 de dezembro de 2006

Impunidade

Tal como quase todos os ditadores, Pinochet morreu impune.

Ordem dos Advogados: Tortos Desumanos

Um senhor advogado, Dr. Carlos Pinto de Abreu, presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados, esteve esta manhã na SIC-Notícias, a pretexto de comentar a imprensa de hoje, a propaganderar o não no referendo sobre a IVG.
Defendeu, entre outros aspectos, que a Constituição consagrava o «direito de todos a nascer» (de todos os embriões certamente...)e que "as mulheres pobres" sempre poderiam doar os filhos de gravidezes indesejadas. E, para sustentar a manutenção da penalização actual da IVG, desvalorizou os julgamentos a que foram sujeitas mulheres portuguesas como meras "censuras" da sociedade, dado que nenhuma acabou presa.
Mas quem é este personagem que se arma em especialista em direitos humanos? Quem é este pretenso defensor dos direitos humanos que descarta as abjectas humilhações, violações à sua dignidade e integridade pessoal, física e psíquica, de que têm sido alvo mulheres portuguesas levadas a tribunal acusadas de ter praticado aborto?
Como as jovens de Aveiro que, à saída de uma clínica foram agarradas pela Polícia, levadas contra a sua vontade a um hospital e forçadas a submeter-se a exames ginécológicos? E que se acharam durante anos, mais os respectivos pais, mães e namorados, sob escutas telefónicas, a pretexto de provar "crimes de aborto" que o Tribunal nunca conseguiu dar por provados? Não foram estas pessoas vítimas das mais absurdas e medievais violações dos seus mais elementares direitos humanos?
Não seria este comportamento, por parte de polícias, pessoal hospitalar e magistrados envolvidos, passível de condenação por violação dos direitos humanos, num país onde houvesse mais gente (incluindo advogados, sobretudo advogados) realmente empenhada na defesa dos direitos humanos?
Para isso era útil que a Ordem dos Advogados tivesse um verdadeiro defensor dos direitos humanos à frente da sua Comissão dos ditos. Em vez de um cruzado. Dos tortos desumanos.

Mais uma medida-de-direita-e-neoliberal (3)

«Governo aprova criação de cerca de 300 equipamentos sociais».

O bode expiatório

No Congresso do Partido Socialista Europeu, realizado no Porto, foi Ségolène Royale, a candidata do PS francês às eleições presidenciais do ano que vem, que disparou a primeira artilharia pesada contra o Banco Central Europeu, por causa da sua política de subir os juros para travar a inflação. Trata-se de um desporto em que alinham muitos outros atiradores.
Porém, esse exercício faz pouco sentido, por duas razões. Primeiro, o BCE limita-se a exercer o mandato quie lhe foi confiado, por todos os Estados-membros, no seu Estatuto, no sentido de manter a estabilidade dos preços. Segundo, a principal dificuldade da UE não passa pela política monetária do BCE, mas sim pela falta de política económica das instituições comunitárias, a começar pelo Conselho, onde estão representados todos os governos nacionais.