domingo, 16 de novembro de 2014

Responsabilidade republicana

A demissão do Ministro Miguel Macedo (um ministro competente, sóbrio e eficiente) e a sua declaração sobre a responsabilidade política constituem um momento de resgate republicano da dignidade da política.

sábado, 15 de novembro de 2014

Banqueiros tóxicos

«Somehow, capitalism (...) must be rescued from the bankers».

Quando até o The Economist conclui que o capitalismo precisa de "ser salvo dos banqueiros" é porque a profissão se tornou tóxica.
Em Portugal, depois da infâmia do BPN, do BPP e do BES -- sem falar das egrégias remunerações, prémios de gestão e pensões dos banqueiros --, nem os mais impenitentes apoiantes do capitalismo financeiro ousarão discordar de que a má fama dos banqueiros compromete a credibilidade do capitalismo contemporâneo.

Isto faz sentido?

«PS defende manutenção do IRC nos 23% e insiste no IVA da restauração a 13%».

O que é que é mais importante neste momento de retoma lenta e "arrastada" da economia: incentivar o investimento das empresas ou incentivar o consumo das pessoas?

Adenda
Observam-me que o consumo também dinamiza a economia. Sim, mas uma parte importante dessa "dinamização" esvai-se na importação daquilo que se consome. Além disso, a redução do IVA da restauração vai beneficiar principalmente os consumidores com rendimentos acima da média, que constituem a clientela regular dos restaurantes, pelo que não é propriamente muito progressiva em termos fiscais nem progressista em termos sociais.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Privatização da TAP (2)

(Fonte: Diário Digital)

O que o PCP não explica é como é que se assegura o "valor estratégico da TAP" quanto esta está em situação de falência e não tem dinheiro para investir, consumindo em juros o dinheiro com que devia comprar aviões. Talvez pregando o calote aos credores, como o PCP propõe para a dívida pública (com as consequências fáceis de imaginar)...
Compreende-se muito bem a oposição do PCP à privatização da TAP -- mesmo que esta seja, nas circunstâncias da empresa, o único meio de a viabilizar --, pois a privatização põe em risco a sua influência na empresa e a instrumentalização política desta, através dos seus sindicatos. Mas nem sempre os interesses político-sindicais nas empresas públicas correspondem ao interesse público.

Privatização da TAP (1)

(Fonte: Diário Digital)
Eu também preferia que a TAP se mantivesse sob controlo público. O problema é que, como mostrei algures, nenhum investidor privado está disponível para "queimar" centenas de milhões de euros para recapitalizar a TAP sem ter o controlo da empresa, ficando à mercê das idiossincrasias políticas de cada governo e da sua vulnerabilidade às greves políticas na empresa (como tem sucedido até aqui). Não é possível ter o "sol na eira e a chuva no nabal". 
Tendo deixado degradar a situação financeira da empresa ao longo dos anos e estando privado de meios financeiros para assegurar a sua imprescindível recapitalização, o Estado vê-se confrontado com uma situação em que o única maneira de viabilizar a TAP é... aliená-la. Quem não tem dinheiro, não tem vícios.
O melhor modo de defender o interesse público ligado à TAP não está na sua manutenção como empresa pública mas sim no caderno de encargos da privatização e em mecanismos que assegurem o seu cumprimento no futuro, prevenindo situações como a da PT.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Taxas e "taxas"


Bom, os municípios "podem criar todas as taxas" -- desde que sejam taxas, e não impostos com o nome de taxas, pois os municípios não podem criar impostos (embora beneficiem de impostos criados pelo Estado).
Ora, a noção de taxa pressupõe uma ação ou contrapartida individualizada da atividade municipal, que pode consistir, por exemplo, numa vantagem para os particulares, num serviço prestado pela administração, num encargo exigido à administração ou na remoção de um obstáculo administrativo ao acesso a uma atividade condicionada (taxa de ocupação do domínio público, taxa de utilização de equipamentos municipais, taxa de inspeção e vistoria de obras, taxa de construção, taxa de licenciamento de atividades económicas, etc.).

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

"Luxleaks": os custos da falta de Europa

"Os Luxleaks  expõem o custo da falta de Europa.
Enquanto os Governos no Conselho Europeu e a Comissão Europeia friamente impõem impostos brutais e austeridade letal sobre as classes médias e os pobres, competem imoralmente entre si para oferecer esquemas de evitar impostos e de evasão fiscal para os ricos e grandes companhias, via "acordos fiscais" e até via amnistias fiscais - como a que o Governo Português facultou, com a benção da Troika, em 2012, aos gangsters Espírito Santo. 
Não teremos investimento público ou privado para gerar crescimento e emprego e não temos concorrência leal e um verdadeiro Mercado Interno, se os nossos Estados Membros continuam embarcados na corrida para o fundo do "dumping" fiscal.
A Comissão tem de agir e urgentemente:
1 - Concluindo as investigações em curso sobre "ajudas de Estado" ao Luxemburgo, Holanda, Irlanda.
2 - Apoiando o PE no trilogo sobre a nova Directiva contra o branqueamento de capitais, especificamente no estabelecimento de acesso publico a um registo dos beneficiários de participações sociais, incluindo fundações e "trusts".
3 - Exigindo  informação país-por -país (às companhias e governos, sobre lucros e impostos pagos)
4 - Pressionando os Estados Membros  a recuperar impostos evadidos e a confiscar os proventos da fraude fiscal.
Finalmente, a Comissão Europeia  deve  pedir e acolher positivamente o estabelecimento pelo Parlamento Europeu  de uma Comissão Especial de Inquérito sobre evasão, fraude e elisão fiscais. Ela só pode ser de grande ajuda para pressionar os Estados Membros e o Conselho a agirem".

Minha intervenção esta tarde no debate plenário do PE, com o Comissário Moscovici, sobre evasão, elisão e fraude fiscais.

"Resolvido", uma ova!

É inaceitável dizer que que "o assunto está resolvido" por a fonte de contaminação da legionella ter sido identificada e eliminada.
Não, o assunto só está resolvido depois de apuradas as responsabilidades contraordenacionais e criminais por eventual incumprimento das normas de monitorização e inspeção de instalações industriais de risco e dos deveres públicos de supervisão administrativa.
Um surto infecioso desta dimensão, que causou vítimas mortais e pânico social justificado e que desacreditou o país internacionalmente em matéria de saúde pública não pode ficar "em águas de bacalhau".

"O aviso"


Assim começa a minha coluna semanal de hoje no Diário Económico.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Manobra fracassada



Naufragou a manobra da Ministra da Justiça para atirar areia para os olhos da opinião pública, tentando lançar sobre terceiros a responsabilidade pela incompetência própria no caso Citius.
Pior do que não assumir a responsabilidade política é tentar alijá-la sobre pessoas inocentes. Disgusting!

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

"O impacto da política de comércio externo da UE em Portugal"

Vou proferir uma conferência sobre o tema em epígrafe no Porto, no próximo dia 13 de novembro, às 21:30, no Auditório de Serralves.
Do convite:
«Dada a crescente liberalização do comércio internacional e do investimento estrangeiro, as economias nacionais são cada vez mais abertas ao exterior e a política económica externa torna-se cada vez mais importante.
Como Estado-membro da UE, Portugal é parte da política de comércio e de investimento externo da União, a quem compete a definição e condução daquelas políticas.
Desde pelo menos 2006, a UE enveredou por uma política agressiva de liberalização do comércio externo, através de acordos plurilaterais e bilaterais. Nos últimos anos foram concluídos e entraram em vigor importantes acordos comerciais externos com a Coreia e com a Colômbia e Peru, entre outros. Recentemente foi concluído um ambicioso acordo de comércio e investimento com o Canadá. Entre os muitos acordos em negociação contam-se os acordos de comércio e investimento com o Japão e com os Estados Unidos da América.
Pela sua dimensão e pelas relações estreitas com os Estados Unidos, o acordo transatlântico reveste uma importância especial para Portugal. »

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Homessa!

 
(Fonte: Diário Digital)

É evidente que não cabe a Juncker pronunciar-se enquanto Presidente da Comissão Europeia sobre a atuação de um governo luxemburguês a que presidiu; mas cabe-lhe explicar-se como ex-primeiro-ministro do Governo luxemburguês sob o qual ocorreram os referidos acordos de evasão fiscal.
De outro modo haverá perfeita fuga de responsabilidades: o chefe do anterior governo não responde porque já deixou de o ser; o chefe do atual governo argumentará que não responde porque as coisas passaram-se com o governo anterior.
Estão a brincar connosco?

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Luxemburgo, paraíso fiscal

(Clicar para ampliar)

O jornal italiano La Repubblica dá conta da existência de acordos fiscais até agora desconhecidos entre o Governo luxemburguês, chefiado até há poucos meses pelo atual presidente da Comissão Europeia, Juncker, e várias grandes empresas, que permitiram a estas poupar milhões de euros em impostos.
A pergunta que se coloca é saber se num mercado interno pode haver "paraísos fiscais" como estes e uma competição fiscal selvagem, e secreta.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Para eleitor ver

(Fonte: Diário Económico) / Clicar para ampliar

Confirmando em toda a linha a análise negativa da Comissão Europeia, o FMI arrasa os pressupostos e as previsões do orçamento para 2015. Quatro anos depois, o País continua sem resolver os seus dois principais problemas estruturais: sustentabilidade das contas públicas e competitividade externa.
Decididamente, este orçamento é para eleitor incauto ver. Mas que importa, se a encenação só se revelar depois das eleições do próximo ano? Quem vier a seguir que pague a fatura...

"Espetro"

 (Clicar para ampliar)

Eis o cabeçalho da minha coluna semanal de hoje no Diário Económico.

Mistérios americanos


As eleições intercalares nos Estados Unidos constituem uma pesada derrota para os Democratas (a azul no quadro), e em especial para Obama, e uma folgada vitória para os Republicanos (a vermelho no quadro), que reforçaram a maioria na Câmara dos Representantes e conquistaram a maioria no Senado.
Com um Congresso hostil, não vão ser fáceis os dois anos que restam de Obama na Casa Branca. Apesar da boa situação da economia e da recuperação do emprego, Obama não conseguiu manter o brilho de uma presidência que no segundo mandato não cessou de perder convicção e popularidade. Mistérios americanos...

Concordo...

... com a suspensão da cooperação judiciária com Timor. Era a única atitude digna perante a injustificável ação hostil do governo de Dili.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Pensar duas vezes

 
(Fonte: The Economist)
Os governos apostam tudo no crescimento económico como único meio de inverter o desemprego e proporcionar recursos financeiros para sustentar o Estado social.
Mas as perspetivas de crescimento nas economias avançadas deixam muito a desejar, como mostra o quadro acima. Descontada a inflação, o crescimento real ainda foi menor. Parece que vamos ter de conviver com uma "estagnação secular", desemprego elevado e medíocres recursos financeiros do Estado,
Não são propriamente desenvolvimentos esperançosos. Quem julga que o problema da "sustentabilidade do Estado social" é uma falsa questão, deveria pensar duas vezes...

Majoração


Esta conclusão só pode surpreender quem não faz contas!
O que o estudo não diz é que essa "majoração" das pensões é especialmente grande nas pensões da CGA, primeiro porque a maior parte delas foi obtida quando a idade de aposentação era 60 anos (portanto menos anos de contribuição e mais anos de pensão) e segundo porque até há poucos anos a pensão era igual à 90% da última remuneração, em geral mais alta do que a remuneração média.
Não é por acaso que em Portugal é muito elevada a relação entre a despesa com pensões e o PIB nacional.

"Ultima oportunidade" para a Europa

A entrada em funcionamento da nova Comissão Europeia pôs termo a dez anos de Durão Barroso a enfraquecer a União Europeia, e a Comissão, em particular.  
...
A ver vamos se a Europa se recentra nas pessoas, se a União volta aos carris da integração política e do relançamento económico e social, e se devolve aos cidadãos a confiança e a esperança no projecto europeu. Se a nova Comissão europeia continuar com políticas que só fazem crescer os movimentos extremistas e antidemocráticos na Europa, perde-se a oportunidade. E foi o próprio Juncker quem acentuou que esta Comissão é a da “última oportunidade” para a Europa.

(Extractos da minha crónica de hoje de manhã no " Conselho Superior" da ANTENA 1, transcrita na ABA DA CAUSA, aqui http://aba-da-causa.blogspot.be/2014/11/nova-comissao-europeia-ultima.html)

Assimetrias regionais


Um dos indicadores e fatores do nosso atraso relativo é a percentagem inferior à média europeia de pessoas com ensino superior (apenas 15% entre nós).
Este quadro revela também a grande assimetria entre as cidades e regiões do país quanto a esse indicador, com uma grande diferença entre o melhor índice (Coimbra e região Centro), muito acima da média nacional, e cinco regiões abaixo da média urbana.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

"Pau e cenouras"


O título da notícia não reflete inteiramente o seu teor, pois a proposta alemã, subscrita pelos dois partidos da coligação (CDU/CSU e SPD), parece incluir também prémios aos países cumpridores, conjugando portanto "sticks and carrots".
Tenho defendido que a UE devia adotar um programa especial de apoio financeiro aos países com grandes défices de competitividade como Portugal (com objetivos e calendário claros), sem o qual as chamadas "reformas estruturais" (reestruturação industrial, formação e readaptação profissional, etc.) podem ser económica e socialmente muito penosas. Tal ideia, que chegou a ser defendida publicamente pelo ex-presidente do Conselho Europeu, von Rompuy, em 2012, através de "contratos.programa" financiados pela UE, e que tinha o apoio da Alemanha, foi porém vetada por alguns países (como a Holanda e a Finlândia).
Esta nova proposta alemã, cujo texto ainda não é conhecido publicamente, parece retomar algo dessa ideia, juntando-lhe porém a vertente sancionatória para os países incumpridores. Se o risco do porrete for o preço para ter as cenouras, do mal o menos...

domingo, 2 de novembro de 2014

"PSD/Lisboa quer que Passos escolha entre chefia do governo ou do PSD"

Como é obvio, o título deste post é fictício, sendo um jogo contextual com a notícia verdadeira da imagem baixo.
[Fonte: Diário Digital]
Mas o título só é fictício porque os autores da notícia não são coerentes. Com a mesma falta de lógica e de consistência com que exigem a Costa que opte entre a liderança do PS a presidência da CM de Lisboa, deveriam também exigir a Passos a opção entre a presidência do PSD e a presidência do Conselho de Ministros.
Há quem veja suposto argueiro no olho do vizinho mas não veja a tranca no próprio...

sábado, 1 de novembro de 2014

Durão Barroso


Não acompanho o coro de vozes contra Durão Barroso, agora que ele termina as suas funções de Presidente da Comissão Europeia.
É evidente que Barroso não vai ficar na história da Comissão Europeia como um segundo Delors (ninguém foi...), que juntou a sua visão e o seu génio à fortuna do tempo e das circunstâncias. Mas, a meu ver, Durão Barroso não foi uma personagem menor, como outros que passaram pelo lugar antes dele.
Durante os dez anos em que ele conduziu a Comissão Europeia a União conseguiu passar três testes decisivos: "digerir" o alargamento a Leste, superar o fracasso do Tratado Constitucional de 2004 e aprovar e pôr em funcionamento o Tratado de Lisboa e, sobretudo, enfrentar denodadamente o enorme terramoto da crise de 2009, que rapidamente se transformou numa ameaça ao Euro e à própria União. Não é pouco!
Pensar que durante a crise Portugal foi vítima das malfeitorias alemãs e que Barroso foi cúmplice delas é uma dupla caricatura. Deixando de lado os erros e atrasos da União na resposta à crise, nas suas diversas vertentes, a verdade é que os poderes e as responsabilidade da Comissão nessa matéria eram limitados e Barroso sempre esteve entre os que defenderam publicamente posições mais firmes contra os Estados-membros que marcaram negativamente as posições da União. Alguns dos discursos mais fortes que ouvi no Parlamento Europeu em favor da solidariedade e da coesão europeia pertenceram-lhe.
Não poucas vezes critiquei as suas posições e opiniões. Mas, como português e como cidadão europeu, entendo que Durão Barroso fez jus ao reconhecimento por uma contribuição globalmente muito positiva para a integração europeia e para o papel de Portugal na mesma.

Aditamento
De um mail de um leitor: "Ainda será cedo para a história, porém já existe um trabalho sério sobre "Les années Barroso,2004-2014" de Éric Bussière (Prof.na Sorbonne) e Guia Migani (Mestre de conferências na universidade de Tours), ed. Tallandier. Afinal, a UE não implodiu, o euro salvou-se, os bancos estão hoje mais vigiados, a União Bancária dá os seus primeiros passos, o BCE ganhou estatuto de supervisor, houve medidas para as alterações climáticas e os efeitos perversos da mundialização são mais escrutinados.»

Absoluta desinformação


A afirmação de que as negociações para um acordo de comércio e investimento entre a UE e os Estados Unidos (conhecido por TTIP) têm decorrido "num secretismo quase absoluto" padece de uma absoluta falta de correspondência com a realidade (e o mesmo sucede com o resto do artigo em geral...).
Fui presidente da Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu e relator parlamentar para estas negociações na legislatura passada. Posso dizer, sem risco de ser desmentido, que nunca houve uma negociação comercial internacional tão pouco "secreta". Pela primeira vez, o mandato negocial da Comissão foi tornado público; pela primeira vez, o Parlamento Europeu, através da comissão competente, tem acesso a todos os documentos negociais da União e a informação imediata sobre a agenda e os resultados de cada ronda negocial; pela primeira vez, a Comissão tem tornado públicas as suas posições negociais para cada assunto; pela primeira vez, existe uma conferência de imprensa após cada ronda negocial e um encontro aberto com os stakeholders, incluindo sindicatos e NGOs; pela primeira vez, foi constituída junto da Comissão Europeia uma comissão permanente de acompanhamento das negociações com representantes da sociedade civil, que tem acesso a informação negocial reservada. Se isto é "secretismo"...
Não tenho nada contra o furor anticapitalista, antiamericano e protecionista que anima os opositores ao TTIP. Estão no seu direito. Mas creio que nenhuma causa pode merecer crédito na base de ficções.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Orçamento de 2016

O orçamento para 2016 vai ser o primeiro grande teste de António Costa se o PS ganhar as eleições daqui a um ano. As pressões para aumentar a despesa pública e para reduzir a carga fiscal vão ser mais que muitas
Referindo apenas dois dos compromissos já assumidos pelo PS, a reposição integral das remunerações dos funcionários públicos vai custar uns 600 milhões e a redução do IVA da restauração vai custar mais quase 200 milhões. Sabendo-se que o esforço de consolidação orçamental vai ter de continuar, nomeadamente uma redução sensível no défice nominal e uma descida de 0,5 no défice estrutural, e que isso vai custar muitos milhões de euros, todos os compromissos de despesa pública adicional ou de corte na receita irão tornar o exercício orçamental ainda mais exigente. Tudo somado, é muito dinheiro!
Eu começo a temer pela pele do ministro das finanças do próximo governo...

Adenda
Quanto ao restabelecimento da remuneração dos funcionários públicos, invoca-se a decisão do Tribunal Constitucional que declarou inconstitucional a permanência dos cortes. Mas, salvo melhor opinião, essa decisão não impõe a recuperação total num só ano nem se pronunciou sobre o plano de recuperação ao ritmo de 20% ao ano, começando já em 2015.

Adenda 2
E os pensionistas da função pública que se reformaram nestes anos de corte das remunerações -- e que portanto têm uma pensão inferior à que teriam se não tivesse havido esse corte -- também vão ver as suas pensões recalculadas em função da remuneração restabelecida, ou vão ficar com uma pensão reduzida para sempre?

Uma leitura constitucional da União Europeia

[Clicar para ampliar] 

Aqui está o meu novo livro, acabado de publicar!
Dez estudos reunidos em três capítulos: Bases constitucionais da UE, Direitos fundamentais, 'Constituição externa' da UE. Uma leitura constitucional da UE, como "respublica" supranacional.

"Cedo"


Lê-se e não se acredita. E quando é que deixa de ser cedo? Quando Israel deixar, isto é, dia de são-nunca-à-tarde? Quando Israel tiver anexado integralmente Jerusalém oriental e a Cisjordânia e  restarem somente as ruínas de Gaza como território palestiniano?
Não tem a Europa mais a oferecer aos "condenados da terra", que são os palestinianos, se não estas pérolas de cinismo diplomático em todo o seu esplendor?

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Duas Europas

 
[Clicar para aumentar]

O European Voice de hoje refere um estudo de 2013 sobre o estado da saúde em todos os países europeus (não somente UE), onde Portugal aparece num modesto 18º lugar, embora com score positivo e bem acima do meio da tabela (faixas azul claro na imagem).
Na verdade, o estudo inclui todas as variáveis relevantes para a saúde, desde a alimentação à segurança rodoviária, em algumas das quais o nosso país deixa muito a desejar. Como é óbvio, a saúde não tem a ver somente com o desempenho dos serviços de saúde propriamente ditos.
O que é mais evidente no estudo é a clara divisão geográfica entre duas Europas em matéria de saúde: de um lado, a Europa ocidental e central (mais Chipre), que inclui todos os Estados-membros da UE antes do alargamento a Leste; do outro lado, a Europa oriental, incluindo todos os antigos países comunistas (onde só escapam a República Checa e a Eslovénia).
Decididamente, a história política conta!

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

E os munícipes estão de acordo?

Nunca percebi por que é que o horário de trabalho semanal na função pública tinha menos cinco horas do que no setor privado (para remunerações muitas vezes superiores). E agora que a norma é igual, não percebo porque é que há alguns municípios que querem derrogar essa norma e manter o antigo horário de trabalho reduzido (embora alguns comecem a hesitar).
De duas, uma: ou têm pessoal a mais para as tarefas que têm ou trabalho a menos para o pessoal que têm, o que dá no mesmo. A pergunta que importa fazer é saber se os munícipes, que pagam os impostos e taxas municipais, estão de acordo com a derrogação.

Adenda
De resto, se os funcionários municipais voltarem às 35 horas, por que é que os do Estado hão de ficar com 40? E por que é que os trabalhadores do setor privado não hão de ter as mesmas horas de folga?