Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
Testes de Costa (5)
É verdade, e não foi esquecimento. São as seguintes as razões. Primeiro, duvido que com uma forte alternativa política do PS protagonizada por António Costa esses partidos tenham grandes chances eleitorais; meia dúzia de deputados pode não ser suficiente para fazer uma maioria com o PS. Segundo, e mais importante, não aposto nem na viabilidade de uma tal coligação (por exemplo, a oposição de princípio do Livre ao Tratado Orçamental da UE) nem sobretudo na sua consistência e estabilidade, correndo o risco de naufragar à primeira dificuldade política, se não ao primeiro orçamento. Terceiro, como já disse, optar por uma aliança à esquerda e preterir uma coligação ao centro significa prescindir de um conjunto de reformas necessárias que só podem ser feitas com o PSD.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
Testes de Costa (4)
E ao lançar este desafio explícito aos eleitores, AC responsabiliza-os também pelas consequências, incluindo a solução governativa que se tornar necessária, caso não obtenha a ambicionada maioria absoluta.
Testes de Costa (3)
Por razões óbvias, porém, se quer maximizar as hipóteses de maioria absoluta, AC não pode permitir-se especular sobre nenhum cenário alternativo.
Testes de Costa (2)
Considero precipitada a ideia de que AC rejeitou liminarmente a hipótese de uma coligação de governo com o PSD (na imagem notícia do Público), em caso de necessidade.
Na minha interpretação, o que ele disse sobre matéria governativa foram três coisas: (i) por todas as razões, é preferível um governo de maioria absoluta do PS; (ii) não é de aceitar a noção do "arco da governação" limitada ao trio CDS-PSD-PS, pelo que o BE e o PCP têm de ser desafiados a participar numa eventual aliança de governo; (iii) independentemente da liderança do PSD, está excluída qualquer coligação de governo à direita "que se traduza na prossecução das mesmas políticas do atual governo".
Por consequência, AC não excluiu nenhuma força política de alguma eventual aliança governativa, tendo excluído, sim, a continuidade de políticas de "austeridade" e de "empobrecimento". Nem era de esperar que dissesse coisa diferente. A única novidade (sem constituir nenhuma surpresa) está na afirmação de que não basta uma mudança de liderança no PSD (de "Pedro" para "Rui") para o tornar um parceiro de governo aceitável.
Testes de Costa
Mas a caminhada para a conquista do poder só agora começa. Três questões ficaram pendentes de resposta em melhor oportunidade: as políticas concretas para a saída da crise no contexto da incontornável disciplina orçamental (o primeiro orçamento vai ser um teste crucial); a solução governativa em caso de vitória sem maioria absoluta, excluída a hipótese de governo minoritário; a candidatura presidencial a apoiar pelo PS, caso falhe a hipótese Guterres.
sábado, 29 de novembro de 2014
Intervenção no XX Congresso do PS
Camaradas,
Vivemos tempos em que os valores da ética republicana e democrática parecem já não ser respeitados e muitas instituições parecem infiltradas por oportunistas e criminosos, ao serviço de interesses particulares, contra o interesse público e nacional.
A degenerescência não é apenas nossa, é europeia e global: decorre deste estádio do capitalismo, dominado pelo sector financeiro especulativo, que vive da captura dos agentes políticos e do Estado. Entender isto é fundamental para travarmos o combate e o sabermos orientar estrategicamente pela regeneração do país e da Europa.
Para isso, precisamos mais do que nunca de um PS forte, unido e determinado. Sem o PS não salvaremos Portugal da destruição e venda ao desbarato em que o Governo de Cavaco Silva, Passos Coelho e Paulo Portas se esfalfa. Só o PS pode resgatar o povo português do empobrecimento material, moral e anímico em que as políticas desta troika, e da outra, o enterram.
Vamos prosseguir contigo, António Costa, a regeneração que António José Seguro iniciou, tirando o PS da fossa de 2011. A separação rigorosa e controlada entre actividade política e negócios é imperativa para credibilizar a política e os políticos.
A alternativa que Portugal exige ao PS implica a construção - e depois a aplicação, quando o PS for governo - de um programa de reformas no Estado que ajude a por a economia a crescer estrategicamente e a criar emprego decente em sectores com futuro - das energias renováveis ao digital, passando pelo mar, sem esquecer o agro-industrial - voltando a dar confiança e esperança aos cidadãos.
E às cidadãs também! Orgulhamo-nos do papel pioneiro do PS na promoção da paridade em Portugal. Não pode haver retrocesso: as próximas listas para as legislativas serão homem/mulher, como foram nas eleições europeias. E o próximo governo PS será paritário.
Central na Agenda para a Década - e na agenda para o ano que vem, já -, tem de ser a reforma da fiscalidade. O actual sistema é iníquio, fomentador da desigualdade, uma selva propiciadora de corrupção e evasão fiscal, penalizadora de quem trabalha, cria riqueza e inova. O estudo tem de começar já e tem de se articular com o combate pela harmonização fiscal na União Europeia, única forma de esvaziarmos os paraísos fiscais e acabarmos com a corrida para o fundo disputada entre europeus e ilustrada pelo escândalo Luxleaks. Amnistias fiscais como as que foram introduzidas em 2005 e acabaram a beneficiar evasores fiscais de alto e de baixo coturno - nunca, nunca, mais!
A reforma do Estado tem de ter em conta que vivemos num mundo interdependente mas desresregulado, exposto a novos riscos e ameaças, que não conhecem fronteiras e assentam em tecnologias que subitamente podem paralisar infra-estruturas críticas para a vida quotidiana e a segurança básica dos cidadãos. Ao contrário do que este Governo quer fazer crer, Portugal não está preparado para se proteger e proteger recursos próprios do terrorismo, da criminalidade organizada, de ataques cibernéticos, de pandemias, etc.. E este Governo tem agravado a impreparação: as Forças Armadas estão a ser destruidas e a floresta de estruturas policiais e de serviços de informação sobrepõe e duplica meios, desperdiça recursos e fomenta perigosas rivalidades - veja-se o "varrimento electrónico" que o SIS se prestou a fazer contra a investigação judicial ao esquema corrupto e criminoso dos "vistos dourados".
Finalmente, uma governação socialista tem de cuidar da nossa capacidade de identificar, defender e promover os interesse nacionais na União Europeia - como bem frisou o Secretário Geral António Costa. Temos de aprofundar a integração política e económica, reforçar o Euro, o Mercado Interno, trabalhar pela justiça social, os direitos humanos, uma economia verde e inteligente. Temos de trabalhar para potenciar a União Europeia como instrumento da tão necessária regulação global.
Camaradas,
Tenho a convicção de que o PS há-de sair deste Congresso mais forte e unido, porque nós no PS sempre soubemos reagir às adversidades que pareciam abater-nos. Sempre soubemos fazer, em momentos difíceis como o que atravessamos, a síntese racional das perspectivas internas diversas que protagonizamos, em razão de uma razão socialista que a todos nos une, fundada na consciência arreigada do bem comum dos portugueses, que nunca atraiçoamos.
Muita, muita força, António Costa!
Vamos fazer a mudança que Portugal exige. Estamos contigo. Avançamos contigo.
Viva o PS! por Portugal.
Viva Portugal!
Ana Gomes
29 de Novembro de 2014
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Modo tablóide (2)
O semanário Expresso também não escapou à vertigem tabloidista em que o deontologia jornalística é a primeira vítima, como nesta peça em que, com um jogo de palavras pouco subtil, se permite adotar no título a tese da acusação sobre a suposta "casa de Sócrates" em Paris.
Salvo a suspeita da polícia posta a correr, o Expresso tem alguma prova concludente de que a casa não pertence mesmo ao titular do registo predial?! Não seria curial, numa postura de jornalismo sério, dizer "Alegada casa de Sócrates..."
Simplesmente lamentável.
Modo tablóide (1)
Ora, a verdade é que o desatino do PSD em criar um novo tipo de crime era manifestamente inconstitucional, como aqui defendi na altura própria e como depois decidiu concludentemente o Tribunal Constitucional (como, aliás, o próprio Público lembra, porém sem retirar a moralidade desse facto). Afinal, o PS tinha toda a razão na sua oposição ao tal abstruso "crime de enriquecimento ilícito".
[Revisto]
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Leituras
Os fatores da crise, segundo Rui Rio.
Adenda
A observação de Rio que foi selecionada para título da peça merece dois comentários: (i) há democracia porque há eleições democráticas (livres, justas e concorrenciais), pois as ditaduras também podem ter eleições de fachada (ver o Estado Novo); (ii) como alguém disse, a democracia eleitoral pode ser o regime político mais imperfeito do mundo, descontados todos os outros.
Abuso de autoridade (7)
A uniformidade de critérios é justamente apontada como um dos testes da imparcialidade. A duplicidade de critérios do Ministério Publico e do juiz de instrução nestes dois casos é edificante!
"Igual proteção da lei"
Estes são os primeiros dois parágrafos do meu artigo semanal de ontem do Diário Económico, sobre o caso Sócrates (que já vai em mais de 1000 "shares").
Abuso de autoridade (6)
Esta notícia confirma o pior que aqui tinha sido aventado em anterior post: a polícia, o MP e o juiz de instrução imputaram publicamente a Sócrates um crime (pelo qual foi detido e pelo qual está em prisão preventiva) sem ter nenhum "corpo de delito". O MP não tem apenas falta de corruptores (sem os quais, aliás, não há corrupção); nem sequer tem nenhum caso concreto em que o ex-PM tenha sido "comprado". Ao contrário de Pirandello, a polícia e o MP inventaram primeiro a corrupção e um autor e agora andam à procura das personagens.
Prender em nome de uma suposição criminal para depois investigar é pôr o processo penal de pés para o ar. E é uma qualificada violação da "constituição penal" da CRP. Uma vergonha!
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
Abuso de autoridade (5)
Isso condiz, aliás, com o facto de a imprensa que tem sido alimentada pelas informações filtradas para fora do processo não tenham trazido nada sobre a matéria.
Isto é de uma extrema gravidade. Ou a investigação não tem nenhum elemento de prova ou, se a tem, resolveu escondê-la no interrogatório de Sócrates. Seja como for, manter uma acusação pública por alegados factos que se desconhecem e com os quais o interessado não foi confrontado é um ultraje aos direitos processual-penais de qualquer pessoa. Todo o detido por suspeita de um determinado crime (ainda por cima um crime infamante como este) tem o direito elementar de saber em que factos se baseia a imputação de tal crime.
Decididamente o Estado de direito está ser gravemente atropelado neste processo.
terça-feira, 25 de novembro de 2014
Abuso de autoridade (4)
Como se não bastasse a arbitrariedade da decisão, junta-se a ela a injúria à vítima!
Adenda
Mesmo que houvesse algum real perigo de fuga, por que é que medidas de coação alternativas, como a detenção domiciliária vigiada ou a caução financeira, não bastavam para evitar tal risco? Parece óbvio que se pretendeu "a outrance" prender Sócrates, com ou sem razões para isso.
Abuso de autoridade (3)
Que meios é que a PGR vai agora utilizar para fazer diferente? Vai utilizar escutas telefónicas? Vai fazer buscas às redações e apreender computadores e documentos? É óbvio que não! Isso são instrumentos que só se usam para os suspeitos de crimes comuns, não para os próprios agentes judiciários que abusam das suas funções para envenenar a opinião pública.
Adenda
A pérola cínica desta notícia é que se refere à "eventual violação do segredo de justiça". Eventual!? Isto é de pasmar! Então a violação não é evidente e manifesta, tanto neste caso como noutros anteriores, constante da divulgação reiterada e pormenorizada de dados que constam da investigação? Então os próprios jornalistas não estão vinculados pelo segredo de justiça? Então essas informações não lhes são fornecidas por alguém de dentro da investigação ou com acesso a ela?
Adenda 2
Acusam-me de só protestar contra a violação do segredo de justiça quando ela prejudica os "meus amigos políticos". É uma acusação totalmente falsa. Sempre tenho denunciado, ao longo dos anos, essa chaga da nosso justiça penal. Ainda há duas semanas o fiz novamente, a propósito dos arguidos no caso dos vistos dourados, aqui: http://causa-nossa.blogspot.pt/2014/11/a-saque.html
A detenção de José Sócrates
domingo, 23 de novembro de 2014
Exageros
Sem negar algum possível impacto sobre o PS, não compartilho dessa opinião catastrofista, tratando-se de um ex-primeiro-ministro afastado há mais de três anos da vida política. Mesmo que Sócrates viesse a ser acusado e condenado pelos crimes pelos quais foi detido, não creio que isso provocasse um abalo telúrico nem no PS nem, muito menos, no regime.
Já vejo sério risco de golpe profundo na credibilidade do regime de investigação criminal e do Ministério Público, se esta operação de grande escala contra o ex-primeiro-ministro, deliberadamente mediatizada a partir de dentro, se revelar infundada ou, pior do que isso, produto de uma agenda política ou corporativa.
A ver se percebo bem
Ora, para haver tal crime é necessário que o titular de cargo público tenha recebido ou solicitado dinheiro (ou outro benefício) para tomar ou omitir certa decisão. Pessoalmente não acredito que isso tenha ocorrido no caso de JS. Independentemente, porém, da convicção pessoal de cada um, a verdade é que é preciso invocar e provar casos concretos de recebimento de vantagem pessoal no exercício de funções públicas. E tendo em conta as somas de que se fala, devem ser muitos. Onde estão eles?
sábado, 22 de novembro de 2014
Abuso de autoridade (2)
Num Estado de direito, os suspeitos têm pelo menos o direito a não serem expostos a condenação e lapidação sumária em público, antes mesmo de haver acusação.
Abuso de autoridade
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
Sensatez e prudência
Nesse pressuposto, cabe então perguntar se não seria politicamente mais sensato e mais prudente deixar que os interessados impugnassem judicialmente a suspensão e a levassem até ao TC -- tanto mais que a questão também pode ser levada ao TC por 23 deputados para efeitos de fiscalização abstrata --, abstendo-se o legislador de intervir numa questão tão vulnerável à paixão (anti)política .
Aditamento
Declaração de interesse: Sou titular de uma dessas subvenções, que porém não recebo desde 2009, primeiro por ser incompatível com o cargo de eurodeputado, depois por causa da referida suspensão.
Aditamento 2
A proposta foi retirada antes de ser votada em plenário. Não teria sido preferível sopesar antecipadamente a viabilidade política da questão antes de proporcionar uma vitória em toda a linha ao populismo antipolítico?
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
Dúvida
Num Estado de direito só a lei deve poder impor (ou autorizar a imposição de) obrigações públicas aos particulares.
Futilidade
Todavia, quando levam a sua cruzada ao ponto de chamar os tribunais a fazer valer a sua tese contra os infiéis, as coisas mudam de figura. É que os tribunais são sustentados pelos impostos de todos (incluindo os meus) e "chateia-me" vê-los a desperdiçar tempo e meios com recursos judiciais tão fúteis quanto caprichosos.
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
TTIP
Eis os parágrafos de abertura da minha coluna de hoje no Diário Económico, dedicado ao acordo de comércio e investimento entre a UE e os Estados Unidos.
terça-feira, 18 de novembro de 2014
A saque
Uma vergonha!
Colóquio TTIP
O debate público sobre a negociação do acordo de comércio e investimento entre a UE e os Estados Unidos, conhecido pela sigla TTIP, está a ganhar tração. Eis aqui o programa da colóquio da Fundação Friedrich Ebert, em Lisboa, em que vou participar.
No labirinto dos Vistos Gold
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Não é bem assim
A primeira é a de que a austeridade continua como antes no orçamento de 2015. Não é bem assim. Por um lado, descontado o novo teto das prestações sociais, não há novas medidas de austeridade de impacto significativo; por outro lado, as principais vítimas visíveis da austeridade orçamental vão recuperar algum do poder de compra perdido, desde logo os funcionários públicos (redução dos cortes salariais) e parte dos pensionistas (eliminação da CES).
A segunda tese é a de que a economia continua tão mal quanto antes. Não é bem assim. Por um lado, a economia está a crescer há vários trimestres, embora a ritmo muito lento, e o emprego está a recuperar, embora muito escassamente; por outro lado, a procura privada está em franco aumento, como mostram as estatísticas e a animação visível em supermercados e restaurantes.
É óbvio que a retoma económica está longe de consolidada e que a crise social continua a fazer muitas vítimas. É também evidente que as malfeitorias e os excessos deste Governo não são fáceis de esquecer. Mas a negação do que está a mudar a seu favor pode não ser grande conselheira política da oposição quanto ainda resta quase um ano para as eleições. O Governo está muito desacreditado, e bem o merece; mas não vai entregar as cartas sem luta.