quarta-feira, 25 de março de 2015

Tese

O que distingue um partido de governo na oposição e um partido de protesto é que nem todos os protestos merecem apoio.

terça-feira, 24 de março de 2015

Ucrânia

Denieprpetrovsk, 3a cidade da Ucrânia com cerca de 1 milhão de habitantes, na manhã de sábado passado, Avenida Karl Marx: manifestação contra o Governo, do partido de extrema direita Svoboda, reune uns 500 gatos pingados...     

Ucrânia: a Rússia de Putin é o agressor

"A leste, claramente, a Rússia de Putin é o agressor e a Ucrânia é a vítima. 
Putin viola o direito internacional ao anexar a península da Crimeia deixando em estilhaços o tratado que garantia a fronteira em troca da desnuclearização da Ucrânia. Putin está a violar os direitos humanos dos tártaros da Crimeia e de todos os ucranianos que querem viver em democracia sem a corrupção como sistema, como é típico do poder oligárquico que mantinha Yanukovitch em Kiev e mantém Putin em Moscovo. Putin instrumentaliza locais para figurarem como rebeldes na região do Donbass e dar cobertura à infiltração de milhares de soldados e tanques russos que semeiam destruição - como o abate do avião da AirMalásia, mais de 5000 civis mortos, muitos mais feridos de guerra e dois milhões de ucranianos refugiados e deslocados internos. Putin orquestra propaganda mentirosa, tentando reduzir o povo ucraniano a uma cambada de fascistas: ele, Putin, é que é o reaccionário que subsidia fascistas, como os lepenistas em França." 

(Extracto das minha crónica desta manhã no Conselho Superior, Antena 1, que pode ser lida integralmente na ABA DA CAUSA, aqui:  http://aba-da-causa.blogspot.be/2015/03/ucrania-russia-de-putin-e-o-agressor.html)

Quatro coelhos de uma cajadada


Como mostra este quadro do Financial Times, o câmbio euro-dólar aproxima-se da paridade, mercê de uma desvalorização do euro (cortesia do BCE ao inundar o mercado com euros todos os dias) e de uma simultânea revalorização do moeda norte-americana.
A desvalorização da moeda comum europeia embaratece as exportações da zona euro, o que ajuda a fazê-las crescer (incluindo o turismo), e encarece as importações, pressionado a sua redução.
Desse modo, com o seu programa de "expansão monetária" o BCE faz quatro em um: além do combate ao perigo da deflação (objetivo primordial), também ajuda a melhorar o saldo comercial externo, a estimular a atividade económica e a facilitar as metas da disciplina orçamental. Chapeau!
A UE a sair da crise económica e em especial os países a sair de duros programas de ajustamento orçamental (nomeadamente a Irlanda, Portugal e Espanha) agradecem. E as bolsas de valores também.

Asfixia antidemocrática (2)

Esta notícia, oficialmente confirmada pelo presidente da CRESAP, constitui um duplo escândalo.
Primeiro, a nova diretora-geral interina da Autoridade Tributária "reprovou" em dois concursos anteriores para o lugar, não tendo ficado entre os três nomes seleccionados por mérito. Mesmo se nomeada apenas a título provisório, trata-se de uma deliberada provocação ao mecanismo de seleção dos altos cargos da Administração que este próprio Governo instituiu.
Segundo, fica a saber-se também que estão por nomear 13 cargos de subdiretores-gerais na mesma AT, apesar de o respetivo procedimento de seleção ter decorrido, o que só pode querer dizer que o Governo não gosta dos nomes selecionados pela CRESAP, preferindo manter indefinidamente o preenchimento interino dos cargos.
Decididamente, à beira das eleições o Governo perdeu todo o escrúpulo em matéria de favoritismo político na nomeação de altos cargos da Administração.

"O PS só não chega"

A experiência de abertura institucionalizada do PS ao exterior na preparação e formulação das suas propostas políticas iniciou-se há duas décadas, com os "Estados Gerais" de António Guterres, tendo sido depois replicada em novos moldes com as "Novas Fronteiras" de  José Sócrates.
Como se nota acertadamente aqui, recordando os êxitos eleitorais de Guterres (1995) e de Sócrates (2005), «o PS só mobiliza os cidadãos quando é capaz de ir além de si próprio». É oportuno recordar essas experiências, passados vinte anos e dez anos respetivamente sobre a sua ocorrência, quando o PS é chamado novamente a protagonizar uma alternativa de governo mobilizadora.

Primeiro milho

Abriu cedo a lista de pré-inscrições para a corrida presidencial, que só terá lugar daqui a dez meses, com a anúncio da intenção de candidatura de Henrique Neto, um conhecido empresário oriundo do PS.
Mas não compartilho da preocupação com essa candidatura, atribuída a alguns militantes socialistas. Mesmo que consiga alinhar na corrida, angariando o número suficiente de assinaturas, é evidente que HN não vai conseguir mobilizar o PS em seu apoio, nem sequer ter muito apoio eleitoral. O que a alegada preocupação mostra é que dentro do PS há pessoas nervosas com a demora na definição de um candidato presidencial de peso na área do partido.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Notícias menos más

1. Contrariamente ao que algumas sondagens antecipavam nas eleições interdepartamentais francesas,  a extrema direita da FN ficou-se pelos 25% dos votos, muito distante da coligação de direita-centro, que venceu com mais de 30%, e perdendo mesmo para a coligação de esquerda liderada pelo PS.
A suposta chegada ao poder da FN não está assim tão perto.

2. Na eleições regionais da Andaluzia, o PSOE ganhou folgadamente, com o mesmo score das eleições anteriores, não perdendo votos para o Podemos, que ficou num distante terceiro lugar, com 15%, à custa de debacle dos comunistas e do PP.
As noticias sobre a morte do bipartidismo em Espanha e da iminente vitória do Podemos a nível nacional podem no fim do dia ser ligeiramente exageradas.

Adenda
Estas eleições regionais andaluzas constituem o primeiro teste eleitoral dos dois novos partidos espanhóis, o Podemos e o Ciudadanos. Embora não se tenham saída mal (15% e 9%, respetivamente), ficaram muito aquém das previsões eleitorais a nível nacional. Resta saber se vão manter o elan até às decisivas eleições legislativas do final deste ano, com as eleições locais e regionais de  permeio.

domingo, 22 de março de 2015

Um trio dispendioso


Este estudo revela uma das mais perniciosas políticas nacionais durante décadas, ou seja, o enorme gasto do Estado no apoio à construção e aquisição de habitação própria, em desfavor das verbas dedicadas à reabilitação urbana, à habitação social e ao subsídio ao arrendamento, que são os meios mais apropriados para assegurar o direito à habitação dos famílias de menor rendimento.
Se à bonificação dos juros do crédito à construção e à habitação se somarem as deduções fiscais relativas aos encargos com juros e amortizações, as subvenções públicas ao setor atingem montantes estratosféricos. Junto com a lei do arrendamento, que impossibilitava um verdadeiro mercado de arrendamento, o apoio financeiro do Estado à habitação própria foi o principal fator na distorção do setor habitacional em Portugal.
Marcada por um claro viés social -- visto que, embora subsidiada por todos os contribuintes, a habitação própria não está ao alcance de toda a gente --, essa política errada foi alimentada pelo apoio político não somente dos beneficiários mas também do setor da construção civil, dos bancos e dos municípios (por causa das taxas de construção e habitação). Um trio bem dispendioso!

Assim vai este país

1. Mistério: por que é que os investidores em "papel comercial" do GES se atiram ao Governador do Banco de Portugal e não aos donos do mesmo GES, que forem quem lhes vendeu gato por lebre aos balcões do BES? Ou será que Carlos Costa se tornou no bode expiatório da sua própria incúria ao terem investido em produtos financeiros de risco?

2. Obviamente, neste país todos têm liberdade de manifestação, a qual, no entanto, está sujeita a regras e a limitações legais quanto ao seu exercício, incluindo a comunicação prévia às autoridades policiais. Será que as recorrentes manifestações dos referidos detentores de papel comercial do GES, qualquer que seja a razão que lhes assiste, têm respeitado essas condições legais? E a liberdade de manifestação inclui porventura o direito de invadir e de ocupar instalações alheias?

Adenda
O facto de os títulos emitidos por outras empresas serem vendidos ao balcão de um banco não torna este responsável pelo reembolso desses mesmos títulos em caso de falência daquelas, a não ser que tenha dado essa garantia. E, contrariando esta precipitada declaração, muito menos o Estado tem de assumir qualquer responsabilidade por investimentos privados pouco prudentes, que seria paga pelos contribuintes.

sábado, 21 de março de 2015

Pelotão da frente


Este quadro, com números de 2013 (fonte: European Voice), mostra que Portugal se encontra no pelotão da frente dos Estados-membros da UE quanto à produção de energia renovável, com mais de 25% (6º lugar), avançando para o 5º lugar quanto à meta de 2020 (mais de 30%).
É certo que isso tem um custo adicional para os consumidores nacionais de energia elétrica, mas além de ajudar a cumprir as metas quanto à redução de emissões de CO2 a energia renovável poupa também na conta do país na importação de energia, contribuindo para o saldo positivo das contas externas.
Este êxito é o resultado da determinada aposta nas energias renováveis (hídrica, eólica, etc) decidida pelo governo do PS (José Sócrates) há uma década.

Adenda
Recebi do Professor J. L. Pinto de Sá (IST) o seguinte esclarecimento, que agradeço:
A posição da Suécia no ranking de energias renováveis deve-se à geração hidroeléctrica e é antiga, fruto dos recursos naturais desse país na sua região norte. Nada deve a qualquer decisão política de índole ambiental, tanto mais que a Suécia complementa o seu “mix” electroprodutor com energia nuclear. De resto, a campeã europeia de energia renováveis, e que supera em grande escala relativa a Suécia, é a Noruega, pelos mesmos motivos naturais, e que só não está no ranking por não pertencer à União Europeia.
O mesmo sucede com a Suíça, devido ao aproveitamento dos degelos alpinos, que explicam também a posição da sua vizinha Áustria, esta no ranking por pertencer à UE.
E o mesmo sucedia com Portugal, que em 1970 tinha 75% da sua electro-produção de origem renovável, concretamente hidroeléctrica (atingira 80% nos anos 60). Essa percentagem caiu para para os actuais cerca de 18% não porque se produza menos hidro-electricidade, mas porque o nosso consumo per capita quintuplicou desde então.
Poderia ainda desenvolver muito mais este assunto, mas creio que esta chamada de atenção para o muito antigo papel da hidro-electricidade nos países que têm especiais recursos nesse domínio já o ajudará a contextualizar melhor as suas opiniões sobre este assunto.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Lista VIP

1. A chamada "lista VIP", destinada a proteger especialmente o sigilo fiscal de personalidades públicas, é obviamente ilegal por dois simples motivos: não tem a necessária base legal e a composição da lista não tem nenhum critério objetivo. Nem sequer se sabe quem é responsável pela sua elaboração, sendo, portanto, filha de pais incógnitos!
Uma vez que entre nós toda a gente beneficia do sigilo fiscal, todos devem estar protegidos contra o acesso abusivo dos funcionários da Administração fiscal. A haver um filtro eletrónico de identificação de acesso não autorizado, ele deve ser universal, sem discriminações.

2. Como já escrevi várias vezes, entendo que o sigilo fiscal (e tributário em geral) não deve cobrir os titulares de cargos políticos, sendo um ónus inerente à necessária transparência e responsabilidade no exercício desses cargos. Portanto, em vez de estarem superprotegidos nesse aspeto, deveriam estar expostos ao escrutínio público.

Adenda
Não basta ao Governo dizer que não ordenou nem autorizou a lista.  A responsabilidade política não é menor se tiver sabido da lista e não tiver feito nada.

quarta-feira, 18 de março de 2015

"Governamentalismo"


A minha coluna semanal de hoje no Diário Económico comenta a proposta do PS para alterar o sistema de nomeação do governador do Banco de Portugal.

Adenda
Há um óbvio lapso nesta notícia do Observador sobre o meu artigo. Defendo exatamente o contrário do que diz o título da notícia, ou seja, que NÃO se deve mexer de de forma avulsa nos poderes do Presidente da República. [Lapso já corrigido]

Iniquidade

Este estudo confirma o que sempre tenho defendido, ou seja, que o ensino superior é um ativo altamente rendoso para os seus detentores e que por isso os beneficiários deveriam contribuir mais para o financiamento do seu próprio ensino superior, em vez de este ser no fundamental financiado por impostos, pagos também pelos que em nada beneficiam dele e que se ficam pelo ensino secundário, o que é uma iniquidade.

Paulo Portas espingardeia para fugir à verdade






Acima reproduzo a transcrição de escutas da PJ que li (não ouvi gravações) quando me foi facultado consultar a documentação apensa ao processo dos submarinos. A primeira fotografia  é de extracto do meu Requerimento de Abertura de Instrução - que não posso, por ora, divulgar na íntegra porque o processo ainda está em segredo de justiça. Mas como a conversa transcrita já foi amplamente divulgada pela imprensa, permito-me reproduzi-la: copia "ipsis verbis" a transcrição da PJ.
Porque nada tenho a esconder, vou mais longe: reproduzo também o extracto de outra página do meu Requerimento de Abertura de Instrução, em que faço uma interpretação do que li na transcrição da escuta, admitindo e sublinhando desde logo que pudesse haver má transcrição. A minha interpretação pode estar errada e ser induzida por errada transcrição da escuta - como sugeriu entretanto o "Expresso". Mas também resulta de outros elementos no processo sobre fundos de desconhecida  proveniência que o Ministro Paulo Portas e o seu tesoureiro no CDS/PP Abel Pinheiro geriam, para uso exclusivo do líder, e que não tencionavam passar à  liderança sucessora no CDP/PP: expliquei o que estava em causa no artigo "O tesouro do Delfim" que escrevi no Público http://www.publico.pt/politica/noticia/o-tesouro-do-delfim-1685929) e a que Paulo Portas até hoje, sintomaticamente, não reagiu.
Paulo Portas reagiu hoje veementemente, na Comissão de Inquérito ao BES, espingardeando contra mim em resposta a questões que o Deputado José Magalhães lhe colocou, agarrando-se ao erro de transcrição e à interpretação errónea que o dito erro induziu  - e por que assumo a responsabilidade. 
Paulo Portas reagiu assim não para me intimidar ou fazer desistir - ele sabe que eu não desistirei, que esgotarei todos os meios judiciais e outros para trazer a verdade a público sobre o negócio dos submarinos, que está na base de condenações na Alemanha por corrupção em Portugal.
Paulo Portas reagiu assim não para defender a sua honra  ou para se defender da "fraude" que estridentemente me imputa: ele sabe que fraude é com ele e por isso até hoje nunca recorreu aos tribunais para me acusar de difamação. Tratou aliás de antecipar por que não me demandaria em justiça, recorrendo ao argumento de que me refugio atrás da imunidade parlamentar (argumento que Aguiar Branco lhe fornece, usando e abusando falaciosamente da recusa do PE me levantar a imunidade para responder no processo que contra mim accionou: falaciosamente porque passa por cima do facto de que, mais de um mês antes de o Ministro me processar, ter eu entregue à própria Senhora Procuradora Geral da República uma queixa detalhada sobre a actuação do Governo no processo de subconcessão dos ENVC - nunca me furtei a discutir o assunto em justiça, pelo contrário, tomei a iniciativa de lho levar!)
Paulo Portas reagiu hoje espingardeando sobre mim para desviar atenções e não dar respostas a questões pertinentes que o Deputado José Magalhaes lhe colocou sobre a relação promíscua e servidora dos interesses do GES/BES/ESCOM que o processo dos submarinos, tal como o processo Portucale, demonstram abundantemente que cultivou enquanto Ministro entre 2002/2005, com colossal prejuízo para os interesses do Estado.


terça-feira, 17 de março de 2015

Quem fez e quem está na Bolsa VIP?

"Perante o crescendo do clamor público e a exigência de esclarecimento feita pelo líder do PS, António Costa, fomos ontem brindados com novo desmentido do Secretário de Estado - que não via necessidade de se investigar o que não existia. Logo depois contraditado pela própria Ministra das Finanças, que ordenou investigação pela Inspecção Geral de Finanças.
É estranho que a Inspecção Geral de Finanças não tivesse tomado a iniciativa de agir mais cedo. E era preferível que a investigação fosse da competência de entidade externa ao Ministério das Finanças. Aguardemos, porém, pelos resultados. 
Pelo meu lado, não me interessa só saber se há ou não Bolsa VIP, mas quem a ordenou, quem a pôs em prática e quem são os suspeitos privilegiados que dela constam - designadamente se estão nela algumas das 200 pessoas que devem mais de 1 milhão de euros ao fisco e das 117 empresas que devem mais do que isso, segundo hoje noticia a imprensa.
Uma Bolsa VIP é uma aberração inconcebível num Estado de direito: põe em causa o princípio da igualdade, a justiça tributária e constitui crime de abuso de poder."

(Extracto das notas para a minha crónica de hoje no Conselho Superior, ANTENA 1, que podem ser lidas na íntegra na ABA DA CAUSA http://aba-da-causa.blogspot.be/2015/03/quem-fez-e-quem-esta-na-bolsa-vip-do.html )

Crise grega (3)


Este argumento de racionalidade política (colhido aqui) valeria para um governo responsável normal. Mas duvido que funcione no caso do aventureirismo irresponsável do Governo Syriza. Com os cofres vazios e já a recorrer a "empréstimos" dos fundos de segurança social, o Governo grego continua a "marimbar-se" para os compromissos que assumiu para receber a fatia do empréstimo da troika que ainda lhe cabe. Entre perder a face política e arrastar o pais para a saída do euro, o Syriza opta por caminhar maquinalmente para o abismo.
É de admitir que a visita de Tzipras a Berlim na próxima semana, a convite de Merkl, seja a última tentativa de chamar o governo grego às suas responsabilidades e obrigações na manutenção do país no euro. Mas nada indica que a razão de Estado prevaleça sobre o fanatismo doutrinário...

Adenda
O Syriza prossegue metodicamente na sua agenda de provocação política, desta vez desencadeando uma suposta "auditoria" sobre a divida pública  «para saber que parte desta dívida foi utilizada para o bem comum e, como tal, é legal e deve ser paga, e que parte foi mal gasta e, portanto, é ilegal». Portanto, a legitimidade dos empréstimos depende do uso que a própria Grécia lhes deu, na opinião dos "avaliadores" escolhidos pelo Syriza! Ou seja: quem pediu dinheiro é que agora vai decidir se os os créditos dos emprestadores são "legais"?!...

Duas questões controversas

O facto de serem imputados a um ex-primeiro-ministro supostos crimes praticados no exercício de funções suscita duas questões jurídicas controversas quando a pessoa em causa já não exerce essas funções, pelo facto de a lei penal e processual penal não preverem explicitamente essa hipótese.
A primeira questão consiste em saber a que tribunal (STJ ou tribunal penal de 1ª instância) compete o eventual julgamento desses alegados crimes, bem como a supervisão da instrução, incluindo a decisão sobre a prisão preventiva. Foi essa a questão sobre que versou a decisão de ontem do STJ, tendo o tribunal decidido que a questão não é suficientemente clara para justificar a libertação em sede de habeas corpus, devendo por isso ser apreciada em sede de recurso ordinário da prisão preventiva (que está pendente).
A segunda questão consiste em saber se tais eventuais crimes devem ser qualificados como "crimes de responsabilidade" (por terem sido alegadamente praticados por titulares de cargos políticos no exercício de funções), para efeitos do regime penal especial destes, incluindo por exemplo o agravamento das penas e os efeitos das penas. Essa questão só virá a ser definida aquando da eventual acusação, se vier a existir.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Asfixia antidemocratica


Há meia dúzia de anos, na fase final do primeiro Governo Sócrates, a direita inventou a expressão "asfixia democrática", a propósito de uma alegada (mas inexistente) ocupação governamental do Estado.
O que dizer então agora, quando a direita tem a presidência da República, a maioria parlamentar e o Governo (mais a PGR...), quando o recrutamento dos altos dirigentes da Administração pública é uma coutada governamental (sendo sistematicamente rejeitados os candidatos socialistas selecionados pela CRESAP) e quando o domínio político da comunicação social vai ao ponto de o "comentário político" nas três televisões de sinal aberto (incluindo na TV pública!) ser um escandaloso monopólio de três antigos ministros do PSD, dois deles antigos líderes?
Agora, a qualificação mais apropriada da situação só pode ser a de asfixia antidemocática.

Plano B



O título desta peça pode ser especulativo, mas parece lícito admitir que o PS não descarta por ora a hipótese de vir a apoiar Sampaio da Nóvoa na corrida presidencial, caso falhe uma candidatura "da casa" (Guterres, Vitorino, etc.). Não por acaso, ele foi um dos independentes convidado a discursar no Congresso do PS que consagrou a liderança de António Costa (na foto).
Resta saber se a sua proximidade às esquerdas alternativas e a sua visão intervencionista do cargo presidencial são as melhores credenciais para um candidato vencedor a Belém e se são de molde a tranquilizar um futuro governo do PS em matéria de estabilidade governativa.

sábado, 14 de março de 2015

Os poderes do Presidente


1. Concordo com a ideia de que o governador do BP não deve ser nomeado livremente pelo Governo, tendo eu defendido publicamente que o indigitado passe previamente por uma audição parlamentar pública na comissão parlamentar competente, tal como já hoje sucede com os demais reguladores independentes, no termos da nova lei-quadro de 2013.
Penso mesmo que o PS deveria ter feito deste ponto uma "linha vermelha" aquando da aprovação da lei. Nesse ponto a nova proposta do PS é bem-vinda.

2. Quanto à ideia de nomeação pelo Presidente da República, mesmo que fosse politicamente defensável (o que está por provar...), ela tem o "pequeno" problema de não ser viável sem revisão constitucional, visto que os poderes do PR são os definidos na Constituição (e assim tem de ser num Estado de direito constitucional). Ai de nós se admitíssemos o alargamento dos poderes do PR por qualquer maioria parlamentar ad hoc à margem da Constituição.
Além disso, a admitir dar ao PR esse importante poder numa próxima revisão constitucional, isso não deveria ser feito de forma avulsa, mas sim a troco da moderação de outros poderes presidenciais, por exemplo, o poder de dissolução parlamentar (atualmente discricionário).

Adenda
Recordo que quando estava na oposição o PSD também defendia a nomeação dos presidentes de todas as autoridades reguladoras (incluindo o governador do BP) pelo Presidente da República, ideia que sempre combati e que o PSD assisadamente abandonou quando chegou ao Governo. É sempre prudente os partidos de governo não avançarem na oposição com ideias precipitadas, que depois se têm de "meter na gaveta" quando no Governo.

Doping

O programa de "expansão monetária" do Banco Central Europeu, através da compra maciça de dívida pública aos investidores (nomeadamente os bancos), já está a produzir os efeitos pretendidos na descida das taxas de juro e na desvalorização do euro, em consequência da inundação do mercado com euros frescos.
Com isso matam-se dois coelhos de uma cajadada: com a redução dos juros diminui-se a despesa com os encargos da dívida pública, aliviando o défice orçamental; com a desvalorização do euro estimulam-se as exportações e encarecem-se as importações, melhorando o saldo comercial externo. Tanto a redução dos juros como o fomento das exportações vão dinamizar a retoma económica e a criação de emprego. Em Portugal, portanto, o próximo Governo vai beneficiar de condições económicas e orçamentais mais favoráveis.
O único problema com este doping monetário é que ele é por natureza transitório, devendo cessar logo que a inflação de aproxime dos 2%. Importa por isso não relaxar os esforços (agora menos penosos por efeito da prodigalidade do BCE) de consolidação orçamental sustentável e de aumento da competitividade estrutural da economia, para que o fim do programa de estímulo vindo de Frankfurt não faça renascer os velhos problemas orçamentais e das contas externas. A crise por que passámos não pode ser desperdiçada.

Adenda
Com este quadro, cortesia do BCE, as metas oficiais de crescimento económico, de saldo orçamental e de saldo das contas externas para este ano em Portugal devem ser atingidas (se não ultrapassadas) com relativa facilidade. Mais uma vez, o Governo prepara-se para colher os louros de obra alheia.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Notícias que nascem velhas

A notícia de que Carvalho da Silva está disponível para ser candidato à presidência da República é daquelas que antes de o serem já o eram, neste caso desde que ele deixou o PCP sem se conhecer nenhuma divergência séria com o partido.
Resta saber que forças políticas à esquerda do PS podem vir a apoiá-lo (sendo improvável o do PCP e problemático o do BE). O facto de tomar a dianteira (sendo o primeiro candidato-a-candidato assumido) não lhe garante nenhuma vantagem. A inscrição para a grelha de partida das eleições presidenciais ainda não está aberta.

Antologia da demagogia tabloidística


E depois? O que é que justifica uma manchete destas? Há algo de ilícito ou de censurável nessa contratação? Não é óbvio que Costa tinha qualificações para o serviço para que foi contratado? A generalidade dos funcionários dos partidos não são militantes dos respetivos partidos? Um ex-governante, que não tenha emprego cativo à espera dele (como tantas vezes acontece), é obrigado a ficar sem rendimentos ou a ir precipitadamente para a atividade privada, mesmo que queira continuar uma carreira política?

quarta-feira, 11 de março de 2015

Escrutínio político


Assim começa -- com uma declaração apócrifa de Cavaco Silva -- a minha coluna semanal de hoje no Diário Económico, sobre o escrutínio parlamentar do cumprimento das obrigações tributárias de Passos Coelho

terça-feira, 10 de março de 2015

Crise grega (2)

O parlamento grego tem 300 deputados, 50% mais do que o parlamento português, para uma população similar. Não consta que o Syriza vá votar a redução do número de deputados (que estava na agenda do governo anterior).
Entre as regalias dos deputados gregos inclui-se, além de segurança pessoal, o direito de requisitar um carro pago pelo Parlamento, direito que o Syriza não revogou e a que renunciaram menos de 50 deputados, de vários partidos. A verba orçamental para esta despesa atinge 3.2 milhões de euros...
regalias em que a esquerda radical não mexe quando delas beneficia, mesmo quando invoca a existência de uma catástrofe humanitária no País...

Adenda
Quando um partido de extrema-esquerda faz governo com um partido de direita nacionalista, o resultado pode ser tóxico. O desbocado ministro da defesa de Atenas acaba de ameaçar que, se a UE não socorrer a Grécia, haverá uma "inundação de milhões de imigrantes económicos" na Europa, incluindo "alguns jihadistas do Estado Islâmico"!
Já não basta ao Governo esquerdista-nacionalista querer ignorar as regras da moeda única; há quem pretenda pisar também as regras da União.

Adenda (2)
«A Grécia está a ficar sem tempo, sem dinheiro e sem amigos».

Deontologia bancária


Sim. Faria de Oliveira tem razão quando reclama um compromisso de deontologia profissional para os banqueiros. Não ando a exigir menos desde este texto de 2009 sobre "ética bancária".
O problema é que, a cada escândalo bancário nos últimos anos (BCP, BPN, BPP e BES), não ouvimos uma firme condenação deontológica da Associação de Bancos Portugueses, a associação profissional do setor.
No site da APB há um código de conduta das instituições de crédito enquanto funcionam como entidades de mediadoras de valores mobiliários. Mas mesmo nessa vertente não tenho notícia de nenhum processo nem de nenhuma sanção disciplinar...

Basta, Senhor Presidente!

"Podia aqui gastar esta e mais crónicas a desmontar a efabulação que o Presidente Cavaco Silva dá à estampa no último dos seus "Roteiros": a de que contribuiu decisivamente para a afirmação da política externa portuguesa durante os seus mandatos presidenciais. Mas não vale a pena recordar tristes episódios nas relações com Angola ou a entrada da ditadura Obiang na CPLP: bastará dizer que o Presidente não fez mais pela política externa porque nos últimos dez anos Portugal realmente não teve política externa, desinvestiu em capacidades de promoção dos seus interesses geo-políticos e económicos, incluindo as básicas de defesa e de segurança, e nem sequer política europeia teve: apurou-se quando muito na diplomacia costeira sob bússola barrosã, especializada em estranhos negócios de estrangeiros, das privatizações aos vistos dourados...
Há, todavia, limites para tudo. E as mais recentes intervenções públicas do Presidente Cavaco Silva suscitam-nos. Quer por tomar parte manhosa, mais uma vez respaldando o Primeiro Ministro em vez de o instar a assumir responsabilidades cívicas e políticas, procurando reduzir as exigências legítimas da oposição e do país indignado a mera controvérsia politico-partidária. Quer, por outro lado, a inaceitável tentativa de definir, com interesseiros propósitos de politica intra- e extra-partidária, o perfil do seu sucessor. 
Ambos os pronunciamentos levam-me a ter de dizer: Basta, Senhor Presidente! Poupe-nos e poupe-se! Reconduza-se, no já curto tempo de magistério que lhe resta, à máxima que um dia nos enunciou de que o "silêncio de um PR é de ouro".

(Transcrição de extracto da minha crónica desta manhã no Conselho Superior, ANTENA UM. Versão integral pode ser lida na ABA DA CAUSA, aqui http://aba-da-causa.blogspot.fr/2015/03/basta-senhor-presidente.html)

segunda-feira, 9 de março de 2015

Ridículo

Que Cavaco Silva tenha tornado público o seu perfil ideal de Presidente da República é matéria que cabe na sua liberdade de opinião, concorde-se ou não com o dito modelo. Que vários protocandidatos da direita se tenham apressado a proclamar que cabem no referido perfil (mesmo quando é óbvio o contrário...) é simplesmente ridículo.

A crise grega

A crise grega continua sem solução à vista, com o Governa Syriza a brincar com a sua situação periclitante na zona euro. Desafiando o acordo alcançado há duas semanas no conselho de ministros das finanças do euro, o governo grego tomou decisões que o contrariam e enviou agora para Bruxelas uma proposta de medidas que, embora positivas em si mesmas, fica muito aquém dos compromissos que assumiu em matéria orçamental.
Para agravar as coisas, o loquaz ministro das finanças do Syriza ameaçou com um referendo às medidas requeridas pela UE, o que só pode aprofundar a perda de confiança de Bruxelas no Governo grego. Entretanto, a situação orçamental do país vai-se degradando, por causa da quebra substancial da receita fiscal e da paralisação do programa de privatizações. O risco de a Grécia deixar de cumprir as suas obrigações financeiras internacionais vai-se adensando.
Como diz insuspeitadamente um dos membros proeminentes do comité central do Syriza, o governo grego entrou em modo de "desobediência controlada". Resta saber se os demais membros da zona euro vão aceitar complacentemente a ostensiva renegação de obrigações. Como nota um comentador em Atenas, aproxima-se o momento em que Tzipras vai ter de optar entre permanecer no euro e regressar ao drachma.