O maior sonho que tenho na vida é ser pai. Se possível, um daqueles pais com uma mesa da sala-de-estar colossal, onde sentar um número de filhos que dê para fazer uma equipa de futebol e respectivo banco de suplentes. Os putos viriam, um a um, para a refeição, envergando uma t-shirt com nome e número de forma a facilitar a minha chamada e contagem das presenças. Gostava de ser pai por uma miríade de razões, a esmagadora maioria não vem agora ao caso. Mas a razão principal ouvi-a descrita na perfeição pela boca de um professor de Direito, corria o 2ºano da faculdade. O homem, que era normalmente sisudo e compenetrado na aula, chegou um dia preocupado e esbaforido. Nunca antes se atrasara. O motivo era uma doença do filho. Tinha-o levado para o hospital e ainda vinha com o peso das angústias. Desabafou num minuto. Disse que, desde que a criança nascera, perdera o medo de morrer.
É isso mesmo. Perder o medo de morrer. Abandonar os receios humanos de não ser amado. Conquistar a imortalidade. Quero ser pai por estes tão egoístas motivos. E, agora, no final do mês, vai nascer um Leão como eu que vai mudar quase tudo na minha vida. Um bebé. Caramba. Um be-bé. Como falarei com ele? Como será a sua cara? Será daqueles felizes anafados ou uma ratazana choramingas que não deixa dormir toda a freguesia?
Não sei. Aguardo serenamente. É que o bebé não é meu mas de um dos meus melhores amigos. E é isso que me lixa. O nascimento deste bebé, a paternidade do meu amigo, só me virão transmitir uma bem clara e definitiva mensagem: tenho andado a fazer qualquer coisa de muito errado com a puta da minha vida.