Acabei de montar o meu primeiro filme e a sensação é estranha. Uma sensação de vazio muito incomodativa onde as perguntas que ficam por fazer são muito superiores às respostas que tenho para dar. Durante mais de um ano parte da minha vida foi gasta na Casa de Saúde da Idanha, uma casa psiquiátrica de mulheres, e agora as minhas obsessões, fantasmas e pesadelos nocturnos estão concentradas numa pequena cassete com 80 minutos de fita.
Ao princípio, o grande desafio passava por saber se as ideias que tinha enquanto realizador podiam ser corporizadas num objecto artístico não contaminado pelo jornalismo ou por uma linguagem televisiva. Mas tudo isso passou a ser secundário no terreno, completamente secundário. A vida das minhas protagonistas tornou-se o espelho da minha própria vida. Espero que se possa tornar o espelho de grande parte das vidas de todos os que o puderem ver.
Acabei-o há cerca de uma hora. Vai chamar-se A Casa. É um filme documental sobre mulheres e também sobre cada um de nós. Naquela casa habitada por doentes mentais e espantosas freiras vivi uma extraordinária experiência de vida. Sinto-me completamente vazio, mas feliz.
Soube também que o Luís Filipe Borges se mudou para a Causa-Nossa; que Jorge Coelho está disponível para se candidatar à liderança do PS; que no futebol os cavalheiros continuam a tratar das suas fazendas e que Bush talvez tenha fugido à tropa. Nestes últimos dias de trabalho não consegui preocupar-me um segundo que fosse com a realidade do nosso mundo de ficção. Preferi a realidade da casa onde aquelas mulheres me continuarão a povoar os sonhos.
Luís Osório