Provavelmente desde o seu discurso de Outubro o Presidente da República só estava à espera de bons motivos e de uma boa ocasião para convocar eleições antecipadas e para pôr fim ao Governo Santana Lopes. O primeiro-ministro deu-lhos de bandeja, e óptimos, mais cedo que toda a gente esperava, com a condução errática do Governo e com a série de trapalhadas dos seus ministros mais próximos, desde o caso Marcelo até ao indescritível caso do insólito ministro Chaves.
Porventura com receio de perder esta oportunidade e de não vir a dispor de uma tão propícia conjugação de factores no futuro, o Presidente precipitou a decisão nesta altura -- recorrendo ao "cartão vermelho" directo por acumulação de faltas graves, sem passar pela amostragem de "cartão amarelo" --, sem poder escolher a sua oportunidade temporal. As coisas estiveram porém longe de correr bem, por causa do tempo decorrido entre o anúncio da dissolução e a sua efectivação, a fim de proporcionar a aprovação do orçamento, o que deu azo a uma incómoda situação de "suspense" que não favoreceu a posição presidencial e que permitiu a organização de uma contra-ofensiva dos partidos governamentais.
Adenda
Por lapso não fiz aqui menção da minha coluna do Público de terça-feira passada sobre a questão da dissolução parlamentar, cujo texto se encontra recolhido, como habitualmente, no Aba da Causa (link aqui ao lado, na coluna da direita).