Só cá faltava mais esta demonstração do carácter do Dr. Durão Barroso.
O Presidente que há quatro anos está à frente da Comissão Europeia e, qual avestruz de cabeça enterrada na areia (vd meu post de 22.9 "CE - avestruz de cabeca enterrada no ... casino"), não a fez mexer nem um dedinho – apesar de instado/a há mais de um ano pelo Parlamento Europeu e, pelo menos, pela Senhora Merkel - para regular, supervisar, disciplinar o funcionamento da banca europeia e os produtos e métodos altamente “tóxicos” em que esta negociava e lhe grangeavam lucros faraónicos (sobretudo para os gestores de topo).
Pois o Dr. Durão Barroso, que tem estado caladinho desde que esta crise financeira global estalou, veio agora finalmente dar um ar de sua graca: não para reconhecer responsabilidades e prometer acção reparadora e disciplinadora a nível europeu (e não apenas de cada Estado Membro individualmente), relativamente os agentes e mercados financeiros.
Não, nada disso – o Presidente Barroso veio admoestar os EUA para resolverem sem demora a crise financeira mundial que criaram.
A lata é inesgotável! Já a vimos no Dr. Barroso a propósito da invasão do Iraque, de Guantanamo, da tortura e das prisões secretas: primeiro atira-se de cabeça, irreprimivel e acriticamente, atrás da mais reaccionária e demente Administração americana. Depois, quando as coisas ostensivamente dão para o torto, faz de lucas, nada era com ele: a responsabilidade é de outros, a eles cabe apanhar os cacos!....
Ninguém evidentemente contesta que cabem aos EUA, desde as teses da era Reagan, principais responsabilidades pela crise financeira global que agora estoirou.
Mas na Europa os principais reponsáveis políticos e económicos, aqueles que foram governo (incluindo gente que se dizia socialista) e foram atrás das teses neo-liberais que pregavam contra o Estado, a favor da desregulação e praticavam a supervisão ficcionada, não podem agora tirar o cavalinho da chuva e mandar as culpas só para os americanos.
Se há desregulação, comportamentos gananciosos aventureiros e criminosos da banca e de fundos de investimento europeus, a culpa não é dos americanos – mas sim dos governantes e reguladores europeus que desregularam ou deixaram desregular e que afrouxaram a supervisão, incentivando o abuso e o excesso.
O Dr. Durão Barroso, por exemplo, não só foi Primeiro Ministro de Portugal num período de privatização por tuta-e-meia de bens, serviços e empresas públicas (as OGMA, por exemplo), e de vê-se-te-avias para a desregulação e para o relaxamento da supervisao. Há quatro anos que é Presidente da Comissão Europeia e nada fez para antecipar e prevenir os perigos da ganância e da roda livre no mundo da banca e das finanças europeias e mundiais, para travar o processo de desregulação a nível europeu, para afastar as ameaças resultantes do descontrole e opacidade de “private equities”, “hedge funds”, “sovereign funds” e dos famigerados “off-shores”.
Estão enganados aqueles que pensam que o Dr. Barroso e outros com idênticas ou ainda mais responsabilidades vão escapar sem que lhes sejam pedidas contas na Europa. Além das que têm de ser pedidas aos governos que continuarem inertes a ver a crise afundar a economia europeia.