1. Comentando o meu anterior post sobre a Geringonça, um leitor, identificado com a direita, lamenta a "injustiça eleitoral" que se traduziu no afastamento do governo que "tirou o país da crise" e no acesso ao governo do "partido que a tinha provocado", desfrutando agora da retoma económica posta em marcha pelo primeiro.
Ora, mesmo aceitando esta simplificação do processo, a verdade é que "injustiças eleitorais" semelhantes já tinham ocorrido anteriormente. Assim, em 1985, o PSD foi o beneficiário da retoma económica subsequente à crise de 1983-85, enfrentada pelo Governo presidido por Mário Soares, tendo o PS pagado pesadamente nas urnas os custos económicos e sociais da crise, que tinha sido gerada pelos anteriores governos do PSD. Mercê da ajuda da subsequente chegada dos fundos europeus, Cavaco Silva esteve 10-dez-10 anos no poder, tendo o reinado do PSD findado somente com a crise económica de 1993.
Aliás, apesar de esta última crise já estar debelada em 1995, nas eleições desse ano o PSD sofreu uma grande derrota perante o PS de Guterres, que depois esteve no governo durante seis anos, beneficiando da retoma económica e do lançamento do Euro, até à inversão do ciclo económico.
O ciclo político da alternância governativa entre o PS e o PSD tende a acompanhar, embora com atraso, o ciclo económico.
2. A lógica destas situações é, por via de regra, elementar: em termos simplistas, e salvo fatores políticos extraordinários (como por exemplo o desastrado Governo Santana Lopes em 2004/5), os eleitores tendem a punir nas urnas quem lhe vai ou foi recentemente "ao bolso" e a premiar eleitoralmente quem lhes põe dinheiro no bolso. A perceção sobre a situação económica e social é determinante.
Uma política orçamental expansionista ad hoc pode perturbar esta "lei de bronze", como aconteceu com a inesperada vitória eleitoral do PS em 2009, mas ainda aí se tratou de "meter dinheiro no bolso" dos eleitores, sobretudo dos funcionários públicos.
3. Por esta ordem de ideias, o PSD só poderá regressar ao governo depois de esgotado o atual ciclo económico, o que não parece estar para breve. A ter em conta os anteriores exemplos citados, os governos que "apanham a boleia" da retoma económica depois de uma crise não se limitam a cumprir um mandato, e até tendem a reforçar a sua votação na segunda legislatura, como sucedeu com Cavaco Silva em 1987 (maioria absoluta) e com Guterres em 1999 (à beira da maioria absoluta).
Tal é a perspetiva positiva de António Costa nas eleições do ano que vem.