sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Como era de esperar



1. Como era de esperar, mas pouca gente esperava, o Governo e o PR acordaram na nomeação de uma nova PGR, em vez de renovarem o mandato da PGR cessante - pese embora uma apreciação globalmente positiva desta -, frustrando assim a intensa e oportunista campanha política e mediática da direita política pela manutenção da atual titular.
De facto, como sublinha a nota da Presidência da Repúblicaos cargos públicos independentes não devem ser renováveis, por a renovabilidade poder afetar a independência dos seus titulares, pressionando um desempenho tendente a obter a renovação. É bom respeitar os bons princípios, sobretudo quando seria politicamente mais cómodo contorná-los...

2. Penso, no entanto, que é chegada a altura de revisitar o procedimento de nomeação do PGR, no sentido de lhe conferir maior transparência. Assim, antes da nomeação presidencial, o candidato indicado pelo Governo deveria ser submetido a audição parlamentar, para expor perante a AR o seu entendimento do cargo e o seu programa de ação.
Também defendo que o PGR deveria apresentar à AR um relatório anual sobre a sua atividade, que deveria dar lugar a um debate parlamentar sobre a execução da política criminal, a qual, nos termos da Constituição, é "definida pelos órgãos de soberania", ou seja, pela AR e pelo Governo.
O PGR é independente, não recebendo ordens nem instruções sobre o exercício do mandato, mas num Estado de direito constitucional nenhum titular de cargo público pode ser dispensado de dar conta da sua ação ao parlamento.