sábado, 19 de fevereiro de 2005

Riscos do ofício

Por mais justificada que seja a revolta dos agentes da polícia contra a morte de um agente em serviço, num bairro da Amadora, e por mais razões de queixa que eles tenham em relação aos meios e equipamentos de que dispõem, a verdade é que o ofício não pode excluir esse risco e que o protesto mediante a entrega de armas constitui uma violação qualificada dos seus deveres para com o Estado e a segurança da colectividade.

Desmazelo, descontrolo & irresponsabilidade

O relatório da Inspecção-Geral de Saúde sobre a cobrança de taxas moderadoras nos centros de saúde é ainda pior do que se poderia esperar: inúmeras isenções ilegais, frequentes faltas de pagamento, ausência de controlo, perdas substanciais de receitas.
De quem é a responsabilidade? Desde logo, das direcções dos CS e das administrações regionais de saúde. Mas a questão de fundo tem obviamente a ver com o tipo de gestão dos CS. Suspeito bem que este relatório veio dar argumentos adicionais aos que defendem uma mudança baseada na autonomia e na responsabilidade.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Inventona

Ou o caso do documento forjado.

Surpresas da campanha (1)

A grande surpresa desta campanha eleitoral foi o "apagão" sobre os seis meses de governo(?) Santana Lopes.
Pois o senhor candidato lá se passeou pelo país e pelos media como se não tivesse sido o protagonista dos episódios mais inacreditáveis, mais detestáveis e mais sombrios do que é a arte de governar sem qualquer sentido da coisa pública, desdizendo o que disse na hora anterior, colocando gente impensável em lugares de responsabilidade, traindo os amigos de ontem, dormindo com os inimigos de anteontem, decidindo no sentido oposto daquilo que publicamente afirma serem as suas prioridades. Tudo sem outro propósito para além do efeito instantâneo criado nos media.
Não se percebe como os seus opositores levaram a sério o que disse defender, sem recordarem que exactamente o contrário também já Santana Lopes havia defendido. Não dá para acreditar que um tal personagem se tenha passeado durante semanas por tudo quanto é sítio separado, cortado, autonomizado do seu passo recente.Estamos todos esquizofrénicos? Ou ficámos tão assustados pelo populismo em estado puro que Santana Lopes representa, que resolvemos nem falar disso, com medo de lhe conferirmos existência real?

Surpresas da campanha (2)

E é que não nos vamos ver livres dele!... Santana Lopes colocou a fasquia no meio do intervalo que as sondagens lhe prometiam, lançou âncora, transformou-se no ?senhor trinta por cento? e pronto... o PSD tem presidente vitalício!
Bem pode Pacheco Pereira confessar a derrota antecipada dos militantes do PSD que pretendem recuperar o partido como polarizador de gente interessada no futuro do país. Não, a coisa tá firme: o PSD do betão, dos interesses pessoais e do pequeno e médio negócio de roda da coisa pública tem líder para os próximos anos. Ninguém com outra visão vai correr o risco de suscitar o sobressalto dos militantes que restam, para correr com os milhares de Santana Lopes que desde o tempo de Durão Barroso - é preciso dizê-lo com toda a frontalidade!! - dominam o PSD. Bye Bye PSD! Resta o PSL?Triste vida!

Surpresas da campanha (3)

Não menos surpreendente é o facto de muitos eleitores tradicionais do PSD tencionarem votar PP. Surpresa, porque essas decisões pessoais não parecem ter reflexo nas sondagens. Surpresa, pelo esquecimento que revela: quem diria que o homem mais "odiado" pelos sociais-democratas há uma meia dúzia de anos estava destinado a recolher os votos daqueles que querem salvar o PSD? Ironias da história?

Surpresas da campanha (4)

Muito surpreendido ficarei se o PS obtiver no domingo a maioria absoluta que as sondagens lhe prometem e que, do meu ponto de vista, é absolutamente necessária ao país. Desculpem lá a imagem, mas há muito digo que, mesmo nos momentos de maior "flirt" com os socialistas, o país acaba sempre por nunca se deitar com o PS.
Sócrates arrisca-se, assim, a ser um vencedor de sorriso amarelo: que de outro, se não dele, a responsabilidade por não obter uma maioria absoluta? O homem é o que é e mais não se lhe pode pedir. Jornalistas e comentadores acusam-no de não se comprometer com medidas concretas - grande susto teríamos se tais críticos um dia explicassem o que entendem por medidas concretas! -, mas a questão é mais simples e mais básica: a racionalidade do voto (o poder correr com o mau governo e escolher o menos mau para governar) não chega para fazer maiorias em Portugal. É preciso um pouco mais: mobilizar o voto afectivo, o voto daqueles que só o dão a políticos com que se identifiquem pessoalmente, em quem confiem cegamente. Sócrates não faz, definitivamente, o género!

Surpresas da campanha (5)

O fenómeno Francisco Louçã contém algo de absolutamente paradoxal. Como é que o voto de protesto se conjuga com aquele pseudo-discurso de poder? Como é que possível juntar na mesma frase e no mesmo local, a defesa de impossíveis, com a ideia de que se está reflectir com seriedade sobre a gestão dos assuntos públicos? Fantástico o discurso sobre a "sustentabilidade" da Segurança Social que Louçã conseguiu produzir no debate televisivo de terça-feira: juntar em três frases os pressupostos da bancarrota da Segurança Social, conseguindo aparentar um ar lúcido e sem que ninguém o chamasse à realidade - foi absolutamente genial!
Que o voto de protesto tem mais do que razões para ser numeroso, está fora de dúvida. Mas que a essas motivações se consiga juntar as de eleitores atraídos por um discurso que lhes soa a razoável e capaz de suportar a gestão da coisa pública, é obra de se lhe tirar o chapéu!

Surpresas da campanha (6)

O carácter sentimental e afectivo da campanha esteve do lado do homem que perdeu a voz, mas não a esperança. Por nada daquilo que disse ou propôs, mas exclusivamente pelo modo como o disse ou o apresentou, Jerónimo de Sousa, ganhou a simpatia dos media, dos tais críticos que só querem ouvir falar de compromissos quanto a medidas concretas. Ora aí está o sentimento a funcionar a 100%, sem que a substância das propostas venha ao caso. As sondagens é que se mostram renitentes em reflectir a simpatia! O voto dirá.

Lógico

Pacheco Pereira diz que vai votar Santana Lopes... para derrotar Santana Lopes.

Competência

A tabuleta fixada nos palanques de Santana Lopes só tinha uma palavra: "competência". Nunca houve tanta contradição entre a figura e a legenda.

Que mais podemos esperar do BE?

«Voto útil contra a maioria do PS» -- tal é o apelo de Francisco Santana Louçã Lopes.

A dois dias das eleições...

... todas as sondagens convergem para o mesmo -- a maioria absoluta do PS. Mas ainda faltam os votos reais dos eleitores.

"Não há retoma à vista"

Outro que desmente as fantasias de Lopes sobre a "retoma económica". Já nem os próximos se dão ao trabalho de tentar eludir a realidade.

Alucinações

A quase 20 pontos de distância do PS segundo as últimas sondagens, Santana Lopes «continua confiante na vitória»...

Na iminência da grande derrota...

... que as últimas sondagens de opinião tornam irrefragável, só resta a Santana Lopes tentar evitar, em desespero de causa, a maioria absoluta do PS. Poderão ser os eleitores de esquerda a dar-lhe essa derradeira consolação?

Um monumental "flop"

O magérrimo conjunto de 5-personalidades-5 que Lopes conseguiu reunir para o seu "futuro governo" constituiu mais um estrondoso flop. Mesmo com um governo reduzido a 12 ministros, como ele tinha anunciado, metade dos ministérios ficam desertos.
Será que a personagem não se dá conta do devastador efeito desta destrambelhada exibição de isolamento político dentro das suas próprias hostes? E como é que há pessoas que se prestam a "números" tão ridículos como este?

Quando o vencedor perde e os vencidos ganham

Se o PS ganhar as eleições sem maioria absoluta, mesmo que com grande vantagem, perde a sua grande aposta nestas eleições, ao passo que todos os demais partidos ganharão a sua luta para impedi-la (no que todos convergiram, desde o CDS ao BE). O vencedor lastimará o desaire; os vencidos celebrarão a "vitória".
Faz isto algum sentido?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

O voto do próximo domingo

Não sei se as mudanças que o novo governo terá de enfrentar serão assim tantas e tão grandes como se tornou corrente ouvir dizer por estes dias. Mas sei que algumas serão incontornáveis. Sei ainda que a reganhar a confiança lhe será, à partida, indispensável. E não me esqueço igualmente no que deu a maioria relativa do PS, da última vez em que lá esteve. É por isso que me parece indispensável um resultado com maioria absoluta.
Tenho por fim uma última coisa como certa: daqui a quatro anos, pelo menos, haverá novas eleições legislativas. Se quem ganhar estas não merecer os votos que lhe foram dados, de certeza não voltará a obtê-los. É por isso que nada me angustia no voto do próximo domingo. Angústias ou indecisões, reservo-as para as escolhas que só faço uma vez na vida.

Anedotário

Frase do tempo de antena do PSD: «Vote no PSD para continuar a diminuir o desemprego». Agora deu-lhes para brincar com a gente?

Vale mesmo tudo?

O secretário-geral da UGT acusou o Governo de estar a sonegar os dados do IEFP relativos ao desemprego no mês de Janeiro, que normalmente deveriam ter sido publicados até 10 de Fevereiro. A ser verdade, até onde pode ir a instrumentalização do Estado ao serviço dos interesses eleitorais da coligação governamental?

Os "ministros" de Santana

Onde estavam os novos "ministros" de Santana aquando da constituição do governo há poucos meses?
De duas uma: ou bem que foram preteridos supostamente por uma melhor escolha; ou muito provavelmente não estavam era disponíveis para os cargos que agora dizem poder vir a ocupar. Há quem não se tenha dado conta que os eleitores mudaram muito nos últimos dez anos. São menos crédulos, mais selectivos nas escolhas, menos fiéis, mais críticos. Se PSL tivesse dado conta, perceberia a falta de credibilidade e até um certo ar pouco sério que envolve este anúncio atrapalhado de meia dúzia de candidatos a ministro, à beira do que pode ser um mau resultado eleitoral.

Maioria absoluta pela governabilidade de Portugal

De um amigo, JA, recebi o seguinte "desabafo":

«A grande interrogação é o "day after" e tudo aquilo que vem por arrastamento. Fundamentalmente, o que fazer com este poder, seja ele maioritário ou minoritário. Porque os entusiasmos das campanhas são, na maioria das vezes, fugazes manifestações de esperança e de crença na capacidade dos homens ou de um grupo, para pouco tempo depois se transformarem em descrença e rejeição. É um fenómeno típico de um país com déficite de auto-estima e de uma sociedade à espera que o Estado resolva tudo. (...) Veremos se as contradições ideológicas, os complexos do passado recente e os erros de governação, como, por exemplo, o totonegócio, a Fundação para a Prevenção e Segurança e o queijo limiano, não são impeditivos da transparência, da tomada de opções políticas corajosas, da inevitabilidade de correcções de rumo e da necessária visão estratégica. (...) Apesar da minha actual experiência profissional (...) confirmar a ideia (...) de que os partidos e as pessoas são todos iguais, tenho a certeza de que não são. É preciso é prová-lo: pelas atitudes, pela acção, pelas ideias, pela moral, pela ética.»

Pois é! E é por isso mesmo que os portugueses precisam de dar uma MAIORIA ABSOLUTA ao PS, que vai ganhar as eleições de 20 de Fevereiro. Para derrotar fragorosamente a direita oportunista e incompetente que apregoou o "país de tanga" e, na realidade, o deixou de tanga. Para envergonhar o Dr. Durão Barroso que se pôs ao fresco mal arranjou melhor emprego e deixou o país entregue à inenarrável dupla Santana Lopes/Paulo Portas.
Mas não é indiferente que o próximo governo do PS seja minoritário ou maioritário. É preciso dar a MAIORIA ABSOLUTA ao PS pela inequívoca responsabilização do Engº José Sócrates e daqueles que integrarem a equipa que ele vai reunir para nos vai governar. Para que não haja alibis, nem necessidade de queijos limianos negociados à direita ou à esquerda. Para que haja orientação estratégica para o país e o horizonte de uma legislatura para a aplicar. Para que não haja desculpas para não dar combate à corrupção e à fraude e evasão fiscais, melhorar o funcionamento da Justiça, direccionar a economia para o crescimento com emprego e para defender os interesses e reforçar a intervenção europeia e internacional de Portugal.
Não é indiferente que o próximo governo do PS seja minoritário ou maioritário: é preciso dar a MAIORIA ABSOLUTA ao PS para que o Governo governe e reforce a autoridade e respeitabilidade do Estado. Pela governabilidade democrática em Portugal.

Overbooking

1. Pode acontecer-lhe também a si. Já me aconteceu a mim. Segundo a Comissão Europeia, só em 1999, 250.000 passageiros foram vítimas de overbooking em voos regulares contratados às principais transportadoras aéreas comunitárias. E não foi por causa de um qualquer engano ou de uma fatalidade não prevista que isso lhes aconteceu. É em virtude de uma estratégia comercial rigorosamente programada. O novo Regulamento europeu procura precisamente travar este abuso de sobre-reservas e fixa para os passageiros que não possam embarcar uma elevada indemnização de modo a que os operadores percam receitas, em vez de as auferirem, com este tipo de prática.

2. Por coincidência tinha visto esta semana dois jovens camaroneses serem vítimas de overbooking e esperarem quatro dias em Bamako por um lugar no avião. Regressaram ao hotel sem quaisquer desculpas ou indemnização ou sequer promessa do dia do embarque. Completamente desolado, um deles contabilizava os prejuízos que resultariam do atraso. Lembrei-me, então, do Regulamento que agora entra em vigor. Da persistência das instituições comunitárias para fazer aprovar este regime, as únicas que poderiam enfrentar a enorme resistência às novas regras por parte das transportadoras aéreas. Enfim, tal como outras vezes, senti o privilégio que é ser cidadã da União.

Vale tudo

Até dizer que o PS já governou (mal, claro) com maior absoluta (afirmações de Jerónimo de Sousa, hoje, dia 17, há minutos, na RTP).

Convicções de circunstância

Avisadamente, alguma igreja recomendou discrição e contenção no funeral da Irmã Lúcia. Mas houve quem fizesse orelhas moucas. Que candidatos e ministros conhecidos pela sua profunda fé católica tenham passado em Coimbra, na Sé Nova, até pode ser compreensível. Quanto aos outros, melhor fora que estivessem mais atentos. Alguém confia no que sabe que é postiço?

Aeroporto em Lisboa, sempre!

«Acabar com o aeroporto de Lisboa é acabar com o turismo» -- diz um responsável pelo turismo da capital.
Tem toda a razão: é justamente por não terem um aeroporto no meio da cidade que não há nenhum turismo em Paris, Roma, Veneza, Rio de Janeiro, etc.

A idade da reforma

«A idade da reforma anda a agitar a campanha eleitoral. Embora eu pense que a excessiva longevidade é um problema que é necessário enfrentar, parece-me que a elevação da idade da reforma não é solução para ele.
De facto, o que se verifica é que as pessoas vivem muitos mais anos, mas isso não quer dizer que estejam em condições de "empregabilidade", como agora se diz. (...) Raramente uma pessoa pode efectuar um trabalho remunerado (...) para além dos 70 anos de idade.
Ou seja, a elevação da idade da reforma não vai resolver o problema, uma vez que o problema não reside em as pessoas trabalharem tempo de menos, mas sim em viverem tempo de mais. (...) Aliás, é difícil encontrar uma empresa que esteja disposta a contratar uma pessoa com mais de 50 anos de idade. As empresas entendem, correctamente, que a produtividade dessa pessoa será geralmente baixa. Mas essa pessoa poderá, não obstante, viver até aos 85 anos de idade! (...)»

(Luís Lavoura)

Nota
Não se trata de solucionar o problema da longevidade das pessoas mas sim a sustentabilidade da segurança social. Se as pessoas se reformarem dois ou três anos mais tarde do que agora, pagarão outros tantos anos de contribuições adicionais e receberão menos outros tantos anos de pensões. Por outro lado, a proposta mais exigente (a do PSD) não vai além dos 68 anos, e somente para quem tenha menos de 35 anos, pelo que a mudança só teria efeitos daqui a muitos anos. O problema é saber se as pessoas preferem continuar a reformar-se cedo mas com o risco de, depois, não haver meios para pagar as suas pensões.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

O busílis da questão

«Partidos à esquerda não garantem apoio a orçamentos que reduzam despesas e mantenham défice abaixo dos 3%.» (António Vitorino)

Correio dos leitores: Ainda o excesso de cursos superiores

«(...) A autonomia das escolas conduz a situações aparentemente absurdas em que se multiplicam cursos sem qualquer estudo sustentado das realidades profissionais e das necessidades do País, com curricula baseados apenas em generalidades, sem que existam em Portugal doutorados ou especialistas de reputado prestígio em número suficiente para cumprir com dignidade e rigor científico o seu papel de professores.
Atente ao que se passa em duas áreas: conservação e restauro do património e documentação.
No tocante à conservação, existe uma licenciatura bi-etápica no Instituto Politécnico de Tomar; uma licenciatura na Universidade Nova de Lisboa e uma licenciatura na Escola das Artes da U. Católica do Porto. (...) Ora, num momento em que a prudência aconselharia a que não se multiplicassem mais cursos, a Câmara de Óbidos "tira da cartola" mais um curso de conservação e restauro, no âmbito do Instituto Politécnico de Leiria, que visa dar formação a 700 alunos!! Consta que se preparam iniciativas semelhantes noutras localidades, entre as quais Setúbal.
Outra situação que pode ser exaustivamente documentada é a das pós-graduações, e agora também licenciaturas, que se multiplicam verdadeiramente como cogumelos na área dos arquivos e bibliotecas. Neste momento, Portugal caminha a passos largos para ter o dobro da oferta de formação existente em Espanha e temos mais cursos de biblioteconomia do que a generalidade dos países europeus...».

(Rui Ferreira da Silva)