Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
quarta-feira, 30 de março de 2005
Salgalhada superior
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Vital Moreira
O Diário Económico de ontem informava que o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), que pertence ao ensino superior politécnico, quer integrar-se na Universidade de Lisboa (Clássica) e que esta aceita de bom grado a integração. Compreende-se a vontade da primeira (upgrade de status) e da segunda (ampliação institucional). O que se não se vê é a lógica é que tal integração pode ter num sistema de ensino superior "binário", como é o nosso, em que os dois subsistemas devem ter filosofias e missões diferentes. Para salgalhada já bastam os casos de Aveiro e de Faro, que vêm do antecedente e que nenhum ministro teve coragem de clarificar. Vai J. Mariano Gago coonestar mais esta anomalia?
Falta de autoridade
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Vital Moreira
É de aplaudir a pressão que os Estados Unidos tencionam exercer sobre outros países quanto ao respeito pelos direitos humanos. Mas não seria de aplicar essa pressão sobre si mesmos, considerando os excessos do Patriotic Act na violação das garantias individuais e, sobretudo, a intolerável situação dos prisioneiros de Guantánamo, detidos sem acusação e sem nenhumas garantias de defesa vai para três anos?
Na verdade, os Estados Unidos contam-se entre os países que estão, justamente, sob pressão das organizações internacionais dos direitos humanos. E enquanto houver o cancro de Guantánamo, a legitimidade e autoridade dos Estados Unidos em matéria de direitos humanos é assaz escassa.
Na verdade, os Estados Unidos contam-se entre os países que estão, justamente, sob pressão das organizações internacionais dos direitos humanos. E enquanto houver o cancro de Guantánamo, a legitimidade e autoridade dos Estados Unidos em matéria de direitos humanos é assaz escassa.
terça-feira, 29 de março de 2005
Correio dos leitores: Limites de velocidade (2)
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Vital Moreira
«Sobre os limites de velocidade tenho algumas dúvidas no aumento dos seus valores máximos.
Esta dúvida tem a ver com a questão da quantidade de emissão de gases poluentes que julgo aumentarem quanto mais aumenta a velocidade do automóvel. (...)
Penso que é um ponto a ter em conta, embora nunca o tenha visto referido como uma razão para o limite dos 120 km/h nas autoestradas.»
Rui Sousa
Esta dúvida tem a ver com a questão da quantidade de emissão de gases poluentes que julgo aumentarem quanto mais aumenta a velocidade do automóvel. (...)
Penso que é um ponto a ter em conta, embora nunca o tenha visto referido como uma razão para o limite dos 120 km/h nas autoestradas.»
Rui Sousa
Correio dos leitores: Limites de velocidade
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Vital Moreira
«O problema da velocidade nas auto-estradas é essencialmente a grande disparidade das velocidades dos veículos que nelas circulam. Aumentar o limite de velocidade aumentará o risco, porque continuará a haver muitos condutores a circular a 90 km/h.
(...) Além disso, a razão fundamental para manter um baixo limite de velocidade é a poupança de carburante. Foi por esse motivo que os limites de velocidade foram pela primeira vez introduzidos nas auto-estradas norte-americanas.»
Luís Lavoura
(...) Além disso, a razão fundamental para manter um baixo limite de velocidade é a poupança de carburante. Foi por esse motivo que os limites de velocidade foram pela primeira vez introduzidos nas auto-estradas norte-americanas.»
Luís Lavoura
Frases que eu gostaria de ter escrito
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Vital Moreira
«Poucas coisas destruirão mais a credibilidade dos políticos e das instituições democráticas que a sua prolongada incapacidade para controlar e sancionar conflitos de interesses.»
João Cravinho
João Cravinho
Quando, afinal, não somos o que julgamos ser...
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Vital Moreira
Há sempre um momento em que alguém nos mostra que não nos conhecemos a nós mesmos. Julgava eu pertencer à esquerda republicana e laica, que, a par da liberdade e do pluralismo religioso, preza e defende a estrita separação e neutralidade do Estado em relação às religiões e a igualdade e imparcialidade de tratamento das diversas confissões religiosas, sem discriminações nem privilégios. Afinal isso não passava de auto-ilusão ou, pior do que isso, dissimulação. Alguém com autoridade acaba de expor publicamente as minhas suspeitas convergências com o episcopado em matéria sensível, nomeadamente no apoio a esse nefando monumento antilaicista e católico-apostólico-romano, que é a Constituição europeia. A prova irrefragável do delito está aqui e a justa denúncia está aqui. Só posso penitenciar-me humildemente e apressar a minha adesão aos círculos clericais, a que afinal pertenço, memo sem o saber...
segunda-feira, 28 de março de 2005
sick na Sic e com os fantasmas sorridentes
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LFB
Começo a semana doente, em casa, a fazer zapping frenético na esperança de apanhar o genial Conan O'Brien na Sic-Comédia. Subitamente, apanho o primeiro episódio de uma série do mítico "Saturday Night Live" de há 15 anos atrás. O convidado especial é Kyle MacLachlan - que, na altura, estava no auge graças à personagem de Dale Cooper, protagonista da série "Twin Peaks". O elenco fixo do SNL de há 15 anos tinha futuras grandes estrelas, como Mike Myers ou Chris Rock, talentos que ficaram pelo caminho como Dana Carvey ou Dennis Miller, e outros mesmo que entretanto faleceram, como Phil Hartmann ou Chris Farley.
No melhor e mais longo sketch da noite, Kyle parodia a personagem e a série que lhe deu fama.
De repente, no meio da confusão, há um figurante que surge na penumbra. Não fala, está vestido de polícia, e a sua única função é agarrar um descontrolado Farley que interpreta o assassino de Laura Palmer.
Há 15 anos atrás, com 27 anos de idade, era isto que ele fazia. O figurante é Conan O'Brien, o meu novo vício televisivo. Confirmo na supersónica ficha técnica que Conan era, à altura, um dos 12 guionistas do SNL.
Não é nada de especial, esta pequena descoberta entre os fantasmas sorridentes, mas gostei de ver. Gostei sobretudo de imaginar o que terá sucedido no espaço desses 15 anos, para levar um tímido Conan, desde a penumbra dos sketchs que ele ajudava a escrever, até sucessor de Jay Leno no espaço mais nobre da televisão dos USA.
Acho que chamam isto de "american dream" - e eu, que sempre fui ingénuo e nunca anti-americano, gosto da sensação que estes pormenores me causam.
No melhor e mais longo sketch da noite, Kyle parodia a personagem e a série que lhe deu fama.
De repente, no meio da confusão, há um figurante que surge na penumbra. Não fala, está vestido de polícia, e a sua única função é agarrar um descontrolado Farley que interpreta o assassino de Laura Palmer.
Há 15 anos atrás, com 27 anos de idade, era isto que ele fazia. O figurante é Conan O'Brien, o meu novo vício televisivo. Confirmo na supersónica ficha técnica que Conan era, à altura, um dos 12 guionistas do SNL.
Não é nada de especial, esta pequena descoberta entre os fantasmas sorridentes, mas gostei de ver. Gostei sobretudo de imaginar o que terá sucedido no espaço desses 15 anos, para levar um tímido Conan, desde a penumbra dos sketchs que ele ajudava a escrever, até sucessor de Jay Leno no espaço mais nobre da televisão dos USA.
Acho que chamam isto de "american dream" - e eu, que sempre fui ingénuo e nunca anti-americano, gosto da sensação que estes pormenores me causam.
amor e um camião do lixo
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LFB
exterior/noite
(numa lateral da Maternidade Alfredo da Costa)
Um camião do lixo percorre a rua lentamente, para não incomodar a madrugada. Primeira surpresa: um dos "homens do lixo" é uma mulher. Como eles, também ela corre para os caixotes, num vai-vém entre a sua localização e o camião onde trabalha.
O camião faz a curva e desaparece por momentos. Um pouco para trás, ficaram a mulher e outro colega. Para segundo espanto do homem que observa, em silêncio, no interior do seu carro estacionado perto deles, o casal toca-se, beija-se, sorri e, de mãos dadas, devagar, faz também a curva do desaparecimento. Sujos, desprestigiados, mal pagos, acordados quando toda a gente dorme, felizes.
(numa lateral da Maternidade Alfredo da Costa)
Um camião do lixo percorre a rua lentamente, para não incomodar a madrugada. Primeira surpresa: um dos "homens do lixo" é uma mulher. Como eles, também ela corre para os caixotes, num vai-vém entre a sua localização e o camião onde trabalha.
O camião faz a curva e desaparece por momentos. Um pouco para trás, ficaram a mulher e outro colega. Para segundo espanto do homem que observa, em silêncio, no interior do seu carro estacionado perto deles, o casal toca-se, beija-se, sorri e, de mãos dadas, devagar, faz também a curva do desaparecimento. Sujos, desprestigiados, mal pagos, acordados quando toda a gente dorme, felizes.
Amigos
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LFB
O Rui Branco mudou de casa. Ou melhor, anda em mudanças. Para ele, e para os outros amigos do Esplanar e do País Relativo, desejos de grande futuro blogosférico.
O grande tabu
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Anónimo
A única medida verdadeiramente séria e eficaz contra o excesso de velocidade nas estradas (no pressuposto, altamente questionável, que esse é o principal factor explicativo do número arrepiante de acidentes rodoviários) seria a imposição de um limite técnico de 120 km/h a todos os motores de automóveis. Simples, não?
Atrasadamente
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Vital Moreira
Por esquecimento não fiz referência aqui ao meu artigo da semana passada no Público, desta vez sobre a reforma e modernização da administração pública. Como habitualmente o texto também se encontra arquivado na Aba da Causa.
Adenda
Na minha coluna de amanhã vou tratar das questões constitucionais e políticas relativas aos dois referendos que estão anunciados.
Adenda
Na minha coluna de amanhã vou tratar das questões constitucionais e políticas relativas aos dois referendos que estão anunciados.
Tabus
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Vital Moreira
Com o novo Código da Estrada, que aumenta o rigor das normas e agrava consideravelmente as sanções para as infracções, terá sentido manter inalterados os irrealistas limites de velocidade máxima nas auto-estradas (e mesmo fora delas), sabendo-se que os limites excessivamente baixos só vão ser "respeitados" à custa de generosas doses de tolerância da polícia? Não seria mais coerente com a filosofia da reforma subir moderadamente aqueles limites, pelo menos para os automóveis ligeiros, para se poder ser mais exigente no seu cumprimento? Ou vamos continuar agarrados a ficções, por incapacidade para questionar tabus sem fundamento?
domingo, 27 de março de 2005
Ligeireza
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Vital Moreira
As considerações de Marcelo Rebelo de Sousa no seu programa de hoje na RTP sobre a reforma do Pacto de Estabilidade e Convergência da União Europeia revelam uma inexplicável ligeireza -- a par de alguma demagogia contra a França e a Alemanha --, ao darem a entender que o PEC foi rasgado e que doravante reinará a desregulação do défice orçamental e da dívida pública. Mas não é verdade. Mantêm-se os limites de um e de outro (3% e 60% do PIB, respectivamente), e nenhumas despesas públicas deixaram de contar para o défice (ao contrário do que foi afirmado). O que foi flexibilizado tem a ver com as justificações para o défice excessivo (evitando as respectivas sanções) e com um período mais longo para repor o cumprimento dos limites (três anos em vez de um ano).
Também não é verdade que Portugal tenha cumprido os limites do PEC nos governos PSD/CDS. O défice orçamental real (antes das receitas extraordinárias de fim de ano) ficou sempre próximo ou acima dos 5% e a dívida pública superou os 60% do PIB. E no corrente ano, graças ao orçamento do Governo de Santana Lopes, o défice vai pular para mais de 6%, ou seja, o dobro do admitido pelo PEC, e um "record" desde há muito entre nós. Se não fosse a reforma do PEC Portugal estaria em muitos maus lençóis...
Também não é verdade que Portugal tenha cumprido os limites do PEC nos governos PSD/CDS. O défice orçamental real (antes das receitas extraordinárias de fim de ano) ficou sempre próximo ou acima dos 5% e a dívida pública superou os 60% do PIB. E no corrente ano, graças ao orçamento do Governo de Santana Lopes, o défice vai pular para mais de 6%, ou seja, o dobro do admitido pelo PEC, e um "record" desde há muito entre nós. Se não fosse a reforma do PEC Portugal estaria em muitos maus lençóis...
Judiciosas...
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Vital Moreira
...são as considerações do presidente da conferência episcopal portuguesa, o cardeal José Policarpo, sobre a constituição europeia. Um clara desautorização da utilização da religião para combater a Constituição, como tem sido insinuado por alguns círculos católicos tradicionalistas, pretextando a ausência de uma referência à "herança cristã", em que o Vaticano se empenhou, sem êxito.
sexta-feira, 25 de março de 2005
Perda absoluta
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Vital Moreira
Chegado ao seu segundo aniversário o País Relativo, um dos decanos dos blogues de esquerda, resolveu acabar. Efeitos da vitória do PS e da esquerda no poder?
Na blogoesfera dois anos são uma longa vida; mesmo assim, o fim de um blogue de qualidade é sempre um perda. Ou me engano muito, ou ainda veremos vários do seus autores de volta às lides, daqui a uns tempos...
Na blogoesfera dois anos são uma longa vida; mesmo assim, o fim de um blogue de qualidade é sempre um perda. Ou me engano muito, ou ainda veremos vários do seus autores de volta às lides, daqui a uns tempos...
Desistência
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Vital Moreira
O apoio entusiasmado à candidatura de Guterres ao cargo de Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados significa que o PS já se conformou com a alegada falta de vontade do antigo primeiro-ministro para concorrer à presidência da República e que portanto já se conformou também com a falta de um verdadeiro "challenger" para a forte candidatura de Cavaco Silva?
Compromisso
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Vital Moreira
Houve quem criticasse fortemente a decisão do último Conselho Europeu sobre a suspensão da directiva do mercado único dos serviços, tomada sob pressão da França, a braços com uma forte reacção social e política contra a "directiva Bolkestein" e por tabela contra a Constituição europeia (as sondagens de opinião dão agora vantagem ao "não" nas intenções de voto para o referendo de 29 de Maio). Mas a aprovação da Constituição pela França vale bem um compasso de espera quanto à liberalização dos serviços na UE. Um chumbo francês significaria a morte do tratado constitucional.
quinta-feira, 24 de março de 2005
Efeitos colaterais
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Vital Moreira
A questão da co-incineração de lixos industriais perigosos na cimenteira de Souselas (Coimbra) não custou ao PS somente o pior resultado relativo nas eleições legislativas de 20 de Fevereiro mas também a perda do seu mais provável candidato à liderança do município de Coimbra (o eurodeputado Fausto Correia, que anunciou a sua desistência há dias). Resta saber como é que o novo candidato (o actual líder distrital e deputado, Vítor Batista) vai lidar com a polémica questão, que não deixará de ser um dos principais pontos da disputa eleitoral coimbrã.
Referendo da despenalização
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Vital Moreira
Se não forem esgotados os prazos procedimentais do referendo das despenalização do aborto pelo Presidente da República (a quem cabe decidir a convocação e marcar a data) e pelo Tribunal Constitucional (a quem incumbe verificar preventivamente a sua constitucionalidade e legalidade), ainda será possível realizar essa consulta popular até ao início do Verão, única hipótese de ele poder ter lugar antes das eleições presidenciais do próximo ano (dada a proibição constitucional vigente de acumulação de procedimentos referendários com procedimentos eleitorais). Há boas razões para o estreitamento dos prazos: afinal, tanto o PR como o TC já se pronunciaram sobre essa mesma matéria em 1998. E ficaria arrumada mais cedo essa polémica questão, aliviando a agenda política e libertando o próximo Presidente da República dessa decisão.
Nunca é tarde
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Vital Moreira
O Reino Unido está em vias de se tornar numa democracia constitucional normal, com separação de poderes e "rule of law". Vai ser criado um supremo tribunal, pondo fim às funções judiciais supremas da Câmara dos Lordes; e o Lord Chancelor vai deixar de ser simultaneamente membro do poder judicial, do parlamento e do Governo -- uma situação insólita, ao arrepeio das regras mais elementares do Estado de Direito. Lá onde não há constituição escrita existem destas anomalias.
Paulatinamente o governo trabalhista vai modernizando o sistema constitucional britânico. Já não era sem tempo!
Paulatinamente o governo trabalhista vai modernizando o sistema constitucional britânico. Já não era sem tempo!
quarta-feira, 23 de março de 2005
Portageiros assaltam consumidores
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Anónimo
É o caso de extorsão mais banalizado em Portugal. Atinge centenas de milhares de automobilistas e ocorre diariamente sem que as autoridades, os media ou as associações de consumidores lhe prestem a mínima atenção. O estaleiro permanente em que se transformaram as auto-estradas da Brisa não só põe em causa a segurança dos utilizadores-pagadores, como lhes impõe sem apelo nem agravo um preço indevido por um serviço que não lhes é prestado. Nalguns concessões - a A1, a A5 ou a A8 -, já só os cidadãos mais idosos se conseguem lembrar dos tempos em que as percorriam sem anomalias. A concessionária continua a não se pronunciar sobre a matéria.
terça-feira, 22 de março de 2005
Dúvida
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Vital Moreira
Satisfazendo um compromisso eleitoral, o grupo parlamentar do PS desencadeou o processo de convocação do referendo sobre a despenalização do aborto até às dez semanas. A pergunta é a mesma que foi submetida à mal sucedida consulta popular em 1998, ou seja: "Concorda com a despenalização da IVG até às 10 semanas, realizada em estabelecimento legal de saúde?"
Retorno à questão que levantei há seis anos: por que é que a despenalização do aborto há-de depender das condições da sua realização? Uma coisa é punir, nos termos gerais, o exercício de actos médicos à margem das regras legais (o que abrange o aborto clandestino), outra é manter a punição do aborto em si mesmo só por ter sido realizado fora de estabelecimento de saúde.
Retorno à questão que levantei há seis anos: por que é que a despenalização do aborto há-de depender das condições da sua realização? Uma coisa é punir, nos termos gerais, o exercício de actos médicos à margem das regras legais (o que abrange o aborto clandestino), outra é manter a punição do aborto em si mesmo só por ter sido realizado fora de estabelecimento de saúde.
Fim de privilégios
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Vital Moreira
A redução das férias judiciais é justa e só peca por defeito. Não há razão nenhuma para que os tribunais estejam encerrados durante tanto tempo -- se é que se justifica o seu encerramento de todo em todo (sobretudo tendo em conta a morosidade da nossa justiça) -- e que os agentes do sistema de justiça tenham na pratica mais férias do que os demais servidores públicos.
Já agora também não se vê por que é que os funcionários do Ministério da Justiça hão-de ter um serviço de saúde diferente do dos demais funcionários públicos. É mais do que tempo de lhe pôr fim.
De resto, o Governo faria muito bem em proceder a um levantamento abrangente das situações de privilégio existentes no sector público administrativo. A Administração pública não deve confundir-se com um conjunto de feudos ministeriais.
Já agora também não se vê por que é que os funcionários do Ministério da Justiça hão-de ter um serviço de saúde diferente do dos demais funcionários públicos. É mais do que tempo de lhe pôr fim.
De resto, o Governo faria muito bem em proceder a um levantamento abrangente das situações de privilégio existentes no sector público administrativo. A Administração pública não deve confundir-se com um conjunto de feudos ministeriais.
Pior não poderia ser
Publicado por
Vital Moreira
Como aqui se referiu desde há meses, o orçamento aprovado pelo Governo PSD-CDS para o presente ano é uma ficção em todos os planos: previsão irrealista de crescimento económico, despesas subestimadas, receitas sobre-avaliadas. O défice orçamental deve subir para os 6%, o pior desempenho desde há muitos anos. Por isso, o PS nem sequer precisa de ir escavar o verdadeiro défice das contas públicas do ano passado (provavelmente superior ao declarado para Bruxelas), a fim de humilhar o governo anterior e a própria Comissão europeia, como Durão Barroso fez em 2002, relativamente ao défice de 2001. Basta-lhe que uma comissão independente presidida pelo mesmo Vítor Constâncio certifique a lamentável situação das finanças públicas em relação ao orçamento do ano corrente.
Quando a gente se lembra de que Santana Lopes e Bagão Félix se vangloriavam de as finanças públicas estarem de novo em ordem, dá para medir a sua irresponsabilidade...
Quando a gente se lembra de que Santana Lopes e Bagão Félix se vangloriavam de as finanças públicas estarem de novo em ordem, dá para medir a sua irresponsabilidade...
União Zoófila
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Anónimo
Pela enésima vez na sua provecta história, a União Zoófila atravessa uma grave crise financeira. Na sua edição de ontem (secção Local), o Público relata as mais recentes angústias da associação amiga dos animais. Obrigada a racionar a água, a electricidade, a comida e os cuidados veterinários aos cães e gatos barbaramente rejeitados pela população lisboeta, a União desespera. Com um magro punhado de euros, qualquer empresa do PSI-20 poderia subsidiar (ao abrigo da lei do mecenato, indutora de benefícios fiscais) os gastos correntes da casa. O alheamento das causas pobres (como a dos animais abandonados) pela sociedade dita civil só nos pode encher de vergonha.
Confiança de lampião
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Anónimo
Estava à espera de ver as duas melhores equipas do campeonato num combate à inglesa, lutando bravamente pela vitória, provando à saciedade que o líder Benfica só o é porque está a ser levado ao colo por poderes ocultos. Em vez disso, vimos duas formações medrosas e um jogo medíocre, onde o Sporting acabou por ser um pouco melhor e justificar o triunfo, para satisfação da comunidade encarnada. Não têm inteira razão os do Porto ao clamarem contra o rigor do juiz na expulsão de McCarthy - as cotoveladas, em que o sul-africano é especialista, devem ser severamente punidas para que não aconteça a quase tragédia que ocorreu com o defesa Arango, no Maiorca-Sevilha do último domingo -, mas é verdade que a arbitragem foi caseira. Em todos os lances duvidosos o beneficiado foi o Sporting. Na grande penalidade grosseiramente cometida por Seitaridis, nada justificava o cartão vermelho, embora não seja a primeira vez que um árbitro demonstra falta de senso (e de atributos técnicos) em situações semelhantes. No meio da pobreza geral, fica a convicção de que afinal o Benfica não tem nada a recear de leões nem de dragões. Se continuar a jogar certinho e de modo empenhado, será campeão. Sem espinhas.
segunda-feira, 21 de março de 2005
Isto não está a acontecer, pois não?
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Anónimo
1 Segundo nos relata A Capital na sua edição de hoje, o célebre autarca de Ourique e agora deputado laranja pelo círculo do Porto, José Raul dos Santos (JRS), acaba de realizar um feito notável. Do seu próprio bolso (sic), decidiu-se a gastar uns cobres em envelopes timbrados com o escudo nacional, a perder um bom par de horas na produção de um texto publicitário e a suportar as custas postais na expedição de um opúsculo onde se propõe ser "um porta-voz autêntico" das gentes alentejanas. Arguto e pós-moderno, JRS já antecipou o verdadeiro significado dos futuros círculos uninominais.
2 Logo após a intervenção de José Sócrates na apresentação do programa de governo, o presidente do sindicato dos magistrados, António Cluny, veio aos microfones da TSF manifestar a sua perplexidade pelo anúncio da redução das férias judiciais de dois para um mês. Segundo Cluny, as actividades estivais dos juízes não podem ser vistas como as dos trabalhadores comuns. É que os tribunais e os magistrados têm um funcionamento muito mais complexo do que todas as outras artes. Basta ver as dificuldades extremas de articulação operacional com os restantes intervenientes da comunidade judicial, algo que, como é sabido, não acontece em mais nenhum sector de actividade ou sistema público.
3 O Benfica lidera o campeonato e os adeptos encarnados torcem pela vitória do Sporting no jogo desta noite contra o Porto.
4 O presidente do governo regional da Madeira está maçado com a gestão do Marítimo. "As coisas que se estão a passar no Marítimo não podem continuar à mercê da vontade do presidente do clube", Jardim dixit.
2 Logo após a intervenção de José Sócrates na apresentação do programa de governo, o presidente do sindicato dos magistrados, António Cluny, veio aos microfones da TSF manifestar a sua perplexidade pelo anúncio da redução das férias judiciais de dois para um mês. Segundo Cluny, as actividades estivais dos juízes não podem ser vistas como as dos trabalhadores comuns. É que os tribunais e os magistrados têm um funcionamento muito mais complexo do que todas as outras artes. Basta ver as dificuldades extremas de articulação operacional com os restantes intervenientes da comunidade judicial, algo que, como é sabido, não acontece em mais nenhum sector de actividade ou sistema público.
3 O Benfica lidera o campeonato e os adeptos encarnados torcem pela vitória do Sporting no jogo desta noite contra o Porto.
4 O presidente do governo regional da Madeira está maçado com a gestão do Marítimo. "As coisas que se estão a passar no Marítimo não podem continuar à mercê da vontade do presidente do clube", Jardim dixit.
Matosinhos à frente
Publicado por
Anónimo
Seguramente por se tratar de uma iniciativa de Narciso Miranda, o programa de combate ao estacionamento selvagem anunciado pela Câmara de Matosinhos não mereceu qualquer referência elogiosa por parte dos opinion-makers nacionais. Tivesse ele sido congeminado por Rui Rio ou por Macário Correia e outro galo cantaria. Adiante. Se Narciso e a sua polícia municipal cumprirem o prometido - dois meses de pedagogia seguidos de tolerância zero -, prometo que me farei sócio do Leixões. Ainda acredito que a causa do combate à selvajaria da segunda fila sairá um dia vencedora.
sábado, 19 de março de 2005
Sua Nota é um Show de Solidariedade
Publicado por
Anónimo
O programa tributário "Sua nota é um Show", no Estado da Bahia, no Brasil, que, como aqui escrevi há uns meses, permite trocar facturas por bilhetes de espectáculo, tem também outra versão. As facturas podem ser entregues a uma instituição de solidariedade que, por sua vez, as troca junto do governo por subsídio ou outro tipo de apoio. Há famílias que têm à porta de sua casa uma caixa especialmente destinada ao depósito de todas as "notas" que depois fazem chegar a uma instituição da sua preferência.
Como noticiava um jornal local, num dos últimos apuramentos, na área de saúde, a Associação Obras Sociais Irmã Dulce foi a mais premiada, com mais de 5 milhões de notas e cupons recolhidos, conquistando um prémio no valor de R$ 378.303. A Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidade Infantil/Hospital Martagão Gesteira e a Liga Baiana Contra o Câncer/Hospital Aristidez Maltez apareceram logo em seguida, com os prémios de R$ 220.813 e R$ 165.653, respectivamente. "A cada etapa aumenta a participação da população, que contribui exigindo a nota ou o cupom fiscal na hora da compra", afirmou José Luiz Souza, coordenador do Programa de Educação Tributária da Bahia (PET/BA), da Secretaria da Fazenda (Sefaz).
Uma vez mais, viva a imaginação!
Como noticiava um jornal local, num dos últimos apuramentos, na área de saúde, a Associação Obras Sociais Irmã Dulce foi a mais premiada, com mais de 5 milhões de notas e cupons recolhidos, conquistando um prémio no valor de R$ 378.303. A Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidade Infantil/Hospital Martagão Gesteira e a Liga Baiana Contra o Câncer/Hospital Aristidez Maltez apareceram logo em seguida, com os prémios de R$ 220.813 e R$ 165.653, respectivamente. "A cada etapa aumenta a participação da população, que contribui exigindo a nota ou o cupom fiscal na hora da compra", afirmou José Luiz Souza, coordenador do Programa de Educação Tributária da Bahia (PET/BA), da Secretaria da Fazenda (Sefaz).
Uma vez mais, viva a imaginação!
Correio dos leitores: Interditos (3)
Publicado por
Vital Moreira
"(...) Em relação ao nuclear, venha o debate, sem tabus! E antes que se diga que ele resolve o nosso problema de dependência energética, é preciso perceber que Portugal não é deficitário na produção eléctrica, e que a energia nuclear não resolve em nada a dependência dos produtos petrolíferos que são utilizados para os nossos motores Otto de combustão interna. Ora é nesse sector que o consumo de derivados de petróleo cresce. Depois, conviria explorar a quantidade de subsídios que o nuclear recebe, sob a forma de garantias estatais e pseudo-subsidios a I&D. Em que outro sector eu posso colocar em risco a segurança de milhões, mas ter uma limitação às indemnizações que terei de pagar em caso de acidente. (...)
Sem essas protecções e subsídios escondidos, o nuclear, sob a sua forma de fissão, é a forma mais dispendiosa de produzir energia, e num mercado em que não haja essas protecções (um exemplo dessas protecções é o caso do Price-Anderson Act, nos EUA, que limita a US$150m a responsabilidade por danos nas centrais nucleares norte-americanas) seria duvidoso que mais centrais fossem construídas. Note que nenhuma foi posta a operar na Europa nos últimos 20 anos, apesar do consumo crescente de electricidade. Quem advoga a construção do nuclear em Portugal deveria justificar como se pretende financiar sem esses subsídios. Até lá, prefiro pagar a electricidade mais cara."
(Leitor identificado)
Sem essas protecções e subsídios escondidos, o nuclear, sob a sua forma de fissão, é a forma mais dispendiosa de produzir energia, e num mercado em que não haja essas protecções (um exemplo dessas protecções é o caso do Price-Anderson Act, nos EUA, que limita a US$150m a responsabilidade por danos nas centrais nucleares norte-americanas) seria duvidoso que mais centrais fossem construídas. Note que nenhuma foi posta a operar na Europa nos últimos 20 anos, apesar do consumo crescente de electricidade. Quem advoga a construção do nuclear em Portugal deveria justificar como se pretende financiar sem esses subsídios. Até lá, prefiro pagar a electricidade mais cara."
(Leitor identificado)
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