«O negócio da Herdade da Vargem Fresca é, certamente, um exemplo claro de uma acção de saque do património público. Nessa perspectiva, é escandaloso que não existam responsáveis pelo ruinoso negócio feito pela Companhia das Lezírias e que não sejam obrigados a prestar contas dos seus actos e a assumirem as consequências dos mesmos. (...)
São ridículos os argumentos de que estes "casos" relevam do excesso de peso da Administração na economia. Ridículos e falsos. Nestes processos, a Administração aproveita a sua posição não para defender o interesse público mas para defender interesses privados. Foi para tornar este comportamento socialmente aceitável que se criou a "divertida" figura dos "projectos estruturantes". Esses projectos são, hoje em dia, talvez o maior negócio no nosso país: trata-se, quase sempre, da mudança de uso do solo rústico para solo urbano com a consequente apropriação pelos privados das enormes mais-valias geradas. Mais-valias que resultam, insisto, de decisões da Administração e que são totalmente apropriadas pelos promotores.
(...) Contam com a compreensão dos agentes permissivos que são as autarquias e o Governo ? isoladamente ou em conjunto como neste caso de Benavente ? que em operações imobiliárias puras e duras estão sempre a descobrir "projectos estruturantes". Enquanto isso a agricultura e a floresta definham, incapazes de concorrer com o poder económico do uso urbano. E o país, no seu todo, empobrece.»
(José Carlos Guinote - http://pedradohomem.blogspot.com/)
Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
sexta-feira, 13 de maio de 2005
"Higiene política"
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Vital Moreira
«Quando os governos são apenas prolongamentos das empresas, a política reduz-se à gestão de contas bancárias. E não são as dos clientes/eleitores...» (António José Teixeira, Jornal de Notícias de hoje)
Repor a justiça fiscal
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Vital Moreira
Uma das mais ideológicas (e socialmente mais reaccionárias) das medidas fiscais do Governo PSD/CDS foi a eliminação do imposto sobre sucessões e doações, cujo caminho tinha sido aberto na revisão constitucional de 1997, com a estranha concordância do PS. A justificação de Durão Barroso para essa desoneração fiscal das fortunas -- «é injusto que as pessoas paguem impostos depois de mortas» -- merece ficar nos anais da demagogia política do nosso País, pois é evidente, por um lado, que o imposto sucessório não recaía sobre os mortos mas sim sobre os felizes beneficiários das heranças e, por outro lado, que tal argumento não podia justificar a abolição também do imposto sobre as doações em vida.
O novo Governo anuncia agora a recuperação do imposto sobre as doações em dinheiro, cuja abolição deu lugar a enormes fraudes fiscais. É bom mas é pouco: devia abranger todas as doações e restaurar-se também o imposto sucessório, devidamente revisto. Num país como o nosso, com uma elevadíssima desigualdade entre ricos e pobres e com uma pesada tributação dos rendimentos do trabalho, é de elementar justiça repor o imposto sobre todas as aquisições gratuitas de património.
O novo Governo anuncia agora a recuperação do imposto sobre as doações em dinheiro, cuja abolição deu lugar a enormes fraudes fiscais. É bom mas é pouco: devia abranger todas as doações e restaurar-se também o imposto sucessório, devidamente revisto. Num país como o nosso, com uma elevadíssima desigualdade entre ricos e pobres e com uma pesada tributação dos rendimentos do trabalho, é de elementar justiça repor o imposto sobre todas as aquisições gratuitas de património.
7-dirigentes-7
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Vital Moreira
Por que é que o IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas Industriais) há-de ter um conselho directivo de sete membros, quando os demais institutos públicos têm normalmente três membros (por vezes, cinco), aliás de acordo com a respectiva lei-quadro? Não serão dirigentes a mais?
quinta-feira, 12 de maio de 2005
"Cumprir Bolonha"
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Vital Moreira
O meu artigo desta semana no Público, com o título em epígrafe, já se encontra disponível na Aba da Causa.
Celeridade
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Vital Moreira
«Um dos alvos da investigação [sobre o caso da Herdade da Vargem Fresca] poderá estar relacionado com a rapidez de toda a tramitação do processo. De acordo com documentos a que o DN teve acesso, a Portucale entregou a 7 de Março à Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF) um pedido para o abate de sobreiros, embora o despacho conjunto dos ex-ministros, que atribuiu ao empreendimento urbanístico na herdade da Vargem Fresca um inegável interesse público, só fosse publicado no dia seguinte, 8 de Março. Neste mesmo dia, o director de Circunscrição Florestal do Sul autorizou o abate, sendo que a resposta à Portucale seguiu logo no dia 9 de Março.» (relato do Diário de Notícias)Ainda dizem que a Administração Pública é lenta! Mentira aleivosa! Qual Lucky Luke, ela pode ser mais rápida do que a própria sombra, se adequadamente "motivada"! O novo Governo, apostado em melhorar o desempenho da Administração, não pode desperdiçar tão notáveis servidores. O Director-Geral dos Recursos Florestais e o director da Circunscrição Florestal do Sul devem ser imediatamente investidos como director e subdirector de uma unidade de missão para a celeridade administrativa! E o Ministro da Agricultura deve condecorá-los imediatamente pelo zelo desinteressado colocado ao serviço da causa pública...
"Enormidade"
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Vital Moreira
«Matar uma criança no seio materno é mais violento do que matar uma criança de cinco anos» - disse um padre da Igreja Católica. Até aqui, nas campanhas anti-abortistas exibiam-se fetos de 6 meses devidamente ensanguentados, para impressionar. Agora já se considera que o aborto de um feto de 10 semanas (antecipadamente designada como "criança") é mais grave do que o assassínio de uma criança de 5 anos. Eis uma pequena amostra das enormidades fanáticas que estão para vir no referendo sobre a despenalização do aborto.
A CIA ajuda Castro
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Vital Moreira
«Anticastrista Posada Carriles trabalhava para a CIA». Fidel Castro deve rejubilar: vêem, vêem, como sempre dissemos, não passam de agentes a soldo do imperialismo...
"Falso e perigoso"
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Vital Moreira
«Os Estados da União Europeia (UE) acordaram há semanas as novas regras de aplicação do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). Muitos pensaram que o PEC tinha morrido. Nada mais falso e perigoso.» (Ministro das Finanças, em artigo no Público de hoje).
O problema é que, além de o pensarem, houve muitos comentadores (ir)responsáveis que o afirmaram!
O problema é que, além de o pensarem, houve muitos comentadores (ir)responsáveis que o afirmaram!
Jornalistas
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Vital Moreira
Foi hoje anunciado que o Governo vai propor mudanças no Estatuto do Jornalista, juntamente com a criação da nova autoridade reguladora dos média. Não seria altura de colmatar uma das grandes lacunas do regime jurídico do sector, que é a ausência de um mecanismo legal de autodisciplina dos jornalistas, com poderes de sanção das violações da deontologia profissional?
Revoluções inacabadas
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Vital Moreira
Revoluções boas são as que ficam aquém das suas ambições mais radicais. As revoluções que pretendem cumprir à força o programa revolucionário podem acabar na contra-revolução ou na institucionalização da "ditadura revolucionária".
Democracia e demagogia
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Vital Moreira
Observação de um assistente num colóquio sobre o tema em epígrafe: «A demagogia é a doença crónica da democracia». Minha resposta: pode viver-se bem com doenças crónicas; o importante é evitar surtos agudos.
quarta-feira, 11 de maio de 2005
O saque do património público
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Vital Moreira
Há uns anos, uma administração da Companhia das Lezírias (CL) associou-se com um banco numa parceria agro-turística, entrando com terrenos seus como parte no capital social da nova empresa. Posteriormente, houve um aumento de capital da empresa mista, que a CL não acompanhou, preferindo ceder a sua parte, ou seja, privatizando furtivamente esse património.
Uma inspecção da Inspecção-Geral de Finanças concluiu que nessa transacção foi lesado o interesse público. O negócio não foi anulado nem foram pedidas responsabilidades a ninguém. Entretanto, a dita empresa projectou um grande empreendimento imobiliário para os antigos terrenos da CL, que esta tinha alienado por tuta e meia. Apesar de o projecto implicar o abate maciço de sobreiros, espécie protegida, o Ministro da Agricultura, que tutela tanto a CL como as florestas, validou o negócio. Foi no Governo passado, já demitido e em vésperas de eleições.
Edificante!
Uma inspecção da Inspecção-Geral de Finanças concluiu que nessa transacção foi lesado o interesse público. O negócio não foi anulado nem foram pedidas responsabilidades a ninguém. Entretanto, a dita empresa projectou um grande empreendimento imobiliário para os antigos terrenos da CL, que esta tinha alienado por tuta e meia. Apesar de o projecto implicar o abate maciço de sobreiros, espécie protegida, o Ministro da Agricultura, que tutela tanto a CL como as florestas, validou o negócio. Foi no Governo passado, já demitido e em vésperas de eleições.
Edificante!
Ministro do Desambiente
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Vital Moreira
O que é que pode levar um Ministro do Ambiente a autorizar, com o Governo demitido e quatro dias antes das eleições, o massacre de uma floresta de sobreiros (espécie protegida), para viabilizar um projecto imobiliário de milhões de euros? Era demasiado forte o cheiro a esturro...
Nuvens negras
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Vital Moreira
Ontem numa cerimónia pública, o semblante do Ministro das Finanças não poderia ser mais carregado. Tudo indica que as conclusões da «comissão Constâncio» sobre as perspectivas das finanças públicas são ainda piores do que o que se temia.
terça-feira, 10 de maio de 2005
Efeméride
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Anónimo
No próximo sábado, 14 de Maio, faz onze anos que o Benfica assegurou, na arena futebolística, o seu último título de campeão com uma vitória memorável sobre o Sporting, em Alvalade, por 6-3. Recordo-me que, à época, se dizia que o clube então presidido por Sousa Cintra possuía a melhor equipa e praticava o melhor futebol do rectângulo. No jogo decisivo, a resposta vermelha foi a que se viu.
domingo, 8 de maio de 2005
Lucidez
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Vital Moreira
«Acontece que o risco da vitória do "não" num próximo referendo está a ser totalmente desvalorizado pelos defensores do "sim", entusiasmados pela ampla maioria de esquerda favorável à despenalização que venceu as últimas eleições. A possibilidade de, sem o contra-vapor de Guterres, o PS, com o Governo em estado de graça, vir para a rua fazer campanha seria, na opinião de alguns defensores da despenalização, uma garantia da vitória do "sim". Peço desculpa, mas dá a impressão que os optimistas estão a subvalorizar o peso da Igreja Católica e a capacidade para a tortura psicológica sobre as massas dos movimentos fundamentalistas do "não".»
(Ana Sá Lopes, Público de hoje; texto indisponível "on line", salvo por assinatura)
(Ana Sá Lopes, Público de hoje; texto indisponível "on line", salvo por assinatura)
A voz e a alma
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Anónimo
Quando eu era miúdo e moço a rádio era o meio dominante. Em baixo volume, a horas tardias, ou colado ao ouvido, aos domingos à tarde, o transístor era a nossa principal ligação, em tempo real, com o mundo. Desse tempo onde o sonoro primava sobre o visual ficaram-nos recordações inesquecíveis. Programas como o Em Órbita ou o Pão com Manteiga, vozes como as de José Nuno Martins, Luís Filipe Barros ou Carlos Cruz. E depois, os relatos de futebol, quando as partidas se disputavam em simultâneo, às quatro da tarde de domingo, e não havia transmissões televisivas. Vibrávamos mais com a onda média de então do que com as técnicas video de hoje.
Relatar um jogo de bola pode parecer coisa fácil para muitos, mas não é. Não chega a voz e a memória visual, é preciso alma. Inteligência e paixão. Em mais de quarenta anos de memórias radiofónicas, distingo três nomes excepcionais - Artur Agostinho, Fernando Correia e Jorge Perestrelo. Ironia do destino, acaba de desaparecer o mais novo dos três. A voz e a sensibilidade, a força e a tropicalidade de Jorge Perestrelo conseguiam transportar toda a emoção dos estádios para os microfones da TSF. Vou sentir a sua falta, Jorge.
Relatar um jogo de bola pode parecer coisa fácil para muitos, mas não é. Não chega a voz e a memória visual, é preciso alma. Inteligência e paixão. Em mais de quarenta anos de memórias radiofónicas, distingo três nomes excepcionais - Artur Agostinho, Fernando Correia e Jorge Perestrelo. Ironia do destino, acaba de desaparecer o mais novo dos três. A voz e a sensibilidade, a força e a tropicalidade de Jorge Perestrelo conseguiam transportar toda a emoção dos estádios para os microfones da TSF. Vou sentir a sua falta, Jorge.
O Estado de joelhos
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Vital Moreira
Assim é Timor-Leste, depois da capitulação das autoridades do Estado perante a arruaça liderada pelos bispos. O Estado continuará a ministrar religião nas escolas públicas, o aborto e a prostituição serão crimes. Foi criada uma comissão mista permanente por via da qual a Igreja controlará o Estado.
Onde pode, a Igreja manda no Estado mesmo contra as instituições democráticas. O parlamento de Timor aplicará obedientemente o "diktat" clerical. Aparentemente, a Constituição, que estabelece a separação entre as igrejas e o Estado, continua em vigor. Mas nesta questão já não passa de um papel sem valor. O poder legislativo pertence agora aos bispos. E o poder político carece da benção dos representantes do Vaticano.
Onde pode, a Igreja manda no Estado mesmo contra as instituições democráticas. O parlamento de Timor aplicará obedientemente o "diktat" clerical. Aparentemente, a Constituição, que estabelece a separação entre as igrejas e o Estado, continua em vigor. Mas nesta questão já não passa de um papel sem valor. O poder legislativo pertence agora aos bispos. E o poder político carece da benção dos representantes do Vaticano.
sábado, 7 de maio de 2005
O "tiranete do Funchal"
Publicado por
Vital Moreira
Se há ocasiões em que temos de lamentar a indisponibilidade online do Público é quando gostaríamos de recomendar artigos como de Francisco Teixeira da Mota, na edição de ontem, sobre o levantamento da imunidade parlamentar a um deputado da assembleia regional da Madeira, por alegado ataque à honra do presidente do Governo regional.
Aqui fica um excerto:
Aqui fica um excerto:
«Sublinhe-se que o crime alegadamente praticado pelo deputado do PS seria o da difamação agravada, já que as expressões utilizadas poriam em causa valores como a invocada honra do referido titular de cargo político. Estamos no "núcleo duro" da liberdade de expressão: a crítica aos nossos poderes públicos e à nossa vida social, económica e política. Essa a verdadeira razão de ser da imunidade parlamentar: a protecção da liberdade de expressão dos deputados, tornando a sua palavra o menos constrangida possível. Mas os deputados do PSD, já que todos os restantes abandonaram a sala, rebaixaram-se e aprovaram a entrega do seu par ao braço judicial.»Na verdade, no dia em que um deputado puder ser acusado em juízo por declarações políticas contra o Governo -- que nada têm de pessoal --, mesmo produzidas fora da Assembleia, algo vai profundamente errado na pseudodemocracia regional madeirense. A decisão da maioria jardinista na assembleia regional da Madeira constitui uma injúria à autonomia parlamentar e à independência política dos deputados da oposição. Ataques políticos combatem-se com meios políticos, e não na barra dos tribunais.
Aplauso, mas...
Publicado por
Vital Moreira
É de aplaudir a decisão do responsável governativo pelos assuntos fiscais no sentido de retomar os estudos tendentes à simplificação do sistema fiscal, nomeadamente no que respeita à eliminação de benefícios fiscais. O tema já foi aqui abordado várias vezes. Porém, contraditoriamente com esta intenção, o Governo já criou novos incentivos fiscais (relacionados com os investimentos tecnológicos) e outros constam do programa do Governo (recuperação dos benefícios à poupança). Em que ficamos?
Penalização
Publicado por
Vital Moreira
O Partido Trabalhista britânico obteve a sua terceira vitória eleitoral consecutiva, mas com um travo algo amargo, baixando mais de 5% em relação ao "score" das últimas eleições e perdendo quase 50 deputados. A guerra do Iraque não é seguramente alheia a essa considerável queda, de que tirou proveito sobretudo o Partido Liberal-Democrata, que centrou nesse tema a sua campanha eleitoral.
A guerra do Iraque, forçada contra a opinião pública britânica, é a mancha indelével na estrela política de Blair. Cá se fazem, cá se pagam!
A guerra do Iraque, forçada contra a opinião pública britânica, é a mancha indelével na estrela política de Blair. Cá se fazem, cá se pagam!
sexta-feira, 6 de maio de 2005
Iniquidade eleitoral
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Vital Moreira
Resultados eleitorais britânicos: com menos de 36% dos votos o Partido Trabalhista obtém 55% dos deputados. Com mais de 20% dos votos o Partido Liberal-Democrata consegue menos de 10% dos deputados. Efeitos do sistema eleitoral maioritário. De resto, com um sistema proporcional a votação no Labour (e nos Conservadores) seria provavelmente inferior ao que foi, dada a menor pressão para o "voto útil" (tactical vote)...
Cuidado com os russos!
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Anónimo
Salve, comunidade lagarta! Estais de parabéns pelo apuramento para a final. Mas tende cuidado com os russos, que eles não são tementes e mexem bem na bola. E não vos esqueçais que os lampiões já perderam uma final da taça UEFA no estádio da Luz. Por via de dúvidas, acendei uma velinha antes do confronto com o CSKA. Nas lides domésticas, não tenhais ilusões - o diabo vermelho levará a melhor. Preparai-vos.
quinta-feira, 5 de maio de 2005
3 x Blair
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Vital Moreira
Segundo todas as sondagens o Partido Trabalhista de Blair vai ganhar folgadamente as eleições de hoje no Reino Unido, somando a terceira vitória consecutiva. Um feito inédito na história do Labour. E mesmo que fique aquém dos 40% de votos, o sistema eleitoral maioritário garantir-lhe-á uma robusta maioria parlamentar absoluta e uma confortável legislatura.
Qual o segredo da fórmula de Blair? Uma economia pujante, desemprego baixo, capacidade fiscal, disciplina financeira, investimento maciço nos serviços públicos (educação, saúde, luta contra a pobreza, etc.). Ou seja, liberalismo económico, mais políticas sociais, mais segurança. Acrescentem-se importantes reformas constitucionais ("devolution" para a Escócia e Gales, Câmara dos Lordes, criação de um supremo tribunal de justiça, etc.) e a empenhada participação britânica na integração europeia. No meio disso tudo, o arrastamento do Reino Unido para a invasão e ocupação do Iraque ao lado de Washington não chegou para estragar este quadro amplamente positivo, que premeia a ousadia doutrinária, o reformismo político e a determinação pessoal na acção governativa.
Para culminar a boa estrela de Blair só falta que ele consiga vencer o referendo do tratado constitucional europeu no próximo ano, porventura o seu desafio final, antes de se auto-afastar do Governo. Seria ouro sobre azul.
Indubitavelmente, haverá uma história do Labour antes e depois de Blair. E dificilmente a esquerda socialista e social-democrata europeia continental poderá ignorar o incontornável sucesso do New Labour britânico.
Qual o segredo da fórmula de Blair? Uma economia pujante, desemprego baixo, capacidade fiscal, disciplina financeira, investimento maciço nos serviços públicos (educação, saúde, luta contra a pobreza, etc.). Ou seja, liberalismo económico, mais políticas sociais, mais segurança. Acrescentem-se importantes reformas constitucionais ("devolution" para a Escócia e Gales, Câmara dos Lordes, criação de um supremo tribunal de justiça, etc.) e a empenhada participação britânica na integração europeia. No meio disso tudo, o arrastamento do Reino Unido para a invasão e ocupação do Iraque ao lado de Washington não chegou para estragar este quadro amplamente positivo, que premeia a ousadia doutrinária, o reformismo político e a determinação pessoal na acção governativa.
Para culminar a boa estrela de Blair só falta que ele consiga vencer o referendo do tratado constitucional europeu no próximo ano, porventura o seu desafio final, antes de se auto-afastar do Governo. Seria ouro sobre azul.
Indubitavelmente, haverá uma história do Labour antes e depois de Blair. E dificilmente a esquerda socialista e social-democrata europeia continental poderá ignorar o incontornável sucesso do New Labour britânico.
Bem a merece
Publicado por
Vital Moreira
Paulo Portas foi a Washington receber uma condecoração de Rumsfeld, o ministro da defesa de Bush. Entre as razões para a distinção conta-se a opção do ex-Ministro da Defesa português pela aquisição de duas fragatas norte-americanas. O justo reconhecimento fica sempre bem...
Dúvidas referendárias
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Vital Moreira
Pergunta: O referendo sobre a despenalização do aborto é obrigatório?
Resposta: Constitucionalmente, não. Não existe na Constituição nenhum referendo obrigatório, salvo o da regionalização. O princípio constitucional é o da democracia representativa, cabendo à AR (e em certa medida ao Governo) o poder legislativo sem "coutadas" referendárias.
P: Se uma medida já foi submetida a referendo e rejeitada, poderá mais tarde ser aprovada pela AR sem novo referendo?
R: Sem dúvida. Mesmo que o referendo tenha sido vinculativo (por ter tido a participação de mais de metade dos eleitores), a rejeição só vincula a Assembleia que promoveu o referendo, pelo que uma nova Assembleia recupera a possibilidade de aprovar a solução rejeitada sem ter de fazer novo referendo.
Aliás, o primeiro referendo da despenalização do aborto não foi vinculativo, dada a abstenção superior a 50%, pelo que nem sequer limitava juridicamente a Assembleia que o promoveu. Mesmo do ponto de vista político, o facto de uma certa solução ter sido rejeitada em referendo não significa que a AR fique privada "ad aeternum" do poder de a consagrar legislativamente sob sua responsabilidade. Realizar ou não novo referendo é uma questão de conveniência ou de oportunidade política, não de legitimidade política.
No caso concreto, porém, há o compromisso eleitoral do PS no sentido de submeter a questão a novo referendo. Esse compromisso deve ser respeitado, a não ser que haja um convincente motivo de escusa.
P: Não será antidemocrático que a AR altere sozinha uma lei que foi aprovada por referendo?
R: Independentemente de uma resposta negativa em abstracto a esta questão, no caso do referendo da despenalização do aborto trata-se de alterar o Código Penal (na parte em que criminaliza o aborto, com algumas excepções limitadas), que foi aprovado pelo Governo, sob autorização da AR. O referendo anterior não aprovou nenhuma lei, desde logo porque o resultado foi justamente contrário à alteração do Código Penal. Portanto, não existe nenhuma lei aprovada por referendo. De resto, o referendo anterior rejeitou a despenalização (embora sem efeitos juridicamente vinculativos), mas ninguém sabe que resposta teria tido um referendo a perguntar se as pessoas estavam de acordo com a penalização vigente (se tal pergunta fosse legalmente admissível, o que não é o caso). Provavelmente o resultado também teria sido negativo...
Resposta: Constitucionalmente, não. Não existe na Constituição nenhum referendo obrigatório, salvo o da regionalização. O princípio constitucional é o da democracia representativa, cabendo à AR (e em certa medida ao Governo) o poder legislativo sem "coutadas" referendárias.
P: Se uma medida já foi submetida a referendo e rejeitada, poderá mais tarde ser aprovada pela AR sem novo referendo?
R: Sem dúvida. Mesmo que o referendo tenha sido vinculativo (por ter tido a participação de mais de metade dos eleitores), a rejeição só vincula a Assembleia que promoveu o referendo, pelo que uma nova Assembleia recupera a possibilidade de aprovar a solução rejeitada sem ter de fazer novo referendo.
Aliás, o primeiro referendo da despenalização do aborto não foi vinculativo, dada a abstenção superior a 50%, pelo que nem sequer limitava juridicamente a Assembleia que o promoveu. Mesmo do ponto de vista político, o facto de uma certa solução ter sido rejeitada em referendo não significa que a AR fique privada "ad aeternum" do poder de a consagrar legislativamente sob sua responsabilidade. Realizar ou não novo referendo é uma questão de conveniência ou de oportunidade política, não de legitimidade política.
No caso concreto, porém, há o compromisso eleitoral do PS no sentido de submeter a questão a novo referendo. Esse compromisso deve ser respeitado, a não ser que haja um convincente motivo de escusa.
P: Não será antidemocrático que a AR altere sozinha uma lei que foi aprovada por referendo?
R: Independentemente de uma resposta negativa em abstracto a esta questão, no caso do referendo da despenalização do aborto trata-se de alterar o Código Penal (na parte em que criminaliza o aborto, com algumas excepções limitadas), que foi aprovado pelo Governo, sob autorização da AR. O referendo anterior não aprovou nenhuma lei, desde logo porque o resultado foi justamente contrário à alteração do Código Penal. Portanto, não existe nenhuma lei aprovada por referendo. De resto, o referendo anterior rejeitou a despenalização (embora sem efeitos juridicamente vinculativos), mas ninguém sabe que resposta teria tido um referendo a perguntar se as pessoas estavam de acordo com a penalização vigente (se tal pergunta fosse legalmente admissível, o que não é o caso). Provavelmente o resultado também teria sido negativo...
"Escola básica a tempo inteiro"
Publicado por
Vital Moreira
O meu artigo de 3ª feira passada no Público (agora indisponível on-line salvo por assinatura) já se encontra na Aba da Causa. Registo o comentário do Abnóxio e de um leitor do Causa Nossa.
Escalada teocrática
Publicado por
Vital Moreira
Sentindo o Governo a fraquejar, os bispos de Timor exigem agora que o Governo se comprometa a não despenalizar o aborto como condição para o fim dos protestos de rua. Depois, quem sabe, exigirão a proibição dos divórcios, a ilegalização do preservativo, uma oração matinal nos serviços públicos, a discriminação dos filhos ilegítimos, a criminalização do adultério, da sodomia e da blasfémia, o direito de veto das leis, a sagração do Presidente da República, o crucifixo na bandeira nacional, etc.
A democracia está em perigo em Timor-Leste.
A democracia está em perigo em Timor-Leste.
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